1. Em mensagem do dia 10 de Novembro de 2011, o nosso camarada Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), enviou-nos este poema dedicado ao seu camarada Zé Santos, capturado e assassinado pelo PAIGC:
ZÉ SANTOS
Chamava-se Zé Santos, Deus o tenha!
soldado atirador, qual acha ou lenha,
p`ra alimentar a pira feita guerra...
No álcool encontrava a anestesia
p`ra esconder medos, pão de cada dia,
saudades da família, lá na terra...
Casado, já com filhos, e tão novo,
Zé Santos fora humilde homem do povo,
p`ra guerra conduzido, sem querer...
Em dia de anos, copo a mais já "ganho",
descalço, tronco nu, calções de banho,
na densa mata entrou p`ra se perder...
Sentindo alguém que o Zé levou sumiço,
desapareceu qual fumo, por feitiço,
na mata o procuramos bem aramados...
Cafal, zona perigosa, Cantanhez,
reduto onde o IN mostra altivez,
debalde, regressamos desolados...
Dias depois, montada operação,
caçados são dois "turras" logo à mão,
qu`informam do destino dado ao Zé...
População hostil o apanhara,
e às tropas do partido o entregara,
levado p`ra Conakry, outra Guiné...
Juraram uns, na rádio ter ouvido,
após captura, o Zé desaparecido,
vontade de o ter vivo, a ligeireza...
Mistério se adensou sobre o seu caso,
não apareceu jamais, nem com atraso,
soldado Santos, morto concerteza...
Aqui, com ódio, acuso os responsáveis,
civis e militares entre os "notáveis"
indignos sevandijas, sem perdão...
Nos trinta e sete anos decorridos,
nem corpos resgatásteis, vis bandidos,
daqueles que tombaram p`la Nação...
Que desteis, miseráveis, vil escória,
aos orfãos do visado desta história,
e à viúva jovem p`ros criar ???
Palavras ocas, vãs, dissimuladas,
capazes de ir mantendo silenciadas,
revoltas mais que justas, de bradar...
A vós vivendo sempre pendurados,
no guarda chuva público grudados,
com gordas, bem opadas sinecuras...
Escarro- vos na cara sem vergonha,
de esgares e de sorrisos feitos ronha,
p`ros outros, vidas prenhes de amargura...
Descansa em paz onde estiveres, camarada.
manuelmaia
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 1 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8978: Blogpoesia (166): Azar... (Manuel Maia)
Vd. último poste da série de 12 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9028: Blogpoesia (167): K3, de Nuno Dempster: excerto: "Capitão, meu capitão, não nos deixes sós!"
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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18 comentários:
Amigo Manuel Maia
Mais uma vez com o coração na ponta dos dedos que escrevem a tua Alma.
Um abraço
Luis Faria
Camarigo Manuel Maia
Não é só a caneta de quem é poeta, mas também a maneira como se abre o peito e dá-se forma à alma.
Obrigado pela tua lembrança por um soldado português morto, assassinado, de quem a família terá recordações, deverá ter feito o luto mas não tem lugar para o chorar.
Um abraço.
Luís Dias
Caro Manuel Maia
Não vou falar da métrica,da poética ou da mensagem do teu poema em sextilhas.
Há, no entanto, algo que me chamou a atenção quando dizes:
"Nos trinta e sete anos decorridos, nem corpos resgastáteis, vis bandidos...".
E é esta contagem de anos que não me parece correcta.
Sei que estás a fazer as contas apenas desde 1974, precisamente o ano em que a guerra acabou...
Ora, como a guerra começou em 1961,parece-me que, estás a deixar 13 anos para trás, precisamente aqueles em que: "os camaradas lá morreram e lá foram deixados" pelos poderes de então.
Pelo que, se fosse eu, diria:
"Nos cinquenta anos decorridos,
nem corpos resgastásteis, vis bandidos,
daqueles que tombaram p`la Nação..."
Um abraço para ti
extensivo aos restantes camaradas
José Vermelho
Manuel Maia
Um abraço forte e amigo do T.
(faz-me um favor continua)
Neste postal, é apresentada aos leitores a figura de um tal "Zé Santos": «soldado atirador, casado, já com filhos e tão novo» que, em seu aniversário natalício, saiu do aquartelamento da sua unidade de infantaria do Exército Português e - «descalço, tronco nu, calções de banho», "etilizado" - se embrenhou pela densa selva tropical do Cantanhez sudoeste da Guiné, jamais tendo voltado a dar sinais de vida, vindo a ser - em indeterminados local e data de 1973 -, «capturado e assassinado pelo PAIGC» (cf o editor).
