Guiné > Região do Cacheu > Susana > CCAV 2358 (1969/71) > Natald e 1969 > Último Natal e provavelmente a última ou uma das últimas fotos do Cap Cav Luís Filipe Rei Vilar, comandante da CCAV 2538 / BCAV 2876, unidade de quadrícula de Susana (1969/71), que morreu, em combate, em circunstâncias que nunca foram esclarecidas, com detalhe, pelo Exército, na sequência de uma operação contra o PAIGC, na fronteira com o Senegal, no dia 18 de Fevereiro de 1970. Nesse dia ainda foi evacuado, de Susana para Bissau, para o HM 241, de heli (pilotado pelo nosso camarada Jorge Félix). O malogrado oficial foi substituído pelo Cap Cav Rogério da Silva Guilherme. Outras subunidades do BCAV 2876: CCAV 2539 (S. Domingos) e CCAV 2540 (Ingoré). Foto cedido por Rosério Pedro Martins, que estava em Susana nesta altura. O Miguel Vilar também com o ex-Fur Mil Enf Jesus, que vive em Mértola, e que estava a dois metros do seu capitão, quando este foi atingido. O Afonso conseguiu o número de telemóvel do Jesus, o que permitiu ao Miguel contactá-lo.
Fotos: © Rosário Pedro Martins / Miguel Vilar / Duarte Vilar (2010). Direitos reservados. [Editadas por L.G.]
1. Mensagem, de ontem, do meu amigo Duarte Vilar (*), com conhecimento aos seus irmãos Miguel e Manuel Vilar:
Caro Luís
Envio-te provavelmente a última foto do meu irmão, que foi obtida com a tua ajuda. O meu irmão é o que está entre o negro e o branco, de boca aberta e bem disposto, na ceia de Natal da companhia em 1969, em Susana. A foto foi dada pelo camarada que tu deste o contacto, ao meu irmão Miguel, que foi falar com ele. Foi um bom presente para todos nós.
Não sei se algum dos meus irmãos já te terá contactado, se assim foi, entende este agradecimento com um acto pessoal. Se não, entende este agradecimento em nome dos meus irmãos e da minha família. Agradeço-te profundamente o teres-te interessado pela nossa história e teres contribuído para afastares algumas nuvens negras que sobre ela pairavam.
Conta connosco para o que precisares.
Embora não tenhamos lá estado, sentimo-nos também vossos camaradas da Guiné.
Um grande abraço
Duarte Vilar
2. Comentário de L.G.:
Lista dos oficiais da CCAC 2538 (Suzana, 1969/71)... Esta lista foi obtida pelo nosso camarada Afonso Sousa que conseguiu localizar o ex-Alf Mil Borlido.
Em 22 de Setembro de 2009, o Afonso mandou-me o seguinte mail de que dei conhecimento aos irmãos do nosso camarada Luís Rei Vilar: "Caro Luis: Não me foi possivel ainda uma conversa com um ex-alferes da CCAV 2538, que estava ao lado do capitão Vilar, no momento em que foi atingido. Localizei-o em Alenquer, onde é vereador. Dado o momento eleitoral, em que ele está concentrado, tenho estado a fazer um compasso de espera para ver se me concede uns breves minutos para abordar e tentar clarificar alguns pontos. Ele próprio já me enviou um mail e disponibilizou-se a ter comigo uma conversa mais detalhada. Posso entretanto adiantar que a versão "ajuste de contas" está, segundo ele, completamente fora de questão, e ainda bem. No seguimento do ataque IN, o capitão foi atingido por uma arma disparada de uma árvore. Agradeço a v/ paciência para mais um pouco de espera. Tudo farei para entabular esse contacto o mais rápido possível. (...)
Não sei se o Afonso chegou a apurar mais dados sobre as circunstâncias em que morreu, em combate, o Cap Cav Luís Rei Vilar. De qualquer modo, a família Vilar continuou, por sua conta e risco, a averiguar a verdade dos factos. Eu próprio fiz questão de agradecer ao Afonso as suas diligências:
"Afonso: Obrigado. É uma notícia de GRANDE CONFORTO para os nossos amigos Manuel, Duarte e Miguel !!!... Obrigado pelo teu patriotismo e pela tua dedicação à memória dos nossos camaradas que morreram no campo da honra (...) E o nosso Cor Ayala Botto, será que terá mais alguns dados novos sobre este caso ? O nosso blogue pode contribuir, com rigor e serenidade, para esclarecer finalmente esta história que está mal contada... Faço questão de dar conhecimento do teor deste mail aos nossos amigos Miguel e Duarte... Eles encarregam-se de fazer chegar a notícia aos filhos do Luís (um dos quais continua convencido que o pai foi miseravelmente baleado por um dos seus soldados, e que 'sabe o seu nome'...)" (...)
