1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos a 3ª estória da sua ainda fresquinha viagem à Guiné:
CAÇ 4540 – 72/74 – SOMOS UM CASO SÉRIO
CANTANHEZ: DEPOIS DO INFERNO - ENCONTREI UM PARAÍSO
Tenho de o dizer, porque calar-me seria trair o que me vai na alma, que na realidade tu, Luís Graça, és um dos responsáveis pelo meu regresso à Guiné e pela montanha de novos companheiros que também por lá passaram nos anos de guerra e que tenho tido o grato prazer de vir a conhecer nos últimos tempos. Tudo isso devo ao Blogue que criaste e mais digo, que o presente poste pretende apenas ser uma singela e reconhecida homenagem pessoal.
Luís Graça, Carlos Vinhal, Magalhães Ribeiro e todos os 417 Amigos & Camaradas da Guiné seguidores do Blogue, para vós vai toda a minha gratidão, porque conseguiram em 4 anos fazer o que o SNS não fez em trinta e muitos anos e ainda me permitiu usufruir do raro privilégio de ficar isento do inerente pagamento das irritantes e injustas taxas moderadoras.
Dito isto, vamos à narração da viagem:
Ficamos instalados no Capé (arredores de Bafatá), para assim nos podermos deslocar para norte, leste e sul. Outra alternativa poderia ser o Saltinho, mas a opção de ficar no Capé foi acertada, quer pela qualidade das instalações, da boa gastronomia e da afabilidade e simpatia dos proprietários.
Dia 12 de Abril 2010 > Capé – Bafatá > Saímos bem cedo e iniciamos a viagem que me iria levar até Cadique, tendo passado por Bambadinca, Xitole, Saltinho, Buba, Aldeia Formosa, Guileje, Iemberem e finalmente a terra que me foi “prometida”, pela tropa, em 1972.
Depois de entrarmos na mata do Cantanhez, tornou-se patente a difícil exequidade da viagem, já que a mobilidade se tornou impraticável, diria mesmo impiedosa e, se não fosse a boa vontade de alguns companheiros de viagem, eu não teria chegado a Cadique porque, desanimado e desmotivado, quis desistir.
Quem por lá andou na construção da estrada que liga a Cadique, sabe o quanto nos custou, em sofrimento e morte, essa obra. A partir de Iemberem comecei a sentir e a pensar algo que jamais conseguirei decifrar, mas que posso tentar definir como um misto de emoções, desilusões, euforia, tristeza… por ali fora ia dizendo: “Aqui estive emboscado!”, “Ali morreu o A, o Bê, o Cê..”, “Foi aqui que o Capitão Pára-quedista Terras Marques levantou 4 minas.”, etc, etc.
Mil imagens me surgiram na mente, à velocidade da luz, podem pensar que é um exagero, mas não consigo transmitir-vos melhor ideia do que se passou, naqueles momentos, pelo cérebro deste vosso amigo.
No entanto, não me foi possível identificar exactamente os locais dos acontecimentos, até porque a “estrada” está quase irreconhecível e a “distância” de 38 anos, também não me ajudou.
Permitiu-me, isso sim, sentir uma enorme sensação de liberdade (estranha), matando mesmo a minhas velhas dúvidas de que fosse verdade, algum dia, efectuar aquele percurso sem ouvir um tiro.
Quando finalmente pisei o solo de Cadique, não consegui esconder a minha emoção e a Carminda deve ter sido das poucas pessoas, que se apercebeu do que eu tentei esconder as lágrimas (é que eu ainda sou daqueles que pensa que os homens não choram).
Felizmente, não foi necessário efectuar trabalhos de arqueologia, para descobrir vestígios da presença da minha companhia no local, já que não sendo muitos eram no entanto visíveis.
Atravessar o Cantanhez e chegar as margens do rio Cumbijã, é algo que jamais esquecerei e, meus caros amigos, garanto-vos que ainda há poucos anos atrás nem sequer queria falar, ou ouvir alguém falar, da Guiné. A vida, por vezes, prega-nos partidas destas.
