Queridos amigos,
Um dos apoios dados pelo Japan Anti-Apartheid Comitee aos movimentos de libertação foi o envio do fotógrafo Tadahiro Ogawa às bases do PAIGC e da FRELIMO, entre 1971 e 1974.
Folhear este impressionante álbum permite desfazer alguns equívocos, perceber como o PAIGC impressionava pela sua organização, pelo seu ardor, pelo seu acolhimento. Trata-se de um relíquia encontrada num dos meus alfobres da Feira da Ladra, até hoje nunca tinha encontrado qualquer referência a fotografias tão impressivas, a disparos tão talentosos.
Um abraço do
Mário
Fotografias de Tadahiro Ogawa nos campos do PAIGC (de 1971 a 1974)
Beja Santos
O impressionante documento fotográfico intitula-se “Camaradas, Independência!”, é da responsabilidade do Comité Japonês Anti-Apartheid, são fotografias de um dos seus membros que efetuou visitas junto do PAIGC entre 1971 a 1974, é trilingue, e manifestamente o PAIGC tem a fatia de leão, não só a maioria das imagens mas aquelas que dão conta dinamismo, da organização, da participação política e da vida sociocultural nos territórios onde o PAIGC impunha mais regularmente a sua presença.
A versatilidade das imagens é impressionante: uma peça teatral desempenhada por crianças em torno do denominado “Massacre do Pindjiquiti”; cenas de preparação militar, aulas na escola de política militar; tropa do exército popular em formatura; imagem de um DO a sobrevoar uma base; a vida no acampamento, estradões abandonados após sistemática explosão de minas e emboscadas; carregamentos de munições e víveres no interior da floresta; imagens de Guileje após a retirada as tropas portuguesas, incluindo uma impressionante fotografia das ruínas da capela; cenas da faina agrícola; subidas às palmeiras; trabalho com o pilão; sementeira de arroz e plantação de mandioca; funcionamento dos armazéns do povo; danças; consulta médica, um combatente de 20 anos a aprender a ler; visita do Comité de Descolonização da ONU, em Abril de 1972, a territórios controlados pelo PAIGC. Aqui e acolá, citações de Cabral, ficam só duas que seguramente impressionaram Tadahiro Ogawa:
“A floresta grandiosa oculta a base dos nossos combatentes, e protege o nosso povo daquele bombardeio criminoso. Agora, a floresta é a força aliada do nosso combate. Anteriormente, as florestas não tinham força, porque não temíamos o espírito das florestas. Mas agora não. Nós conquistamos o espírito das florestas, recrutamo-lo, e convertemo-lo da fraqueza para a força. Convertemos a fraqueza em força. Converter a fraqueza em força: isto é que é o significado da luta”;
“Não se esqueçam que o povo não está lutando por ideologias ou por coisas que estão na cabeça de ninguém. Eles estão lutando para ganhar benefícios materiais, para viver melhor e em paz, para ver as suas vidas seguirem para a frente, para garantir o futuro das suas crianças…” e: “Pratiquem a democracia revolucionária… Tenham reuniões frequentemente… Não escondam nada da massa do nosso povo. Não mintam… Não visem vitórias fáceis”.
Na impossibilidade de aqui se publicar este acervo magistral de um talentoso fotógrafo, faz-se uma seleção ao sabor do gosto de quem descobriu esta pepita de ouro:
Após a chuva, os combatentes jogam vólei enquanto as suas roupas secam
Dentro da floresta cerrada há pequenos dormitórios dos combatentes, inúmeros caminhos interligam os dormitórios – assim é formada uma base.
As marcas de pés dos combatentes confundem-se
com as dos agricultores
Fotografia tirada ao destacamento de Copá, na sequência da retirada das tropas portuguesas, antes da independência. Copá, entre Bajucunda e Piche, tinha um efetivo próximo de um pelotão, foi brutalmente flagelada, as tropas retiraram, simbolicamente a CCAÇ 11 voltou a Copá mas nunca mais aqui ficou um efetivo militar português.
