quinta-feira, 7 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8063: Controvérsias (118): 10 de Junho: “Passagem final pelas lápides”, ou “Desfile” (António Martins de Matos)

1. O nosso Camarada António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74, hoje Ten Gen Pilav Res), enviou-nos em 5 de Abril a seguinte mensagem:


10 de Junho: “Passagem final pelas lápides” ou “Desfile


Caros amigos Em vista ao interesse demonstrado por muitos de vós para “participarem” no 10 Junho, num desfile junto ao Monumento em Belém, justa homenagem aos camaradas aí referenciados, ficou-me no entanto o receio que, com o programa da cerimónia eventualmente já delineado, exigiria a anuência dos organizadores e um ou outro acerto.

No sentido de tentar solucionar eventuais problemas, esta segunda-feira entrei em contacto com a Comissão Executiva do Encontro Nacional de Combatentes (CPHM) através do Sr. Coronel Morais Pequeno e hoje, 5 Abril, com o Presidente e responsável máximo pela cerimónia, o Sr. Tenente General Piloto Aviador Vizela Cardoso.
Ambos me confirmaram que o programa já está definido (já estava, é o mesmo desde 2008), sendo o seguinte:
10H15 - Missa no Mosteiro dos Jerónimos;
11H30 - Concentração junto ao Monumento;
12H00 - Discurso alusivo por orador convidado;
12H10 - Cerimónia inter-religiosa (católica e muçulmana);
12H20 - Homenagem aos mortos e deposição de flores;
12H40 - Hino Nacional (salva por navio da Marinha Portuguesa)
12H45 - Sobrevoo por aeronaves da Força Aérea;
12H50 - Passagem final pelas lápides;
13H10 - Salto de Pára-quedistas;
13H15 - Almoço convívio (pode ser adquirido nos local).
A “Passagem final pelas lápides” tem o seguinte descritivo:

Finda a passagem dos aviões da Força Aérea, inicia-se o movimento dos Guiões que, por ordem de antiguidade, passarão à frente do Monumento e farão uma passagem de homenagem e despedida pelas lápides, no sentido directo (contrário ao dos ponteiros do relógio). Quando houver acompanhantes dos Guiões, estes juntar-se-ão no início da passagem pelas lápides. Guiões e acompanhantes igualmente completam a passagem pelas lápides, saindo, no final, para o lado da Torre de Belém.

Logo atrás dos Guiões, o Presidente convida os Convidados de Honra para passarem à frente do Monumento e fazerem o mesmo percurso, voltando ao local de partida. Logo após será a vez do público em geral, o qual terá também oportunidade para depor as suas flores e passar, em recolhimento, pelas lápides, seguindo o mesmo trajecto dos guiões.
No final saem em frente para verem o salto dos pára-quedistas ou para almoçar. Todos estes movimentos são anunciados pelo locutor.
Mais uma vez se realça o solene cerimonial desta passagem e para o atavio que todos devem usar na circunstância.

Em vista do programa acima referido a minha solicitação era tão só a substituição da “Passagem final pelas lápides”, pelo “Desfile”, o resto do programa mantinha-se inalterado.

Sem pretender fazer juízos de valor sobre o significado de, numa cerimónia militar, se comparar um “Desfile” versus uma “Passagem pelas lápides”, (o que quer que isso signifique) entendia e entendo que a cerimónia seria altamente prestigiada com o desfile dos Guiões seguido pelos vários pelotões de combatentes.

E, na minha ingenuidade, julgava eu que a hipótese de haver um número significativo de “marchantes”, fosse aceite pelos responsáveis de braços abertos.

Pura ilusão.

A minha (nossa) pretensão foi recusada.

Ainda consegui rebater a maior parte dos argumentos que me foram apresentados para justificar a recusa do desfile, que, por decoro, me dispenso de vos enumerar.

O argumento que não consegui ultrapassar foi o de:

“Já está tudo planeado e como tal não se pode alterar”

Quero terminar penitenciando-me por vos ter incutido infundadas esperanças que este ano íamos ter uma cerimónia diferente.

Os portugueses são assim, parcos em ideias mas com o copy-paste a funcionar na perfeição.

O meu 10 de Junho termina aqui.

Abraços AMM

__________

Notas de M.R.:

Gostava de deixar aqui um comentário à foto inserida neste poste, onde se vê claramente vários elementos da Associação de Operações Especiais, DESFILANDO como o têm feito em quase todos os anos no fim das cerimónias do 10 de Junho, em Belém, frente ao NOSSO Monumento, para quem muitos de nós contribuíram monetariamente.