Era comandante da citada 2ª/BCac4610/72, o capitão milº infª João António Rato Pinho Terrível.
Ao tabanqueiro Vítor Manuel Maia Cordeiro, camarada-de-armas do também ex-furriel milº autor das vicentinas sextilhas, aqui fica a questão: o que há de verídico nesta história?
Cpts,
Abreu dos Santos (senior)
O tal "Zé Santos", salvo melhor informação e/ou opinião, prefigura-se uma criatura de retórica, filha do escárnio e da má-língua alimentada, p'los males deste mundo do nosso pós-guerra, «com ódio» aos «vis bandidos [...] civis e militares [...] indignos sevandijas [que] nem corpos resgatásteis»...
Talvez seja mais um dos conhecidos desabafos líricos, em linguagem castigada, a que Manuel Maia já nos habituou.
Será mensagem, será metáfora, será brado d'alma, será eflúvio martiniano. Mas pouco terá a ver com a realidade, de factos ocorridos no teatro-de-operações e no tempo em que o autor prestou serviço militar.
Camaradas,
Provavelmente à cata de protagonismo,porque não dizê-lo,doentio,um tal JCAS,surge de quando em vez,com a arma da sua viperina língua, a criar situações de atrito neste blogue.
Comigo é a segunda vez,e quero alertá-lo desde já,(interprete como quiser...) que não lhe amitirei terceira diatribe.
No seu arengar,feito comentário,repositório de abjectas insinuações,acusa-me, na qualidade de autor do post 9031 sob o título : Zé Santos,da 2ª C.Caç/B.Caç 4610,capturado e assassinado pelo PAIGC , onde sob a forma de sextilhas relato de forma fidedigna a infeliz realidade ocorrida com o soldado referido,de ser "mais um dos conhecidos desabafos líricos,numa linguagem castigada, a que Manuel Maia já nos habituou".
"Será mensagem,será metáfora,será brado d`alma,será eflúvio martiniano"...
"Mas pouco terá a ver com a realidade,de factos ocorridos no teatro de operações e no tempo em que o autor prestou serviço militar"
Há um ditado português que diz : Quem não se sente,não é filho de boa gente!!!
Se tivesse colocado quaisquer ressalvas à qualidade do escrito,não poria obstáculos à sua aceitação,mas relativamente à veracidade do seu conteúdo,devo dizer-lhe sr.de vermelha boina,que não admito nem a si nem a ninguém, esteja ele de boina ou de cabelo ao vento...
Entenda como quiser!
Manuel António Moreira de Oliveira Maia,
Os efectivos da sua (citada) 2ª/BCac4610/72, em 19Jun72 desembarcaram em Bissalanca e dali em 15Jul74 regressaram à origem: entretanto, em 23Jan73 dois pelotões daquela 2ªCCac foram destacados para Cafal (Balanta? Nalu?), dali em 05Jun73 deslocados para Cobumba e no final de Set73 recuados para Dugal. No referido espaço de tempo, nenhum militar daquela subunidade de infantaria, de seu nome José Santos (ou qualquer outro), consta como "desaparecido em combate", "capturado pelo IN" ou "morto sem confirmação". Naquela subunidade de infantaria, estão registadas apenas três baixas mortais: uma (12Mar73), por doença; duas (08Jul74 e 16Jul74), em consequência de acidente de viação.
---
Tudo quanto antecede, aguardava pelo comentário de outros tabanqueiros, concretamente de Vítor Cordeiro.
Quem deduziu que Zé Santos terá sido "capturado e assassinado pelo PAIGC", foi (como está evidente), o editor do postal.
Quanto à sua recente desabrida diatribe e incontinência verbal contra a minha pessoa, ...
Dando a mão à palmatória:
Na verdade nada nos garante que o militar em causa tenha sido sido morto pelo que o título fica interrogativo.
Carlos Vinhal
Co-editor
Agradeço, reconhecidamente, o recente esclarecimento rectificativo, bem como a exposição de todos os precedentes
comentários.
Saudações veteranas,
J.C. Abreu dos Santos (senior)
camaradas,
O soldado em questão infelizmente morreu.
Estivemos atentos aquando da independência da Guiné e nunca foi referido o nome dele entre os cativos libertados
Contráriamente à informação dos JCAS,tivemos quatro mortos e não três.
Insisto portanto na afirmação e devo dizer ao sr. JCAS que pertenci a um dos grupos que foram para Cafal/Balanta. Quem posteriormente seguiu para Cobumba foi um misto de militares do 2º e 4º grupos.
