Guiné > Região controlada pelo PAIGC, possivelmente na Região de Tombali, no Cantanhez > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas (leia-se: sob controlo do PAIGC) > Novembro de 1970 > Foto nº 45 > Trabalhadores (inevitavelmente balantas) no cultivo do arroz. (Como é sabido, o sul da Guiné era tradicionalmente, e ainda é, o grande celeiro do país).
Sabemos hoje que parte da população controlada pelo PAIGC vivendo dentro do território da Guiné, nas chamadas regiões libertadas (estimada em 80 mil pelas autortidades portuguesas) tinha que ser reabastecida, em arroz, alimentação-base, por não ser autosuficiente. A Inter-Região Sul (à excepção da Frente Bafatá/Gabú Sul) era auto-suficiente na produção de arroz, enquanto a Inter-Região Norte era deficitária.
O fotógrafo norueguês Knut Andreasson e antiga deputada e ex-Presidente do Parlamento sueco, Birgitta Dahl, juntamente com uma delegação sueca, visitaram, a convite do PAIGC, as regiões libertadas na Guiné-Bissau, em Novembro de 1970. Nessa visita tiveram a oportunidade de falar com Amílcar Cabral, na sua casa, entre a sua gente, e obter um conhecimento mais aprofundado da luta pela independência.
Andreasson e Dahl fizeram mais tarde um livro, em sueco, sobre a sua histórica viagem. O Andreasson, por sua vez, fez uma exposição fotográfica com o objectivo de informar a opinião pública dos países nórdicos sobre a luta do PAIGC.
Não só a exposição, mas como a maioria das fotos deste período foram, posteriormente, doadas ao INA - Instituto Nórdico para a África [NAI - Nordic Africa Institute] pela viúva de Andreasson, entretanto falecido . A exposição foi doada à Fundação Amílcar Cabral pelo INA e apresentada por Birgitta Dahl, ex-presidente do parlamento sueco, por ocasião da celebração do 80º aniversário do nascimento do Amílcar Cabral, em Setembro de 2004.
As fotografias tiradas por Knut Andreasson mostram a vida do dia-a-dia das populações e dos guerrilheiros do PAIGC, nas chamadas regiões libertadas. No sítio do NAI, diz-se expressamente que, sendo a Guiné um intrincada rede rios e braços de mar, "a canoa é um importante meio de transporte nestas regiões, tanto mais que os portugueses fizeram explodir (sic) a maior parte das pontes existentes"...
Não há, contrariamente às fotos do húngaro Bara, qualquer alusão à utilização de napalm contra as populações civis, por parte da Força Aérea Portuguesa.
Uma das célebres fotos de Bara István, o fotógrafo húngaro que esteve 'embebed' com forças do PAIGC, no mato, em 1969/70. (Hoje é um vulgaríssimo fotógrafo comercial). Nesta imagem, da sua fotogaleria, mostram-se os efeitos do napalm. É difícil provar ou negar a sua autenticidade. Presume-se que seja uma vítima dos nossos bombardeamentos.
(A foto ilustra um dos poemas do nosso José Manuel Lopes, que está neste momento a atrevessar a Gâmbia, de regresso a casa, com mais malta da Expedição Humanitária 2009 que foi á Guiné-Bissau). Não se diz exactamente onde foi tirada. A legenda (em húngaro) é a seguinte: Bara István: Napalm áldozata [vítima de napalm, traduzindo para em português].Guinea-Bissau, 1969. Julgamos tratar-se de uma imagem copyleft... De qualquer modo, reproduzimo-la com a devida vénia e agradecimento ao autor e citando a sua página (comercial). Foto: Foto Bara (com a devida vénia...)
Retomando o sítio do INA - Instituto Nórdico para a África, faz-se igualmente referência à histórica taxa de analfabetismo ("mais de 99% da população era analfabeta, quando a luta começou em 1963"), daí a importância atribuída pelo PAIGC à educação. Várias fotografias mostram escolas no mato, tanto para crianças como para adultos adultos.
É referida então "a existência de 75 dessas escolas, sendo uma das primeiras a Escola Piloto em Conacri". É referido também o novo manual escolar, financiado por estudantes noruegueses e impresso na Suécia (*). As imagens, disponíveis no sítio da NAI, mostram também aspectos da organização sanitária do PAIGC e da vida comunitária, de resto em maior núemro do que as fotos de guerra...
Recorde-se que o Nordic Africa Institute é uma agência dos países nórdicos, com sede na Suécia, em Upsala.
Fonte: Nordic Africa Institute (NAI) / Fotos: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a competente autorização do NAI ou INA,. dada por escrito ao editor) (As fotografias tem numeração, mas não trazem legenda) (LG)
1. Mensagem do José Belo, ex-Alf Mil, CCaç 2381, Guiné/68-70/, Ingoré-Buba-Aldeia Formosa-Mampatá-Empada, hoje Cap Inf Ref, na diáspora, na Suécia (**) [Não possuímos infelizmente qualquer foto do José Belo]
(Peço desculpas aos camaradas por erros ortográficos resultantes de dislexia, que, aparentemente, se vai agravando com o passar doa anos, não tendo o meu computador sueco possibilidades de correcção automática da língua portuguesa).
