A coragem de pensar em voz alta. A falar com ele, de tudo, mesmo de factos que nem sempre o deixaram em paz. O Torcato Mendonça.
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1. Mensagem do Torcato Mendonça.
Domingo, 24 de Fevereiro de 2008.
PENSAR EM VOZ ALTA
Meus Caros Editores
Não era para enviar mas vai. Vou parar uns dias devido a outras vidas.
Para mim as sondagens, se tratadas por quem sabe, podem dar uma amostragem curiosa desta Tertúlia. Partindo do principio que, o universo das respostas se confina só aos membros (207?). Pode ser alargado a todos os que não pertencendo votam. Sabem melhor que eu.
Quanto a fracturas…bem … o que não fractura…
Votos de óptima viagem aos que, neste momento, trilham estradas a caminho de Bissau e aos que, proximamente, vão ao Simpósio.
Oxalá aparece “livro” com comunicações e conclusões.
Um abraço,
Torcato Mendonça
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PENSAR EM VOZ ALTA ---- B
1 - Os P´s
Quando lemos alguns textos somos, por vezes, levados a reflectir calmamente sobre o seu conteúdo. Depois, podemos ou não fazer um escrito. Ou seja, podemos prosar de forma prosaica sem prosápia e, porque a senilidade ainda não se instalou totalmente, expressarmos o nosso pensamento. Sem pretensão de infirmar sobre o pensamento de outros, muito pelo contrário, afirmar, isso sim o nosso e quantas vezes, se formos capazes, reforçar em livre expressão nossa, o que lemos. A sondagem 7… sobre a guerra… violenta e humana… é um desses textos.
Ler o Blogue tornou-se quase um vício. Agradável e não uma dependência.
Hoje, com o tempo frio e húmido, as cicatrizes a protestarem, dizendo – presente – a leitura do jornal, o café duplo e a espera pelo despertar das ideias.
Passamos ao teclado, alinhamos palavras, voltamos a locais de contradição, locais de dor e amor, de alegria e tristeza, locais únicos de saudável duplicidade. Só nós entendemos. Porquê? Não entendo ou não o quero fazer?
Volto lá e tento um comentário. Assim:
O Psiquismo dos combatentes era fortemente abalado. Depois da morte do Alferes, da Milícia de Moricanhe, Uro Balde, vitimado por uma mina anti-pessoal aquando do rapto do Soldado Monteiro, sofri um choque forte. Outros factores agravaram.
Dormia mal. Ainda tomei um medicamento forte. Era pior. Dormia mas os sonhos continuavam. Depois habituamo-nos. Melhor, pensamos estar habituados. Não. Vejamos, um tormento desse tempo a prolongar-se mais que o desejável.
(….)
SONHOS
A maior operação em que participei, quer pelo número de dias quer pelos meios humanos empregues, foi a Lança Afiada. Só neste aspecto foi grande.
Os resultados, vistos pelo aspecto militar, foram fracos. Destruíram-se inúmeros acampamentos inimigos, fizeram-se prisioneiros – mulheres, crianças, adolescentes e velhos. Não se desarticulou profundamente a estrutura do PAIGC. Mesmo com muito armamento apreendido e a destruição de muitos “depósitos” de alimentos.
As baixas provocadas ao IN foram poucas, face aos meios por nós empregues. Parece incorrecto assim falar, mesmo hoje quase quarenta anos passados.
Parece um desejo de morte. Não é assim. Tento é ver com os olhos de outrora e, ontem como hoje, aquela operação, como todas, eram de destruição e aniquilamento. Assim, no nosso entendimento, deviam ter participado forças especiais a montar emboscadas na margem esquerda do Corubal.
E não só. Pode considerar-se uma crítica a todos os que a planearam e ao ComChefe.
Teimosia do General, mais que falta de visão, aliada á falta de coragem de o contrariarem. Tinha e tenho consideração pelo General. Não devo agora falar dele. Talvez um dia o faça. Escrevi na Agenda de 69 – em nota final à operação – assim a guerra é uma merda!
Sofremos vinte e dois feridos (quatro eram do meu grupo), cento e muitos evacuados por doença e insolação.
Temos que atender à duração, onze dias, às elevadas temperaturas – com médias de máximas à sombra entre 39 e 43,6 e ao Sol entre 70 e 74,5 graus – ao deficiente apoio logístico, principalmente no fornecimento de água e às rações de combate não adaptadas aquele clima.
