Um abraço
ex-Fur Mil Trms,
CCAÇ 5 - Os Gatos Pretos
Canjadude, 1968/70
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Ruma à Guiné, o velho DC-6 ainda confortável e funcional, levantou da Portela de norte para sul e voou através da noite de Lisboa, as quatro hélices cortando o ar em cem milhões de pedaços. As luzes frias da cidade despedindo-se, o rio num abraço escuro, depois o vazio sobre rolos e rolos de nuvens.
Estas são as palavras por que começa o livro do António Graça de Abreu, Diário da Guiné – Lama, Sangue e Água Pura [publicado em 2007].
É um diário, e como tal seria um documento único e privado. Porém, há diários colectivos e que são, naturalmente, pertença de muitos. É o caso.
Mas o diário não se comenta. Lê-se, medita-se, recorda-se. Lê-se, muitas vezes através de uma ténue névoa que teima em chegar e manter-se, contra a nossa vontade, turvando-nos os olhos, apesar de tudo à volta estar claro. Quanto mais a queremos afastar, mais se adensa.
Medita-se, no que poderia ter sido o início e o fim desta aventura, ou desventura, secular a que foram sujeitos, no início dos anos sessenta do século XX, cerca de um milhão de homens, acabados de o ser.
Recorda-se, cada um dos que por lá passamos, aquilo que vivemos e sofremos, no dia-a-dia, desde a partida até à chegada. Recordamos, muito especialmente, com tristeza e saudade, aqueles que ao nosso lado viverem, sorriram e choraram e, por ironia do destino não tiveram regresso ou que chegaram, sem honra nem glória, “acomodados numa caixa de pinho” e desembarcados durante o silêncio da noite, quando tinham partido, à luz do dia, ao som de marchas triunfantes.
Mas não há sempre um regresso?<>
É um diário, e como tal seria um documento único e privado. Porém, há diários colectivos e que são, naturalmente, pertença de muitos. É o caso.
Mas o diário não se comenta. Lê-se, medita-se, recorda-se. Lê-se, muitas vezes através de uma ténue névoa que teima em chegar e manter-se, contra a nossa vontade, turvando-nos os olhos, apesar de tudo à volta estar claro. Quanto mais a queremos afastar, mais se adensa.
Medita-se, no que poderia ter sido o início e o fim desta aventura, ou desventura, secular a que foram sujeitos, no início dos anos sessenta do século XX, cerca de um milhão de homens, acabados de o ser.
Recorda-se, cada um dos que por lá passamos, aquilo que vivemos e sofremos, no dia-a-dia, desde a partida até à chegada. Recordamos, muito especialmente, com tristeza e saudade, aqueles que ao nosso lado viverem, sorriram e choraram e, por ironia do destino não tiveram regresso ou que chegaram, sem honra nem glória, “acomodados numa caixa de pinho” e desembarcados durante o silêncio da noite, quando tinham partido, à luz do dia, ao som de marchas triunfantes.
Mas não há sempre um regresso?<>
Bissau, 16 de Abril de 1974
Os papéis foram deferidos, a viagem está marcada para 20 de Abril, no voo dos TAM (Transportes Aéreos Militares), com chegada à Portela, ao Figo Maduro por volta das sete horas da tarde.
A Guiné acabou, mas só acredito quando o avião começar a descer sobre Lisboa.
Os papéis foram deferidos, a viagem está marcada para 20 de Abril, no voo dos TAM (Transportes Aéreos Militares), com chegada à Portela, ao Figo Maduro por volta das sete horas da tarde.
A Guiné acabou, mas só acredito quando o avião começar a descer sobre Lisboa.
São vinte e três meses de memórias, são muitos dias e muitos minutos, e cada um de nós viveu e sofreu, e agora recorda com alguma saudade (porque não com nostalgia) daquela que é a nossa segunda pátria?... Mas com a certeza do dever cumprido, e, sobretudo, com a esperança de que os nossos filhos e netos nunca tenham de pegar em armas
Bissau, 17 de Abril de 1974
Dividimos almas, afectos, o calor do sangue, ideias, desígnios, promessas de futuro.