Imagem retirada de um conjunto de fotografias em que um jovem combatente está a aprender aritmética com a professora ao lado
____________
Nota de leitura
Último poste da série de 27 DE JUNHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13335: Notas de leitura (605): "O Retorno dos “Gans”, de Fernando Perdigão (2): Uma viagem ao ocultismo ligado ao culto do morto na Guiné (Mário Beja Santos)
5 comentários:
Comentários para quê?
O Mário Beja Santos a exaltar a virtude, o saber, o sacrifício pela pátria, o poder do PAIGC. Para o nosso grande recensor, sempre o destaque para a gente boa do PAIGC e de Amilcar Cabral que ,com o apoio de japoneses, nas fotos, de suecos, nos
dólares, de russos e chineses, nas armas, aparente, mas falsamente,controlavam quase tudo.
Tudo menos a sabedoria simples, e complexa, de governar um país e um povo.
Abraço,
António Graça de Abreu
Fotos interessantes.
Jogos de voleibol, talvez por influência cubana ou de terreno com pouca área.
As camas dos dormitórios são semelhantes às nossas.
O sistema de alarme colocando garrafas vazias no arame farpado era muito usado, pela nossa tropa, principalmente nas tabancas mais pequenas.
Amigos & Camaradas
Pelo muito que tenho lido e visto, o PAIGC sempre teve armamento muito superior às NT, estavam bem treinados e disciplinados, mas afinal vejo por estas fotos e por outras que já vi, que no aspecto de instalações que possuíam nas zonas libertadas [que nunca vi] sempre eram inferiores às nossas, embora a malta se queixe... mas comparando com estas ????
Até que enfim, que aparece um aspecto em que as NT têm uma posição de superioridade
Um abraço
Carlos Silva
Olá Camarada
Aquela da foto do arame com garrafas de cerveja penduradas em Copá, faz-me pensar na pobreza de certas "soluções" defensivas a que recorríamos. Era absolutamente arcaico este sistema de iluminação ou seria apenas um sistema de detecção de aproximação. Creio que, no momento do abandono, já em Copá não se utilizariam este sistema, mas que lá qu era fotogénico, lá isso era...
Um Ab.
António J. P. Costa
Propaganda..só propaganda
Quanto a treino..bem.. uma parte deles participavam desde o início da guerra.
Disciplina..pudera..pagavam com a vida qualquer desmando.
Instalações...tinham..mas eram elementares..e por pouco tempo..não eram parvos
Armamento..se se considerar que o RPG E a AK..eram melhores que a nossa G3 e o LGF...
A força aérea e marinha de guerra deles...era..era..isso.
Fazer guerrilha é o mais fácil.
Se o IN for forte..recua.
Se for fraco ..ataca.
Não existe preocupação em ocupar terreno...
Mobilidade era fundamental..percorriam território..atacavam só em momentos favoráveis para eles..flagelavam aquartelamentos..e rapidamente dispersavam..
Procuravam o nosso desgaste..mas também estavam desgastados..
Quanto aos célebres misseis "terra-ar"..é verdade que no inicio causaram a morte (infelizmente) de alguns pilavs e a destruição de aeronaves,devido ao efeito surpresa..mas quando a nossa FA se adaptou..o impacto passou a ser quase nulo.
Sabiam que o PAIGC comprou um stok limitado à U.R.R.S. e que muitos deles não funcionaram e outros explodiram e que os nossos pilavs adoptaram um esquema de combate que se tornava muito perigoso para os manobradores dos ditos..e a U.R.R.S. só forneceu os ditos para experimentação..não sabiam ?
Falando de mitos..se julgam que na 1.ª Guerra Mundial o que provocou mais baixas de ambos os lados..foi a artilharia, os carros de combate e o lançamento de gás, estão muito enganados..foram as doenças e as metralhadoras..não sabiam..pois ficam a saber.
A única superioridade deles era a motivação para lutar..e nós apenas "aguentar" e contar os dias para o fim da comissão..salvo algumas excepções..
AHHH... a guerra já estava perdida desde o início em termos políticos.
Escrevo este comentário apenas para aqueles que não vêm ou não querem ver o óbvio.
Um alfa bravo
C.Martins
Enviar um comentário