Podemos voltar, um dia, a falar desta operação e à reacção ou retaliação do IN.
Já no regresso da operação, perto do Galo Corubal, com a tarde a cair rápida, parámos para descansar e comer. Tudo no maior silêncio possível, aplicando-se aqui e bem – o silêncio é de ouro.
Trazíamos prisioneiros, mulheres, crianças e três ou quatro adolescentes. De repente, já o sol tinha desaparecido, ouve-se o choro de um bebé. Alto, cuidado.
Digo, talvez ao Sukel – manda calar o miúdo. Cala-se, mas volta a chorar.
Mau, raios parta a sorte. O Sukel olhava para mim mostrando a sua impotência em pôr cobro á situação. Ele era fula, a mulher e o bebé balanta ou beafada sendo difícil o entendimento.
O choro aparecia de forma descontínua entrando como som de corneta mata adentro. Levanto-me e vou junto da mãe. Na penumbra, vejo-a segurar mais fortemente o bébé contra o peito. Não procuro falar. Olha-me e sabe porque ali estou. Vejo medo, terror mesmo, no olhar e sinto que compreende a situação. A segurança de muita gente está a ser posta em causa. Ela apercebeu-se disso, embala e aperta mais forte o filho contra o peito. Levanto-me e, quando me voltava, o bebé esperneia e volta a chorar.
Paro. Olho-a e ponho a mão esquerda na minha boca, puxo da faca de mato e passo-a pelo meu pescoço.
O terror no olhar daquela mulher, o soluço contido, o forte apertar do filho contra o peito, os olhares das outras mulheres e o choro abafado das outras crianças deixam-me aturdido, perturbado, revoltado. Afasto-me lentamente.
Guiné >Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > O Alf Mil Torcato Mendonça. Uma imagem que nos traz à memória o Apocalipse Now, O Caçador e outros filmes americanos da Guerra do Vietname. Pena é que a Guerra na Guiné, com tanto pessoal colocado anos e anos no Departamento de foto-cine, no QG em Bissau, não tenha praticamente produzido nenhum documento que não fossem as cerimónias de Bissau. E entretanto, a Guerra prosseguia impiedosamente, todas as horas de todos os dias, 11 anos seguidos, sem um dia de tréguas, nem mesmo depois do 25 de Abril.
Em quem, ou no que me tornei?
Sento-me, procuro acalmar e encontrar justificação, para toda aquela brutalidade. O miúdo calou-se. De repente barulho, correrias, sons a serem abafados, vozes sussurradas. Dizem-me: - o puto mais velho fugiu e um outro está ferido.
São dadas ordens rápidas para sair dali. Não tínhamos condições de segurança. Os turras estavam perto e o puto, quinze ou dezasseis anos, já sabia muito. Depressa os encontraria. Iniciámos um regresso rápido.
Nem duas horas depois aí estavam os nossos inimigos a bater a zona. Aceleramos o passo e só paramos depois da meia-noite. A estrada Mansambo – Xitole não estava longe.
Paramos para breve repouso. Enfiei-me no ponche com o Capitão. Consulta à bússola e à carta, dar umas curtas “passas” num cigarro e descansar um pouco, sentados sobre os calcanhares travando o desandar dos corpos com os ombros. Só que o cansaço atraiçoou-nos e o tempo passou rápido.
Acordámos em sobressalto com a manhã quase a raiar. Por pouco não acertei com a G3 numa “surucucu”, enroscada ali perto. O Milícia estava atento… e houve uma baixa nos répteis.
Saímos rápido, tentamos o contacto com Mansambo e só voltamos a parar bem perto da estrada. A partir daí tínhamos que redobrar os cuidados. Uma vaca de mato apareceu e o Lhavo, o nosso guia, queria atirar. Não! Mansambo é já ali – dizia ele. Não!
De facto, pouco depois estabelecemos contacto com a nossa malta, aliviámos a carga, sentimos mais segurança e Mansambo aí estava.
Belo aquartelamento…Larguei o material e tentei encontrar chocolates, doces e bolachas. Não tinha esquecido aquela mãe. Procurei-a. Quando me viu recebeu-me com o mesmo olhar de terror e apertou o filho. Tentei sorrir e dar-lhe as guloseimas. Certamente desconhecidas para ela e para a criança. Sabia, isso sim que eu era o seu inimigo. Entreguei ao Chefe de Tabanca, Leonardo Balde as “coisas”. Ele percebeu e disse: vai Alferes, vai. Eu trato deles.
