Fotos: © Luís Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
A. Continuação da nova série do nosso camarada e amigo J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil da CCAÇ 728, (Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), jurista da Caixa Geral de Depósitos, reformado [, foto atual à direita].
[ Esta nova série evoca a figura e narra a história alf mil Mário Sasso, da CCAÇ 728 - Os Palmeirins -, nascido na Beira, em Moçambique, de uma família de origem eslovena, os Sasso; o Mário Sasso foi morto em combate no Cantanhez, em 5 de dezembro de 1965].
B. Ficou um palmeirim nas bolanhas da Guiné > 4. Os Cheiros de Lisboa
4.1. A Feira Popular
Estava-se em fins de Setembro. Ainda se via sinais de Verão, por todo o lado. Ele vira, do Uíge, à beira rio, do lado de Lisboa, uma larga faixa alourada, com toldos coloridos, às listas de cima a baixo, esqueletos de pau, de barracas e corpos espalhados, ligeiramente, desnudados. Os fatos de banho davam até ao joelho e protegiam bem o peito e as costas …das constipações… todo o cuidado era pouco.
B. Ficou um palmeirim nas bolanhas da Guiné > 4. Os Cheiros de Lisboa
4.1. A Feira Popular
Estava-se em fins de Setembro. Ainda se via sinais de Verão, por todo o lado. Ele vira, do Uíge, à beira rio, do lado de Lisboa, uma larga faixa alourada, com toldos coloridos, às listas de cima a baixo, esqueletos de pau, de barracas e corpos espalhados, ligeiramente, desnudados. Os fatos de banho davam até ao joelho e protegiam bem o peito e as costas …das constipações… todo o cuidado era pouco.
A praga da tuberculose não perdoava… Além disso, a nudez era coisa mais própria dos animais…pensava a gente, púdica, por formação e pregação…
Cá para nós, ele também, já tinha saudades da Feira Popular…
Ó que alegria!…O Mário nunca mais se esqueceu daquela recepção. Não podia ter sido melhor. Naquela noite, no largo quarto onde dormiu com primos, ninguém pregou olho, a reviver a feira popular…
(Continua)
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 8 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10500: Ficou um Palmeirim nas bolanhas da Guiné (3): No N/M Uíge, com Lisboa à vista (J.L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)
Quando chegaram a casa, ali ao pé de Algés, ainda foram dar um mergulho nas águas, tão azuis, tão limpinhas e calmas, do rio Tejo, sem jacarés, mas com golfinhos, ali mesmo, depois de passarem a linha pachorrenta do comboio de Cascais.
Os vales suaves da ribeira viva de Algés, cheios de hortas e pomares, a encosta densa da mata extensa de Monsanto, bem penteada, de toucado verde, bem aparado e de fino corte, as colinas arredondadas e sensuais, ali pràs bandas de Linda-a-Velha e Alfragide, com os cumes altos da serra de Sintra, espreitando, lá ao longe.
Também era bonita a natureza, aqui em Lisboa. Menos carregada de folhedo, concerteza, sem onças ou pacaças, mas mais leve e suave, como a vida que se vivia, então.
– E se fôssemos à Feira Popular? … – uma voz de puto, atrevida, lançou a bisca para o ar, a ver se pegava…
Também era bonita a natureza, aqui em Lisboa. Menos carregada de folhedo, concerteza, sem onças ou pacaças, mas mais leve e suave, como a vida que se vivia, então.
– E se fôssemos à Feira Popular? … – uma voz de puto, atrevida, lançou a bisca para o ar, a ver se pegava…
A magia daquela feira, frondosa e colorida, instalada na cerca duma casa senhorial, do centro da Lisboa, ali p’ra São Sebastião da Pedreira, doutras eras…
Com tanta vida, brinquedos sem conta, barracas de farturas e tantas guloseimas, o poço da morte, a roda das cadeirinhas, os aviões, os carrinhos eléctricos, com volante a valer, o temeroso carrocel oito, o cherinho a sardinhas, a maçaroca de açucar branco que nunca mais acabava; a alegria dos pais e dos avós espelhada nos rostos vermelhuscos da sangria, com vinho bom, as laranjadas e os pirolitos, com rolha de vidro, os rebuçados embrulhados de papel, um a um, à mão, eu sei lá, era o ponto mais alto da magia, prós putos daquele tempo.
