Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2008). Direitos reservados (com a devida vénia...)
1. Excertos do Relatório de Actividade da AD - Ano de 2006, de 37 pp.
Caros Amigos,
O elevado espírito de equipa e dinâmica de trabalho dos seus quadros e técnicos e, fundamentalmente, dos nossos parceiros comunitários, permitiu à AD demonstrar ao longo dos últimos 14 anos que é possível combater a pobreza, preservar a natureza e criar dinâmicas de progresso e desenvolvimento.
Estamos igualmente muito reconhecidos aos nossos parceiros do Norte e numerosas pessoas singulares anónimas que se solidarizam e apoiam iniciativas das comunidades rurais e urbanas da Guiné-Bissau e que, graças à sua dedicação e interesse tornaram possível a implementação de diversas acções de desenvolvimento com resultados muito positivos.
Se é verdade que muita coisa foi feita, porém, ainda muito mais está por fazer...Caros Amigos, a nossa ONG olha para futuro com optimismo. Como a “amizade é o único combustível que aumenta à medida que é utilizado”, aceitem o nosso abraço amigo.
Roberto Quessangue, Presidente da Assembleia-Geral
Sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento > Boas vindas
O Simpósio Internacional de Guiledje no Plano de Actividades da AD - 2006 (pp. 11-12) (*)
Fixação do texto, subtítulos e negritos de L.G.
(1) A organização do Simpósio, em colaboração com o INEP e a UCB, mobiliza, em 2006, os sócios e os colaboradores da AD
Em 2006, a AD abalançou-se à realização do Simpósio Internacional de Guiledje, acontecimento de vulto e que irá exigir a mobilização de todos os sócios da nossa ONG. Decidido no início de 2006 para ser realizado de 1 a 7 de Março de 2008, a AD convidou a Universidade Colinas de Boé (UCB) e o INEP [- Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa] para se associarem à sua organização.
Tendo em conta as características deste evento, considerou-se que o INEP enquanto instituição vocacionada para a pesquisa histórica e a UCB enquanto instituição académica dinâmica, associadas à AD que vem trabalhando na zona de Guiledje há mais de 15 anos, fariam o pleno para uma abordagem diversificada e multi-facetada do que representou e representará Guiledje na História e Desenvolvimento da Guiné-Bissau.
(ii) A abordagem histórica na perspectiva do desenvolvimento integrado e sustentável
O Simpósio apresenta-se como um dos pontos importantes da chamada Iniciativa de Guiledje, enquanto abordagem histórica na perspectiva de um desenvolvimento sustentável, salientando a importância de Guiledje no processo da luta de libertação nacional e uma vez que a rica herança histórica interpela constantemente a vida das populações da área, apontando para a necessidade de melhor conhecer o passado que comunica com o presente, mas também com o qual o presente dialoga, numa relação ambivalente de sentidos e significados que importa clarificar pela via do conhecimento da História reconciliada ou em vias de reconciliação consigo própria.
A AD deve assumir sem ambiguidades a sua responsabilidade perante um dos maiores desafios que se depara à Guiné-Bissau e que é o de preservar e reforçar a sua identidade enquanto Nação, consciente de que o conhecimento e a compreensão da sua História e, em especial, a da gesta de libertação nacional, é determinante para uma maior identificação colectiva à volta de valores comuns e para a procura e construção de um desafio histórico futuro em que todos se revejam e para o qual se mobilizem.
(iii) Os quatro principais objectivos do Simpósio Internacional de Guiledje
O Simpósio Internacional sobre Guiledje persegue como objectivos:
(i) Associar à metodologia de participação comunitária uma nova perspectiva de abordagem baseada no estudo e promoção do ensino da história, por forma a que, nos esforços de desenvolvimento, sejam devidamente enquadradas e capitalizadas as heranças e valências culturais portadoras de dinâmicas de coesão que, por isso, se afiguram necessários conhecer, compreender e promover, tanto mais que é absolutamente indispensável um maior esforço na procura e identificação colectiva dos valores comuns tendentes à construção de um desafio histórico futuro em que todos se revejam e para o qual se mobilizem;
(ii) A transmissão da História, atendendo sobretudo ao facto de as testemunhas vivas estarem já a desaparecer, promovendo a necessidade de levar as pessoas a compreender o que se passou antes por intermédio do registo e da preservação do património cultural, de molde a que a sua apropriação, sobretudo por parte da geração que a não viveu, se processe num contexto que facilite a passagem do testemunho a outro que se torna uma nova testemunha e seu porta-voz;
(iii) A salvaguarda e preservação do património histórico de Guiledje, procedendo à recolha, classificação e preservação de vestígios históricos, bem como do registo magnético ou iconográfico (fotos, filmes, etc.) dos protagonistas ainda vivos da História, com vista à constituição de um acervo documental em permanente actualização;
(iv) No contexto dos estudos das guerras de libertação, promover acções de parceria susceptíveis de propiciar oportunidades de pesquisa histórica sobre Guiledje, mormente, junto de investigadores nacionais e estrangeiros, visando uma maior divulgação da História de Guiledje e colocar a zona de Guiledje na agenda dos decisores em matéria de desenvolvimento económico e social.
