Em Farim... Dei-lhe o título de sonho.
Quem de tão longe me conversa,
encontrará ao pé das dunas,
pendurado nas palavras,
o mar inteiro.
Neste sentido
encontrarão,
das coisas do tempo
e dos seres,
o poeta irreconhecível.
Cantar-te-ei de mansinho e doce como tu és, ao deitar do sol.
Quem de tão longe me conversa,
encontrará ao pé das dunas,
pendurado nas palavras,
o mar inteiro.
Neste sentido
encontrarão,
das coisas do tempo
e dos seres,
o poeta irreconhecível.
Cantar-te-ei de mansinho e doce como tu és, ao deitar do sol.
Quando o tempo chegar,
e o mistério que te suporta,
e a mistura harmoniosa que nos une.
Destes tempos não sei que fazer
Destes tempos não sei que fazer
e descrevê-los é tão difícil como pensá-los.
Direi, imperturbável, como tu és serena,
mais que todos os pacíficos.
E voltarás ainda a animar o dia previsto!
A água não sobe mais além, o meu corpo,
de quem é o canto que me beija as mãos a esta hora...
Eu e ainda eu...
Todos lá chegaram.
Direcção (como dizer) esta (língua a ler como quiserem),
não encontrareis,
só o que me escape.
E esta acalmia,
aqui estou seguro,
as questões são as minhas e ninguém virá procurar-me.
De resto onde encontrar-me?
A escrever,
amaldiçoando o dia.
Finalmente dia,
nem noite pisando a garganta,
num momento de coragem agora como habitualmente,
o sol levanta-se:
Escrito em todos os livros,
o meu emprego do tempo,
sabeis...
O constante barulho nauseabundo dos últimos dias
O constante barulho nauseabundo dos últimos dias
subiu-me à garganta
como se ele tivesse chegado a este lugar,
todavia tão pacato e simples.
Assim não serei nunca eu,
Assim não serei nunca eu,
o rio tranquilo,
nem o nome daquele que eu me dei, por algum tempo!Das palavras a criar...
Ainda há sol e letras nos campos verdes ao amanhecer.
Ainda há sol e letras nos campos verdes ao amanhecer.
Direi:
Enquanto o tempo for o mesmo
Enquanto o tempo for o mesmo
e manifestar a insignifícancia do estar aqui...
Estarei por cá!
Não é uma questão de tempo;
e continuamente, enquanto houver verão,
direi a nostalgia de outros meandros e outros corações.
Então, por cá...assim é,
escreverei por caminhos entre giestas na serra.Por caminhos tortuosos a noite não tem estrelas.
Sinto um odor forte: manhã!
O navio volta guiado pelo vento.
Terra!
O vento bate forte, acentuando o ar doentio (do poeta).
Não é ter muita força.
E o vento faz novamente inchar as velas.O sol tinha desaparecido e passeava-me ainda contigo,
como se nada tivesse acontecido.
Guine retém ainda a frescura dos primeiros dias, recordas-te?
Tão longe, direi eu...
E o meu íntimo tão alegre.
No porto a velha casa está cansada.
Os garotos brincam nas ruínas, um instante;
silêncio entre a chegada e a partida dos dois navios.
Faz-se tarde como habitualmente à mesma hora.
Não, nada pode segurar-me.
Nem o sol nem a velha casa nem a ponte.O poente já não serve.
É isso: armadura, a velha casa,
do lado de fora puxam-me com força.
A palavra pode difícilmente significá-la.
O barulho acabou agora: os garotos desaparecem;
no velho porto, fico eu sozinho.
Poder talvez alcançar a miragem de um repouso infinito.
No sitio onde as árvores fossem verdadeiras árvores. Sem mais!
Chegou a manhã.
Acordo, percorro praças, ruas, lugares do sonho.
Espraio-me inteiro no olhar desconhecido que passa.
As confidências tomam cada vez mais a proporção da paixão.
Avanço no futuro, como a paisagem dum país ao sul,
com o sol ao meio dia:Guiné, junto-me a vós, amigos.
Em forma de carta estas linhas.
Em forma de carta estas linhas.
O monólogo: por detrás da escrita, a moral.
A vós todos. O diálogo.
A TI.
De oiro e púrpura se vestiam os bosques.
A vós todos. O diálogo.
A TI.
De oiro e púrpura se vestiam os bosques.
O sol resplandecente brincava com a copa das árvores.
Esperava: e os dias perdiam-se com o acabar dos meses.Dias agonizantes, milhares de dias.
Sei portanto algumas palavras.
Interessa que as esgote,
Interessa que as esgote,
antes que empregá-las não tenha cabimento.Ainda o sol não chegado ao fim:
Grito pelo silêncio que estas palavras criam.
Marques de Almeida
CCÇ 2548 / BCAÇ 2879
Marques de Almeida
CCÇ 2548 / BCAÇ 2879
[Fixação de texto: L.G.]
_________
_________
Nota do editor:
Último poste da série > 19 de março de 2013 Farim (Poema de saudade e nostalgia), K3 (Homenagem às mulheres que tratam da seara da mancarra), Bissau (À janela do HM 241)
Último poste da série > 19 de março de 2013 Farim (Poema de saudade e nostalgia), K3 (Homenagem às mulheres que tratam da seara da mancarra), Bissau (À janela do HM 241)
2 comentários:
Uma explosão de palavras, de imagens, de ideias com traços flamejantes de poesia.
Maravilha:
"Quem de tão longe me conversa,
encontrará ao pé das dunas,
pendurado nas palavras,
o mar inteiro."
"Finalmente dia,
nem noite pisando a garganta,"
"de quem é o canto que me beija as mãos a esta hora ..."
"Espraio-me inteiro no olhar desconhecido que passa."
"Esperava: e os dias perdiam-se com o acabar dos meses."
Espero por mais, gulosamente, meu caro camarada Ricardo Almeida.
Um grande abraço
Manuel Joaquim
Meu caro Ricardo.Palavras para que.Um abração.
Enviar um comentário