sábado, 27 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10579: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (5): 6.º episódio: Pela primeira vez o quartel foi atacado

1. Em mensagem do dia 24 de Outubro de 2012, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), mandou-nos o 6.º episódio da sua odisseia militar, correspondente aos melhores 40 meses da sua vida; diz ele e nós acreditamos.


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

6.º episódio - Pela primeira vez o quartel foi atacado

Perdão peço pela expressão com que terminei a última crónica, aquela do BOLAS... BOLAS... BOLAS.

As palavras usadas foram outras e bem mais provocadoras para as mães dos sacanóides que me estragaram o frango assado na brasa e muito bem temperado com jindungo.
Não me julguem um malcriadão, pois o que sou, é um GRANDE malcriadão.
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Recapitulemos: "Pela primeira vez o quartel é atacado.........."

Organizei-me, procurei a arma adequada para responder a tal situação e lá descobri o meu caro morteiro 60 e um cunhete com 6 poderosas granadas.
Fiz o reconhecimento da zona para onde as enviaria acompanhadas que seriam com os meus cumprimentos, raiva e votos de festas felizes e DISPAREI.

Não deviam ter conhecimento da letalidade da coisa... acabaram com a flagelação... e ouviram-se gritos de foge... foge.
Em boa verdade, até eu, o municiador e apontador, fiquei deslumbrado com tanta luz.
É que as granadas atrás citadas, em vez de explosivas como convém para casos idênticos, saíram iluminantes, mas que os fez tremer e "cavar", lá isso fez.

Ainda hoje não devem ter percebido porque foi que a negra noite se transformou num ápice, em luminoso dia.

Tínhamos um ligeiro ferido nas nossa hostes, que apanhara de raspão com uma bala no... na anca, o que lhe causava algumas dores.
Não havendo enfermeiro, fiz disso e administrei-lhe uma injecção de morfina, resultando daí que cinco minutos depois, ele quis iniciar uma perseguição na mata, para se vingar.
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Partimos dali ao nascer do dia, picando a estrada... no pressuposto de que e como era habitual, iríamos detectar minas.

Em Bissau recolhemos alguns haveres e lá vamos para Mansabá onde nessa mesma noite, participámos numa operação (de triste memória) na região de Manhau.

Localização de Manhau, a Leste de Mansabá. Carta de Farim

Marchámos depois, em coluna militar protegida do ar pelos velhinhos T6 e fomos tomar conta do ainda não terminado de construir, K3 e só então e finalmente, voltámos a estar juntos (a CCAÇ 1422).

Eram bem bons os quartos... dormíamos debaixo do chão... e havia umas frestas viradas para a floresta, através das quais ripostávamos ao fogo inimigo, se por acaso se atrevessem a fazê-lo.

 Vista aérea de Saliquinhedim (K3). Foto © Carlos Silva (2008). Direitos reservados

E então não é que se atreveram mesmo ???

Só que e com a ajuda dos canhões de Farim e por vezes até com os de Mansabá quando os tipos eram mais teimosos, sempre acabavam por abalar de mãos a abanar e menos.

Chatos do caraças.... tal qual as melgas que eram mais que muitas e não nos deixavam sossegar, obrigando-nos a estar, como que embrulhados nos mosquiteiros, uma espécie de rede com buraquinhos onde só devia entrar e sair o ar, mas que deixavam passar aqueles nojentos insectos, que tanta comichão produziam na nossa pobre mas bem cuidada cútis.

Volto às instalações, para referir que alguns chamavam-lhes abrigos, mas que para nós eram suites e de luxo.

Estavam protegidos por cima, com duas camadas de troncos do coqueiro, árvore alta, que para além do líquido aquoso e fresco dos seus arredondados, grandes e duros frutos, também costumava ser a casa preferida duma cobra verde, a cuspideira, de quem os nossos ajudantes autóctones fugiam que nem o diabo do inferno.

Dizia-se que o veneno cuspido por tais najas, matava que se fartava.

Em Portugal Continental, é um rastejante comum, da família das víboras e conhecido por, SOGRAS.

(continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10558: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (4): 5.º episódio: Partida para o CTIG em Agosto de 1965

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