Locais e coordenadas dos locais onde esteve o CAOP 1> Canchungo/Teixeira Pinto 12º 06’ N – 16º03 W; Mansoa 12º 03’ N – 15º 19’ W; Cufar 12º 01’ – 15º 18’ W
Fonte: Google Earth
Comando de Agrupamento Operacional
Comando de Agrupamento Operacional Oeste
Comando de Agrupamento Operacional nº 1
Identificação: CAOP / CAOP Oeste / CAOP 1
Comandantes:
Coronel Pára-quedista Alcino Pereira da Fonseca Ribeiro
Coronel de Artilharia Gaspar Pinto de Carvalho Freitas do Amaral
Coronel Pára-quedista Rafael Ferreira Durão
Tenente-coronel de Infantaria Pedro Henriques
Coronel Pára-quedista João José Curado Leitão
Chefes do Estado-Maior:
Major CEM Raul Ernesto Mesquita da Costa Passos Ramos
Major CEM Luís Alberto Santiago Inocentes
Major de Artilharia João António de Gusmão Pimentel da Fonseca
Major de Infantaria Carlos Diamantino Bacelar Pires
Major de Artilharia João Augusto Fernandes Bastos
Inicio: 08 de Janeiro de 1968
Extinção: 01 de Julho de 1974
Síntese da Actividade Operacional
O agrupamento foi organizado e constituído com carácter permanente e com pessoal de nomeação individual, sendo inicialmente orientada para intensificar esforço de aniquilamento sistemático dos grupos inimigos que exerciam pressão directa sobre o "Chão Manjaco", na região de Pecau-Churo-Coboiana-Pelundo-Jol. Para o efeito foram-lhe atribuídas todas as forças localizadas naquela zona de acção, nos sectores de Teixeira Pinto e Bula e outras forças de intervenção, fuzileiros especiais, pára-quedistas, comandos e um batalhão de cavalaria.
A partir de 27Jan69, o CAOP instalou-se em Teixeira pinto, iniciando a sua actividade em 06Fev69 com a série de operações “Aquiles” e desenvolvendo intensa actividade operacional de patrulhamentos, emboscadas, batidas e acções apeadas e helitransportadas, de que se destacam as operações “Jovem Zagal”, “Lobo Bravo”, “Giboia Verde”, “Com Taça”, “Grande Vela”, “Joeirada”, “Gavião Satélite” e “Bafo Quente”, entre outras.
A partir de 12Mar69, a sua zona de acção foi alargada ao subsector de Có e em 05Set69 ao subsector de Cacheu; em 01Jul69, após reformulação dos limites dos sectores, foi ainda criado p Sector 07, em Pelundo.
De 04Jun69 a 28Jun69, o CAOP estabeleceu um comando avançado em Buba e planeou, comandou e coordenou a operação “Grande Salto”, com vista à prossecução dos trabalhos da estrada Buba-Aldeia Formosa e ao aniquilamento dos grupos inimigos Nafo-Unal.
De 6Mar70 a 30Mar70, a sua responsabilidade foi alargada ao sector de Bissorã e de 20Mai71 a 29Jun71, cedeu os sectores de Bula e Bissorã ao Comando de Agrupamento Temporário (CAT), entretanto criado nesse período, para actuar naquela zona.
Em 01Ago70, com a criação de um segundo CAOP, tomou a designação de CAOP Oeste e, em 22Ago70, de CAOP 1.
Em 21Abr71, na sequência de tentativa para conversações de paz no “Chão Manjaco”, foram assassinados na região Pelundo-Jolmete três majores e outro pessoal do CAOP 1.
Em 28Jan71, assumiu o comando directo dos subsectores de Cacheu e Bachile, então retirados à responsabilidade do B.Caç. 2905.
Em 01Fev73, foi transferido para Mansoa, assumindo a responsabilidade de comando operacional dos sectores de Bissorã (O1), Mansoa (O4), Bula (O1-A) e Nhacra (COP 8), este só até 21Mar73, orientando o esforço de contenção da guerrilha para as regiões do Oio, Changalana e Sara, planeando e comandando várias operações, de que se destacam as operações “Empresa Titânica”, “Gente Valorosa” e “Jogada”, entre outras.
Em 21Mar73, destacou vários elementos para organização do CAOP 3, até que, rendido em Mansoa pelo COT 9, foi colocado em Cufar em 02Jan73, assumindo a responsabilidade dos sectores de Aldeia Formosa (S2), Catió (S2), Cadique (S4) e Gadamael COP %) e orientando o seu esforço para a contenção da luta armada na zona Sul e para os trabalhos de construção e asfaltagem de itinerários naquela região.
Em 01Jul74, já na fase de retracção do dispositivo, foi extinto e recolheu a Bissau.
José Martins
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Nota de vb: artigo relacionado em
1 comentário:
Caros amigos,
só agora ao reler este livro que é este Blog ,verifiquei que a data do assassinato dos Majores do CAOP está mal. É 20 de Abril de 1970 e não a que lá está. Eu estava lá e lembro-me como hoje.
Abraço
Manuel Resende
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