segunda-feira, 8 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4481: Os bu...rakos em que vivemos (12): Cafal Balanta contribui para o desenvolvimento nacional (Manuel Maia)

1. Mensagem da Manuel Maia (*), ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74, com data de 7 de Junho de 2009:

Caro Carlos,
Com o pedido de colocação logo que possível, claro está, na secção de Bu...rakos, segue o texto anexo onde tentarei colocar a fotografia .
Agradecia que me informasses se recebeste com a dita (continuo desajeitado a este nível).


Um Bu...rako para tapar o buraco do desenvolvimento

Manuel Maia no seu bu...rako de Cafal Balanta

Depois dum breefing de apresentação formal à nata de arquitectos portugueses, onde nomes como Siza Vieira, Alcino Soutinho, Tomáz Taveira e tantos outros tomaram assento, a palavra (e até aquela pinga de Borba que guardava religiosamente para um destes eventos – definitivamente, gosto desta palavra, tem estatuto, tem... boa leitura como a pinga tinha boa bebida...) enchendo de adjectivação elogiosa o fautor destas linhas, um arquitecto naif de gosto requintado (as palavras são deles...), foi com inusitado prazer que ouvi da boca do nosso Primeiro, ele também um conceituado homem do risco com obra feita, nessa bela cidade da Guarda, onde ressaltam as cortes dum traço enérgico, seguro, insinuante, só ao alcance de grandes mestres, um rasgado elogio sobre o design, o aproveitamento dos materiais, o seu enquadramento no resto da paisagem, e ainda a decoração dum estilo informal para quem não dispunha de tempo face aos seus afazeres profissionais...

Severiano, o Ministro da Defesa, guinéu como sabemos, exultou face ao quadro exposto, e claro a tradicional maquete de esferovite (de qualidade superior à que o Frank Gary fez para o Santana Lopes, relativa ao Parque Mayer e onde abichou um milhãozito...) o pormenor soberbo (Ministro dixit) das clarabóias que lhe emprestam uma luminosidade fabulosa evidenciada do lado direito da foto.

Evidentemente que pedimos desculpa pelo ar um pouco desarrumado da Câmara mas isso deveu-se à inoportuna doença da engomadeira...

Os presentes (tudo gente fina, atrever-me-ia mesmo a chamar-lhes a nata deste belo recanto tão cantado por poetas avoengos) denotando uma educação rafinée, ignorou a nossa preocupada explicação não fazendo nota de... devo dizer-vos que nada recebi nem tão pouco pensei fazê-lo, mas... ó Maia, tem paciência pá, tens de pereceber que deste modo até parece mal, tens de te cobrar pelo teu serviço... (aquelas tretas do costume...) mas como sou homem de ideias fixas e não queria ter depois à perna o Fernando brincalhão, meu ex-colega de liceu, e hoje Ministro das Finanças, que não enjeitaria a oportunidade para se vingar da alcunha que lhe pusemos na altura, mantive-me firme como uma rocha e fiz mais este sacrificiozito pelo país...

Entretanto, o próprio Presidente da República, que como sabemos, por inerência de funções é em ultima instância o Chefe Supremo das Forças Armadas (há quem goste de pronunciar ármádas, mas ele há gostos p´ra tudo...), ao que me disseram esteve largo tempo à conversa com o Severiano para pensarem na introdução de casernas pequenas deste tipo, para albergarem uma meia dúzia de soldados ao invés daqueles inestéticos armazéns pejados de camas do tipo hospitalar encavalitadas - salvo seja - umas nas outras...

Ora assim sendo, cá voltaremos a ter mais um desígnio nacional cumprido, ou seja, o da criação de postos de trabalho.

Vai ser uma lufa-lufa para as bandas da empresa onde aquele rapaz, Jorge Coelho, é manda-chuva, com intermináveis filas de desempregados a preencherem ficha para tomarem parte nesses trabalhos de feitura de novos quartéis, que tanta falta fazem agora para estas guerras de alecrim e manjerona... (que até já à porta desta nossa Tabanca bateram...)