Gostaria de ter ido a Cufar onde estive algum tempo no COP 4, e que teria sido fácil se houvessem os meios necessários, bastando para isso atravessar o rio, assim só se o tivesse feito a nado.
Depois de distribuir umas guloseimas pelos miúdos voltamos a atravessar o Cantanhez, porque a viagem iria ser longa até Bafatá.
Passamos por Guileje e tive uma agradável surpresa, quanto ao museu e à área envolvente do mesmo, que ganhou nova vida e aspecto.
Até breve.
Luís Graça, Carlos Vinhal, Magalhães Ribeiro e todos os 417 Amigos & Camaradas da Guiné seguidores do Blogue, para vós vai toda a minha gratidão, porque conseguiram em 4 anos fazer o que o SNS não fez em trinta e muitos anos e ainda me permitiu usufruir do raro privilégio de ficar isento do inerente pagamento das irritantes e injustas taxas moderadoras.
Dito isto, vamos à narração da viagem:
Ficamos instalados no Capé (arredores de Bafatá), para assim nos podermos deslocar para norte, leste e sul. Outra alternativa poderia ser o Saltinho, mas a opção de ficar no Capé foi acertada, quer pela qualidade das instalações, da boa gastronomia e da afabilidade e simpatia dos proprietários.
Dia 12 de Abril 2010 > Capé – Bafatá > Saímos bem cedo e iniciamos a viagem que me iria levar até Cadique, tendo passado por Bambadinca, Xitole, Saltinho, Buba, Aldeia Formosa, Guileje, Iemberem e finalmente a terra que me foi “prometida”, pela tropa, em 1972.
Depois de entrarmos na mata do Cantanhez, tornou-se patente a difícil exequidade da viagem, já que a mobilidade se tornou impraticável, diria mesmo impiedosa e, se não fosse a boa vontade de alguns companheiros de viagem, eu não teria chegado a Cadique porque, desanimado e desmotivado, quis desistir.
Quem por lá andou na construção da estrada que liga a Cadique, sabe o quanto nos custou, em sofrimento e morte, essa obra. A partir de Iemberem comecei a sentir e a pensar algo que jamais conseguirei decifrar, mas que posso tentar definir como um misto de emoções, desilusões, euforia, tristeza… por ali fora ia dizendo: “Aqui estive emboscado!”, “Ali morreu o A, o Bê, o Cê..”, “Foi aqui que o Capitão Pára-quedista Terras Marques levantou 4 minas.”, etc, etc.
Mil imagens me surgiram na mente, à velocidade da luz, podem pensar que é um exagero, mas não consigo transmitir-vos melhor ideia do que se passou, naqueles momentos, pelo cérebro deste vosso amigo.
No entanto, não me foi possível identificar exactamente os locais dos acontecimentos, até porque a “estrada” está quase irreconhecível e a “distância” de 38 anos, também não me ajudou.
Permitiu-me, isso sim, sentir uma enorme sensação de liberdade (estranha), matando mesmo a minhas velhas dúvidas de que fosse verdade, algum dia, efectuar aquele percurso sem ouvir um tiro.
Quando finalmente pisei o solo de Cadique, não consegui esconder a minha emoção e a Carminda deve ter sido das poucas pessoas, que se apercebeu do que eu tentei esconder as lágrimas (é que eu ainda sou daqueles que pensa que os homens não choram).
Felizmente, não foi necessário efectuar trabalhos de arqueologia, para descobrir vestígios da presença da minha companhia no local, já que não sendo muitos eram no entanto visíveis.
Atravessar o Cantanhez e chegar as margens do rio Cumbijã, é algo que jamais esquecerei e, meus caros amigos, garanto-vos que ainda há poucos anos atrás nem sequer queria falar, ou ouvir alguém falar, da Guiné. A vida, por vezes, prega-nos partidas destas.
Gostaria de ter ido a Cufar onde estive algum tempo no COP 4, e que teria sido fácil se houvessem os meios necessários, bastando para isso atravessar o rio, assim só se o tivesse feito a nado.