Também as suas congéneres dos Comandos, Fuzileiros, Paraquedistas, Grupos Especiais, etc. organizam DESFILES dos seus veteranos.

Aos velhos Camaradas - ex-Combatentes da Guerra do Ultramar, têm-se juntado e bem (digo eu) os associados mais novos, que muito se têm sentido honrados e orgulhosos em poderem DESFLIAR ao nosso lado.

Se a organização gosta tudo bem, se não gosta o problema é deles.

Este ano vamos desfilar novamente se Deus quiser!

Penso eu que também a malta do blogue pode e deve organizar-se e DESFILAR no fim das cerimónias, em frente ao Monumento.

Vd. último poste desta série:

2 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8034: Controvérsias (117): No rescaldo do Almoço da Tabanca do Centro, onde mais uma vez se falou do nosso dia, o dia dos ex-combatentes (António Martins de Matos)


11 comentários:

Anónimo disse...

Camaradas,
Estive a ver no youtube o desfile do 10 de Junho, nas cerimónias oficiais. É certo que não havia guiões e que não decorreu onde devia, ou seja, junto ao Monumento. Mas quero dizer com toda a franqueza que gostei de ver. Um verdadeiro desfile e com os combatentes a tentarem marchar (foi comovente ver cadeiras de rodas e camaradas com dificuldades de locomoção). Todos de casaco e gravata ostentando as suas condecorações. Estavam, de facto a desfilar.
É uma pena que, nos encontros dos combatentes de 10 de Junho junto ao Monumento em Belém, não se consiga este aprumo.
Pelo que percebi, trata-se mesmo de um encontro de tipo confraternização entre camaradas e também de homenagem aos que deram a vida pela Pátria. Mas não tem sido (pelas fotos do youtube, pelo menos) ocasião para um desfile que mostre orgulho pela missão cumprida.
Eu, por exemplo (chamem-me conservador ou tradicionalista), não gosto nada de ver condecorações penduradas no peito de quem vai em mangas de camisa, calças de ganga e sapatilhas.
Ou seja: uma coisa é o salutar convívio; outra é o desfile. E este deve primar pelo aprumo.
Para mim (e sei que vou ser criticado por dizer isto), desfile foi mais o do ano passado nas cerimónias oficiais do que os dos Encontros de Combatentes.
Desculpem qualquer coisinha.
Um abraço,
Carlos Cordeiro

António Martins Matos disse...

O comentário do C Cordeiro acerta na "mouche".
Para desfilarem têm de estar devidamente ataviados, fato e gravata (digo eu), se vão de t shirt e jeans mais vale ficarem a assistir.
Este é um dos "medos" que as sucessivas organizações da cerimónia têm experimentado.
E no entanto seria fácil de resolver, bastava falar com os combatentes.
Abraços
AMM

Anónimo disse...

Um desfile desta natureza deveria ser enquadrado pela comissão organizadora das comemorações, coadjuvada pelas comissões de combatentes, indo assim ao encontro e dando provimento aos anseios e exigências expressos no artigo e nos comentários acima vistos.
Lamento se pareço 'rígido' mas trata-se de uma manifestação que deve denotar alguma solenidade em vista do seu caracter evocativo referir acontecimentos de âmbito nacional. Mais, deveria distinguir e honrar os que combateram sem especial ou destacada evocação dos mortos - só desse modo se valoriza a presença, a acção e a sua memória; só desse modo se institui a morte como acontecimento inerente, destacando assim a acção na sua vertente militar e só desse modo se inclui a deficiência ou insuficiência como acto igualmente sofredor.
De resto, o habitual choro da morte, relativo à guerra, abstrai frequentemente das condiçõese das implicações do contexto; hámortes que nada tiveram de heróicas ou,em muitos casos, dignas; passe a objectivação substantiva de uma abstracção.

O militar morre em ambietes de guerra ou de combate imediato tão naturalmente como o idoso se extingue por ter atingido o seu limite.

SNogueira

António Martins Matos disse...

Em tempo
Porque alguns camaradas me comentaram a foto incluída no texto, inserida pelo MR, quero dizer-vos que hesitei entre pedir para ser retirada e deixa-la ficar.
Finalmente optei por nada dizer, mas agora que levantaram o assunto ela serve de exemplo, o modo como aqueles militares desfilam é precisamente o que tem de ser evitado.
Para desfilar é condição prioritária o atavio do combatente, caso contrário parece mais uma romaria.
A foto, ainda que inserida com outras intenções, acaba por ter um aspecto didático.
Caro MR, eu sei que a intenção era boa.
AMM

jose almeida disse...

