terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9513: FAP (66): Buruntuma: lá no cu de Judas... o famoso ataque de 13 horas (em 27/2/1970), as represálias aéreas de Spínola (27 /11/1971 ) e a caça aos MIG imaginários (1973) (António Martins Matos / Luis Borrega / José Manuel M. Dinis)

1. Comentário, ao poste P9505,  de António Martins Matos, ex-ten pilav (Bissalanca, 1972/74), hoje ten gen na reserva:

Buruntuma era mesmo no cu de judas.


Tinha igualmente aquele estigma, (semelhante a Guidage e Pirada) demasiado próximo da fronteira com o país vizinho, podia ser utilizada como tiro ao alvo do PAIGC sem que pudéssemos ripostar, já que o Spínola não autorizava missões da FAP no estrangeiro.

Os aviadores aterravam na direcção da fronteira e descolavam na direcção oposta (qualquer que fosse o vento ou as condições meteo).

Andei várias vezes por ali à procura de Migs imaginários, nunca os vi!!!

Um dia deixaram-nos ir partir umas bilhas lá para Koundara, quando aterrámos em Bissau já estávamos a dever combustível ao G-91.

2. Comentário de Luís Borrega (ex-Fur Mil Cav e MA da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72):

Caro António Matos:

Quando foste a Buruntuma bombardear Koundara [, capital da região da região Boké, a sudeste], não seria Kandica  [, frente a Buruntuma, no nordeste] ?


O  Gen Spínola estava lá em Buruntuma. A CCav 2747 tinha tido um valente ataque IN na noite de 25/11/71. Dia 27 ,Spínola vai de DO a Buruntuma. Manda formar a guarnição, a milícia e a População.  Nesse momento chegam seis Fiat G-91, rasam Buruntuma e Kandica, ali as antiaéreas começaram a disparar mas calaram-se logo. A seguir ouviram-se enormes rebentamentos em Sofá, a base do PAIGC. Nova passagem, largaram o resto das bombas e retiraram-se para Bissau.
Spínola mostrou o seu carisma de chefe. Falou às Populações locais:
-Viram o que aconteceu ? Agora vão dizer aos do lado de lá, que se tornam a fazer outro ataque com morteiros, mando o dobro dos aviões e o dobro das bombas !
Com esta atitude moralizou extraordináriamente os militares da CCav 2747 e Milícias...

Mantenhas, Luís Borrega.


3. Comentário de José Manuel Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), ao mesmo poste P9505:
Da mesma história da unidade consta que o IN sofreu 8 mortos militares, incluindo o tenente comandante, e o chefe da alfândega.

Foi a primeira acção em que participou a minha companhia, atravé do 1ºpelotão e do Fur mil Azevedo de armas pesadas.JD
É verdade,  o sentimento de Spínola em relação àquela fronteira. Não sei desde quando, mas o general teria mandado informar que,  se Buruntuma fosse atacada, as NT ripostariam sobre Kandika. Em 27fev70, após um ataque àquele aquartelamento em 24fev70 (é o que consta da História da Unidade, embora me pareça que decorreu mais tempo), que provocou 28 mortos civis, depois de vários transportes de material (obuses, canhões e morteiros, bem como munições, guarnições, e outra tropa de segurança), as NT retaliaram durante cerca de duas horas. O IN respondeu durante 13 horas. As famosas 13 horas de Buruntuma. As NT sofreram 1 morto e 5 feridos.
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8111: FAP (65): Falando do nosso destacamento em Nova Lamego (Gil Moutinho)

[ Palmas !!!, há mais de 1400 postes - 10 meses... - que não se publicava um poste na série FAP... Ou os editores andam a ver navios, ou os nossos pilaves não descolam... Viva o Carnaval da Tabanca Grande!] 

7 comentários:

Luís Graça disse...

É verdade! Mais de 1400 postes!... Como o tempo passa!... Saúdo o nosso camarigo pilav A. Martins de Matos que espero voltar a abraçar em Monte Real no nosso VII Encontro Nacional, dentro de 2 meses...

Juvenal Amado disse...