(iv) A preparação do Simpósio em 2006
Em 2006 foi elaborado um plano detalhado de actividades de preparação do Simpósio, compreendendo acções a serem realizadas antes (recolha, tratamento e arquivo de material histórico, novas fontes de informação, produção de um logótipo, definição dos temas, identificação dos oradores e 12 participantes, elaboração do programa detalhado, identificação de presidentes de sessões, comité de redacção, canais de comunicação, responsáveis pela logística e procura de financiamento), durante (encontros com as populações, visitas a Guiledje, Gandembel, Gadamael e Iemberem, exposição de livros, fotografias, mapas, realização de espectáculos teatrais e musicais) e depois (Publicação das Actas do Simpósio, desenvolvimento do museu de Guiledje, acções de desenvolvimento económico e social na zona de Guiledje e implementação das recomendações do Simpósio).
Realizou-se a recolha de testemunhos em DVD de grande número de combatentes que participaram no Assalto Final, especialmente guineenses, tendo-se iniciado os contactos para a mesma recolha junto dos combatentes caboverdianos.
Prosseguiu-se a recolha junto de instituições portuguesas militares de fotografias e de importantes documentos, alguns deles ainda classificados, mas de grande importância para o conhecimento da verdade histórica, dispondo a AD de um grande espólio escrito e visual. Refira-se a título de exemplo a obtenção de um pequeno filme com a actuação do Duo Ouro Negro em Guiledje.
(v) Impacto interno e externo desta iniciativa~
Esta iniciativa despertou um grande interesse a nível de muitos intelectuais guineenses, caboverdianos e portugueses, bem como de antigos guerrilheiros, tropas portuguesas e académicos europeus.
Iniciou-se igualmente a sensibilização junto da Embaixada de Cuba, uma vez que a solidariedade combativa do povo cubano em termos de médicos, sapadores e conselheiros militares para a luta de libertação nacional foi importante, em particular para a batalha de Guiledje.
O aspecto mais atrasado do programa prende-se com a reabilitação dos escombros em que se encontra actualmente o Quartel de Guiledje, fruto da não remoção dos UXOS (lixo balístico) que ainda por lá existem, uma vez que as organizações especializadas não a consideram prioritária.
O maior sucesso foi o da construção de um furo de água, mesmo se com um débito fraco (500 litros por hora), e a instalação de um depósito elevado de água com capacidade para 4.000 litros, funcionando em regime de energia solar. (...)
Programa Integrado de Cubucaré (PIC) (pp. 20-27)
As acções mais importantes neste ano foram as seguintes:
a) Início do Programa de Ecoturismo
As potencialidades turísticas da zona de Cubucaré representam para a AD um dos produtos estratégicos em que se deve apostar para a dinamização do desenvolvimento da região.
A existência do futuro Parque Nacional de Cantanhez, com toda a sua diversidade faunística e florística, a riqueza cultural assente numa diversidade populacional com várias etnias minoritárias, com concepções diferentes do mundo, de manifestações diversas de canções, danças, folclore e rituais e a existência de vestígios de um passado histórico recente que faz desta zona o berço da nacionalidade, transforma-a num local de grande interesse para o turismo ecológico, científico, cultural e histórico.