Pedi ao Zeferino uma garrafa de uísque e fui tomar banho. Não voltei a ver mãe e filho. Durante muito tempo, de quando em vez eles voltavam, sempre da mesma maneira em sonho ou pesadelo a encharcar-me o corpo e a latejar as têmporas. Era mais um sonho ou pesadelo a juntar a outros. O tempo foi curando… nem sei. Os sonhos sempre foram e vieram, cada vez menos… um dia pensei terem-se ido, enganei-me. Mas isto não é o muro das lamentações. Foi um período dispensável da minha vida. Aconteceu… marcaram fortemente aquelas experiências. Foi negativo. Certamente também teve algo de positivo.
Há dias, tentei justificar o meu voto na sondagem a guerra… com o envio desta mensagem depois de ler uma resposta a outra.(…)
Abri o “correio” e li a mensagem abaixo. Mas que é isto? Nem reparei, haver outra mais abaixo em declaração de voto. Quando, antes, tinha lido a frase suporte da sondagem disse: porquê? Depois li e reli.
Na minha idade deve ler-se e reler-se. Não só por mor da idade. Não me queria meter nisto e, menos ainda faço declaração de voto. Tento afastar-me da politica… mas! Se isto fosse Declaração de Voto parecia política, nada disso. É um simples escrito. Talvez de alguém muito intrometido. Já votei. Porquê? Pela razão que devo participar e o voto, aqui e noutras sondagens poderão – se tratadas – ser um indicador deste Grupo.
Vejamos:
- Se eu regredir até ao meu tempo de militar posso votar;
– Concordo! Escrevi, alguns escritos foram publicados, sobre o Malan Mané, Braimadicô e, das estórias do José;
– O Sonho – não deve ter sido publicado (um tormento meu) e outros que não me lembro.
Eram tempos de Guiné, tempos de guerra imposta para a qual fui preparado. Melhor ou pior foi, no entanto, o treino suficiente para a desumanização. Se olhar para a frase com os olhos de hoje, digo não. É primário e básico para mim. A guerra é a suprema violência colectiva. A sucessão de actos desumanos, injustos e só praticados, por quem procura através da injustiça fazer prevalecer uma razão que não lhe assiste.
Vejamos as guerras actuais. Tentemos, com olhos de hoje, ver aquela em que participamos. Então? Claro, claro que era injusta, desumana e de violência gratuita. Cuidado: de ambos os lados existem erros. Disse aqui, creio eu – Bons, Maus e Vilões…disse…
Nas chamadas – tropas especiais – essa “metamorfose” era mais notória. Tive uma especialidade e preparação um pouco consentânea com esses princípios. Por isso sofri, depois de, sem dar por isso, ter claudicado. Sofri a tal metamorfose, a transformação, o sentido da disciplina, o suor a poupar sangue e outras…
Aqui, neste espaço sou forçado a regredir para escrever sobre esse passado. Será correcto? Seria dispensável a Sondagem? Não.
Vamos certamente ter uma amostragem que, se tratada, terá interesse para melhor nos conhecermos. Voto como outrora, CONCORDO. Porque não é o voto actual. É isso sim o voto do militar de outrora. Antes fora aquele jovem alegre e brincalhão que um dia os senhores da guerra, a mando dos políticos, metamorfosearam e era mais um…é pá…UM VOTO ACTUAL: TODOS PELA PAZ, PELA CONCÓRDIA, PELA JUSTIÇA (possível) ENTRE OS HOMENS. Em liberdade, igualdade e fraternidade. Mesmo utópica.
E peço desculpa dela ultima frase…C’ est la revolution? Bá… I beg your pardon (…) Não apago a “citação em francês e em inglês” porque expressam somente um pensamento e, simultaneamente tentam dizer que, neste site existe a livre expressão mas não a tomada de posição fora dos onze princípios…
Hoje, 24 de Fevereiro, no escrito do autor da frase que deu origem á sondagem, leio … a guerra dos pára-quedistas e uma foto de um cartaz contra a pide.
Quanto á primeira merece um breve comentário: se os pára-quedistas tinham uma guerra diferente (ou sentida de outra forma diversa) dos outros miltares desconhecia. Talvez o título induza em erro ou tenha eu entendido mal.
