1. Reprodução, com a devida vénia, de documento da AD - Acção para o Desenvolvimento (Agradeço ao Filipe Santos, da Escola Superior de Educação de Leiria, o envio do ficheiro em formato compatível com o html; o Filipe Santos é o webmaster da página dos nos nossos amigos da AD - Bissau. Ao Pepito, agradeço a autorização, para a reprodução, no nosso blogue, do texto e de uma selecção de imagens).
Inauguração do Núcleo Museológico Memória de Guiledje > 20 DE JANEIRO DE 2010
A recuperação e transmissão da História, quando as testemunhas vivas começam a desaparecer, deve ser considerada como uma missão, um dever e uma obrigação. É preciso contribuir para que se compreenda o que se passou antes, conhecer os caminhos da história e reforçar os sentimentos que nos unem.
A Guiné-Bissau vive um momento em que um dos maiores desafios que se lhe depara é o de preservar e reforçar a sua identidade enquanto Nação, consciente de que o conhecimento e a compreensão da sua História é determinante para uma maior identificação colectiva.
(2) Colocação da cruz celta
recuperada
(3) Operação de colocação da cantoneira recuperada na Capela
O quartel de Guiledje que foi construído em 1964 no sul da Guiné-Bissau, na actual região de Tombali, a uma dezena de quilómetros da fronteira norte da Guiné-Conakry, é um símbolo nacional.
(4) Vista exterior do Museu
Em Maio de 1973, Guiledje cai. Quatro meses depois, em Setembro, reúne-se em Boé a primeira Assembleia Nacional Popular que declara a criação da República da Guiné-Bissau. Menos de um ano depois a guerra colonial acaba.
(5, 6, 7, 8, 9) Diversos objectos expostos: quépi e galões de capitão, doadas pelo Cap Mil Abílio Delgado (5, 8); talheres e cantil usado no mato (6, 7); rádio usado pela guerrilha (9)... Trata-se apenas de uma pequena amostra dos objectos expostos...
Porque, como diz um combatente pela independência, trinta e cinco anos depois, foram “estabelecidas as pontes emocionais entre aqueles que, em lados opostos da barricada, viveram com todo o seu ser, momentos de sangue, de sofrimento e de destruição, e que, hoje, se dão as mãos na construção de um mundo feito de compreensão, amizade e respeito mútuo, a história comum pode ser escrita, com objectividade, como legado às gerações vindouras”.
Porque é preciso explicar a História de forma interessante e compreensível é que surge o Núcleo Museológico “Memória de Guiledje” (1, 2, 3, 4).
Do antigo quartel de Guiledje, pouco resta hoje, senão alguns marcos escritos e material de guerra destruído.
Porque é preciso fazer a ligação entre o passado e o futuro é que se iniciou a sua reabilitação a qual, embora respeitando a estrutura e traça original do quartel, irá utilizar as suas diferentes componentes para novas vocações, dinamizando a vida comunitária local e constituindo uma referência histórica nacional.
Para isso muito contribuiu a vontade de todos os que por lá passaram, grande número dos quais foi fazendo doações pessoais de objectos a que estavam muito ligados sentimentalmente, dando fotografias, aerogramas, rádios-telefone, galões, bonés, fardas, colheres, marmitas, relógios, ou contribuindo para o arranjo interior do museu, com o diorama, os grandes posters, etc. (5, 6, 7, 8, 9)
Guiledje – o Futuro
O maior desafio será o de Guiledje se constituir como um pólo de desenvolvimento regional, compreendendo:
(i) O Museu Histórico que perpetuará a história da luta pela independência da Guiné-Bissau, em especial a ligada às zonas libertadas do sul do país, assim como a presença dos militares portugueses que construíram o quartel e nele viveram cerca de 10 anos.
O Museu permitirá aos visitantes o acesso a documentos fotográficos, mapas, textos escritos, vídeos e cartas pessoais dos protagonistas, guineenses, cabo-verdianos, cubanos portugueses, testemunhando e relatando as suas vivências da guerra, às armas e meios logísticos utilizados na altura por um e outro lado, aspectos ligados à religião católica e muçulmana e o acesso a livros sobre a História e Guerra Colonial.
(ii) A Sede da Área Transfronteiriça de Guiledje que irá promover a cooperação das comunidades, agricultores, jovens e mulheres, organizações de base, autoridades tradicionais e administrativas, técnicos e decisores políticos da Guiné-Bissau e da Guiné-Conakry para a conservação e gestão correcta dos recursos naturais e humanos, em especial na preservação dos corredores de animais selvagens, a desmatação e repovoamento florestal, o uso da terra para a agricultura, o cumprimento do regulamento de caça e que irá dinamizar o desenvolvimento comunitário e apoio às iniciativas locais.
(iii) O Centro de Aprendizagem Rural, com o objectivo de formar e capacitar jovens para actividades profissionais, agrícolas e associativas: construção de poços, carpintaria, serralharia, mecânica, construção civil, energia solar, condução de pomares de fruteiras e jardins hortícolas, transformação de produtos agrícolas e criação e liderança de organizações de base
(iv) Um Pólo de Turismo Histórico a partir do qual, todos os ex-miliares que combateram naquela zona poderão aceder aos antigos quartéis de Cacine, Gadamael, Gandembel, Iemberém, Cadique, Cabedú e Bedanda, bem como às barracas da guerrilha nas matas de Cantanhez, praticando um turismo de saudade, trazendo as suas famílias as quais poderão apreciar igualmente outros atractivos naturais, culturais e ambientais, do chamado turismo verde.