Isto leva-nos a orientar a estratégia de implantação para um modelo de turismo que, não sendo naturalmente de massas, se baseie numa primeira fase nos cooperantes e funcionários de organismos internacionais sedeados na Guiné-Bissau e quadros técnicos nacionais desejosos de conhecer o “interior”, para se ir alargando gradualmente a um público europeu muito específico:
(i) portugueses que fizeram a guerra colonial nesta zona e que estão interessados em voltar a ver os locais onde passaram uma parte importante da sua juventude, trazendo consigo a família e colegas. O facto de nesta região se situarem quartéis míticos como Guiledje, Gandembel, Gadamael, Bedanda, Cacine, Cafine, Cadique e Cabedú, reforça a “oferta turística”
(ii) cidadãos com uma cultura ambientalista que vêm com a sua família porque gostam de fazer turismo em zonas calmas, bonitas, com pessoas acolhedoras, com uma diversidade de animais selvagens e de grandes árvores localizadas em matas fechadas e densas, que possam ter acesso directo a produtos ecológicos como o mel e medicamentos naturais, comprar artesanato
(esculturas nalús, cestaria e panos tradicionais) directamente àqueles que os produzem e passear calmamente sem que ninguém os incomode.
(iii) pessoas que vêm à procura de coisas novas e diferentes e que, estando dispostas a visitar Cantanhez , não conseguem estar uma semana inteira nesta zona, gostando de alternar o campo com a praia, exigindo por isso um programa que associe as ilhas dos Bijagós.
(iv) finalmente, pesquisadores e cientistas que poderão eventualmente vir a Cantanhez com a família, para associarem a parte lúdica e recreativa da estadia com a profissional de investigação e descoberta.
Uma das questões fundamentais, decididas desde o início, é a de que este programa de implementação do ecoturismo só tem razão de existência se for desenvolvido em cooperação com as comunidades locais, desenvolvendo as suas capacidades organizativas, valorizando os seus recursos humanos e traduzir-se na criação de novos postos de auto-emprego com a consequente
melhoria das suas condições financeiras, de vida e de acesso ao conhecimento e saúde.
Daí que a montagem deste programa comporte:
(i) a criação de um núcleo de 12 guias ecoturísticos constituído por jovens das diferentes matas do Cantanhez, os quais já tiveram a sua primeira formação em 2006, onde durante um mês aprenderam a conhecer melhor o meio ambiente, a saberem o que representa um guia em termos éticos, de comportamento com os turistas, de cuidados ambientais e de valorização e
respeito pela cultura e tradições locais.
(ii) o apoio ao ressurgimento de escultores de madeira que produzam peças de artesanato da etnia nalú, a qual está em vias de desaparecimento, como forma de promover uma arte de valor reconhecido e permitir aos jovens terem uma profissão e emprego, sendo que para isso 10 deles já receberam uma formação em dois módulos, totalizando dois meses e meio.
(iii) a identificação de percursos ecoturísticos, em função dos interesses dos diferentes grupos de turistas, tendo em 2006 sido registados dois itinerários, detalhados o tempo de duração, as situações a observar e os motivos de cada um deles. O estudo e identificação de 10 a 15 percursos, será uma aposta a breve prazo, pois dela dependerá a motivação dos turistas em
visitar Cantanhez.
(iv) a montagem de locais de acolhimento e alojamento, estrategicamente dispersos por pontos de interesse: Iemberem, sede do Parque, e ponto central; Guiledje para cobrir os corredores transfronteiriços e os quartéis da zona (Balana, Medjo e Gadamael); Cambeque, com vista para o rio Cacine. É um dos elementos mais delicados do programa pois requer logo à partida um elevado grau de gestão competente, de elevado nível e de garantia irrepreensível de higiene. O envolvimento da comunidade local far-se-á de forma lenta e gradual.
(v) apoio à criação de iniciativas de restauração, em locais de passagem, onde os turistas possam degustar-se com pratos de sabores tradicionais, confeccionados por mulheres especialistas. Em 2006 foram construídos 2 casas redondas para esse efeito, uma em Faro Sadjuma, com o prato chamariz à base de palha de batata-doce e mandioca e outro no porto de Canamine, à base de peixe. Sendo de exploração privada, este processo vai incentivar o aumento da produção de frutas, legumes, raízes e tubérculos e a captura de peixe por parte dos agricultores, jovens, mulheres e pescadores, todos beneficiando com o ecoturismo.
(vi) a identificação de outros locais de turismo nas zonas circunvizinhas, cuja inclusão nos percursos possa atrair mais turistas para Cantanhez. Estão neste caso incluídas visitas à Guiné-Conakry (Candjafra e Boké), à ilha de Melo na foz do rio Cumbidjan e à reserva da biosfera (Parques de João Vieira e Poilão). A maior distância, mas nem por isso menos importante, está o Parque de Dulombi, os rápidos do Saltinho e o macaréu em Xitole.