[Revisão e fixaçãop do texto, bem como bold, a cor: Editor L.G.]
Surpreendeu-me que um senhor jornalista português necessite de esclarecimentos quando descreve a guerra colonial em generalidades incorrectas e falaciosas. Não sei a idade ou experiências de vida do sr. jornalista (***), e tenho que reconhecer que, afastado há já muitas décadas do meu querido Portugal, talvez me seja difícil de compreender determinadas "evoluções" descritivas.
Sou um, entre milhares, dos que combateram na Guiné ao lado de Camaradas de todos os recantos de Portugal, e sem nunca esquecer os Guineenses que envergavam com orgulho fardas portuguesas (estes não só ao nosso lado, mas muitas das vezes, literalmente à nossa frente!).
Como tão bem escreveu, na Tabanca Grande, Diana Andringa, não se deve ferver em pouca água, ou perder perspectivas de fundo. Mas não é fácil perante o simplismo do sr. jornalista. Na guerra colonial, como infelizmente em todas as guerras, existiram massacres. De ambos os lados. E que se não esqueça Angola/61! (****). E, apesar de qualquer massacre ser sempre um massacre a mais(!), se tivermos em conta os três teatros de operacões, o número de forças em presença e a duração do conflito, foram miraculosamente poucos!
A esmagadora maioria de nós, os que sacrificaram a juventude em guerra de antemão politicamente perdida, procurou ajudar de alma e coração as populações locais. Como felizmente muitos ainda estamos "vivos", os srs. jornalistas que não saibam...tenham a humildade de perguntar!
Se me desculparem o "pessoalismo", recordo o ano de 1980, quando ainda havia um relativamente grande interesse por parte da sociedade sueca para com os acontecimentos relacionados com Portugal da guerra colonial e de Abril.
Fui procurado por um grupo de jornalistas suecos que, sabendo ter eu sido o Oficial de Segurança e representante do MFA no Depósito Geral de Material de Guerra de Beirolas, procuravam alguns detalhes de histórias relacionadas com acontecimentos dos anos 74/75 passados...do outro lado dos espelhos!
Um deles, representante de um conhecido jornal de esquerda do Norte da Suécia, Norlandsk Flamma, perguntou-me com ironia evidente:
- Se eram assim tão contra a política governamental porque é que cumpriam o serviço militar em África e não desertavam em números substanciais?
Confesso que, no momento, senti vontade de lhe explicar que tendo passado todo o PREC numa guarnição em plena cintura industrial de Lisboa, tinha mais do que um curso completo em grupos, grupelhos e tudo o que de esquerdalhada se tratava quanto a perguntas provocadoras!
Mas como explicar-lhe o facto de, desde o nascimento, nos colocarem sobre os ombros os tais quinhentos anos passados de colonialismos épicos?
Como explicar que desde o Minho aos Açores, todos tínhamos Bisavós , Avós, Pais, Tios Irmãos, Primos, Amigos, conhecidos que cumpriram o seu servico militar algures no império?
Como explicar que o meu Avô, Republicano e anti-salazarista convicto, se orgulhava de ter defendido o Norte de Moçambique aquando dos ataques Alamães da primeira guerra mundial?
Como explicar que o meu Pai estivera voluntariamente como médico no Norte de Angola aquando dos massacres de 61?
Eu, que pretenci aos democratas do antes do 25 deAbril, … desertar? Quando todos os que conhecia com idades próximas da minha se encontravam algures em África?
Por infeliz ignorância, ou produto do nosso forçado isolamento cultural, o desertar era identificado como cobardia para com a Pátria, e não como uma legítima forma de luta política contra o regime. E, francamente, acabaram por ser bem poucos os que o fizeram… por razões extritamente políticas.
Procurando situar-me ao nível da ironia barata do jornalista sueco, nascido, criado, educado numa sociedade livre que não participa em nenhuma guerra nos últimos 360(!) anos, decidi procurar dar alguns detalhes da sociedade da minha Lisboa dos anos sessenta.
Acreditaria ele que estavam colocados polícias da segurança pública à porta dos liceus femininos de uma capital do Ocidente Europeu para afastar (menos delicadamente) os pobres dos namorados de 15/16/17 anos de idade quando as iam esperar à saída das aulas?
Acreditaria ele que a sra. Reitora do Liceu Maria Amália de Lisboa percorria os recreios com uma régua na mão medindo o comprimento moralmente adequado das saias e batas das meninas?
Compreendia ele o que lhe queria mostrar com estes ridículos exemplos de uma sociedade que hoje nos parece incrível?