Agradecimentos são devidos também a outros camaradas que colaboraram connosco: O Cor Cav Ref Ayalla Boto (que foi ajudante de campo de Spínola), e o João Manuel Félix Dias, ex-Fur Mil SAM das CCAV 2539 e 2540. E, naturalmente, ao Jesus, a quem, embora não o conhecendo, convidamos pessoalmente, para integrar o nosso blogue, se for esse o seu desejo. Infelizmente não temos, na Tabanca Grande, nenhum antigo militar da CCAV 2538.
Duarte: O mais importante, para nós, camaradas do teu malogrado irmão, é saber que tu, os teus irmãos, os teus sobrinhos e o resto da família se sentem hoje mais confortados e reconfortados pelo apuramento da verdade. Vamos respeitar o vosso luto. Fico sensibilizado pelas tuas amáveis palavras que me dirigistes a mim e aos meus camaradas. Continua a dispor do nosso blogue que tem, justamente por missão (nobre), praticar a solidariedade entre antigos camaradas e partilhar o conhecimento sobre a realidade da guerra colonial na Guiné, com particular destaque para os aspectos mais propriamente sócio-antropológicos do seu/nosso quotidiano de guerra. Um Alfa Bravo (ABraço) para ti, para os teus manos e para os teus sobrinhos, filhos do Luís.
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Notas de L.G.:
(*) Duarte Vilar: irmão do Cap Cav Luís Filipe Rei Vilar, comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), morto em combate em 18/2/170. O Duarte tinha 15 anos. O Miguel, 13. O Manuel é mais velho, trabalha em Franã como cientista. O meu colega de curso de sociologia, Duarte, é hoje presidente da direcção executiva da APF - Associação Para o Planeamento da Família. O Duarte também foi colega do Jorge Cabral como docente no extinto Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa.
(**) Vd. postes de:
22 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4991: FAP (34): A heli-evacuação do malogrado Cap Cav Luís Rei Vilar em 18/2/1970 (Jorge Félix)
(...) Junto uma foto da minha caderneta de voo do dia 18 de Fevereiro de 1970 onde consta uma evacuação á Zops de Susana. Foi há 39 anos ....
Se achares conveniente envia ao Miguel Vilar a imagem que te enviei. Estou sem jeito para contar seja o que for. (...)
16 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4962: In Memoriam (31): Cap Cav Luís Rei Vilar, meu irmão e meu herói (Miguel Vilar)
(...) Meu querido irmão:
Passaram 39 anos e a ferida ainda sangra.
(...) Eras o meu herói e lembro nesse dia 18/02/1970,. às 13h00, chegava das escola para almoçar, como todos os dias, vinha eu e o Duarte. Entro em casa, subo ao meu quarto no 1º andar e estava o pai no cimo da escada que me olhou de frente, agarrou-se a mim a chorar (o meu pai nunca chorou!!) e abraça-me e em pranto diz:
- Miguel, levaram o Luisinho.....eles levaram o Luisinho! (...)
(...) C. Comentário de L.G.:
Querido Miguel: Tinha acabado, umas horas antes, de falar ao telefone com o teu irmão Duarte, meu amigo e colega do ISCTE onde ambos cursámos sociologia na segunda metade da década de 1970, quando me ligaste para casa... Sabia da tragédia que se abateu sobre a tua família, com a morte do teu irmão mais velho, meu camarada, do meu tempo de Guiné... Desconhecia, no entanto, a outra tragédia de que foste o protagonista, há treze anos atrás (bem como o processo kafkiano que se seguiu com a justiça)... Soube do infausto acontecimento, através da imprensa, na época, mas nunca imaginei que a vítima foste tu, irmão do Duarte, do Manuel e do Luís...
Deu para perceber, no entanto, enquanto falávamos ao telefone, que és um homem corajoso, determinado, inconformado, decidido, disposto a saber a verdade, toda a verdade, sobre as circunstâncias da morte do teu mano, que era o teu ídolo e o teu herói... Tinhas então 13 anos (e o Duarte 15), quando chegou a brutal notícia da sua morte, que destroçou a vossa família . (...)