Todas estas acções que estão em curso, implicam a existência de outras medidas que ultrapassam a própria AD mas que são determinantes para o sucesso deste programa: a existência de uma estrutura privada de turismo através da qual os turistas possam fazer as suas marcações e reservas; um sistema de rent-car para o aluguer de veículos; a cobertura da zona por um operador de telemóvel.
A AD tem a plena consciência que a implantação de estruturas de apoio ao ecoturismo exclusivamente em Cantanhez, não irá assegurar por si só a viabilidade desta iniciativa. O ecoturismo tem de fazer parte de um plano nacional de turismo que ainda não existe, pelo que temos a convicção que esta é a contribuição da nossa ONG para o referido plano
b) Criação do Parque Nacional de Cantanhez
Não sendo ainda legalmente um Parque Nacional, Cantanhez tem beneficiado da acção conjunta da AD com a UICN e o IBAP, na procura de uma forma de gestão que tenha em conta os 15 anos de actuação da nossa ONG nesta zona e das estruturas e mecanismos de decisão que já existem e funcionam.
A AD considera que o ambiente e uma boa prática de gestão dos recursos florestais e marinhos são elementos naturais na procura do desenvolvimento social e económico das comunidades locais, não devendo nem ser penalizado, nem sobrevalorizado a ponto de castigar aqueles que lá vivem.
Daí que tenha apoiado a criação de 4 Comités de Gestão do Território do Regulado , um para cada regulado (Cabedú, Medjo, Iemberem e Cadique) representando um espaço de concertação, troca de informações e tomada de decisões sobre a conservação, preservação, valorização, gestão e desenvolvimento sustentável da zona.
Cada Comité é composto pelos representantes activos das instituições tradicionais, da sociedade civil e estatal que fazem parte do território concernente, nomeadamente, o Régulo e seus conselheiros, os notáveis dessa zona, chefes de tabanca, guardas florestais comunitários, guias ecoturísticos, representantes das associações de base mais activas e dinâmicas, das ONG
intervindo na zona, do Administrador do sector, dos representantes dos serviços técnicos das Florestas e do IBAP.
Compete-lhes promover o desenvolvimento integrado do território do regulado, nas suas vertentes económica, social e cultural, identificar os principais estrangulamentos, as prioridades programáticas, os produtos estratégicos e as acções a incrementar, tomar medidas de preservação, conservação, valorização e de gestão, apoiar o trabalho dos guardas florestais comunitários, guias ecoturísticos e guardas florestais, definir medidas de controlo e punição contra os infractores, promover acções de sensibilização e vigilância ambiental, zelar pela boa utilização e ocupação dos solos, criar em conjunto com os outros Comités de Regulado o Fundo de Desenvolvimento de Cantanhez e participar na sua gestão.
Foi criado um núcleo de Guardas Florestais Comunitários que trabalham em nregime de voluntariado, sob a tutela de poderes tradicionais (régulo e chefes de tabanca) com o objectivo de assegurar a implementação de todas as medidas de preservação, conservação, valorização e gestão sustentável do território. Compete-lhes fiscalizar o cumprimento de todas as medidas tomadas nas reuniões do Comité de Gestão do Território do Regulado, levantar autos das infracções, adoptar medidas cautelares e de polícia para assegurar os meios de prova, informar o régulo e o Guarda Florestal da DGFC e exercer funções de sensibilização e vigilância no território comunitário.
Em relação aos Guias Ecoturísticos é da sua atribuição relatar experiências vividas em relação à fauna selvagem e plantas medicinais; cooperar com as autoridades informando acerca das actividades ilegais que testemunhe; assegurar-se que os turistas estão conscientes de todas as regras e regulamentos estipulados; fazer o monitoramento do impacte da erosão do solo, diminuição da natalidade de uma espécie particular de pássaros, etc.; melhorar a comunicação entre a administração local e a população para evitar mal-entendidos.
A criação destas estruturas e orgãos é o resultado de um longo processo de procura das melhores soluções para as dinâmicas em curso, recusando sempre conceber uma estrutura para depois encaixar a realidade lá dentro. É um processo lento, cheio de contradições entre os diferentes actores (régulos, guardas, guias, ONG, estruturas estatais), de negociações através de aproximações sucessivas. Todos os regulamentos produzidos resultam de uma procura de resposta aos problemas encontrados no terreno e não de propostas aparentemente muito correctas mas que, de tão generalistas, tanto servirem para Cantanhez como para o Suriname.