Agora sou eu que solicito ao Vitor Cordeiro para aparecer e contar a verdade.
Aquilo que JCas leu relativamente às baixas é uma inverdade,desconhecendo o porquê dessa omissão.
No concernente ao assunto final que presumo tenha sido amputado/censurado pelos editores,reitero tudo o que disse no anterior comentário.
Quem cultiva a diatribe e o constante envolvimento através de viperina língua,de forma reiterada e quase sistemática com vários membros deste blog é o sr. JCAS.
Quero desta forma deixar claro que não pretendo gastar mais cera com tão fraco defunto.
Boa tarde, o meu nome é António Pires um dos membros da equipa do UTW. Foi aqui dito que a 2.ª do BCac 4610/72 teve 4 baixas mortais, ora nós só temos conhecimento de 3, são eles:
VALDEMAR AUGUSTO CEREJO, Soldado, natural da freguesia de Riodades, concelho de São João da Pesqueira.
ALBINO DO NASCIMENTO AFONSO, Furriel, natural da Sanceriz, da freguesia Macedo do Mato, concelho de Bragança.
JOÃO ANTÓNIO QUENTAL DA COSTA LIMA, Furriel, natural da freguesia de São Pedro, do concelho de Ponta Delgada
Assim solicitamos o favor ao camarada que referiu que houve uma 4.ª baixa que identifique o militar em questão (nome completo, posto e se possível a sua naturalidade) para procedermos à correcção nas listagens que estão online, no portal do UTW.
Desde já apresentamos os nossos agradecimentos
Saudações veteranas
Pela equipa UTW
António Pires
(Moçambique 1971/1973)
E-mail: utw@terraweb.biz
Caro amigo, Abreu dos Santos;
"Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo".
Um abraço,
Constantino Costa
Constantino da Silva Costa, veterano de Guileje-e-Gadamel do fim, meu Caro Amigo, e demais participantes e leitores deste blogue,
Peço licença para ocupar algumas linhas de comentário, neste vosso "espaço dedicado à partilha de memórias de quem cumpriu serviço militar na Guiné", (onde, manifestamente, não me coube "em sorte" estar).
Cumpre esclarecer:
- Em nenhuma parte de nenhum comentário de minha autoria, neste (ou noutro qualquer) local, poderia designar ou sequer insinuar alguém por "mentiroso".
- O camarada Manuel António Moreira de Oliveira Maia, veterano de Cafal-Balanta - sensivelmente à mesma época em que a CCav8350 estava aquartelada no Cantanhez meridional (primeiro em Guileje e depois em Gadamael) -, fez publicar, neste blogue e neste postal, uns versículos satíricos contendo depreciações - em linguagem indubitavelmente caserneira -, a entidades que mantêm obrigatoridade de zelar, a todo o tempo, por que os familiares de militares Portugueses mortos em campanha, possam fazer o luto dos seus entes queridos, para tal envidando todos os esforços e diligências práticas, no sentido que os restos mortais dos
nossos camaradas-de-armas estejam/fiquem depositados em território Nacional e em local de legítimo interesse dos familiares mais próximos, sem que aos mesmos sejam imputados quaisquer custos. E é somente sob esta perspectiva, que desde sempre se me apresentou incontroversa, que aqui comentei o que supra está integralmente reproduzido, não tendo sido objecto de censura ou qualquer rasura por parte de quem quer que seja.
- Reconhecendo carência pessoal de autoridade ou competência para criticar a qualidade e/ou a quantidade de escritos alheios, como leitor deste blogue nele intervenho, em forma de comentário, se por vezes entendo poder estar em causa a factualidade, associada a determinado depoimento ou livro publicado, que não corresponda à realidade ou que a desvirtue. Como é, notoriamente, o caso que nos foi apresentado.