Serão respostas deste tipo, e deste nível, que o sr. jornalista português necessita para melhor compreender… "enquadramentos"?
Estocolmo 1/3/09.
Um grande abraço amigo para os Camaradas
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 23 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3928: PAIGC: O Nosso Livro da 1ª Classe (Manuel Maia, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610, Cafal Balanta / Cafine, 1972/74)
(**) Vd. postes do nosso compatriota e camarada José (ou Joseph) Belo:
17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2954: A guerra estava militarmente perdida? (18): José Belo
6 de Agosto de 2008 >Guiné 63/74 - P3115: Blogpoesia (22): No mesmo navio, piscina e música em camarote de 1ª, suor nos porões...(José Belo).
(***) Vd. poste de 24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3935: O Spínola que eu conheci (2): O artigo da Visão e o meu direito à indignação (Vasco da Gama)
(****) Veja-se o comentário do Jorge Fontinha, que hoje vive na Régua, e cuja guerra começou bem cedo, aos 12 anos, em Nambuangongo (na Guiné, for Fur Mil Inf, CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, CCaç 2791, Set 1970 / Set 1972) .
Eu sou dos que criticam a política Ultramarina de Salazar. Senão fosse ele ter ignorado quem por diversas vezes o aconselhava, na resolução dos problemas Ultramarinos, antes de 1961, a Guerra nem sequer tinha começado.
Já não estou de acordo dizer-se que os militares Portugueses praticaram massacres e tenham sido os únicos.
Infelizmente tinha eu 12 anos, quando a exemplo de outras, a fazenda do meu pai em NAMBUANGONGO, foi massacrada e lá ficou o meu único irmão morto à catanada. Nove anos mais tarde fui militar na Guiné e em zonas de intensa actividade operacional.
Que tenha sido do meu conhecimento, não vi massacres nossos. Sei que houve e sobretudo em Moçambique algumas acçõess desnecessárias. Talvez na Guiné possa também ter havido algumas semelhantes. Todavia se vamos falar de massacres comecemos pelo 15 de Março de 1961!
Os meus cumprimentos à Diana Andringa, jornalista com "J" grande, que ao londo dos anos aprendi a respeitar.É um exemplo a seguir pelos seus colegas.
Jorge Fontinha
Outro combatente, que andou por Angola, Júlio Pinto, membro da nossa Tabanca Grande, também ironiza:
Li agora, no blogue, o parágrafo do artigo da Visão e fiquei convencido de que a juventude que andou na guerra do Ultramar, andou lá a fazer tiro ao alvo aos elementos das populações locais e depois, para justificar que andavam na guerra, desataram a disparar uns contra os outros.
Fizeram explodir minas só para inglês ver e espetaram com as viaturas umas contra as outras, para dizerem que foram minas.
Então de acordo com esta atitude, morreram milhares de jovens, desapareceram em combate outras dezenas deles e milhares de muitos outros são hoje deficientes das forças armadas.
Claro que o jornalista que escreveu esta aberração de artigo, no tempo em que por lá andávamos, ainda devia andar no c... dos franceses. [Ele] evia ter lá andado, como nós, e com alguns de nós, que passaram as passas do Algarve, sem ter de comer, com água da pior qualidade, muitos sem sequer terem material de guerra, para poder responder ao IN (inimigo para ele saber o que isto quer dizer).
Não há dúvida, nós fomos os maus e os outros foram os bons. No entanto são os maus da fita que organizam expedições, como esta que partiu agora de Coimbra com destino à Guiné, para levar algo útil àquele povo.
Pergunto onde estava a Visão que deste belo acto não viu nada? O que este jornalista merecia sei-o eu (...). Além de tudo, (...) só demonstrou uma enorme falta de respeito por uma geração que deu tudo à Pátria.
Júlio Pinto
Ex-Combatente em Angola
como 2º Sargento de Artilharia
pinto.jvp@gmail.com
Vd. último poste da série de: 24 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3512: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (8): Proposta de Bordel Móvel de Campanha...
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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11 comentários:
Caro Joseph Belo
Um abraço ao meu camarigo que foi também meu colega de colégio em Lisboa, embora mais "velhito".
Joaquim Mexia Alves
Caro Joseph Belo
Obrigado pela magnífica lição de Sapiência testemunhal sobre Patriotismo e realidade vividos, relegados, convenientemente, por ignorâncias ou poderes incertos por cá estabelecidos.
Abraços
Santos Oliveira
Graças ao Joseph Belo, hoje fiquei mais feliz um pouco.
Feliz por saber que os tão desbastadores e terríveis bombardeamentos com napalm na Guiné, apenas atingiu um homem nas mãos (segundo os tão nobres, pacíficos e inofensivos suecos).
Afinal Deus existe!
Só há uma coisita que me tira um pouco desta felicidade: "Onde teria sido o tal bombardeamento e quando?"