A ser verdade, será provável uma remodelação geral nas ditas Forças Armadas, que a acrescentar ao regime de self-service, implementando restaurants em vez de cantinas, com serviço à la carte servido em porcelana Vista Alegre, apoiando dessa forma a indústria nacional, ao invés do prato único em disco de alumínio, como era apanágio no nosso tempo, e acabando também, definitivamente, a chamada marmita, (que ainda se usou na campanha de África) por obsoleta e inestética...

Como vêem, uma pequena coisa pode despoletar uma bolha (não a do jogo em que estão a pensar que essa é assim mais ou menos proibida, embora vá funcionando com alguma regularidade), mas sim uma bolha de desenvolvimento que aportará postos de trabalho, criação de riqueza (enfim, já sabeis a restante terminologia...)

Quem diria, à la longue que aquele meu (e dos colegas de apartamento, que não quero os louros só para mim...) projecto poderia redundar, a modos que, factor primordial de desenvolvimento do país.

Se porventura algum dos camaradas tabanqueiros puder informar das démarches nécèssaires para registar patentes, agradecemos.

Agora, posto isto, digam-me francamente:

- Haverá algum bu...rako mais bu...rako que este?

Venha de lá o prémio...

Um abraço para ti, extensivo a toda a Tabanca
Manuel Maia

Guiné > Região de Tombali > Cantanhez > Cafal Balanta > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74)

__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4456: Blogpoesia (48): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (V Parte): III Dinastia (Filipina)

Vd. último poste da série de 18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4369: Os bu...rakos em que vivemos (11): Banjara City, capital do Oio (Fernando Chapouto, CCaç 1426, 1965/66)

8 comentários:

JD disse...

Manel
Porra! tu fazes inveja ao pessoal. Não tenho procurações, mas é como se tivesse.
Um bu...rako com requintes da ponta da sapatilha, com festa de inauguração ( o meu filho, tb arquitecto, esteve lá à conversa com o Arcebispo benzedor, que omitiste pecaminosamente, mais a arqª.Helena, que foi comandanta das tropas de arqtºs.) que não foi divulgada por tratar-se, por enquanto, de um segredo de estado a desvendar antes das legislativas, e, vem a saber-se, eras tu o feliz morador no local. Por isso, não me admiro, que não só causes inveja aos habitantes de bu...rakos mais modestos, como à nata dos guerreiros e a um certo general ostentador de ocularia RayBan. Não sei se o Altíssimo não manifestará, também ele, algum sentimento de desgosto pelo bem alheio, de tal sorte subverteste a ordem de valores.
Por já estar reformado, e não querer cair nas tenebrosas redes que controlam o trabalho em acumulação, não posso oferecer-me para tarefas de limpeza ou manutenção, serviço de mordomias, etc, do pue peço desculpa e compreensão.
J.Dinis

António Matos disse...

Caro Manuel Maia, confesso que não sei por onde começar, se pelo texto, obra prima de uma arquitectura linguística escorreita que põe a desnudo uma simbologia que se afasta magistralmente das concepções cubistas dos pintores catalães do século passado, se pela(s) clarabóia(s)daquela mansão onde aquele adereço tipo jerrycan ( ou é um Racal ? ) dependurado duma trave que suporta uma cobertura em colmo de um requintado bom gosto ameaça cair em cima do incauto que se lhe ponha por baixo aquando dos estremeções motivados pelos foguetes em dia de arraial !
Não tenho dúvidas que o nosso ( ainda !) Primeiro se inspirou nos teus equiços burakeiros para, também ele, escrever aquelas páginas fabulosas de memórias descritivas das peças de arte que plantou lá pela Guarda !
Apoio todo e qualquer esforço para que possas VENDER ao exército os quartéis necessários com as tipologias descritas mas desconheço quem domina o pelouro das démarches.
Já experimentaste o Mário Lino ?
Um abraço,
António Matos

Anónimo disse...

Literatura e da boa..E muito,muito humor....Parabéns.
Jorge Cabral

MANUEL MAIA disse...

ERRATA: ONDE APARECE ...OS CORTES DUM TRAÇO ENÉRGICO...


DEVERIA LER-SE AS "CÓRTES" (PORQUE SE REFERE A UM TIPO ESPECÍFICO DE HABITAÇÃO,PORTUGUÊS SUAVE,QUE CONVIVEU COM O PERÍODO
DA ARQUITECTURA RAUL LINO VINDO A ATINGIR UMA IMPORTÂNCIA ACRESCIDA,
NOS ANOS SUBSEQUENTES POR PROPICIAR UMA SUBSTANCIAL REDUÇÃO NA FACTURA ENERGÉTICA,PELA SUJEIÇÃO AO BAFO,NÃO DE ONÇA,MAS DE GADO DOMÉSTICO...