Por isso todos os actores envolvidos (IBAP, UICN e AD) devem procurar avançar lentamente, procurando a pouco e pouco uma solução original, evitando que a criação do Parque de Cantanhez se torne um pesadelo e destrua tantos anos de trabalho e dedicação.
A maior ameaça neste momento advém, por um lado da instalação incontrolada de agricultores de países vizinhos que se estão a instalar em grande número junto à linha da fronteira, em plenos corredores de animais selvagens, desmatando completamente zonas que ficam irreconhecíveis; por outro, o papel de certos guardas florestais da DGFC promotores e actores directos de autênticos saques de cibes, muitos deles em plenos corredores de
elefantes.
Trata-se de uma situação demasiadamente grave para não se tomarem medidas urgentes e definitivas, punindo os prevaricadores, instalando um grupo de guardas florestais sérios e competentes com meios apropriados e regulamentando de forma rigorosa o funcionamento dos corredores de animais selvagens.
Outro aspecto que merece uma reflexão profunda é o da realização de estudos de carácter científico, tanto os relacionados com a flora como com a fauna, ocorrendo por vezes situações em que o rigor científico parece dar lugar à procura, a todo o transe, da demonstração de teses predefinidas à partida, traduzidas em perigosas generalizações quando, a partir de amostras de 14% se tiram conclusões apressadas.
Há bons exemplos como os da equipa Catarino-Cassamá que poderão servir de referência para a futura definição dos termos de trabalho das missões de carácter científico.
c) Diversificação Frutícola
Depois de anos a fio a apostar na diversificação frutícola, os resultados parecem demonstrar a pertinência de a considerar como um produto estratégico para o desenvolvimento desta zona sul do país.« Inicialmente dominada em regime de quase exclusividade pela banana, plantada frequentemente em solos ferruginosos com fraca capacidade de retenção da água e com rendimentos muito baixos e atacada por doenças resultantes do stress hídrico, esta espécie foi gradualmente dando lugar à produção da manga melhorada sem fibra, à citricultura assente nas laranjas e limas, para mais recentemente se assistir a um incremento do ananás, abacate
e toranja.
Num levantamento efectuado em 2006, registaram-se 73 fruticultores em 10 tabancas. Assiste-se agora à emergência de um pequeno grupo de fruticultores modernos que se dedica em regime de quase exclusividade à fruticultura, contrariamente à maioria que durante a época das chuvas cultiva produtos alimentares, para na época seca se dedicar mais à produção de fruta. Este grupo de vanguarda, distingue-se dos restantes pequenos agricultores pelas técnicas culturais que pratica, como um melhor ordenamento do pomar (espaçamento e alinhamento), uma escolha mais criteriosa dos solos para cada espécie (mangueiras no cimo das encostas e citrinos nas zonas em que o lençol freático não se encontra profundo), a utilização de cultivares melhoradas a partir de viveiros sanitariamente sãos e maiores superfícies dos pomares.
O sucesso financeiro que este grupo está a obter tem encorajado mais pequenos fruticultores a seguir-lhes o exemplo, o que é assinalável se tivermos em conta que todos estes avanços e modernização se faz sem recurso a grandes investimentos financeiros e sem a utilização de mecanização.
Um dos grandes estrangulamentos que surgiu há cerca de dois anos e se tem vindo a acentuar de forma grave, é o aparecimento de uma nova praga dos mangueiros, a mosca da fruta (Bactrocera invadens), que está a provocar prejuízos preocupantes. Trata-se de um díptero originário do Sri Lanka e assinalado pela primeira vez em 2004 no Benin, que está a comprometer as exportações africanas de mango para a Europa e para o qual ainda não se encontrou antídoto eficaz.