Que chatice, mais um penoso mistério que me vai atormentar a partir de hoje!
Magalhães Ribeiro
No sul da europa e principalmente em Portugal temos que aprender imenso com a civilização do norte da europa:
Suécia, Dinamarca e Noruega.
Conheci a acção destes povos como cooperantes no ex-Congo Belga (Zaire hoje Congo), em Matadi junto a Noqui,em 1960 e depois em praticamente toda a Guiné.
Vi senhoras nordicas trocarem os seus vestidos por panos coloridos e vestirem-se africanamente, vi-as distribuir medicamentos, livros, ONG's para a agricultura, máquinas e alfaias de toda a ordem.
A Suécia tinha em Bula uma comunidade tão numerosa e multidisciplinar, que aquela região estava como que "colonizada" pela Suécia.
José Belo, vi um grupo de jovens nordicos de Uma ONG "APP" Ajuda de Povo para o Povo, fazer escolas de Adobe, se te lembras são os tijolos de terra e capim tradicionais das tabancas, e a populção assistindo "boquiaberta", pois aquele trabalho era uma especialidade deles, e até cheguei a ver casamentos mistos.
José Belo, ao que me consta, na Guiné, não há mais presença dessa gente do norte. E no Congo, penso que ficaram por lá alguns jornalistas e alguma ONG privada.
Infelizmente, essas cooperações nordicas, ou por ingenuidade, ou por paternalismo inconsequente, em muito pouco serviram aqueles povos.
Claro que a culpa não é só deles, mas tambem é, e muito!
Antº Rosinha
A propósito de desertores conheci um na Companhia de Adidos na Calçada da Ajuda em Lisboa, que como eu estava mobilizado para a Guiné em rendição individual e que depois de receber os dez contitos ( salvo erro era esta a massa que nos adiantavam) pisgou-se. Mas este não se desculpou com a política, foi mesmo devido ao grande cagaço.
Abraço Henrique Matos
Eduardo, grande ranger, o mais pira dos piras da Guiné, arreador-mor da bandeira nacional:
A pressa é mal conselheira... Não leste o texto como devia ser: com calma, ponderação, espírito crítico...
Estás a ser injusto com o José Belo. Ele não faz, no seu texto, qualquer alusão ao napalm. A introdução (longa) e as fotos (duas), inseridas neste poste, são da minha inteira responsabilidade...
A foto que eu inseri, com uma alegada vítima de napalm, é do húngaro Bara. É um fotógrafo que esteve em 1969/70 nas chamadas regiões libertadas, acompanhando a malta do PAIGC.
Já, em tempos, levantei algumas dúvidas sobre a postura do homem: um verdadeiro fotojornalista não se deixa fotografar de Kalash na mão... É contra a ética jornalística.
Na sua fotogaleria (tem hoje uma loja de fotografia em Budapeste), ele contudo disponibiliza algumas dezenas de fotos, algumas de excelente qualidade e de grande valor documental, tiradas nesse tempo, em bases do PAIGC (na Guiné-Conacri) e em regiões do sul da antiga Guine portuguesa... Uma das fotos é a de homem "vítima de napalm" [...Napalm áldozata, em húngaro].
O fotógrafo noruguês, Knut Andreasson, que andou, em Novembro de 1970, como uma delegação sueca, aparentemente pelos mesmos sítios (Cantanhez ?), não tirou fotografia nenhuma, que eu conheça, a alegadas vítimas de napalm... Isto não quer dizer que não se usasse o napalm, esporadicamente, na guerra da Guiné... O PAIGC usava esse argumento contra nós... Seria natural que os amigos do PAIGC quisessem comprovar o uso do napalm pelos portugueses... Mas no tempo do Spínola não me parece que tenhamos usado o napalm contra populações civis, a não ser por engano... Era contra a política do Spínola, que queria conquistar as populações não pelo terror, mas pela acção psicossocial... (Deves ter ouvido falar da célebre "psico").
Como sabes, o napalm ficou tristemente famoso, pelas suas cruéis consequências, no teatro de operações do Vietname... Há filmes e fotos famosos que documentam o uso inequívoco do napalm no Vietname... Tanto quanto sei, o napalm foi proibido por uma convenção das Nações Unidas... só em 1980!
Nem o José Belo, que foi alferes da Companhia a que pertenceu o Zé Teixeira, a CCAÇ 2381 (1968/70), faz qualquer referência a esta visita dos escandinavos...
Eu fui buscar esta história só por que o nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande como tu, vive na Suécia, desde os anos 70... Hoje é Capitão Reformado do exército português (NÃO FOI NENHUM DESERTOR!)... Portanto, nada de confusões na caserna!
Quanto ao uso do napalm na guerra colonial, isso é outra questão que eu gostaria de esclarecer, com toda a franqueza e tranquilidade (porra, já vamos a caminho do meio século do início da guerra colonial, em 1961, em Angola...).
