domingo, 2 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10751: Tabanca Grande (370): Adriano Lima, cor inf ref, residente em Tomar, natural do Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde, grã-tabanqueiro nº 590

1. Mensagem do novo membro da Tabanca Grande, nº 590 (*), Adriano Lima, com data de 23 do mês passado:

Amigo: (...) 
Em mail anterior, respondi-lhe que é com imenso gosto que serei um tabanqueiro, ainda que nunca tenha estado na Guiné. Pois já vi que a Tabanca não tem apenas a ver com o chão guineense e com a memória de que são portadores os que lá andaram. É também um amplo espaço de encontro e partilha do que temos de mais belo e puro na nossa humanidade. Por isso, conte comigo. Desejo saber se tenho de fazer alguma coisa de concreto.


Tencionava enviar-lhe este texto sobre o espírito de solidariedade dos militares, uma vez que o seu saudoso pai é uma das suas figuras centrais (**).

Um abraço
Adriano



2. Recordo aqui o texto do Adriano Lima que publicámos no poste P9421, de 30 de janeiro p.p.:


(...) Sou Adriano Miranda Lima, coronel reformado, residente em Tomar, e nascido em Cabo Verde, S. Vicente. Não estive na Guiné, apenas em Angola e Moçambique.

Tive acesso ao seu blogue e só tenho razões para o felicitar efusivamente por esta belíssima e interessante iniciativa. Revisitar estas saudosas memórias é recolocar a história no seu devido lugar e com ela reencontrar-se num abraço fraterno em que o coração se dá inteiro.

Como servi longos anos no RI 15 [, Tomar], aliás, a minha unidade de colocação, após o termo das comissões no ex-Ultramar, acompanhei sempre o convívio dos antigos expedicionários mobilizados pelo Regimento. Algumas vezes coube aos expedicionários do RI 15 a organização do convívio, com participação dos camaradas de outros regimentos e unidades mobilizadoras. Cada "regimento" organizava o convívio de todos os que serviram em S. Vicente. 

Com o meu apoio pessoal, sendo eu então major, por duas vezes o convívio realizou-se no meu Regimento, em Tomar, e numa das vezes ele foi integrado nas comemorações do Dia da Unidade. Noutra ocasião, foi num restaurante em Tomar, e também estive presente, por simpático convite do elemento organizador, Sr. Francisco Lopes (Chico Concertina), infelizmente falecido há cerca de 4 anos. Dava-me muito bem com ele, e era sogro de um amigo meu, advogado.

Se estiver interessado em saber alguma coisa sobre o Batalhão que saiu de Tomar, terei o maior gosto em prestar informações ao blogue. Por acaso, publiquei um artigo num jornal online, sobre a memória desse batalhão.

Há um blogue chamado "Praia de Bote" (nome de um local de S. Vicente), em que tenciono publicar uns posts sobre as forças expedicionárias a Cabo Verde. Como tenho poucas fotos, queria pedir a sua autorização para me servir das que constam do seu blogue respeitantes ao BI 5, que eram do seu pai. Apenas como ilustração. Naturalmente que me refiro a fotos de carácter genérico, não pessoais.

Apraz-me também registar o afecto e a admiração com que cultiva a memória do seu pai neste Blogue. (...)



[Foto acima, à direita: Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Monte Sossego > c. 1941-1945 > "Peça de 9,4 cm de uma das duas antigas baterias de artilharia anti-aérea de Monte de Sossego (Foto oferecida pelo filho de um antigo oficial que serviu, à época, em Cabo Verde)" [Legenda: Adriano Miranda Lima] [Foto reproduzida aqui com a devida vénia...]
 

3. Relembro igualmente a resposta que dei na altura:

(...) "Adriano, muito obrigado pelo seu comentário, pelo seu elogio ao nosso blogue, mas também pelo seu pedido. Começando por este, disponha das fotos do meu pai, para os efeitos que julgar convenientes, citando sempre, naturalmente, o nosso blogue. Temos, aliás, mais fotos de mais outros dois expedicionários, na série Meu pai, meu velho, meu camarada, nomeadamente do Ângelo Ferreira de Sousa e do Armando Lopes [... e ainda do Feliciano Delfim dos Santos, embora este tenha não tenha estado em São Vicente, mas sim em Santiago, Santo Antão e Sal].