Em 2006 apoiou-se um fruticultor de referência com crédito para a aquisição de um meio de transporte para a evacuação da sua fruta e da dos outros fruticultores da zona, para os mercados consumidores. É uma iniciativa que pretende contribuir para resolver o problema da debilidade dos circuitos comerciais de fruta encontrando uma alternativa assente num produtor da zona. Os resultados parecem ser encorajadores, tanto em termos de aumento da fruta comercializada, como na taxa de reembolso entretanto realizada.
d) Outras actividades
Desenvolveram-se igualmente outras actividades no quadro do PIC:
(i) criaram-se 3 viveiros florestais (Iemberem, Guiledje e Cadedú) em colaboração com associações de jovens, apostando em 13 espécies, algumas delas em extinção e outras que servem de alimento para os animais selvagens (Búfalos, Chimpanzés, Gazelas e Cabras de mato). Produziram-se cerca de 15.000, registando-se a difusão da Leucaena em Cabedú pela dificuldade da população encontrar lenha de cozinha.
(ii) foram concluídas e entregues à comunidade 6 Escolas Firkidja (futuras EVA) em Darsalam, Madina Cantanhez, Cabante, Lautchandé, Bendugo e Iem.
(iii) No Centro Materno Infantil de Iemberém, de Novembro de 2004 (início do seu funcionamento) até Novembro de 2006, nasceram 116 crianças, das quais 86 são do sexo feminino e 30 do masculino. De assinalar que nenhuma mulher ou criança morreu durante o parto, fruto das consultas pré-natais e vacinações das mulheres. A média mensal de consultas é de 600 doentes, sendo os casos mais frequentes o paludismo, a diarreia infantil, a conjuntivite e ferimentos ligeiros. De 2004 ao final de 2006 registaram-se 5 óbitos (3 crianças e 2 adultos) de pessoas vindas de fora e internadas em estado muito crítico.
(iv) Apoiaram-se 8 tabancas (Catesse, Iem, Lautchande, Catchamba, Canamina, Calaque, Kura e Caboxanque) na recuperação de bolanhas, abertura de canais, reabilitação de diques de cintura e de diques secundários.
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(v) apoiaram-se 345 mulheres horticultoras de 19 tabancas com sementes de cebola, tomate, alface, repolho, pimentão e beringela. As mais vendidas foram a cebola (60%) e o tomate (20%).
(vi) à UAC (União das Associações de Cubucaré), que compreende 42 associações, foi concedido um crédito de 4.615.000 Cfa para a compra de 42 toneladas de arroz, que foram distribuídas pelas tabancas mais atingidas pela má campanha do ano anterior e onde se verificavam situações de carência nutricional. (...).
2. Comentário de L.G.:
Amigos e camaradas da Guiné:
(i) Este blogue quer-se um espaço de liberdade e de pluralismo. Mas também de partilha de memórias e de amizade entre ex-combatentes, de um lado e de outro. Um espaço onde cabe, além disso, a solicitude, a solidariedade, a simpatia, a (com)paixão e a amizade para com a Guiné e o seu povo...
Temos aqui falado, desde há dois anos e meio, da ONG guineense AD - Acção para o Desenvolvimento, e do seu papel em prol da democracia, da cidadania, da participação comunitária, da protecção da natureza, do desenvolvimento sustentado e integrado da Guiné bem como da preservação da sua identidade histórica e cultural, nos mais diversos sectores e domínios.
A organização do Simpósio Internacional Guiledje na Rota da Independência da Guiné-Bissau (que vai arrancar no próximo sábado, dia de 1 de Maro de 2008) não é um acto isolado nem uma acção de show-off. Insere-se numa perspectiva estratégica e num processo de desenvolvimento integrado e participado.
A AD, que foi fundada há quinze anos, é uma ONG [organização não-governamental] que tem vindo a consolidar a sua imagem de liderança, seriedade, competência, qualidade e eficácia pelo trabalho realizado na Guiné-Bissau. E isso só pode constituir um motivo de orgulho para a sua direcção e os seus colaboradores. Mas é também um desafio e uma responsabilidade acrescida. Muita gente, a começar pela região de Tombali, tem os seus olhos postos na AD e conta com o apoio da AD, nos mais diversos domínios, da formação profissional à saúde.
O trabalho da AD (substituindo-se muitas vezes a uma administração pública que não existe, ou que não funciona) tem vindo a merecer o nosso respeito e admiração, à medida que o vamos conhecendo melhor. É nessa perspectiva que divulgamos aqui alguns excertos do seu relatório de actividades de 2006 (o de 2007 ainda não está disponível), com destaque para as iniciativas mais relacionadas com o projecto Guiledje.
___________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série:
18 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2554: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (21): Chegou o Nuno Rubim, em Mejo o Capitão Fula (Pepito)
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