Talvez os nossos camaradas da Força Aérea Portuguesa saibam mais sobre isso que a malta do Exército. E nos possam dar uma ajuda. Não escondo que esta questão é delicada e incómoda. Mas, como eu tenho dito, não tabus entre nós... Podemos discutir tudo (ou quase tudo)... Estamos, afinal, entre camaradas (e amigos).
Um grande abraço aos dois, ao nosso ranger MR e ao nosso capitão Belo
Luís
Ok, de acordo amigo Luís, mas atenção às minhas palavras.
Eu não digo nunca (nem acima disse), que foi o Joseph Belo que falou no napalm.
Disse sim que: "Graças ao Joseph Belo, hoje fiquei mais feliz um pouco", referindo-me, como é óbvio e lógico, ao seu excelente texto que constitui o post e que deu origem ao teu texto complementar.
E reafirmo e sublinho tudo o resto que disse, pois o disse que me disseram, que houve napalm (arma que repudio pelos terríveis prejuízos físicos que provoca no ser humano), não tem passado disso mesmo.
Há alguma confirmação de tais bombardeamentos, mesmo caso único?
Onde, quando e quem testemunhou é o que pergunto?
Respostas concretas... objectivas... nestes 35 anos... ZERO!
Se calhar eu tenho azar porque, nas minhas qualidades de Vice-Presidente da Delegação do Porto da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra, Vice-Presidente da Assembleia Geral da Liga dos Amigos do Museu Militar do Porto e Membro dos Corpos Directivos da Associação de Operações Especiais, lidando por isso com centenas/milhares de ex-Combatentes, nunca ouvi nem nos inúmeros contactos pessoais com estes, nem nos diversos seminários e colóquios a que tenho assistido (não costumo falhar um), aqui na cidade do Porto, falar no uso de tal perigosa arma, na Guerra do Ultramar ou Colonial chamem-lhe o que quiserem.
É por isso que eu fico chateado, até ver com "estes olhinhos que a terra há-de comer", provas MATERIAIS em contrário.
Mas, atenção, mesmo que me PROVEM, documental ou testemunhalmente, que houve 1 (uma) largada de napalm, não me venham com "tretas" a generalizar esta utilização.
Para terminar envio daqui do Porto, para o Canadá ao Joseph Belo, um grande abraço amigo, desejando que ele volte a Portugal e se junte a nós (tertúlia), na primeira oportunidade para convivermos um pouco.
Amigo Luís (creio que tu és mais que um Amigo) espero agora ter sido mais claro, porque quis ser objectivo e sucinto no anterior comentário, por defeito, e percebi perfeitamente a tua boa interpretação daquele.
Um grande abraço Amigo para ti também Luís.
Magalhães Ribeiro
Se, após este meu comentário, se abrir uma janela de oportunidade para se dissecar, então, a utilização do napalm na Guiné, que seja bem aproveitada !
Depois de ler o curriculum pós-militar do Magalhães Ribeiro ( Vice-Presidente da Delegação do Porto da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra, Vice-Presidente da Assembleia Geral da Liga dos Amigos do Museu Militar do Porto e Membro dos Corpos Directivos da Associação de Operações Especiais, uf ! ) até sinto calafrios pelo meu desaforo em voltar à vaca fria mas que não seja por isso que não se discuta o assunto !
Pela minha parte sou apenas, tão só, e por acumulação, Presidente, Vice Presidente, Tesoureiro, Vogal e mais uma data de títulos de mim próprio e não trouxe da Guiné a recordação do sabor do napalm mas uma coisa eu trouxe : a constante divulgação dum bombardeamento ao longo de variadíssimos dias consecutivos a Ponta Matar nos princípios de 1971 no fim do qual se fez uma operação de alto vulto àquela zona com resultados pouco animadores para as nossas tropas.
Na altura falava-se da existência de bunkers perfeitamente dissimulados que seriam a razão da sobrevivência do IN por aquelas bandas.
As provas que eu possa dar não vão para além das que foram dadas pela existência de armas de detruição maciça no Iraque - nenhumas - e, se estas serviram para despoletar a guerra que conhecemos, porque raio não terá o onus de pertencer a quem deva provar que, afinal, não se usou o dito elemento ?
Afinal o que queremos é saber se o seu uso teve lugar ? Para isso não chega que venha um a dizer que sim senhor ! houve utilização, bem como não é suficiente dizer-se que não senhor, eu não acredito !
Não se trata duma questão de fé ! Trata-se de saber a verdade !
Claro que do eventual posterior esclarecimento manter-se-à uma dúvida, metódica que seja : para quê esta discussão hoje ? Como sabem, o seu uso só foi proibido por uma convenção da Organização das Nações Unidas em 1980, depois, portanto, de a guerra acabada !