Quanto ao cartaz: eles estavam em toda a parte e nós milicianos mereciam, no tempo que lá estive, uma atenção especial…voltarei a este tema.
Antes, sem atingir ninguém que nesse tempo tinha entrada no lado do edifício de oficiais de Bambadinca, não sei ao certo onde ou quem viu os livros, acrescento um breve escrito sintomático dos longos tentáculos das” informações”….(…) O Livro, o Bufo* e o Jagudi**. Ou Bambadinca, Meu Amor.
Era uma vez um Livro, pequeno, cerca de cem folhas ou poucas mais. Viajante infatigável, habituara-se a passar de mão em mão, sendo folheado calma ou bruscamente, consoante o leitor. Desta vez entregaram-no a um sujeito barbudo e de rosto fechado.
Pegou nele, lançou breve olhar á capa e contracapa. De forma brusca atirou-o para cima de uma cama. Aterrou, o livro, próximo de um monte de roupa, junto a um saco cilíndrico, verde, seboso pelo uso pouco cuidado e com restos de lama de tarrafo. Pela experiência pressentiu a proximidade de viagem. Limitou-se pois a observar tudo o que o rodeava.
O homem arrumava papéis, blocos, canetas e objectos similares numa caixa de madeira. Fechou-a com um cadeado, colocando depois a chave num fio que tinha ao pescoço. Com gestos automatizados passou á roupa, separando-a de forma a ficar em pequenos montes. Fumava cigarro atrás de cigarro. Berrou um nome qualquer.
Pouco depois apareceu um outro sujeito, mais magro e macilento. Entregou ao homem um pequeno saco, talvez com artigos de higiene, uma máquina fotográfica e um rádio. Não trocaram palavra e nem se olharam.
Meteram a roupa e os outros objectos dentro do saco verde. O homem trouxe mais dois outros livros. Embrulhou-os numa espécie de rede mosquiteira e ficaram, os três, no cimo do saco. O sujeito macilento fechou o saco militar e trouxe-o, juntamente com a caixa para junto de outra bagagem a ser carregada numa viatura.
Pouco depois ouviu vozes, ordens de marcha e sentiu, habituado que estava, ao início de uma outra viagem. Conseguia ver, por entre as malhas da rede, a picada, a mata não muito densa e os militares com armas na mão, rostos fechados, olhares atentos.
Tentou falar com os outros livros. Um era bem maior que ele e o outro não tanto. Só falava francês e não foi entendido. Calou-se. Não demorou muito a viagem, talvez duas horas ou nem tanto. Ouviu gritos e risos de meninos, o vozear alegre de outros homens, em língua desconhecida para ele. Apercebeu-se terem chegado a uma aldeia.
Tiraram o saco e a caixa da viatura colocando tudo, com cuidado, numa palhota. Sentiu o cheiro a medicamentos. Ouvia, cá fora, risos e conversas em voz alta. De repente entrou o homem com mais papéis. Abriu a caixa e meteu tudo lá dentro. De seguida abriu o saco de onde tirou os livros, a máquina fotográfica e o rádio. Colocou-os sobre uma espécie de mesa, junto á caixa de madeira e afastou-se.
Tinha agora, daquele local, uma melhor visão do que o rodeava no pequeno espaço de uma palhota. Quase diariamente era lido pelo homem. Folheava-o cuidadosamente, com carinho mesmo, tomava apontamentos e, de quando em vez, trocava-o pelos outros; ou, mais frequentemente pelo outro, o mais pequeno, apesar de maior que ele.
O maior era menos lido. Outras vezes escrevia nos cadernos. Pressentia ser, aquela palhota (tabanca ou morança, como lhe ouvira chamar) o centro da aldeia. Tudo girava á volta dela, até a pequena enfermaria.
Os dias passaram rápidos. Voltou a viajar e foi entregue a outro homem. Era o seu destino, a razão da sua existência numa contínua e eterna peregrinação.
Ficção com factos reais, senão ouça:
O homem era militar da 2339 com base em Mansambo. Viajou primeiro para a Tabanca em autodefesa de Candamã e Afia com o seu Grupo reforçado; posteriormente viajou para Bambadinca, sede do BCAÇ de que estava dependente, apesar de pertencer a uma Companhia Independente. Como gostava de ler levou três livros, matava o tempo e suavizava o mau viver em condições difíceis. Se bem me lembro, os livros foram todos emprestados. O Livro era: Révolution dans la Révolution de Régis Debray; outro, um pouco maior, era Terra Ocupada de Urbano Tavares Rodrigues e, o maior não me recorda o nome, tratava de guerra, das suas tácticas etc., escrito por um militar, Coronel ou perto desse posto, chamado Hermes de Oliveira.