Vd. ainda os postes de:
30 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1902: Manuel Rei Vilar, França: Quem conheceu o meu irmão, Cap Cav Luís Filipe Rei Vilar, morto em Susana, em Fevereiro de 1970 ?
30 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1903: Cap Cav Luís Filipe Rei Vilar, comandante da CCAV 2538, morto numa emboscada (Afonso M.F. Sousa)
1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1906: Notícias sobre o Cap Cav Rei Vilar, comandante da CCAV 2538, morto em 1970 (Benjamim Durães / Ayala Botto)
1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1908: Cap Cav Luís Rei Vilar, comandante da CCAV 2538, morto no campo da honra, em incursão no Senegal (Afonso M.F. Sousa)
10 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1939: Susana, região de Cacheu: fantasmas do passado (Pepito)
6 comentários:
À atenção do sargento pára-quedista Manual Rebocho, do nosso José Manuel Dinis e de uns tantos outros distorcidos camaradas que se têm entretido a colocar os oficiais do Quadro Permanente no fim da escala, gente "cobarde" que não "cumpria" com a opção de vida que escolhera.
Um abraço,
António Graça de Abreu
Email do Miguel Vilar, enviado para o endereço do nosso blogue, e que eu tomo a liberdade de publicar como "comentário" a este poste. É lancinante a pergunta do Miguel, para quem não tenho resposta a não a da solidariedade na dor... Afinal, a guerra colonial existiu e deixou marcas, umas mais visíveis do que outras, e que não se apagarão tão facilmente como alguns quereriam ou desejariam:
"É duro voltar a viver isto, 40 anos depois.
"Desde 1970 que toda a minha familia vive com isto.
"Independentenmente se a guerra era justa ou não, pergunto: Agora é que eles estão bem?
"Miguel Vilar [miguel.vilar@iol.pt]
António G. Abreu,
Já anteriormente te chamei a atenção pelo destempero de intervenções exaltadas.
Hoje foste além do admissivel, não só pela circunstância, como pelo qualificativo.
Não mereces resposta.
À família do Capitão, de quem conheço alguns primos, apresento agora os meus sentimentos e desejo que se sintam honrados do vosso nome.
JD
Caríssimos camaradas:
Vamos respeitar o luto dos nossos amigos Duarte, Miguel e Manuel Vilar, para além dos filhos do Luís, que mal conheceram (ou não terão chegado a conhecer) o pai... (Um deles foi durante anos perseguido pela atroz suspeita de que o pai fora vítima de um miserável tiro disparado por um miserável dos nossos...).
Ainda há um bocado perguntei ao Duarte e ao Miguel (não tenho à mão o mail do Manuel, que está em França) se tinham mais fotos ou outros documentos do Luís do tempo em que esteve na Guiné... O Miguel respondeu-me: Não tenho mais nada a não ser imensas saudades...
Luis Graça
Duarte,Miguel e Manuel Vilar.
Não tenho o prazer de os conheçer, isto porque sou mais velho, conheci e fui amigo do vosso irmão Luis.Fomos criados em Cascais, ele na Av.Emidio Navarro, no prédio de esquina com a R. Guilherme G.Fernandes e eu na R.João Luis de Moura. Fomos companheiros na Escola Salesiana do Estoril, na Mocidade Portuguesa, que na altura era obrigatório, enfim fomos amigos, ele foi atrás do seu sonho, porque desde pequeno queria ser oficial do exército.
Também fui grande amigo do vosso pai Luis e da mãe Maria do Carmo.
Fui combatente na Guiné entre 1964 e 1965,sendo perto do terminar da comissão ferido em combate com alguma gravidade, portanto um pouco antes da comissão do Luis. Quando alguém diz que o vosso irmão foi baleado, não se acreditem, em combate a preocupação de todos não passa por vinganças, a situação de momento é muito dura, todos os combatentes sabem bem que é assim.
Também de Cascais, o Fur.João Vieira, nosso amigo de infância, tombou em combate em Angola, os três estivémos em Mafra em 1963, juntamente com outro amigo comum, que vinha passar férias na vila e que se chamava Sacadura, que mais tarde viria a ser selecionador nacional de natação.
Como o meu amigo Jose Diniz diz, sintam-se honrados do vosso nome.
Um grande abraço.
Rogerio Cardoso
A verdade é como o azeite !!!!!
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