Eu acho que cada um de nós já tem razões de sobra para se coçar relativamente a traumas que trouxe da guerra e não precisamos, agora, de inventar mais "pica-miolos" para nos dar cabo da cabeça !
Eu também acho desumano disparar uma morteirada ou uma rajada de metralhadora Browning dum heli-canhão, directo à gaijada cá em baixo ! Se aquela merda acerta nas trombas dum gaijo, fica pior que aquele moço da fotografia quequeimou os dedos num rebentamento (?)de napalm !!!
Acontece é que quando era eu a precisar desses tiros como de pão pr'a boca, só lhes via vantagens !
( Faço um parêntesis para me manifestar, uma vez mais, intelectualmente contra a utilização de minas pela acção traiçoeira, silenciosa, e destruidora desta arma ).
Sabem uma coisa ? Agora vou, finalmente, tentar ler o célebre artigo da Visão e pronunciar-me antes que o assunto seja fechado.
António
José Belo,
Foi assim! Confirmo! Em outro local, noutra data. Está correto o teu escrito.
Que dizer mais?
OBRIGADO!
Um abraço do tamanho do Cumbijã,
Mário Fitas
... sobre o "napalm" durante a guerra na Guiné -
1963 – Novembro.8
No sudoeste da Guiné, o CTIG inicia acções ofensivas sobre a ilha do Como, que desde há cerca de 4 meses está infiltrada pelo PAIGC. Caça-bombardeiros T-6 vindos do AB2 lançam napalm sobre a floresta e um dos "activistas armados" atingido, é levado pelo PAIGC para Dacar, onde lhe é amputado o braço esquerdo carbonizado.
[...]
1964 – Maio.3
No Forte da Amura em Bissau, manhã cedo entram para falar novamente com o já exonerado comandante do CTIG brigadeiro Louro de Sousa¹, cinco membros do Comité Internacional do AC – agora constituído por um ghanês, um liberiano, um senegalês e um gabonês –, conduzidos por um intérprete guineense que justifica a visita dizendo:
– «O senhor Amílcar Cabral soube que em Angola estão a usar napalm e foi informado que na operação “Colmo” também a usaram, e nós viemos saber se foi verdade. Também teve conhecimento que ultimamente tem havido perturbações na cidade, quer saber se está a nascer outro movimento que não seja o dele. Nós queremos ouvir directamente das altas patentes e na ONU sabem bem que hoje estamos em Bissau.»
– «No seu livro “Worriors at Work”, o moçambicano Mustafah Dhada informa que [...] o secretário-geral do PAIGC [Amílcar Cabral] estivera em Milão em Maio de 1964, para participar num seminário organizado pelo Centro Frantz Fanon.»²
– «1964.05 - Declaração de Mennen Williams, secretário-assistente [i.e, secretário de Estado adjunto] dos EUA para os Assuntos Africanos, em Dacar, sobre o apoio do seu país à política de autodeterminação da Guiné Portuguesa. [...] O PAIGC procura criar condições favoráveis ao seu reconhecimento pela OUA como único partido nacionalista da Guiné, através de uma intensa actividade diplomática e de propaganda.»³
¹ (termina funções em 06Mai64); ² (Castanheira, in “A amiga italiana...”); ³ (Afonso e Gomes, op.cit pp.575)
[...]
1967 – Outubro.9
Em Conackry, o comité central do PAIGC prepara a presença de Amílcar Cabral nas comemorações moscovitas do 50o Aniversário da Revolução de Outubro, proclamando através da Rádio-Libertação o controle de 60% do território da Guiné portuguesa.
– «Não estive presente a nenhuma acção entre nacionalistas e portugueses. Mas testemunhei vários bombardeamentos aéreos de aldeias e arrozais, por pequenos bombardeiros a jacto. Vinham sobre nós [!?] em grupos de três, normalmente por volta das onze da manhã e, prudentemente, bombardeavam duma altitude de cerca de 4 mil pés (1300 metros), já que nesta região [do Quitafine, junto à fronteira sudoeste] nós [!?] temos algumas armas anti-aéreas. A maior parte desses ataques eram feitos com bombas altamente [!?] explosivas. Mas no dia 9 de Outubro [de 1967] os portugueses lançaram napalm. Uma bomba de napalm acertou em cheio [onde?] – tinham tentado durante meses. Vi os seus rolos de grosso fumo preto e no dia seguinte [10Out67] vi um ferido – um camponês balanta de 23 anos chamado Tangbata –, deitado com os braços e as pernas ligados num hospital de guerrilheiros, perto de Cacine. Também fotografei fragmentos [!?] de uma bomba que não tinha explodido. Num destes fragmentos [!?] estava inscrito “FCM-1-55 napalm 300kg - 350 M/61”. Tanto quanto sei, os portugueses importam o napalm, tal como os bombardeiros a jacto, de aliados da NATO. [...] Numa palhota sombria está Tengbatu, um soldado balanta, mais ou menos 23 anos. Uma enfermeira intervém. O médico tranquiliza-a. Diz-nos: “Queimaduras do 3º grau, somente nas extremidades; salvá-lo-emos”. Alguns dias mais tarde, o exército [!?] transfere Tengbatu para um hospital principal próximo de Boké, na República da Guiné. Ele estará no mesmo barco que eu. No dia seguinte de manhã, de volta ao campo da base de Quitafine, percorro o terreno de manobras e encontro, ao abrigo de um telheiro, uma grande bomba de napalm não explodida lançada ao mesmo tempo que aquela que queimou Tengbatu. Via-se claramente a inscrição da sua identidade: “FCM-1-55 NAPALM 300kg - 350 LM/61”. Portanto ela faz parte do material militar fornecido a Portugal pela Organização do Tratado do Atlântico Norte. O napalm, como “altamente explosivo”, foi utilizado pelos portugueses em África desde os primeiros meses da revolta dos angolanos em 1961. Empregam o napalm em grande quantidade, embora não o fabriquem eles próprios, tal como não fabricam os bombardeiros.»
