Amigos
Aqui vai ao vivo a minha história sobre o relacionamento com o meu amigo e camarada Arménio Santos que podem publicar.
Um abraço
Calos Silva
Militares de Etnia Cigana
Os cidadãos portugueses quer sejam minhotos, trasmontanos, durienses, beirões, ribatejanos, alentejanos, algarvios, açorianos, madeirenses e na altura naturais das ex-províncias ultramarinas ou de etnia cigana, eram/são todos iguais perante a lei e sujeitos a deveres e titulares de direitos, donde os nossos concidadãos da etnia referida tinham o dever de cumprir o serviço militar com todas as consequências inerentes.
Na minha CCaç 2548 tive/tenho um camarada de etnia cigana que era do meu 4.º pelotão e da minha secção. Convivi com ele 2 anos e nunca soube que era cigano, mas também nunca lhe perguntei, apesar de alguns camaradas terem conhecimento de tal facto e de por vezes o chamarem de cigano, sem que ele suscitasse qualquer problema. Para mim era um transmontano/cigano de 4 costados, valentão, arrojado e bom camarada, amigo e respeitado por todos nós.
Região do Oio>Sector O2 Farim>Jumbembem Abril 1970 > Construção das novas tabancas no âmbito do reordenamento implementado pelo General Spinola "Por uma Guiné Melhor" > O Arménio Santos é o 1.º da esquerda, de pé, e Carlos Silva sentado à direita
Regressámos nos finais de Junho de 1971 à Metrópole e não vi o Arménio durante anos. Como faço milhares de quilómetros para visitar camaradas do Batalhão, Companhia e principalmente os meus camaradas do pelotão vai daí, fiz uma viagem pelo Norte à procura de vários deles.
No mês de Agosto de 1990, eu e o meu amigo e camarada Galo, também furriel do meu pelotão, lá fomos à procura do Arménio para o concelho de Vinhais com a indicação por outro camarada que ele vivia em Sobreiró. Ali chegados, dirigimo-nos a um café junto a uma capela, ao lado da estrada nacional Chaves – Bragança, perguntámos às pessoas ali presentes se conheciam um indivíduo de nome Arménio Santos que tinha estado na Guiné connosco em 1969/71, que era um individuo forte, que fazia feiras e festas, etc, etc, pois indicaram-nos que residia na zona.
Apresentadas as características responderam em uníssono:
- Eh pá, só pode ser o CIGANO
Retorqui, qual cigano qual carapuça, o rapaz não é cigano… Estamos a ouvir isso pela primeira vez...
- Olhe que é… Contudo dirija-se ali à frente, 100 metros de distância e pergunte por esse nome, pois deve ser o vosso amigo que continua bem forte, levemente nutrido…
Lá fomos e qual o nosso espanto e o dele em ver-nos …. Era o Arménio em carne e osso, o cigano….
Abraços para aqui e para acolá e regressámos ao café para deitar mais umas “bazookas” abaixo pois se fazia calor.
Com naturalidade lá fomos conversando e esclarecendo o Arménio de que não conhecíamos a sua origem e que ficámos a saber nessa altura através dos seus vizinhos.
Calmamente e sem hesitação lá nos esclareceu que a rapaziada do 4.º pelotão sabia mas que nunca se proporcionou a ter de invocar perante nós a sua origem, pois era um cidadão como outro qualquer e claro que sim, o que nunca foi posto em causa e nem sequer o permitiríamos.
Sobreiró de Cima, Agosto/1990 o Arménio entre os antigos camaradas que nunca o esqueceram.
Depois desta visita outras se sucederam e a última, depois de chegar a casa dele sou informado de que estava na festa de Curópos que ficava distante uns 7 a 10 Kms e lá fui eu a procura do Arménio.
Sobreiró de Cima, 26-08-2006 - Carlos Silva entre o Casal Santos
Nesta visita fui presenteado com duas garrafas de vinho do Porto e dizia-me o Arménio que já não podia acompanhar-me numas “bazookas” pois já andava com problemas de saúde e estava proibido de beber álcool, dado que a sua caldeira inox de outros tempos já não era a mesma coisa.
Curópos Agosto de 2007 – O Arménio na feira, fotografado de surpresa
Curópos Agosto de 2007 – O Arménio dá um pulo de alegria quando se apercebe que estou a fotografá-lo.
Abraços e mais abraços e depois da fase eufórica, entristecido lá me vai contando que a Senhora dele já não fazia parte dos vivos e que agora a sua vida de futuro seria muito diferente sem a sua companheira apesar dos seus filhos serem bons amigos.
Aqui estamos nós em frente da barraca ou stand dos brinquedos de um dos filhos, pois ele para se entreter vai confeccionando pipocas com a sua máquina para ver se ganha algum para garantir a sua subsistência.
Eis a vida do meu amigo e camarada Arménio, o CIGANO, que para mim nunca foi, pois é um cidadão como outro qualquer.
Com um abraço amigo
Carlos Silva
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10566: Ciganos, meus camaradas (Tino Neves, ex-1º cabo escriturário, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71)
3 comentários:
Os preconceitos em relação aos ciganos mantêm-se até hije nos provérbios e ditos populares... Estou-me a lembra de alguns, sintomáticos dos nossos estereótipos a relação a eles...
"A conta dos ciganos, todos furtamos";
"Baiano, cigano e garrucha de um cano, salva um por engano";
"Roubam os ciganos mas comem os aldeanos";
"Um olho no burro, outro no cigano"...
Os preconceitos em relação aos ciganos mantêm-se até hoje nos provérbios e ditos populares...
Estou-me a lembra de alguns, sintomáticos dos nossos estereótipos (segundo os quais o cigano é trapaceiro, ladrão, velhaco, brigão, não confiável...).
Percebe-se por que é que, na tropa, não revelavam a sua identidade...
"A conta dos ciganos, todos furtamos";
"Baiano, cigano e garrucha de um cano, salva um por engano";
"Roubam os ciganos mas comem os aldeanos";
"Um olho no burro, outro no cigano"...
Aconteceu na Ota, no final da recruta de Cabo Especialista da FA do meu filho.
Houve uma grande festa/convívio, com comes e bebes, com a presença das autoridades militares e civis e os familiares dos recrutas que tinham Jurado Bandeira.
De entre os presentes destacava-se um mulher de lenço e vestes pretas até aos pés.
Era a avó de um dos futuros Cabos Especialistas da Força Aérea Portuguesa.
Valdemar Queiroz
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