"Todos temos o dever de memória, deixando às gerações seguintes notícias sobre a nossa passagem por este planeta que é único, o berço da humanidade, é a nossa casa, ou é a aldeia onde todos somos vizinhos... Cabo Verde e Portugal têm uma longa história em comum, além de uma língua. Eu tenho um especial afeto por São Vicente e, em particular, pelo Mindelo que um dia destes espero poder finalmente conhecer ao vivo. (Não conheço Cabo Verde, de todo: estive apenas uma escassa hora ou duas no Sal, em paragem técnica do avião da TAP que me trouxe de férias, de Bissau a Lisboa, em 1970).

"Transmiti, este fim de semana, ao meu pai, Luís Henriques, a caminho dos 92 anos [, que não chegaria a completar por ter morrido a 8/4/2012,]  o seu interesse e o seu pedido. Até aos 80 anos, costumava ir ao convívios anuais da malta de Cabo Verde. Disse-me que nunca foi ao RI 15 (Tomar), a nenhum dos convívios dos antigos expedicionários, já que ele pertencia ao RI 5 (Caldas da Rainha). Em todo o caso, lembra-se bem das jogatanas de futebol, no Lazareto, entre uns e outros. Como também se lembra da epidemia de fome que assolou as ilhas, no tempo em que lá esteve (1941/43). O seu "impedido", o Joãozinho, que ele alimentava com as suas próprias sobras do rancho, também ele morreu, de fome e de doença, em meados de 1943. Comove-se ao dizer-me que deu à família do miúdo todo o dinheiro que tinha em seu poder (c. de 16$00) - na altura, estava hospitalizado -, para ajudá-la nas despesas do enterro.

"Desejo-lhe, por fim, meu caro Adriano, a si e aos seus amigos, todo o sucesso na defesa do património daquela terra mágica, o Mindelo, berço de grandes poetas, músicos e cantores." (...)



4. Sobre o nosso novo grã-tabanqueiro, escreveu em 24/2/2012 o Manuel Amante da Rosa, também, seu patrício, nosso camarada de armas no TO da Guiné, e embaixador do seu país:

(...) Caro Luís: Não conheço o Adriano de vista mas sim do muito que tem escrito sobre Cabo Verde. Temas que também são prioritários das minhas investigaçõe: Defesa, segurança, energias renováveis, administração.

Mas somos aparentados através do meu irmão que é cunhado dele. Conheço quase todos os irmãos.
Conheci muito bem na Guiné o Tio dele Jorge de Miranda Lima e a Lurdes. O primeiro foi um entusiasta nacionalista, da primeira hora, tendo passado muitos anos preso no Tarrafal. Foi solto somente uns anos depois do Spínola ter estado na Guiné, juntamente com uns outros cinquenta presos políticos guineenses. Se o Capitão Basto Machado estiver vivo talvez possa relatar algo ou indicar algum outro camarada da sua Unidade que o possa fazer. Um forte Abraço, Manuel" (...)





Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > O Paquete Mouzinho. [A foto, tipo postal, parece-me ter sido tirada no Funchal, Madeira; mas foi neste navio que o 1º cabo inf Luís Henriques e outros expedicionários do RI 5, das Caldas da Rainha, rumaram para Cabo Verde, em meados de 1941].

Foto: © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados.



5. Em 7 de outubro p.p., eu já lhe tinha, ao Adriano Lima, enviado um convite para ingressar na Tabanca Grande, dado o seu manifesto interesse pela história dos nossos expedicionários em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial:

(....) "Caro camarada: Tomei a liberdade de reproduzir dois dos seus comentários (e mais alguns dos seus apontamentos publicados no blogue Praia do Bote)...


"Reitero o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande. Juntos podemos fazer força no sentido da salvaguarda do património da Ilha de São Vicente, natural e cultural, incluindo os restos da presença dos militares portugueses entre 1941/45...

"Continuo a contactar militares desse tempo ou suas famílias e a lutar pela preservação dos seus álbuns fotográficos...

"Por sua vez, Cabo Verde é já o 10º país do mundo onde o nosso blogue é mais visto... Estamos com 3500 visitas por dia, em média.

"Disponha das nossas fotos. Veja as fotos da Lia Medina. Um Alfa Bravo. Luís Graça" (...)