¹ (Basil Davidson, in “The Times”, Londres 10Nov67, e op.cit; o documentário da RTP intitulado “Década de 60”, de autoria de Diana Andringa, reproduz imagens do que restou de uma bomba – supostamente de napalm – obtidas, segundo o referido jornalista, em Out67 no Quitafine)
1968 – Dezembro.2
Em Conackry, uma delegação do Comité dos Direitos Humanos da ONU aprova uma moção contra o Governo português, pelo uso de «bombas de napalm e fósforo na Guiné», nomeadamente nos ilhéus do Como e
nas matas do Cantanhez entre os rios Cacine e Cumbijã.
– «[Amílcar Cabral] participa numa reunião de peritos da Comissão dos Direitos do Homem da ONU, realizada em Conackry, sobre maus tratos e torturas de presos políticos.»¹
¹ (Castanheira, op.cit pp.56)
1969 – Dezembro.15
No centro-sul da Guiné, uma parelha de FIAT G-91 da Esq121-BA12 faz um raid sobre a área de Bantael-Silá e bombardeia um acampamento do PAIGC, causando a morte do balanta Nharabate Na-Mam.
– «De Outubro a Dezembro de 1969 chacinaram [!?] na Guiné, com napalm, as populações [!?] das aldeias de Soara, Morès, Cubucaré, etc.»¹
¹ (in “Os Massacres de Populações Civis”, BAC Ago/Set73)
[...]
Agit-prop:
– «Da vigília [de 01Jan69 na Igreja de São Domingos] derivou um trabalho de constituição de um grupo clandestino, onde eu entrei, e que se dedicava à divulgação de informação sobre a guerra. Era dinamizado pelo Nuno Teotónio Pereira e tinha algumas ligações ao Porto através do Mário Brochado Coelho, que era na altura [i.e, em 18Abr70-30Mar71 iria ser] advogado do Joaquim Pinto de Andrade [dito “president d’honneur” do MPLA]. Estava também o [António Melo, António dos Santos Júnior (presidente do Sindicato dos Metalúrgicos), Gabriela Ferreira, José Capela, o deponente Luís Moita, Maria de Fátima Ribeiro, Maria Luísa Sarsfield Cabral, Pedro Soares Onofre, Victor Wengorovius e] José Dias, que mais tarde veio a ser funcionário [i.e, militante] do Movimento de Esquerda Socialista (MES). [...] As pessoas, mesmo as mais interessadas, ignoravam em absoluto o que se passava nos teatros-de-operações de África e as posições dos movimentos de libertação. Da continuação do trabalho surgiu o que ficaria conhecido como “Grupo do BAC”, em volta do “Boletim Anti-Colonial”. Em 1970 [i.e, 04Fev71] ainda sem designação, publicámos [sob a epígrafe “Colonialismo e Lutas de Libertação”] os “7 Cadernos sobre a guerra colonial”, que se viriam a transformar num boletim de edição regular, anónima e clandestina [Out72-Set73] e de distribuição precária, de mão em mão. Procurávamos sobretudo recolher informação acerca dos crimes de guerra praticados pelo Exército português e das baixas sofridas pelas Forças Armadas. Repescávamos notícias de literatura difusa em relação a crimes de guerra: maus tratos, uso de desfoliantes, uso de ‘napalm’. [...] Por outro lado, com base na informação diária que aparecia no “Diário de Notícias”, fazíamos aquilo que era óbvio: estatística dos mortos em combate e a sua evolução ao longo dos tempos. Sobre os movimentos de libertação íamos buscar informação às fontes mais diversas, desde os recortes do “Le Monde” facultados por amigos estrangeiros, passando pelos boletins holandeses de um chamado “Comité Angola”. Pouco a pouco começámos a ter, nos meios católicos [!?] da Bélgica [Bruxelas e Lovaina] e da Itália, conhecimentos que nos faziam chegar a papelada. Para nós era um dado adquirido que os movimentos de libertação eram legítimos. No entanto, à excepção de Joaquim Pinto de Andrade, que era presidente honorário do MPLA, nunca tívémos qualquer ligação [directa] a esses movimentos. As reuniões deste grupo [do BAC] eram em casa do Manuel Alves. Depois em minha casa, numa velha máquina manual, batia à máquina e ia ao escritório de um amigo nosso gravar a dactilografia num stencil electrónico, que depois era entregue ao Nuno Teotónio Pereira. [...] Ele ia levar aquilo a uma igreja perto de Mafra ao padre Ismael, que tinha um policopiador onde, com o nosso stencil electrónico, era produzido papel