Depois de distribuir umas guloseimas pelos miúdos voltamos a atravessar o Cantanhez, porque a viagem iria ser longa até Bafatá.
Passamos por Guileje e tive uma agradável surpresa, quanto ao museu e à área envolvente do mesmo, que ganhou nova vida e aspecto.
Até breve.
Foto 1 > Capé > Bafatá > Acampamento!
Foto 2 > Imberem (Antiga Jemberem) > Memorial da 1ª Cart/Bart 6521
Foto 3 > Auto > Estrada muito movimentada
Foto 4 > Cadique > Depois de muitas horas... chegamos! Foto 5 > Cadique > Sonho tornado realidade, voltar a pisar de novo este solo
Foto 6 > Cadique > Antigo bar
Foto 7 > Cadique > Memorial da CCaç 4540
Foto 8 > Cadique > Mastro onde a bandeira portuguesa era hasteada
Foto 9 > Algures na mata do Cantanhez > Os dez magníficos que me acompanharam. Da esquerda para a direita: Henriques, Fernandino, Carminda (esposa do Cancela e uma grande Senhora), Cancela, Petiz, eu, Zé Rodrigues (homem que organizou tudo e só não tomou as vacinas por nós), Laguela, Zé Carvalho, Jaime e o Vilar.
Foto 6 > Cadique > Antigo bar
Foto 7 > Cadique > Memorial da CCaç 4540
Foto 8 > Cadique > Mastro onde a bandeira portuguesa era hasteada
Foto 9 > Algures na mata do Cantanhez > Os dez magníficos que me acompanharam. Da esquerda para a direita: Henriques, Fernandino, Carminda (esposa do Cancela e uma grande Senhora), Cancela, Petiz, eu, Zé Rodrigues (homem que organizou tudo e só não tomou as vacinas por nós), Laguela, Zé Carvalho, Jaime e o Vilar.
Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCAÇ 4540
Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
___________
Notas de M.R.:
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCAÇ 4540
Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
___________
Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
24 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6461: Histórias do Eduardo Campos (13): Língua Portuguesa na Guiné: Em Perigo?
24 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6461: Histórias do Eduardo Campos (13): Língua Portuguesa na Guiné: Em Perigo?
8 comentários:
Caro Eduardo
Já algumas vezes tens referido o bem que este convívio do Blogue te proporcionou. Ainda bem!
Pela minha quota parte, fico contente.
Relativamente às emoções que revelas nesta visita 'ao local do crime' acho perfeitamente natural o que contas. Acho que comigo aconteceria o mesmo.
Só uma pequena pergunta: quem é esse companheiro de viajem a que chamas Petiz? Podes escrever para o mail.
Abraço
Hélder S.
Eduardo,
Com um abraço forte e verdadeiro aqui está a História de um Pais!
Quando te falarem ou ouvires Camões, ergue o peito, não te envergonhes, fizemos mais bem do que mal, a História o dirá e tu apesar de tudo sentirás orgulho em ser português de raça. Que amou e ama a terra onde foi conciderado indevidamente colonialista. Amas a tua e aquela terra tão linda! Isso é que é importante. Os que nos alcunham de tudo, jamais amarão aquela terra como nós.
Obrigado pelo teu testemunho.
Viste-lo bem ali junto a Cadique! Por esse motivo vai o abraço igual ao seu tamanho, nosso rio Cumbijã.
Mário Fitas
Caro Eduardo
Valeu de certeza fazer a viagem. Ainda por cima na companhia do Ex-Alf.Mil. Rec Inf, Jorge Manuel Santos Petiz, meu camarada no BCav. 2922, sediado em Pitche em 70/72. Foi muito agradável reve-lo na foto do grupo. E pelo que vi de perfeita saude.
Um abraço camarigo para ti e para o Petiz.