COM O ADVENTO DA EMIGRAÇÃO E O SURGIMENTO DA MORADIA DO "TIPO LA MAISON",ACABARIA POR SE ESBOROAR, NÃO PASSANDO HOJE PRATICAMENTE DE UMA MERA FIGURA DE ESTILO...

QUERO AINDA APROVEITAR O ESPAÇO PARA DAR UMA "ENSABOADELA" AO ZÉ DINIS POR AQUI APOR INFORMAÇÕES ALTAMENTE CONFIDENCIAIS QUE O SEU FILHO LHE TRANSMITIU E QUE SE REPORTAVAM À PRESENÇA DE SUA EXCELÊNCIA REVERENDÍSSIMA BEM COMO A EX-BASTONÁRIA,NESTA NOSSA TENTATIVA DE CONTRIBUIÇÃO POSITIVA PARA O DESABROCHAR-EMBORA TARDIO-
(MAIS VALE TARDE DO QUE NUNCA...)
DA ARQUITECTURA MILITAR ATÉ AQUI DEMASIADO VOLTADA PARA OS FORTES DO PERÍODO EXPANSIONISTA E MAIS TARDE PARA OS JÁ REFERIDOS ARMAZÉNS
NAS CAPITAIS DE PROVINCIA,E NÃO SÓ,
COMO SE DIZIA NO TEMPO DO PREC...

ESPERO QUE NÃO TENHAS REFERIDO(CONTINUO A ADMOESTAR O ZÉ DINIS)
TAMBÉM A PRESENÇA DE ALGUMAS DESSAS GLÓRIAS MILITARES COMO O GENERAL DE MELENA E PÁ,OU O TAMBÉM FAMOSO GENERAL AMANTE DO CAMPO PEQUENO...
VÊ LÁ SE TOMAS JUIZINHO...

O ANTÓNIO MATOS SUGERE O CONTACTO COM O LINO E PROVAVELMENTE TERÁ RAZÃO PRETENDE-SE UMA COISA EM GRANDE,DO GÉNERO DOIS EM UM-COMO NO JUMBO- E ASSIM VENDIA-SE O PROJECTO A DUAS FORÇAS BELIGERANTES( À GUIZA DO VOLFRÁMIO QUE O DR.SALAZAR VENDIA AOS ALIADOS E AOS ALEMÃES...)E FACTURAVA-SE O DOBRO...

VAMOS LÁ A VER SE AINDA VOU A TEMPO DE EVITAR AS CÓPIAS QUE OS CHINESES SEMPRE EXECUTAM.

Hélder Valério disse...

M. Maia
Por mim, o prémio é teu (e dos teus co-ocupantes).
Mas é claro que só posso reagir pelos bu...rakos que aqui tenho visto e por comparação com o que eu vivi.
Pode acontecer que tal prémio seja contestado pois é sempre possível aparecer coisa mais jeitosa...
Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Maia,
Mais um excelente texto, irónico q.b. mas demolidor.
Um abraço,
BSardinha

Anónimo disse...

Belo texto.
As edificações na guerra...onde vi tais construções assim? Em Candamã, em Mansambo?Em Bafatá não certamente e em Bissau seriam assim????

Abraços do Torcato

Unknown disse...

Caro amigo Manél Maia só tu poderias fazer com que eu escreva algo no blogue,é so um pequeno comentário.Fiquei deveras assombrado com a tua Mansão lá na cidade do Cantanhez,sei que não ficava muito longe da vila de Bedanda,foi como bem sabes o local onde passei Férias em 71.Será que te estás a candidatar a ganhar o prémio das 7 Maravilhas da Arquitectura feita pelos Portugueses no planeta Terra quanto custou essa Mansão ao Estado? Sei que vais o dito Prémio por favor convida-me para assistir a cerimónia da entrega do dito cujo .Com um abraço Carlos Silva ex Combatente Guiné 71-72 Bedanda City Custóias 10 de Junho 2009