António Martins de Matos.

Louvo a sua intenção assim como a do Mexia Alves,que no dia 10 de
Junho,seja Celebrado o dia do Combatente.Mas como a CPHM não quer incluir os Ex Combatentes na
Cerimónia.
Porque não criar o dia Nacinal do Ex Combatente?
Datas! Morte de Viriato ou o
1º Combate de Afonso Henriques,na Formação de Portugal.
E a CPHM fica com o dia só para ela e pode festejar,bem resguarda-da. Por Ex. em Santa Margarida.
Quanto ao desfile dos Ex Combaten-
tes.Todos em Traje Cívil, Fato e Gravata, ostentando ou não as res-pectivas Condecorações que a Nação
achou que mereceram.
Um abraço
Fernando Almeida

Anónimo disse...

O uso de condecorações e suas miniaturas em cerimónias públicas está regulamentado. O que está regulamentado poderá eventualmente ter que ser revisto mesmo que seja de um modo expedito porém, desde já e parafraseando o Gen Matos, um desfile desta natureza não deve poder confundir-se com uma romaria.

A escolha do dia carece de profunda reflexão mas parece-me que deveria ser em data associada concretamente àquela guerra e não tanto projetando referências que, sem prejuízo de um sentimento nacionalista legítimo, se apresentam tradicionalmente 'triunfalistas' sem que lhes seja sentido o conteúdo - digamos a data em que foi ouvido o último tiro; eventualmente 27ABR74 que parece ser a data da última operação na Guiné... ou outra, se tiver ocorrido algum incidente em data mais recente.

SNogueira

Anónimo disse...

Plenamente de acordo com os comentários anteriores,só quero por algumas dúvidas (minhas).
Qual é o papel da Liga dos Combatentes?
Será que a grande maioria dos ex-combatentes pertencentes aos quadros das F.A. se interessam sobre este assunto, nomeadamente oficiais generais e superiores?
Será que as actuais chefias militares têm receio de que haja aproveitamento político ou reivindicativo?
Quantos dos actuais chefes militares foram combatentes?
As minhas interrogações têm como único objectivo saber qual o grau de sensibilidade para este assunto.
Mais uma vez louvo a acção do camarada General António M. Matos.

Um alfa bravo para todos
C.Martins

Manuel Reis disse...

Camarigo António Matos:

A minha palavra de aplauso e apreço pela tua iniciativa.

Participar no desfile seria lembrar-lhes que ainda estamos vivos, nós, ex-combatentes, que não desejámos a guerra e agora pedimos tanto pouco!...apenas e só lembrar-lhes que a guerra existiu e nós somos o testemunho vivo.

Um abraço amigo.

Manuel Reis

manuelmaia disse...

Camarigos,


Parece-me que aquilo que foi sugerido por Fernando Almeida,relativamente ``a necessidade de se criar um dia do ex-combatente tem toda a legitimidade e pernas para andar.

Atendendo que os tais CPHM rejeitam
quem "deu o corpo ao manifesto" e desfardado pretendia dar dignidade ao que os CPHM fazem, resta-nos dar-lhes um sonoro apupo,mandar ``as malvas essa importante e "especializada" gente (que provavelmente tem neste "trabalho" a unica coisa de labor de um ano inteiro...) e arrepiar caminho conducente ao nosso desfile.
Quem n~~ao se sente, n~~ao ´´e filho de boa gente( desculpem-me a duplicidade de acentos...)mas vai sendo tempo de exigirmos em vez de pedirmos...)
abraço
manuelmaia

Anónimo disse...

Vista a aparente falta de interesse pelo tema, permita-se-me
que, ainda que a contra-gosto, indique este episódio,
http://www.youtube.com/watch?v=qQ-drnkm1xQ
como ilustração do que se faz 'por aí fora'.
Note-se a diferença entre a população que livremente se apresenta e aqueles outros 'elementos da população' que, pela exibição dos seus distintivos militares e pela sua conduta e atavio, entendem dever honrar uma acção e uma classe a que se sentem ligados.

SNogueira

PS - raramente uso gravata; a menos que o reconhecimento do alcance da circusnstância m'o imponham

Anónimo disse...

(Na ilustração que acima indiquei não se adivinha nemse vislumbra qualquer, mesmo que vaga, referência ao inimigo, seja quem for e seja qual for a condição ou legitimidade da sua luta)

SNogueira