Luís Borrega
Caro Eduardo
Só depois de ter enviado o comentário anterior é que reparei que foste igualmente na companhia do meu amigo Fernando Henriques, ex-Alf.Mil. Op.Esp. do BCaç 3883/CCaç 3545, que nos rendeu em Pitche. Estive com ele a almoçar no dia a seguir a ter regressado da Guiné, no Rest. Casa das Lamejinhas em Sarilhos. Como o mundo é na realidade pequeno e...o nosso blogue é Grande.
Forte Abraço
Luís Borrega
Caro Eduardo
Pois é... identificado o Jorge Petiz (com quem estive em Piche durante a minha missão lá), verifico agora, com a preciosa atenção que o Borrêga sempre tem, que o 'Henriques' que assinalas na foto é esse que o Luís identifica, autor dum livro com a história da sua evolução pessoal, homenageando a história da sua Unidade, referindo a Unidade que foi substituir e descrevendo os acontecimentos vividos na zona leste, no ocaso da guerra.
É um livro interessante, pelo menos para aqueles que conheceram Canquelifá, Piche, Buruntuma e pontos de apoio relacionados.
É edição de autor e chama-se "No Ocaso da Guerra do Ultramar" e já aqui falei dele.
Abraço
Hélder S.
Luis e Helder
Quando dizes que valeu a pena fazer a viagem e ainda por cima na companhia do Petiz, sabes bem do que falas, que homem:
O seu humor fantástico e contagioso,originou no grupo uma alegria que eu não estava habituado,e sendo eu um cara de pau, só ele me conseguia arrancar uns sorrisos bem rasgados e o Henriques é também da mesma "colheita".Com estes dois "artistas" e aproveitando o slogan de uma rádio, eu ia com eles até ao fim da rua e até ao fim do mundo.
Tive o grato prazer de agradecer aos mesmos, os momentos fantásticos que me proporcionaram durante a viagem.
O Henrique disse que que iria jantar/almoçar? à Costa da Caparica com um ex.companheiro de guerra, talvez estivesse a referir á tua pessoa.
Depois do regresso, o Henrique já voltou ao Continente, tendo estado presente em dois almoços na Tabanca de Matosinhos.
Quanto ao livro "No ocaso de Guerra do Ultramar", não o li na totalidade, concentrei-me mais nos acontecimentos da Guiné.
Nunca será demais referir que na realidade o nosso Blogue é mesmo muito grande.
Um Abraço para ambos
Eduardo Campos
Meu caro Eduardo
Carago, explica-me como se chega a Cufar...
É o lugar da Guiné onde deixei mais de mim. Gostava de lá voltar um dia.
Abraço,
António Graça de Abreu
Caro Eduardo
Na nossa estadia "forçada" em Pitche (escrito à fula), o Petiz era um dos animadores das noites na messe de oficiais e sargentos, a boa disposição era uma constante, pois eu também sou um "artista", por isso me dou bem com o Petiz e o Henriques, às vezes
o PAIGC contribuia nessas noites com fogo de artifício.
Na realidade o almoço com o Henriques foi esse que te referiste, mas teve a presença de mais convivas a saber:
O Capitão Cav. Eduardo Castro Neves(hoje Cor.Cav. Reformado), o ex-Fur.Mil.Cav. MA Luís Encarnação, ambos da CCav.2748/BCav. 2922, que foi rendida em Canquelifà pela Companhia do Henriques a CCaç 3545/BCaç 3883, estavam também o ex-Fur Mil. At Inf. Eugénio Pereira (que se deslocou à Guiné em Março), O ex-Fur.Mil.Arm.Pes.Rogério Lourenço, ambos do pelotão do Henriques e eu da CCav.2749, sediada em Pitche. Foi um almoço de cinco estrelas no Rest.Casa das Lamejinhas na Lançada, (que eu recomendo).
Abraço Camarigo
Luís Borrega
duardo Castro Neves (hoje Cor.Cav.Reformado).Cav.MA Luís Encarnação, ambos da CCav.2748/BCav 2922 que foram rendidos em Canquelifá, pela
CCaç.3545/BCaç 3883.
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