- O erro de paralaxe, que aqui e agora adjectivo, grosseiro, por parte do autor das supra citadas sextilhas epigrafadas "Zé Santos", consistiu na apropriação de singular caso da "ausência em teatro-de-operações, de um camarada-de-armas directo, e subsequente desconhecimento do seu paradeiro", na fruste tentativa de se associar à tendência actual, em certos meios, de atribuir "culpas"... a "eles" - pela não trasladação dos restos mortais de todos e cada um os nossos camaradas-de-armas, que se encontram sepultados - ainda - em Angola, na Guiné e em Moçambique... Ora, sendo certa a inexistência de registos castrenses quanto
ao "abate ao efectivo" do Exército Português, do designado "Zé Santos", bem como a falta da prova de conhecimento de decisão judicial que tenha decretado a morte do mesmo designado "Zé Santos", não pode
razoavelmente ser deduzida a sua "morte" (em campanha ou por outro motivo). Está claro, a qualquer um que saiba "ler, escrever e fazer contas", ser aquele "soldado atirador" uma figura de retórica, símbolo de uma geração "sacrificada" (como agora é moda dizer). Mas considero inconsequente que se pretenda, sem remotas probabilidades de saber o local onde poderiam ter ficado hipoteticamente sepultados os restos mortais do designado "Zé Santos", inculpar quem quer que seja por aquele "soldado atirador" jamais ter dado sinais de vida após ter saído do seu aquartelamento, sem autorização e em pleno mato do sudoeste da Guiné, e que "eles, uns malandros, não querem saber disso"...
Toda a gente tem direito ao bom nome: mesmo que sejam... "eles"; e mesmo que seja um nosso inimigo figadal.
Tal como não é com vinagre que se apanham moscas, também não será fomentando ódios de estimação - seja por instituições seja por pessoas singulares -, que a Geração que Fez a Guerra se dá ao respeito de contemporâneos e das gerações que nos sucedem.
Saudações veteranas,
J.C. Abreu dos Santos (senior)
Pergunto, mais uma vez, qual é o interesse de quem quer que seja, apenas para protagonismo, ou por esquecimento ou por anos de martirização cerebral:- foi assim, foi assim, foi assim (embora não tivesse sido) e ficar convencido que a sua estória é real, tenho a impressão que isto é uma doença qualquer,talvez de nome:-- Alzeimer !?!? -Ou pior.
Gostaria do modo como se tem voltar ao início do meu relaccionamento com o blogue, pois acreditei na essência da verdade histórica, dos relatos fidedignos, da amizade uns pelos outros, mas tenho notado que o protagonismo de alguns tem provocadova ausência de muitos e a entrada de estórias semelhantes á acima descrita.
Porque não limpar o blogue de falsas verdades para que os antigos voltem a colaborar e a divertir-se com realismo, ou a sentir o tristeza dos amigos ou familiares que dos lá cairam, por doença, acidente, e em combate.
Por favor façam um exame de consciência os resensores, os editores e os comentadores, sejam os tais camaradas amigos e leais,
se consideram que foram leais á nossa Pátria, sejam-no novamente uns com os outros.
È um pedido dos mais velhos ex-combatentes aqui registado neste blogue.
Rui G dos Santos
Comentário publicado a pedido do seu autor:
Pediu o meu amigo Maia, porque foi ofendido na sua dignidade como pessoa, que eu escrevesse para esse blog para confirmar o que ele disse quanto às baixas na minha companhia a 2ª do Batalhão 4610.
Conheço o Maia há cerca de 40 anos, pessoa honesta de actos e pensamentos, memória prodigiosa, mente sana e direi até, se calhar, um pouco avançada em relação aos muitos que da nossa idade se contentam no seu dia a dia a lerem as letras grandes dos Jornais.
Pergunto eu: para que publicaria o Maia dados se eles não correspondessem à verdade?
Na verdade, acho até que ele está a dar demasiada atenção a um assunto desses, o Maia NÃO É MENTIROSO, nunca foi, é um homem integro, educado, com uma vontade enorme de viver e que luta à sua maneira, mas luta, no seu dia a dia para o melhor viver de todos. É um exemplo de pessoa e para mim é uma honra ter assim um amigo. Gostaria que publicasse no seu blog estas palavras, não para repor a verdade, porque jamais ela deixou de existir, mas para mostrar a todos o quanto me honra fazer parte dos amigos que o Maia considera.
Atenciosamente
Fernando Teixeira
Ex-Fur. Mil.
2ª CCaç / BCAÇ 4610
Mensagem do nosso camarada Vítor Cordeiro:
Camarada Carlos Vinhal
Fui surpreendido com a polémica sobre um possível desaparecimento de um possível soldado de nome Zé Santos, algures na Guiné.
Foi o meu nome envolvido como possível testemunha da possível ocorrência, com a solicitação de que comentasse o assunto.
Pois bem. Com muito gosto o faço. No entanto, não sabendo exactamente como me dirigir ao Blog, solicito-te que dês o correcto andamento deste meu testemunho.
