quinta-feira, 19 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10168: Blogpoesia (193): Deste-me asas para voar... (Joaquim Mexia Alves)


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > BCAÇ 2852 (1968/70) > 1969 > Heli Al III,. a descolar do heliporto...

Foto: © Humberto Reis a (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > c.1970 > Heli Al III, pousado n


Foto: ©  Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Do livro de poemas Orando em verso, de Joaquim Mexia Alves, nosso querido amigo e camarada, régulo da Tabanca do Centro [, foto à direita]:

Deste-me asas para voar

Deste-me asas para voar
e eu não voo.

Tenho uma âncora de orgulho,
de vaidade,
ligada a uma corrente do mundo,
de dinheiro, de sociedade,
que não me deixa voar
nas asas que Tu me deste...

E eu puxo, Senhor,
luto, revolto-me,
mas acabo por deixar-me ficar
preso a este mesmo chão,
rasteiro sem poder voar...

Tens que ser Tu,
Senhor,
a partir a corrente,
a libertar a âncora,
a dar-me golpe de asa
que me levante aos céus
e faça partir à desfilada
nas nuvens da Tua graça.

Quero voar no vento
que sopra do Teu amor,
agora e sempre,
em cada momento,
quero voar para Ti,
voar sempre, sempre, 
cada vez mais alto e melhor.

Derruba, Senhor,
as barreiras,
os medos,
dá força às minhas asas,
que me levantem aos céus
e todos os dias me tragam  
para junto dos filhos teus.

Quero voar aqui,
sem nunca daqui sair,
pois é aqui que se voa
até ao momento de partir...

E quando então me chamares,
que as asas que Tu me deste,
se aquietem, Senhor,
porque apenas quero ser levado
nas asas do Teu amor...

Monte Real, 20 de maio de 2008.

Fonte: Joaquim Mexia Alves - Orando em verso: poemas. Lisboa: Paulus Editores. 2012. 142-143


2. Comentário de L.G.:


Estranha coincidência...Ao Joaquim que me acaba de dizer, por mail, e em post scriptum, que "na terça feira [ passada, dia 17, ] morreu 'mais' uma irmã minha. A família grande vai ficando pequena".., eu respondi-lhe de imediato nestes termos:

"Joaquim: Embora esperada, a morte é sempre um mistério e deixa uma dor muito funda nos seres humanos. És uma homem de fé, e a fé ajuda-nos a superar as nossas limitações humanas e terrenas. Também eu comecei a ir ao cemitério e a falar em voz alta com o meu pai... Recebe um xicoração fraterno... Curioso, hoje ia (vou) 'postar' um poema teu...Vê se gostas. Está agendada para antes do almoço"...

Gosto deste poema, porque ele aborda, de maneira singela mas profunda, o conflito intrapessoal entre o ter e o ser... "Deste-me asas para voar/ e eu não voo"... E o voar aqui deve ser entendido metaforicamente: voar é realizar-se como pessoa, como ser humano, nas suas dimensões mais nobres, na sua plenitude... Há um "lastro" (a materialidade mesquinha das coisas terrenas)  que não nos deixa descolar e ganhar alturas... Não basta "ter" asas para voar, é preciso "saber" voar... Voar que não é o mesmo que "voltear"... (Como diz o nosso povo, prosaicamente, "tudo o que volteia no ar, tem um dia de se aquietar"). Esse mesmo povo que, na sua sabedoria de vida, também nos diz (e, de algum modo, nos tranquiliza): "Dá Deus asas a quem sabe voar"... O mesmo povo, crente mas irónico, que sabe tirar lições do passado, da sua experiência própria: "Muita saúde e pouca vida, que Deus não dá tudo"...

Se sim, se Deus não dá (nem pode dar) tudo, fiquemos então ao menos com a poesia e com os nossos poetas, sob o poilão mágico e fraterno da nossa Tabanca Grande...
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de julho de 2012 >
14 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10153: Blogpoesia (192): Quem somos? (Felismina Costa)

7 comentários:

Anónimo disse...

Como diz o Luís, texto/oração, poema singelo , digo eu, entre o querer (voar) e o não poder.

José Brás

Anónimo disse...

Ao Mexia um abraço fraterno.
Nestas alturas nada h+a que se diga e tenha utilidade-
Um Ab. do
António Costa

Anónimo disse...

Caro Joaquim,

Crê-me solidário nesta hora.
abraço

manuelmaia disse...

Caro Joaquim,

Crê-me solidário nesta hora.
Abraço
manuelmaia

joaquim disse...

Meus caros camarigos Luís, José, António e Manuel

Obrigado, porque se o obrigado é sentido vindo do coração, diz tudo o que se pode dizer.

Um grande e amigo abraço

Joaquim Mexia Alves

Anónimo disse...

Joaquim

O teu poema lindo é uma andorinha que nos traz no bico, a verdadeira esperança...

Um grande abraço Amigo
Joaquim M Gomes

joaquim disse...

Obrigado meu camarigo Joaquim Gomes.

Um abraço

Joaquim Mexia Alves