História da Guiné (1841-1936) Vol. I
René Pélissier
Histórias de Portugal
282 Pags
€ 14,27+ IVA
282 Pags
€ 14,27+ IVA
Editorial Estampa
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René Pélissier, quem é?
Doutorado em letras, Pélissier é um especialista em história colonial Portuguesa recente. A vasta obra publicada (sete volumes em língua portuguesa) não abarca apenas Portugal, estende-se também a Espanha.
Os seus trabalhos ajudam-nos a entender as aventuras africanas e asiáticas dos povos ibéricos.
Correspondência com o Professor René Pélissier (I)
1. A propósito do lançamento do livro do Inácio Góis, o Meu Diário, recebemos em tempos uma mensagem do Professor René Pélissier:Prezado Senhor,Sou o historiador e bibliógrafo francês da Guiné e não consigo encontrar um exemplar de uma edição de autor que a Biblioteca Nacional de Lisboa possui mas, sem dar o endereço do autor – editor.
Trata-se de Góis, Inácio Maria: O meu Diário (1). Guiné 1964-66 Companhia de Caçadores 674, s.l. s. d. Aljustrel: Mineira, 674 páginas cerca de 2006.
Seria capaz de me dizer onde posso arranjar o livro ou pelo menos como contactar o autor? Alguém no vosso blog conhece este senhor?
Muito obrigado pela sua ajuda
Melhores cumprimentos
Prof. René Pélissier
Prontamente, e com muito gosto, respondemos-lhe:
Caro Professor René Pélissier,
Já publiquei a sua mensagem no foranada, um blogue que reúne mais de 100 ex-combatentes na Guerra da Guiné, abrangendo todos os anos do conflito colonial. Estou certo que vamos encontrar o autor e, assim, satisfazer o seu pedido.
Já publiquei a sua mensagem no foranada, um blogue que reúne mais de 100 ex-combatentes na Guerra da Guiné, abrangendo todos os anos do conflito colonial. Estou certo que vamos encontrar o autor e, assim, satisfazer o seu pedido.
Procurei, em tempos, saber o porquê de um estrangeiro, dedicar tanto tempo da sua vida na pesquisa e publicação de tão vasta bibliografia sobre a aventura deste pequeno povo pelas terras africanas e asiáticas. E nunca consegui saber. Será que existe algum sítio onde eu possa procurar informação fidedigna sobre o Professor?
vb (Virgínio Briote)
2. Dias depois, o Prof Pélissier respondia-nos:
Prezado Senhor,
Agradeço muito a sua ajuda e li a sua mensagem no blogue.
É muito difícil ter uma relação razoavelmente completa dos livros publicados sobre a guerra colonial e sugiro que, ao seu nível, o blogue tente fazê-lo para a Guiné, dando as referências bibliográficas completas (incluindo os endereços dos editores ou autores-editores). Não falo dos artigos que abundam!~
Sou muito pouco esperto em relação a informática, mas julgo que não deve haver sítio nenhum dedicado à minha contribuição "ultramarina". O que posso dizer é que existe no Diário de Noticias de 2 de Abril 2007 uma pequena entrevista minha que talvez possa responder a algumas das suas perguntas.Como sabe a Editorial Estampa já publicou sete volumes da minha autoria sobre a história mas é apenas uma pequena parte do que publiquei em francês sobre o assunto. A tradução custa muito e os leitores são poucos.
Tenho as maiores dificuldades em encontrar uma revista ou um jornal português sério que aceite gastar dinheiro para publicar crónicas bibliográficas internacionais, trimestrais sobre o tema "ultramarino".~
Agora estou á procura de um novo media, visto que a minha colaboração com uma revista portuguesa conceituada acaba no fim de 2007. Na Biblioteca Nacional de Lisboa pode ver o meu último livro de bibliografia (1712 resenhas!): intitula-se Angola-Guinées-Mozambique..., 748 páginas e verá o que pretendo fazer no domínio da informação.
Vamos ver se vou continuar ou desistir: sem media e interesse do público não vale a pena dedicar-se a tanto trabalho. E como sou um especialista independente e não partidário é raro que " je plaise aux Grecs et aux Troyens".
Vamos ver se vou continuar ou desistir: sem media e interesse do público não vale a pena dedicar-se a tanto trabalho. E como sou um especialista independente e não partidário é raro que " je plaise aux Grecs et aux Troyens".
Muito obrigado.
René Pélissier
René Pélissier
O Prof Pélissier no DN em 02-04-07
O francês com uma paixão pela África portuguesa
O historiador francês René Pélissier apaixonou se pela nossa história colonial. E, apesar de não o dizer, adivinha-se que se enamorou do País e dos portugueses "mas de uma forma lúcida". Nesta relação ainda mal esclarecida que dura desde a adolescência, ainda não parou de escrever sobre o nosso passado e queixa-se de não ser reconhecido por Portugal. Em França, os adeptos do tema também não devem ser muitos. Apresenta-se René Pélissier, um homem só.