– Se passares nos exames…se te portares bem…se…se…, havemos de ir à feira…– era a inocente e sadia chantagem que todos os pais, de todas as classes, usavam, para segurarem a trela curta da pequenada.
– Está bem. Está cá o Mário, Vamos lá… – exclamou, bonacheiro, o pai dos Sassos, de Lisboa.
– Se passares nos exames…se te portares bem…se…se…, havemos de ir à feira…– era a inocente e sadia chantagem que todos os pais, de todas as classes, usavam, para segurarem a trela curta da pequenada.
– Está bem. Está cá o Mário, Vamos lá… – exclamou, bonacheiro, o pai dos Sassos, de Lisboa.
Cá para nós, ele também, já tinha saudades da Feira Popular…
Ó que alegria!…O Mário nunca mais se esqueceu daquela recepção. Não podia ter sido melhor. Naquela noite, no largo quarto onde dormiu com primos, ninguém pregou olho, a reviver a feira popular…
(Continua)
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Nota do editor:
Último poste da série > 8 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10500: Ficou um Palmeirim nas bolanhas da Guiné (3): No N/M Uíge, com Lisboa à vista (J.L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)
5 comentários:
Meu caro Joaquim:
Creio que a Feira Popular de Lisboa foi inaugurada em 1961, andava eu pelos meus 14 anos, mas já preocupado com as guerras que haveriam de consumir vidas e cabedais da nossa geração, até 1975...
Quanto ao belo Rio Tejo que aqui evocas,lembro-me muito bem dos... grupos sociais de golfinhos que sulcavam as suas águas a par das fragatas que faziam o transporte por grosso de mercadores...Um Tejo que não volta mais... Imagino o fascínio do teu amigo Mário Sasso ao aqui chegar... Um abração, muita saúde. Luís
PS - A propósito dos golfinhos, que não são peixes, mas mamíferos, animais altamente inteligentes e sociais... Não se escreve nem "cardumes" nem "bandos"... de golfinhos... Mas sim "grupos sociais de golfinhos"...
http://www.ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=4821m
Inaugurada em 1961? Transferida,queres tu dizer!
A não ser que eu seja muito mais novo,pois lembro-me de a frequentar no início dos anos 50.
Obrigado Luís,sempre são menos 10 anos!ABRAÇÃO.
J.Cabral
Tens razão, Jorge... Refiro-me á Feira Popular em Entrecampos, a única que conheci... Antes de 1961, era em Palhavã, onde é hoje a sede da Fundação Gulbenkian, certo ?
Abraços grandes.
Luís Graça
De facto amigo Luís, ao ler o teu comentário comecei a pensar que já estava "biruta". Para lá caminho, mas...ainda não.
"Desembarquei" em Lisboa, em Outubro de 1954 e já havia a Feira.
O que vale é que nosso alfero Cabral está ao leme, ou não fosse ele...dos navegadores.
Abraços a todo o pessoal.
JPicado
Olá Amigo Luís
Mais uma vez, com um toque ligeiro e afinado das tuas mãos, ficou a brilhar aquilo que me pertence.
Não sou nada hábil no manejo deste bicho, para enriquecer aquilo que vou pondo por aqui e noutros lados...as aparas de preguiça que não consigo escorraçar.
A 1ª vez que vim a Lisboa tinha 17 anos. Em 1958, portanto. Ainda terei visto golfinhos a brincar nas águas, essas muito mais limpas, não límpidaas para não exagerar...dum rio que era formoso e familiar das gentes de Lisboa. Ainda havia praia no Dafundo!...
À feira popular só fui pela primeira vez, já em Entre-Campos...essa conheci-a bem e, como toda a gente que trabalhava em lisboa e perto, fazia dela um escape mágico de fim de trabalho, entusiasmante. Apesar de ser um espaço restrito...dava a sensação de ser muito mais extenso e satisfatório. O Sasso quando chegou a Lisboa era rapazote...ainda terá ido à feira no espaço anterior, jardins da actual Gulbenkian. Que seria ainda mais engalanada pelo envolvimento pardisíaco daqueles jardins....penso eu.
Os teus esclarecimentos precisos ão sempre muito bem vindos...
Um grande abraço
extensivo aos nossos camaradas de tertúlia.
Joaquim
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