Pertenci ao 1º Grupo de Combate da 2ª Companhia do Batalhão 4610. Era furriel miliciano com a especialidade de atirador. No entanto, por indicações do comandante da companhia (Capitão Terrível) fui para o Posto Escolar Militar local (Bissum Naga) dar aulas, deixando de integrar o referido Grupo nos vários serviços e saídas para o mato que lhe eram incumbidos, embora, como é óbvio, a ele continuasse a pertencer e a utilizar as instalações que lhe estavam destinadas.
Ao mesmo Grupo de Combate pertencia o soldado Santos (não me recordo do seu primeiro nome). Rapaz de origem humilde, como dava a entender o seu trato e a sua postura, era, no entanto, muito problemático, principalmente quando bebia em excesso, o que fazia amiúde. Lembro-me de algumas cenas caricatas suas, em Bissum, tornando-se perigoso nalgumas, quando, alcoolizado, ameaçava com a G3 quem o contrariasse. No entanto, quando não estava embriagado era um rapaz pacato e amigo do seu amigo. Creio que tinha ataques epiléticos. Lembro-me de o ver algumas vezes a rebolar no chão e a deitar espuma pela boca.
Decorria o mês de Dezembro de 1972 quando chegou a Bissum a comunicação de que a Companhia iria ser destacada para Cafine (Cantanhez) onde estava instalado o destacamento de Fuzileiros Especiais 12 com a missão de construir o aquartelamento local. Entretanto, ainda nesse mês, ou no mês seguinte (Janeiro de 1973) não me recordo ao certo, dois Grupos de Combate da Companhia deviam antecipar a viagem e seguir para Cafal Balanta (aquartelamento a cerca de três quilómetros de Cafine). Lembro-me que, à altura, por ausência do Capitão Terrível, estava a comandar a Companhia o Alferes Prata, cabendo-lhe a ele a "batata quente" de ter que decidir quais os dois grupos a rumarem para Cafal Balanta. Homem de bons princípios e avesso a polémicas desde logo escolheu o seu (o 1º Grupo de Combate) e a seguir o 3º Grupo de Combate ao qual pertencia o furriel Maia (hoje o bardo do blog "Luís Graça & Camaradas da Guiné"). Eu, porque estava a exercer as funções de professor na PEM local, não acompanhei o meu Grupo, embora posteriormente, e já por indicação do Capitão Terrível, entretanto regressado à Companhia, me tenha deslocado para Bissau juntamente com o furriel Teixeira para fazer o levantamento de todo o material que devia acompanhar a Companhia na sua deslocação para Cafine, o que terá acontecido em fins de Janeiro, princípios de Fevereiro de 1973. À passagem desta por Bissau, integrei "a comitiva" e lá segui rumo ao Cantanhez onde fui reencontar os camaradas que, permanecendo ainda mais algum tempo em Cafal Balanta, vinham de Berliet tomar as refeições a Cafine, até que aqui se instalaram definitivamente. E foi então, no primeiro dia em Cafine que recebi a notícia de que o Santos havia desaparecido.
Já não me lembro de muitos pormenores. Mas lembro-me perfeitamente de ter sido o furriel Vilares, o outro furriel do 1º Grupo de Combate, a dar-me a notícia. Lembro-me de ele me dizer que "o nosso Santos" (éramos do mesmo Grupo) embebedou-se, "chateou-se" com alguns camaradas e, exactamente como estava (até estava em tronco nu) abalou pela mata fora a gritar. Ainda fomos atrás dele, para ver se o apanhávamos, mas estava a fazer-se noite, não conhecíamos a zona (era extremamente perigoso estar fora do arame farpado) e tivemos que voltar para trás. Ele nunca mais apareceu.
(Continua)
(Continuação do comentário anterior)
A partir daqui não sei o que mais aconteceu. Não fui testemunha do acontecido, apenas me lembro do que me relataram na altura e do que se foi dizendo posteriormente. Mas uma coisa posso testemunhar. Nunca vi o Santos no Cantanhez. Depois de ter fugido para o mato nunca mais voltou à Companhia. Que desapareceu, desapareceu. Se morreu ou não, não sei.
A História de Portugal também relata o desaparecimento de D. Sebastião e não a sua morte. Possivelmente não terá morrido, mas que não está vivo, não está.
Camarada Carlos Vinhal. Não sei se ajudei alguma coisa, mas já lá vai muito tempo e a memória já não é a mesma. Disse o que me lembro sobre o assunto e a amizade para com o Maia exige que tenha vindo a terreiro. Já li muitas crónicas dele e sempre vi a verdade, porque delas tive conhecimento, em tempo, e muitas delas também as vivi.
Para todos os camarigos
Um grande Abraço
Vítor Cordeiro
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