OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA
6.º episódio - Pela primeira vez o quartel foi atacado
Perdão peço pela expressão com que terminei a última crónica, aquela do BOLAS... BOLAS... BOLAS.
As palavras usadas foram outras e bem mais provocadoras para as mães dos sacanóides que me estragaram o frango assado na brasa e muito bem temperado com jindungo.
Não me julguem um malcriadão, pois o que sou, é um GRANDE malcriadão.
............
Recapitulemos: "Pela primeira vez o quartel é atacado.........."
Organizei-me, procurei a arma adequada para responder a tal situação e lá descobri o meu caro morteiro 60 e um cunhete com 6 poderosas granadas.
Fiz o reconhecimento da zona para onde as enviaria acompanhadas que seriam com os meus cumprimentos, raiva e votos de festas felizes e DISPAREI.
Não deviam ter conhecimento da letalidade da coisa... acabaram com a flagelação... e ouviram-se gritos de foge... foge.
Em boa verdade, até eu, o municiador e apontador, fiquei deslumbrado com tanta luz.
É que as granadas atrás citadas, em vez de explosivas como convém para casos idênticos, saíram iluminantes, mas que os fez tremer e "cavar", lá isso fez.
Ainda hoje não devem ter percebido porque foi que a negra noite se transformou num ápice, em luminoso dia.
Tínhamos um ligeiro ferido nas nossa hostes, que apanhara de raspão com uma bala no... na anca, o que lhe causava algumas dores.
Não havendo enfermeiro, fiz disso e administrei-lhe uma injecção de morfina, resultando daí que cinco minutos depois, ele quis iniciar uma perseguição na mata, para se vingar.
..............
Partimos dali ao nascer do dia, picando a estrada... no pressuposto de que e como era habitual, iríamos detectar minas.
Em Bissau recolhemos alguns haveres e lá vamos para Mansabá onde nessa mesma noite, participámos numa operação (de triste memória) na região de Manhau.
Localização de Manhau, a Leste de Mansabá. Carta de Farim
Marchámos depois, em coluna militar protegida do ar pelos velhinhos T6 e fomos tomar conta do ainda não terminado de construir, K3 e só então e finalmente, voltámos a estar juntos (a CCAÇ 1422).
Eram bem bons os quartos... dormíamos debaixo do chão... e havia umas frestas viradas para a floresta, através das quais ripostávamos ao fogo inimigo, se por acaso se atrevessem a fazê-lo.
Vista aérea de Saliquinhedim (K3). Foto © Carlos Silva (2008). Direitos reservados
E então não é que se atreveram mesmo ???
Só que e com a ajuda dos canhões de Farim e por vezes até com os de Mansabá quando os tipos eram mais teimosos, sempre acabavam por abalar de mãos a abanar e menos.
Chatos do caraças.... tal qual as melgas que eram mais que muitas e não nos deixavam sossegar, obrigando-nos a estar, como que embrulhados nos mosquiteiros, uma espécie de rede com buraquinhos onde só devia entrar e sair o ar, mas que deixavam passar aqueles nojentos insectos, que tanta comichão produziam na nossa pobre mas bem cuidada cútis.
Volto às instalações, para referir que alguns chamavam-lhes abrigos, mas que para nós eram suites e de luxo.
Estavam protegidos por cima, com duas camadas de troncos do coqueiro, árvore alta, que para além do líquido aquoso e fresco dos seus arredondados, grandes e duros frutos, também costumava ser a casa preferida duma cobra verde, a cuspideira, de quem os nossos ajudantes autóctones fugiam que nem o diabo do inferno.
Dizia-se que o veneno cuspido por tais najas, matava que se fartava.
Em Portugal Continental, é um rastejante comum, da família das víboras e conhecido por, SOGRAS.
(continua)
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 23 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10558: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (4): 5.º episódio: Partida para o CTIG em Agosto de 1965
Sem comentários:
Enviar um comentário