Estive, entre quinze dias e um mês, em Candamã e depois passei por Bambadinca antes de regressar a Mansambo. Aproveitei para beber um uísque com gelo, tomar um duche há muito adiado, uma refeição decente e dormir numa cama. Indicaram-me o quarto, talvez com mais camas, naquele edifício em forma de U.
Apesar da confiança protegi com roupa a caixa de madeira (antes era cunhete de granadas, agora tinha documentos confidenciais) e desfiz o saco. Descuidei-me com os livros. Fui tomar um duche e devo ter cantado e demorado. Demorado muito certamente, sentindo o prazer da água a escorrer-me pela encardida e curtida pele. Certamente voltei e arrumei tudo, livros incluídos.
Sabia bem das relações de R. Debray com Guevara na Bolívia e do que tratava o livro sendo desnecessário aqui focar; ou dizer que Urbano T. Rodrigues não morria de amores - suave - pelo regime, nem a censura por ele. Quanto ao outro livro não comento.
Talvez uma semana depois voltei a Bambadinca. Fui chamado ao Comandante. Certamente trazia documentos para ele e vice-versa. Depois das saudações, foram tratados os diversos assuntos. Na parte final da reunião fez-me, no entanto, uma pergunta normal mas, a sua formulação alertou o meu sexto sentido.
- Sei que gosta de livros. O que está a ler agora? (Pois…)
- Um livro sobre guerrilha de Hermes de Oliveira e outro do francês Jean Laterguy, sobre guerra na Argélia. (pois…)
- Claro, claro. Escrito em francês?
- Não meu comandante. Já foi traduzido claro. Está em português.
- É preferível. Não gosta de ler em francês pois não? Sorriu, por detrás do bigode de galã de filme italiano dos anos 60. E mais não disse (o Comandante era o Tenente Coronel Pimentel Bastos). Não respondi.
Talvez tenha esperado um pouco e pedido autorização para sair. Talvez tenhamos almoçado na mesma sala. Certo é nunca ter sabido quem fora o bufo*. Se houve denúncia… não era a primeira vez…Pululavam, os bufos, por toda a parte… talvez fossem mais abundantes que os jagudis. ** Preferia os últimos. Eram úteis!
E neste dia frio e húmido paramos. A noite entra devagarinho. O Sol há muito que se escondeu por detrás dos montes. Aqui, no vale ou no sopé destas serras a rodearem-me por todos os lados, anoitece mais rápido. Por isso, não só por isso, a necessidade de rumar ao meu Sul.
Amanhã, ou noutro dia qualquer continuo… um dia de cada vez…. Esperando o seguinte… como outrora lá e agora, não há muito tempo, cá…
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Notas de Torcato Mendonça:
*Bufo: - espécie da família das corujas. Maiores, olhos grandes e amarelos. Certas “pessoas” recebiam esse nome… porque seria? O Império; o Império…e a Metrópole… a Metrópole…
** Jagudi: - (crioulo) espécie de abutre. Ave de rapina e necrófaga muito útil. Nunca se abatia tal ave… (….).
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Notas de vb: legenda da foto da responsabilidade do co-editor. Ver artigos de
19 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2558: Blogoterapia (44): Pensar em voz alta (Torcato Mendonça)
e de:
14 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1594: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (1): A dança dos capitães
16 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1666: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (2/3): O Zé e o postal da tropa
25 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1785: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 239) (4): Burontoni, mito ou realidade ?
27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1892: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (5): O Casadinho e o Bessa, os mortos do meu Gr Comb, os meus mortos
7 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1929: Estórias de Mansambo (6): Matilde
17 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2055: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça) (7): Eleições à vista...
21 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2122: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça) (8): Marcha, olha para mim, com ódio, peito erguido, cabeça levantada...
28 de Setembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2139: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (9): Amigos mais velhos
15 de Dezembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2353: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (10): Devolvam o bode ao dono... e às cabras de Fá Mandinga, terra de Cabrais
14 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1278: Estórias de Bissau (3): éramos todos bons rapazes (A.Marques Lopes / Torcato Mendonça)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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