Eu fui a Buruntuma numa grande coluna de abastecimento feita num total segredo a seguir aos acontecimentos de Copá. Partimos ainda noite de Bambadinca com escolta fortemente armada. O grupo Marcelino, a cavalaria de Bafatá, vários grupos de combate, bem como a segurança apertada à nossa passagem. Também foram os sapadores do 3872, que por lá ficaram. Regressei com o meu amigo Aljustrel congratulando-me de nada ter acontecido.
Quando lá estive disseram-me que havia um árvore, que subindo se avistava o aquartelamento do lado da Guiné-Conakri. Também se dizia que eles disparavam rajadas para o cimo da árvore, exactamente para ver se apanhavam alguém a espreitar para lá.
Francamente o que lembro do destacamento foi de estar parado na picada à espera de ir descarregar, pois só entrava uma viatura de cada vez.
Um abraço

António Martins Matos disse...

Comentário aos comentários:
A visita da FAP não terá sido em Kandika nem Koundara, mas sim a algumas instalações do PAIGC entre as duas povoações,
Também não tem a ver com a visita do Spínola em 1971, já que aconteceu em 1973.
Abraços
AMM

Hélder Valério disse...

Caros camarigos

Não sei como as coisas evoluíram em Buruntuma desde o início mas a partir do que tenho conhecimento foi sempre um local dependente do batalhão com sede em Pitche, estando lá uma companhia, reforçada com elementos locais e ocasionalmente de estacionamento de e para operações com tropas 'especiais'.
Quando estive em Pitche o Batalhão era o BCAV 2922 e a Companhia lá estacionada era a CCAV 2747. Conheço e já estive com alguns elementos da CCS do BCav 2922, da CCav 2748 que estava sediada em Canquelifá, da CCav 2749 que era 'pau para toda a obra' em volta de Pitche reforçada a partir de Janeiro de 1971 (salvo erro) com a CArt 3332, mas apesar de 2 dos Furriéis terem sido meus contemporâneos em Santarém a verdade é que nunca mais estive com ninguém dessa CCav 2747. Eles é que podiam contar em discurso directo o que era o dia-a-dia naquelas paregens.
Que era mesmo no cu de Judas, isso era, que se dizia que o Spínola fazia muita questão de ter Buruntuma como em emblema, isso ouvi dizer e, em boa verdade, é compreensível.

Abraços
Hélder S.

Jose Rosário disse...

José Rosário Ex Fur:mil do pelotão de canhão s/r 2298 que esteve na Guiné em 1971/1972.
Pois é,camarada Helder passas-te por mim no Jumbo de Setúbal e estive para te falar sobre Buruntuma mas ias acelerado,como sempre.Eu também estive lá nesse cú de Judas durante o ano de 1972.Uma das que me lembro foi a 15 de Setembro de 1972 em que graças à actuação da minha secção,repelimos o in.O General Spinola foi lá a Buruntuma e quis saber da minha boca como é que as coisas se tinham passado.A minha secção apanhou um louvor por esta acção.Grandes homens que eu comandei.Um abraço para todos.
Postado em 04/12/2012

Hélder Valério disse...

Caro José Rosário

Grato pelas tuas observações.
No entanto, se escreves que passei por ti no "Jumbo de Setúbal" é porque me reconheceste, embora eu, se calhar ingratamente, não esteja a relacionar o nome com nenhuma face, já que, assim de repente, "José do Rosário" só me faz relacionar com um antigo colega da Sapec e não tinha a ideia de se ter falado da Guiné (o que também não é para admirar...).
Lá que ia 'acelerado, como sempre' também não deixa de ser verdade, mas arranja-se sempre um bocadito de tempo para falar com os amigos.
Por isso ficas "intimado" a da próxima vez que nos cruzarmos fazeres uma 'abordagem' e a dizer "sou eu o José Rosário!".
Entretanto, na esperança que possas ler este comentário, o que implicaria que voltasses a visionar o "Post" em questão, convido-te a entrar em contacto comigo através do endereço de mail helder.v.sousa@gmail.com

Abraço
Hélder S.

Jose Rosário disse...
Este comentário foi removido pelo autor.