No livro que acaba de lançar, previne que não se trata de "libelo nem acusação" a Portugal. Mas isso esperar-se-ia de um historiador?Só o historiador ideal é imparcial. A objectividade é uma fábula prisioneira de preconceitos, ideologias, antipatias e nacionalismo. Mas para a história colonial portuguesa basta consultar os autores de língua inglesa. Há séculos que a maior parte a denuncia como negreira, arcaica, brutal e incapaz: a quinta-essência do ultra colonialismo sob os trópicos.
É a sua grande obra, fruto de 40 anos de pesquisa, muito mais do que a compilação de livros anteriores?
Certamente. É o meu testamento historiográfico em honra dos portugueses, se quiserem abrir os olhos sobre a sua história colonial recente. Nos livros anteriores, sobre a conquista de Angola, Moçambique, Guiné e Timor, fiz uma análise profunda do avanço da fronteira colonial. Mas faltava a visão global e o estudo da progressão da implantação no império. Neste livro para o grande público, não posso pormenorizar, o leitor ficaria perdido no formigueiro cronológico de 490 operações militares. É uma síntese documentada, em que demonstro que não houve colonização sem primeiro haver soldados, na África tropical continental e Timor.
Por isso defende que a colonização começa no séc. XX, e não no XV.
Quis dinamitar o mito dos "cinco séculos de colonização/exploração". Como falar de "cinco séculos" em que o colonizador não aparece, senão na viragem do século XIX para o XX?
Para destruir este mito que tanto mal fez a Portugal, nada melhor do que o estudo da sua história militar colonial desde 1800. É uma evidência que para haver colonização é preciso haver colonos. Ora, as estatísticas oficiais, apesar de frágeis, mostram que a esmagadora maioria dos colonos estavam concentrados em Luanda. Mesmo em 1900 – admitamos que havia dez mil europeus –, o povoamento branco era minúsculo.
Durante décadas crescerá muito lentamente. Penso mesmo que, em 1900, metade dos futuros angolanos, no mínimo, nunca tinha visto um único branco.
Sei que a África portuguesa nunca foi o Jardim do Éden, mas foi pior nas outras colónias tropicais europeias. A diferença é que as suas metrópoles nunca reivindicaram nem cinco, nem quatro, nem três (à excepção da África do Sul) séculos de colonização.
Estudou a política colonial de vários regimes. Há grandes diferenças entre monárquicos, republicanos, a ditadura militar e Salazar?
Não houve grandes diferenças entre a monarquia e a I República no plano militar, à excepção talvez de os oficiais da república não hesitarem em empregar métodos radicais.
Salazar herda uma situação militar "calma", o que convém à sua visão contabilística: o império deve não só bajular o orgulho nacional da metrópole, como também contribuir para enriquecê-la.
Em 1930 e 1940, era a ambição admitida por todos os colonizadores, europeus e japoneses. Salazar trouxe continuidade na gestão governamental e evitou a perda de parte ou de todo o seu império para os aliados. Mas, prisioneiro do mito da unicidade do caso português, esclerosou-se, acreditando poder escapar, só, ao desaparecimento dos impérios ultramarinos, mais ricos e desenvolvidos do que o seu.
Vítima do mito dos cinco séculos, não quis ver as realidades e preparar o futuro. A sua obstinação transformou-se em pesadelo para a maioria dos portugueses, de 1961 a 1975. E bem depois.
Chamou às colónias "antídoto" psicológico para "a falta de confiança, pessimismo e complexo de inferioridade dos portugueses". Continua a pensar assim?
Chamou às colónias "antídoto" psicológico para "a falta de confiança, pessimismo e complexo de inferioridade dos portugueses". Continua a pensar assim?
Não. Desde 1974-75 parece que o português médio retomou confiança no seu futuro europeu.
Mas escreveu em Explorar (1979) que os portugueses tinham nove espelhos para se verem na História.
Agora terão menos, talvez, mas a fórmula de Eduardo Lourenço continua pertinente – "Portugal é um país que nunca soube viver a sua história, senão como História Santa". Ainda há trabalho a fazer para os "jovens" historiadores ou jornalistas lusófonos. A luta continua!
Acusou alguns jornalistas portugueses de terem feito propaganda. Quando? Como bibliógrafo, chega à mesma conclusão ao ler os muitos livros que têm sido publicados?
Sim, quando os PALOP ainda eram colónias do Estado Novo e mesmo depois, nos anos das ilusões, após 1974.
Agora é diferente, com a chegada de gerações de grandes profissionais. Consegui – e às vezes foi difícil, pois certos editores portugueses não sabem o que é um serviço de imprensa ou julgam que a minha opinião não vale o custo de envio – os livros de reportagem ou de análise que estes novos jornalistas publicam sobre os PALOP e Timor.
Alguns são notáveis e fazem um trabalho de historiador, o que escrevi, preto no branco, nas minhas crónicas bibliográficas internacionais na Análise Social.
