sábado, 1 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2599: Recortes de imprensa (2): O Simpósio de Guileje visto hoje pelo Diário de Notícias (Virgínio Briote)



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O Simpósio de Guileje (ou Guiledje), hoje no DN

No caderno Gente, do DN de hoje, 1 de Março de 2008, fala-se do diálogo com o "Inimigo" em Bissau. Uma Reunião inédita na história das guerras. Texto de Leonor Figueiredo. Grande destaque. Três páginas.

Não há na história, tanto quanto se saiba, um encontro deste género. Reunir num dos mais sangrentos lugares da Guerra da Guiné combatentes dos dois lados, hoje irmanados no mesmo espírito: celebrar a Paz e fazer História.

Guileje é descrito como sempre o conhecemos: o corredor da morte e um aquartelamento impossível, ali ao lado.

Fazem declarações a propósito da reunião, o Pepito (Carlos Schwartz, a grande alma do Simpósio) que sonha em cativar ex-combatentes para o que designa como o Turismo da Saudade, e o Coronel Nuno Rubim (das dificuldades na montagem do diorama e do reencontro com os guerrilheiros que faziam as noites brilhantes de luz e os dias negros de pólvora e fumo à CCaç 726). É também entrevistado o Coronel Coutinho e Lima que deu a ordem de abandonar Guileje, em 22 de Maio de 1973. O antigo comdante do COP 5, na altura major, diz que está a acabar um livro sobre a história de Guileje, que ainda suscita mal-entendidos



Fotos do nosso blogue surgem aqui e ali, enquadrando declarações e pequenas entrevistas. O editor do blogue, Luís Graça, autorizou a jornalista Leonor Figueiredo a utilizar materiais do nosso blogue. Como,por exemplo, as declarações de Watna Na Lai, hoje Major-General do Exército da República da Guiné-Bissau, e naqueles tempos comandante do PAIGC.

(...) Para mim (este encontro) tem grande significado, porque durante a luta Amílcar Cabral insistiu em dizer que a guerra não era contra o povo português, mas contra o regime de Salazar. O 25 de Abril veio mostrar que o povo português também estava contra a guerra. Éramos e somos irmãos.




A Tertúlia da Guiné não podia deixar de estar presente na notícia. Luís Graça fala do aparecimento, a princípio tímido, do nosso blogue, e que é hoje considerado o maior blogue colectivo em língua portuguesa sobre a experiência das guerras do Ultramar, colonial, e de libertação, segundo a expressão do próprio jornalista.

O blogue também inclui testemunhos de ex-guerrilheiros do PAIGC, como o coronel Paulo Maló, das Forças Armadas da Guiné, que comandou várias emboscadas.

Da sua participação no encontro em Bissau, Luís Graça - que diz nunca ter usado a sua G-3, nem mesmo debaixo de fogo - espera trazer novos contributos.


(..) "Há cinco anos, o professor da Escola Nacional de Saúde Pública de Lisboa e ex-furriel miliciano na guerra da Guiné-Bissau entre Maio de 1969 e Março de 1971 decidiu, como tantos outros, partilhar a sua experiência de guerra e criou um blogue pessoal.

"A primeira reacção não se fez esperar. 'O primeiro que me apareceu foi um operário do estaleiro de Viana do Castelo. Ficou o número dois da tertúlia. Não eram só ex- -militares, mas também familiares, a viúva, a ex- -namorada... depois a tertúlia virou um pequeno rio', pormenoriza Luís Graça ao DN gente.

(...) "O 'rio' que cresceu deu origem a um blogue que teve mais de 400 mil visionamentos, até Setembro passado, além das 200 pessoas que ali partilham regularmente a sua experiência.

"O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné tem mais de mil visitas diárias e já deu origem ao livro de um ex-militar da Guiné, Beja Santos.

Neste meio de comunicação juntam-se homens de muitas profissões, além de médicos e alguns oficiais superiores.

"No entanto, 'a maior parte são milicianos, soldados e alguns têm o handicap de não lidarem facilmente com a Internet. De resto, não fazemos juízos de valor. Falamos do que vimos e testemunhamos, mas não entramos em políticas nem da guerra nem da descolonização', sublinha Luís Graça".(...)


Referindo-se ao programa do Simpósio Internacional de Guiledje, diz a jornalista:

(...) "Todo o encontro fará referências ao quartel de Guiledje, abandonado em 1973 pelo então major Coutinho e Lima para salvar 600 pessoas. O chamado 'corredor de Guiledje' era fundamental porque por ali se abastecia o PAIGC de armas e mantimentos. Três dias depois do abandono, o PAIGC toma o quartel, acto fundamental para a proclamação da independência da Guiné-Bissau a 24 de Setembro desse ano.

"Muitas centenas de guineenses e portugueses passaram por Guiledje, cuja referência não aparece nos mapas vulgares, anos inesquecíveis das suas vidas. 'Hoje existe respeito mútuo dos dois lados e vontade de recordar as histórias. Até porque faltam peças do lado do PAIGC', sublinha o ex-combatente Luís Graça, que no blogue de partilha com os camaradas da Guiné vai registando as memórias. O mesmo não acontecendo da parte dos ex-combatentes guineenses, muitos dos quais já morreram ou estão velhos, já que a esperança de vida é menor, sem o hábito de registar pela escrita episódios numa sociedade que vive muito da tradição oral.

"Hoje, os participantes vão visitar o que resta do quartel de Guiledje, estando o encontro com os ex-combatentes guineenses marcado para amanhã. Visitarão depois os media locais, centro materno-infantil e um antigo acampamento do PAIGC. Os trabalhos iniciam-se depois de amanhã na Assembleia Nacional Popular, em Bisau, com a presença de individualidades dos dois países. Historiadores, sociólogos e agrónomos, portugueses, guineenses e espanhóis, diplomatas cubanos, ex-militares do PAIGC guineenses e cabo-verdianos falam sobre diversos aspectos da guerra, e ouvir-se-ão testemunhos da população, ex-milícias e régulos" (...).

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Nota de vb:

(*) O primeiro post desta série foi publicado em 15 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1663: Recortes de imprensa (1): As nossas mulheres e o stresse pós-traumático de guerra (Zé Teixeira)

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