Programa do dia 20 de Janeiro de 2010, Dia de Amilcar Cabral
Há cerca de dois anos, em Fevereiro de 2008, o Simpósio Internacional de Guiledje (**) recomendou a criação de um Museu em Guiledje que perpetuasse a memória de todos quantos, guineenses, cabo-verdianos, cubanos e portugueses viveram momentos que marcaram o nascimento da Guiné-Bissau.
É neste contexto que o Governo guineense decidiu que a cerimónia central de evocação desta data se realize em 2010 em Guiledje, com a participação de combatentes da luta pela independência, de um grupo de companheiros cubanos liderados pelo lendário Comandante Móia e de antigos militares portugueses, dos quais salientamos a presença do Dr. Luís Graça, coordenador do mais importante blogue sobre a guerra Luís Graça e Camaradas da Guiné (***), assim como da Senhora Júlia Neto, esposa do Capitão Zé Neto [ 1929-2007], o primeiro militar português a dedicar-se de alma e coração à reconstrução da Memória de Guiledje, acabando por falecer sem ver concretizado o maior sonho que perseguia: regressar à Guiné-Bissau e a Guiledje.
Para os convidados vindos de Bissau prevê-se a sua chegada a Guiledje pelas 10 horas, a que se seguirá uma visita ao Quartel e a inauguração do Museu e da Capela.
Às 11h30 ocorrerão diversas manifestações culturais, protagonizadas pelo grupo de teatro dos combatentes de Cantanhez, pelas antigas lavadeiras do Quartel de Guiledje (Lisboa e Dalandinha) e outros milícias que interpretarão e tocarão em harmónica cantigas portuguesas (****), o grupo coral “Os Fidalgos” com músicas da Luta e grupos locais de danças balanta e fula.
Às 13 horas far-se-ão os discursos oficiais para logo a seguir se passar ao almoço de convívio, na antiga pista de helicópteros.
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Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 9 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5616: Núcleo museológico Memória de Guiledje (1): Arame farpado e sistema de alerta com garrafas de cerveja (Pepito)
(**) Há um vídeo da TV Massar, a televisão local do Cantanhez, sobre a visita ao sul dos participantes do Simpósio Internacional de Guiledje, que ainda não passou aqui no nosso blogue, e que está disponível no sítio da Fundação Mário Soares > Arquivo e Biblioteca > Dossiers > Guiledje (Março de 2008) >
(...) A Fundação Mário Soares participou e apoiou o Simpósio Internacional "Guiledje: Na rota da Independência da Guiné-Bissau", que se realizou em Bissau, de 1 a 7 de Março de 2008.
Neste âmbito, O Arquivo & Biblioteca da Fundação Mário Soares preparou um conjunto de documentos e fotografias relacionadas com Guiledje, com recurso, designadamente, ao Arquivo Amílcar Cabral.
Links > Apresentação · Textos · Fotografias · Exposição · Documentos · Ficha Técnica · O Simpósio (...)
Sobre o Simpósio > vd. a reportagem realizada pela Televisão Massar acerca do Simpósio Internacional de Guiledje (Vídeo: 4' 10'').
(***) Infelizmente, o fundador e administrador deste blogue não poderá estar presente, em Guiledje, no dia 20 de Janeiro, por razões da sua vida académica. Fez algumas diligências para ser representado eventualmente por membros do blogue (o José Brás, o Xico Allen). Em última caso, estará condignamente representada pela Dª Júlia Neto, que aceitou essa incumbência e, inclusive, fazer para nós um pequeno relato da cerimónia. Aceitou igualmentre o nosso convitre para passar, a partir de agora, a figurar como membro da nossa Tabanca Grande, o que muito nos honra.
Vd. também poste de 7 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5603: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (10): Recolha de fundos para ajudar a reconstrução (Manuel Reis / Luís Graça)
(...)
Aproveito para relembrar, aos mais novos, aos periquitos da Tabanca Grande, a história e o significado da capela de Guileje, erigida no tempo da CART 1613 (do Cap Art Corvalho e do 2º Srgt Zé Neto, 1967/68)... Infelizmente, o Zé Neto (com o posto de Cap Ref) foi o primeiro a deixar-nos... A morte levou-o aos 78 anos... Morreu em 2007. Tinha nascido, em Leiria, em 1927.
(****) Temos um vídeo com a interpretação de antigas músicas dos tugas, por uma das lavadeiras e por um antigo milícia, exímio tocador de harmónica, que ficará em breve disponível no You Tube > Nhabijao e no nosso blogue... Foi o Pepito que nos mandou através do médico João Graça, em Dezembro passado.
2 comentários:
Apenas uma observação aos caros editores. Nas legendas das fotografis vem referido: "Diversos objectos expostos: quépi e divisas de capitão, doadas ...". Divisas de capitão? Que o ministro da defesa diga "acentos circunflexos e tiras" ainda aceito, agora divisas deixado passar por um veterano ...
De qualquer maneira, se entenderem, podem anular este comentário.
Um abraço,
António Brandão Ccaç 2336
António:
No original, está "galões"... Foram doados pelo Capitão dos Gringos der Guileje... As minhas desculpas ao Abílio, aos demais capitães, e à equipa que está organização o Museu... É um "lapsus linguae", MEU!!!...
Tens que me desculpar, saí da tropa há 39 anos... Vou corrigir. Obrigado. O rigor (mais do que o respeitinho) é muito bonito. O seu a seu dono. Luís
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