impresso. Esse papel era deixado numa casa na Lapa onde eu depois o ia buscar para levar a casa de um outro amigo, que se encarregava de pôr no correio. [...] A rede do BAC tinha muitas ligações informais a sectores católicos. Havia por exemplo os célebres terceiros sábados num convento de freiras no Campo Pequeno, onde muitos destes católicos se reuniam nos terceiros sábados de cada mês. Estávamos ali uma tarde inteira, fazíamos a missa, conversávamos, convivíamos. Depois havia ligações a diversos sectores, como por exemplo o grupo de “O Tempo e o Modo” [que dá origem ao “Centro Nacional de Cultura”, com] António Alçada Baptista, João Bénard da Costa, Helena Vaz da Silva [co-fundadora da revista e em 65-68 residente em Paris]. Os contactos estendiam-se especialmente a algumas paróquias. Era o caso do grupo dos padres de Cascais, do padre Alberto Neto no Rato, do padre Felicidade Alves em Belém. [...] O grupo que trabalhava no BAC veio mais tarde a estar na origem da CDE [satélite eleitoral do PCP], em oposição à CEUD de Mário Soares. [...] Eu era membro da chamada Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, uma entidade importantíssima nessa altura, onde estava gente do PCP como a Cecília Areosa Feio, a Eugénia Varela Gomes [mulher do comunista ex-capitão João Varela Gomes], etc. Participámos nos congressos de Aveiro, onde estava a oposição toda. Quanto à oposição no exterior, conhecia o Manuel Alegre [foragido em Argel], conheci o Palma Inácio [idem] em Paris e havia muitos amigos nossos exilados, como o [ex-padre] Francisco Fanhais e o Fernando Belo. [...] Bastantes amigos nossos foram para os movimentos revolucionários radicais tipo LUAR e Brigadas Revolucionárias [BR/FPLN]. [...] A guerra em África era o elo fraco do regime. [...] A temática da paz era muito sensível nos meios católicos, um terreno onde nos movimentávamos bem e onde se tornava fácil travar combates políticos.»¹
¹ (Luis Moita, em 21Nov94 a Antunes);
[...]
Depoimentos de oficiais-generais da Força Aérea Portuguesa:
– «Quanto a bombas, dispunha-se das de napalm [de 200 libras], profundidade [de 200 libras] e GP (General Purpose - Fins Gerais) [de 750 e 500 libras]. Era o que existia nos paióis da Força Aérea. Muito se tem especulado quanto ao uso das de napalm que, dentro da floresta, eram totalmente inofensivas pois que o que se observava era que a onda de calor provocada pelo seu rebentamento, não chegava a queimar as folhas das árvores nem provocava qualquer tipo de incêndio devido ao elevado grau de humidade no interior das matas, à insuficiência de oxigénio e ao baixo teor de lenhite das árvores. [...] Em toda a documentação apreendida ao inimigo, poucas eram as referências feitas a resultados concretos nas acções de bombardeamento, sem qualquer alusão a baixas provocadas. Era esta a guerra que vínhamos fazendo, por vezes com uma certa indisciplina no emprego das armas. Todas as missões eram objecto de relatório a elaborar pelos pilotos executantes. [...] Qualquer discordância em relação à forma como a missão tinha sido executada, era objecto duma conversa com os responsáveis para se assentar numa doutrina de emprego dos meios disponíveis.»; (general António da Silva Cardoso).
– «Não há bombas más e bombas boas. E o napalm não tinha efeitos piores do que as minas que o inimigo colocava nos itinerários, e que causaram a maior parte das baixas nas nossas tropas e na população.»; (general Manuel Diogo Neto).
Apenas como amiga, conhecedora de tudo o que passaram naquelas terras longínquas das “Áfricas” para o engrandecimento dum Portugal que teimava em ser “Orgulhosamente Só”, indo meninos e vindo, os que vieram, já homens, alguns com sequelas que lhes ficaram marcada para o resto da vida, aqui fica um poema profundo, que considero dos mais bonitos e sentidos que tenho lindo. O meu singelo agradecimento:
O Menino da Sua Mãe
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe
Fernando Pessoa
Mariazinha da Silveira
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