1. Mensagem datada de 25 de Julho de 2013 do nosso camarada Francisco Maria Magalhães Batista, ex-Alf Mil, integrado na CART 2732 em Setembro de 1971:
Ao meu amigo Vinhal e camaradas,
À vossa consideração.
Uma senhora, alma sensível, poetisa com livros publicados, natural do Porto que um dia, em 2010, conheci num espaço cultural, ofereceu-me este poema lindo que vos deixo, que ela dedicou ao marido, ex-combatente e aos netos.
Para ela se reler o seu poema neste blogue um beijo de agradecimento.
Um abraço
Francisco Baptista
Conversas sem pressas
Oh vó, o avô andou, de verdade, na guerra?
Era muito longe? Como se chamava a terra?
Demorou mais que uma semana a lá chegar?
Ele não teve medo de ir, tantos dias, no mar?
Não podia discordar, dizer que não queria ir?
Se ele se revoltasse ou até tentasse fugir?
O avô era tão magrinho! Quantos anos tinha?
A mãe dele deve ter chorado muito quando ficou sozinha
Era muito longe. Dois anos, dois anos e tal
Iam só soldados nossos, só daqui de Portugal?
Nessa altura ele já era teu namorado?
Deve ter tido tantas saudades, tantas saudades coitado!
Avô tinhas roupas de tropa? E metralhadora também?
Sabes, mas eu acho que tu nunca mataste ninguém
Viste alguns dos teus amigos morrer ou ficar deficiente
E depois ficavam lá? Que faziam a essa gente?
Olha avô, sei que não foste feliz. Tenho a certeza
Porque na terra da guerra, há dor, há fome e tristeza
Assim questionam os netos para tentar perceber
As lágrimas de recordar o tempo que faz sofrer
Se para mais não serviu esta dura realidade
Que ao menos os jovens saibam o preço da liberdade
Aproveitem a alegria e a força de ser capaz
De ter voz neste país e encher as ruas de Paz
E não esqueçam que a vida corre tão rapidamente
Que Abril é o Sol de um dia, numa primavera ausente
Maria de Lourdes dos Anjos
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Nota do editor
Último poste da série de 27 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11874: Blogpoesia (350): Uma calda feliz (J. L. Mendes Gomes)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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4 comentários:
Olá Luis;O meu nome é Carlos Coelho,sou natural do Porto e,estive em Canjambari em 71/73,onde era enfº.Tenho notícias do Emídio(desertor?).Se poderes fazer chegar a minha mensagem ao amigo Vieira,terei muito gosto em partilhar com ele aquilo que sei.O meu contato 919655139.
Manga de ronco.
Carlos Coelho
(...) "Olha avô, sei que não foste feliz. Tenho a certeza /
Porque na terra da guerra, há dor, há fome e tristeza" (...)
Obrigado à nossa poetisa, Maria de Lourdes dos Anjos, e ao mensageiro que trouxe o poema, o nosso camarada Francisco Batista...
Este é um blogue a muits vozes, também as de avós, pais e netos... Há perguntas sober a "terra da guerra" que são difíceis de responder... A poesia ajuda-nos a desfazer o nó na garganta...
Um beijo à Vó que poeta tão bem!
António J. P. Costa
Caro Francisco Baptista
Fizeste muito bem em divulgar este poema, que no fundo é uma profunda reflexão e ao mesmo tempo uma forma de esclarecer e responder às perguntas, às interrogações das mais recentes gerações.
A autora, Maria de Lourdes, 'esclarece' os netos muito bem. O poema tem ritmo, tem profundidade.
Há algum desencanto sobre os caminhos entretanto percorridos (afinal, quem não tem esse 'desencanto'?) mas os versos finais acabam por ser um alerta e um grito de esperança de que a 'Primavera deixe de estar ausente'.
Abraço
Hélder S.
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