Camarada e Amigo Carlos Vinhal,
Na sequência das minhas anteriores estórias e, porque a "veia" das recordações se tem mantido aberta, eis-me novamente a enviar-te mais três relatos de situações que, pelo seu desfecho final, até passaram a ser mais ou menos divertidas.
Como habitualmente, deixo ao teu critério a sua possível publicação com as alterações que entenderes fazer.
Com cada uma delas, junto mais algumas fotos da minha passagem por terras da Guiné.
Com um grande e forte abraço, vão também os meus agradecimentos pela tua preciosa colaboração nestes trabalhos.
Augusto Silva Santos
ESTÓRIAS DOS FIDALGOS DE JOL (4)
DE CAÇADOR A CAÇADO
Estando a época das chuvas em plena actividade e, consequentemente os reabastecimentos por via terrestre à Companhia demoradas por tempo indeterminado dadas as dificuldades de acesso a Jolmete, nalgumas ocasiões começava a escassear a comida dita normal, pelo que o recurso à mais variada alimentação de ocasião era absolutamente comum, embora repetitiva e nem sempre do nosso agrado.
Assim, passados alguns dias nesta rotina alimentar, o pessoal começava a ficar farto das rações de combate e de outro tipo de alimentação à base de conversas, sempre com o arroz presente, pelo que era igualmente normal o recurso aos mais variados estratagemas para se arranjar algo fora daquele esquema.
Uns recorriam ir à tabanca na tentativa de arranjar um leitão ou um frango (nem sempre da forma mais correcta), ou mesmo comprar alguns peixes apanhados pela população nos braços do rio Cacheu.
Outros tentavam caçar algo, se bem que da caça grossa estivéssemos dependentes de quem sabia onde efectivamente a podia fazer, nomeadamente de noite, como era o caso do Comandante da Milícia, de seu nome Dandy. Ainda me lembro de ter comido hipopótamo, gazela, e búfalo.
Da outra bicharada menor encarregávamo-nos nós de tentar caçar, quase sempre à volta do quartel. Lembro-me de numa ocasião me terem dado a comer macaco que alguém caçou numa armadilha, julgando eu que era cabra do mato. Na altura foi um manjar. Este era o meu caso que, beneficiando do empréstimo de uma espingarda de pressão de ar de 5,5mm, lá me ia aventurando a caçar alguma pardalada para o petisco (o lema era tudo o que voasse era bom para comer), e assim lá me iam orientando com as mais diversas aves e, quando a sorte estava do meu lado, com algumas rolas e pombos verdes à mistura, para a partilha com os amigos mais próximos.
Acontece que numa dessas minhas deambulações pelas cercanias do quartel, e sempre avisando as sentinelas de que andaria por ali perto, mais propriamente pela orla da mata, sou surpreendido pela correria mais ao menos desenfreada de uma bajuda acompanhada pela sua mãe, a qual passando por perto me gritou bem alto:
- Fuji Furriel, fuji…
Escusado será dizer que qual Carlos Lopes, deitei a correr quanto pude e só parei ofegante já dentro do quartel. Na altura não vi ninguém, mas no outro dia ao passarmos com uma patrulha pelo local e num sítio um pouco mais afastado, lá estavam as marcas de algumas sandálias de plástico, daquelas tão bem conhecidas de todos nós e que eram usadas pelo PAIGC.
Por pouco não virei de caçador a caçado...
Bissau, Dezembro de 1971 > Com o meu irmão
Jolmete, Março de 1972 > Junto ao morteiro
Teixeira Pinto, Abril de 1972 > Estação dos Correios
Jolmete Abril de 1972 > Na Messe em convívio com camaradas
Jolmete, Novembro de 1972 > Convívio com o pessoal dos petiscos
____________Nota de CV:
Vd. último poste da série de 9 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10135: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (3): A cobra cuspideira
5 comentários:
Caro Amigo Augusto
Tenho lido e gostado das tuas estórias e mais ainda das fotografias de Jolmete.Porque as fotografias para nós que estivemos lá falam.
Ao olhar para aquela torre de vigia, (que não é a do nosso tempo) mas é igual, lembrei o único ataque que tivemos a Jolmete que, por motivos diferentes foi memoravel quer para nós quer para o PAIGC, a intencidade de fogo inicial foi de tal ordem que a sentinela desse posto atirou-se abaixo e teve várias fraturas, mas depois reajimos bem e eles ao fim de cerca de trinta minutos tiveram de retirar e deixaram no terreno pedaços de corpos e material e não voltaram a atacar Jolmete no nosso tempo e do Manel Resende que eu saiba.
O espaldão do morteiro é novo e é obra da Engenharia parece-me. O que tinha-mos foi feito por alguem anterior a nós e foi uma das coisas que ficou era simples bem feito e bastante seguro.
Onde é que eu já vou, as palavras são como as cerejas, muita saúde para ti e para todos.
Manuel Carvalho
Ccaç2366 Jolmete
Caro Augusto Santos:
Estava à espera da intervenção do meu irmão ( e estranhando pela demora). Na verdade ele, que com muito orgulho,já disse aqui que a 2366 revolucionou a arquitetura de Jolmete e que, em função desse trabalho de Hércules, o Sr.Governador a pôs de férias em Quinhamel a comer ostras e toalhinha de banho ao pescoço, tinha que meter aqui colherada. Veja-se que Jolmete parece mesmo um hotel: aquela messe com copos da Viata Alegre, talheres completos e protegidos das moscas pelos pratos de cristal invertidos... ah, aquela parede parece revestida a azulejos reluzentes, azulejos? será que o meu irmão (tão desajeitado) também andou por lá a colar azulejos? Ou estes foram colados pela companhia que lhes sucedeu? Em qualquer caso, tenho a certeza que a 2366 mereceu entrar de férias aos 14 meses.
Um abração para todos
António Carvalho de Mampatá
Olá Manuel Carvalho,
Ainda te vais rir um pouco com a uma próxima estória que vai ser editada pelo Carlos Vinhal (o Homem Macaco), por ser algo idêntica ao que relatas sobre o ataque ao quartel mas, no nosso caso, com um final feliz. Sobre algumas obras / beneficiações no quartel, sinceramente não sei ao certo por quem foram realizadas, pois eu cheguei à CCaç.3306 em rendição individual e já com a comissão a meio, mas estou em crer que muitas delas tiveram origem na Companhia do Manuel Resende, que nos antecedeu.
Um Grande e Forte Abraço
Augusto Silva Santos
Olá António Carvalho,
Pois é, às vezes nem sempre o que parece é ... Algumas vezes, em chamados dias de festa, lá tínhamos direito a mais algumas mordomias, como terá sido o caso, mas infelizmente nem sempre era assim. Então no tempo do teu irmão, por certo que era bem pior. Nem quero imaginar ... Os "azulejos" a que te referes, não são mais do que um entrelaçado de canas pintadas de azul, por sinal um trabalho muito bem feito, por onde as osgas se gostavam de meter. De uma coisa tenho a certeza, se ao fim de de 14 meses a Compª. do teu irmão teve direito a "férias", por certo que as mereceram. Jolmete era mesmo no fim da linha (no cú de judas), como se costuma dizer, e naquele tempo as condições deveriam ser horríveis.
Um Grande Abraço também para ti.
Augusto Silva Santos
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