A paixão por África começa aos 12 anos, ao ler a revista Science et Voyages. E o caso português?
É uma história de amor. Fiquei encantado com o Terceiro Império. O desconhecido fascina-me. Tive vocação de explorador tardia, mas obstinada! Interrogava-me: como conseguiram negligenciar os portugueses cultos, míopes pelos "fumos da Índia", a história feita pelos parentes há duas ou três gerações? Estava tão apaixonado pela mina de ouro que é a biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa que cheguei a pensar naturalizar-me português para entrar neste continente misterioso.Porque não se naturalizou?
Por três razões: a primeira é que prefiro Fernão Mendes Pinto à poesia épica; a segunda, é que com o fim dos impérios coloniais, se tivesse exercido o meu espírito crítico como historiador não partidário, teria tido, como português, sérios problemas com a PIDE; a terceira é que fui para o terreno africano confrontar os livros com as realidades.
A paixão por África começa aos 12 anos, ao ler a revista Science et Voyages. E o caso português?
É uma história de amor. Fiquei encantado com o Terceiro Império. O desconhecido fascina-me. Tive vocação de explorador tardia, mas obstinada! Interrogava-me: como conseguiram negligenciar os portugueses cultos, míopes pelos "fumos da Índia", a história feita pelos parentes há duas ou três gerações? Estava tão apaixonado pela mina de ouro que é a biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa que cheguei a pensar naturalizar-me português para entrar neste continente misterioso.Porque não se naturalizou?
Por três razões: a primeira é que prefiro Fernão Mendes Pinto à poesia épica; a segunda, é que com o fim dos impérios coloniais, se tivesse exercido o meu espírito crítico como historiador não partidário, teria tido, como português, sérios problemas com a PIDE; a terceira é que fui para o terreno africano confrontar os livros com as realidades.
E como não gosto dos mitos, fiquei estrangeiro, mas sempre grande consumidor de publicações portuguesas – uma droga dura para mim, pois moro em França numa biblioteca ultramarina! -, mas livre de me exprimir, sem ser acusado de ser traidor à "nova" pátria.
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(1) Por vezes, as nossas lágrimas foram difíceis de conter nas matas infernais da Guiné-Bissau, entre a região norte de Bafatá e nordeste de Farim, junto à fronteira do Senegal, onde a CCaç 674 se encontrava acantonada na pequena povoação de Fajonquito. (...).
O meu Diário, Guiné - 1964/1966. Companhia de Caçadores 674, de Inácio Maria Góis. Edição do Autor. Gráfica Mineira, Ltd.- Aljustrel. Abril 2006.
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Notas de vb:
1. vd artigos de René Pelissier, Análise Social, vol. XXXVIII (166)
Militares, políticos e outros mágicos
Esta nota de leituras refere-se a numerosos livros sobre a guerra, nomeadamente a guerra colonial portuguesa (1961-1974). Um número que poderia ter sido muito maior se os editores nos tivessem facultado todos os títulos pedidos. É que alguns parecem ter dificuldade em fornecê-los, ou consideram que os serviços de imprensa lhes saem demasiado caros, ou então trabalham com pessoal negligente. Em suma, não se trata, portanto, de uma selecção baseada em escolhas políticas ou simpatias pessoais do autor. Uma bibliografia só pode falar daquilo que se tem à mão. É, todavia, manifesto um crescimento significativo das memórias de antigos combatentes portugueses, aliás bastante mais significativo do que a produção suscitada pela conquista colonial dos séculos XIX e XX. Tudo indica que, nas décadas futuras, esse fluxo aumentará exponencialmente, devido às centenas de milhares de portugueses letrados que foram mobilizados para a defesa do império, devido à diversidade das suas experiências e ao traumatismo gerado por uma guerra que a grande maioria odiava, quer a considerasse inútil, contrária aos seus projectos e desumana, quer tivesse a sensação de ir arriscar a sua vida por interesses políticos e económicos com que não se identificava. As guerras de descolonização deixam geralmente uma lembrança amarga no espírito dos europeus que as travam. Os portugueses não fogem, evidentemente, a essa regra e estamos longe do triunfalismo das «belas campanhas coloniais» à Mouzinho de Albuquerque, Alves Roçadas, João de Azevedo Coutinho e outros grandes ou pequenos heróis de há três ou quatro gerações. Não há, nem nunca haverá, heróis nas guerras que vamos visitar. Apenas vítimas de ambos os lados, pese embora aos propagandistas e historiadores nacionalistas.De qualquer forma, na guerra de 1961-1974, uma guerra esfarelada e sempre recomeçada, sem batalhas decisivas, sem oficiais triunfantes, sem desafio patriótico, não há quem consiga citar um único nome sonante de entre a monotonia dos milhares de oficiais esgotados no mato ou prudentemente refugiados num qualquer gabinete com ar condicionado.
2. ver artigo de:
20 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2286: Bibliografia de uma Guerra (24): O meu diário, de Inácio Maria Góis (CCAÇ 674, 1964/66)
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