6. A resposta do Adriano não se fez esperar, aqui vai com data de 8/10/2012:

(...) "Caro camarada e amigo: Tem toda a liberdade para utilizar os meus textos como entender e será para mim uma honra se for em proveito do blogue Luís Graça & Camaradas. Devo dizer-lhe que tenho frequentado o vosso blogue para recolher dados e imagens que possam ser úteis para os meus textos, os 3 que já escrevi e os que tenciono continuar a escrever para publicar no blogue "Praia de Bote", cujo editor e administrador é o professor Dr. Joaquim Saial, um cabo-verdiano adoptivo. Por isso é que há uns meses pedi a sua autorização para reproduzir uma ou outra foto que pudesse servir os objectivos dos meus textos. 

"Com todo o gosto integrarei a Tabanca Grande e acredite que tanto eu como o Joaquim Saial [, criador e editor do blogue Praia de Bote,] e outros colaboradores do blogue Praia de Bote, como o Valdemar Pereira, vice-cônsul de Portugal em Tours, aposentado e o José Lopes, professor na universidade de Aveiro, os dois últimos cabo-verdianos de origem, temos vindo a terçar armas para a preservação do património da ilha de S. Vicente. Infelizmente, por ignorância ou distorcida visão do que é cultura, algum património tem vindo a ser destruído ou abandonado. E creia que a memória dos expedicionários portugueses em 1941-45 é algo que toca profundamente a minha sensibilidade, pelas razões pessoais que expus num dos textos que já publiquei. Por isso é que foi para mim uma agradável surpresa o vosso blogue. Pena é eu não ter começado há mais tempo, há 20 anos atrás pelo menos, quando tínhamos ainda muitos testemunhos vivos, como o seu pai, o Francisco Lopes, o Shultz Guimarães e outros de Tomar que a lei da vida já não permite estarem connosco. 

"Para ser mais verdadeiro, comecei, sim, mas não continuei, pois o primeiro passo consistiu apenas em actualizar o historial do RI 15 e o seu anuário, o que exigiu apenas uma sucinta narrativa. Imagine, isso foi em 1985, quando os nossos expedicionários estavam ainda em pujança de vida. Mas às vezes não nos damos conta de que o tempo voa e perdemos oportunidades irrepetíveis".(...)

7. Comentário final do editor:

O Adriano está mais que apresentado, e é já de longa data nosso leitor e colaborador. A sua presença entre nós justifica-se, não por ter feito a  guerra colonial em Angola e Moçambique, mas pelo cordão umbilical que  mantemos com Cabo Verde.

A presença histórica dos portugueses na Guiné não pode ser desligada da história passada e recente de Cabo Verde. O Adriano está a ajudar-nos também a conhecer,  preservar e divulgar a passagem dos nossos pais e nossos camaradas pelas terras de Cabo Verde, entre 1941 e 1945. Bastaria esse elo em comum. Mas temos muitos mais.

Ele conhece e aceita as nossas regras de convívio bloguístico. Daqui parta o futuro, consideramo-nos como amigos e camaradas, pelo que o tratamento por tu se impõe com toda a naturalidade... Adriano, sê bem vindo. Já tomámos boa nota do teu novo endereço de email, e já recebemos o teu texto sobre o médico militar Baptista de Sousa, resultante de uma excelente  investigação de arquivo. Será publicado oportunamente.

Em troca deste mimo, insiro aqui o link para mais um vídeo do meu velho (que infelizmente nos deixou este ano em curso) e em que ele fala do quotidiano das tropas expedicionárias  na ilha de São Vicente no seu tempo (1941/43). Foi gravado em 17/10/2009, mas só agora inserido no

You Tube, na nossa conta Nhabijoes. [Clicar aqui para aceder ao vídeo]


Luis Henriques (1920-2012)_Cabo Verde_1941_43_Histórias_2

Vídeo (9' 59''). Lourinhã, Luís Henriques (1920-2012). Ex- 1º cabo inf, mobilizado pelo RI 5 (Caldas da Rainha), expedicionário, que viria a integrar o RI 23 (Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde, 1941/43). Locais por onde andou durante 26 meses: Mindelo, Lazareto, Matiota, São Pedro, Calhau... Histórias do quotidiano da tropa... Video de Luis Graça (, gravado em 17 de outubro de 2009, numa esplanada da Praia da Areia Branca). Inserido no You Tube em 18/11/2012.

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