Um recado
Caro Luís
Duas linhas simples para te dizer
aquilo que tu sabes melhor do que eu,
que os anos não perdoam !
Não tem nada a ver com o blogue,
Não tem nada a ver com o blogue,
perdes dois segundos e ficas a saber
que eu, embora mais perdido,
mais longe de tudo,
ainda cá ando !
Os sinais de o fulano A ter mais anos do que o fulano B,
maneira muito simpática de dizer
que não sou velho,
mas sou usado, usado em demasia,
começam a aparecer aos poucos
e das mais diversas maneiras.
e das mais diversas maneiras.
Comigo começaram com mais nitidez no esquecimento,
tendo-me esquecido onde deixei parte da alegria,
onde deixei a força de vontade.
Esquecendo-me de cumprir aquelas palavras tão velhinhas ,
Esquecendo-me de cumprir aquelas palavras tão velhinhas ,
ditas por um sábio,
só podiam ter sido ditas por um sábio !
Soldados não vão para a guerra porque morrem !
Soldados não vão para a guerra porque morrem !
Os soldados responderam morreremos sempre !
e que, quando o encontro se der,
seja com o máximo de dignidade !
Mas eu optei mais por cumprir com aquele dito popular,
mas ao contrário !
Não faças hoje o que podes fazer amanhã !
seja com o máximo de dignidade !
Mas eu optei mais por cumprir com aquele dito popular,
mas ao contrário !
Não faças hoje o que podes fazer amanhã !
E assim fui deixando desaparecer,
desfazer-se estes últimos tempos,
principalmente parte de Maio e Junho !
Presto muita assistência aos meus netos,
Presto muita assistência aos meus netos,
devido aos horários que os pais começaram a ter,
mas é pouco para mim !
Por ser algarvio
e amar o Algarve,
e amar o Algarve,
fiquei com a casa dos meus pais
e, como os tempos eram outros,
ainda arranjei uma barraca junto a uma praia !
Quando eu tinha 60 anos
Quando eu tinha 60 anos
vinha e ia a caminho de Lisboa,
com facilidade,
com prazer,
com alegria,
conhecia toda a gente.
Nos últimos anos é mais uma obrigação
com prazer,
com alegria,
conhecia toda a gente.
Nos últimos anos é mais uma obrigação
e levo muito tempo a prestar aquela assistência mínima
às casas velhas e fechadas
e foi perdido nisto
que eu passei os meus últimos tempos,
que eu passei os meus últimos tempos,
fazendo visitas esporádicas ao correio,
mas dando para saber que tenho muito correio,
a que tenho a obrigação, o dever e o gosto de responder.
E o mais engraçado é que,
há uns anos atrás,
E o mais engraçado é que,
há uns anos atrás,
eu condenava este comportamento
e agora convivo com ele
com uma certa naturalidade,
com uma certa naturalidade,
sem muita energia para protestar muito comigo próprio.
Eu não apago os emails,
Eu não apago os emails,
transfiro-os para um disco
e depois um dia com todo o tempo do mundo
vou os ler todos, e responder !
Claro que no meio de isto
também começou a aparecer a solidão,
vou os ler todos, e responder !
Claro que no meio de isto
também começou a aparecer a solidão,
melhor, a solidão não existe !
Sim, a solidão não existe !
Sim, a solidão não existe !
Existe é a saudade de ontem,
uma saudade muito grande de uma vida passada !
Não nos isolamos,
gostamos é de estar sós,
uma saudade muito grande de uma vida passada !
Não nos isolamos,
gostamos é de estar sós,
porque não nos apetece falar,
apetece-nos é recordar,
não gostamos de ir aqui, ou ali,
gostamos de ir é a sítios que têm significado para nós,
onde fomos felizes,
mas sabemos que esses dias passados não voltam mais
e arranjar substitutos,
quando as forças começam a faltar,
os movimentos limitados porque os ossos começam a doer...
É certo que também houve aqui uma ajuda
dos donos de Portugal.
Pois é a partir de uma certa altura,
dos donos de Portugal.
Pois é a partir de uma certa altura,
de uma certa idade,
a vida perde muita da cor natural
e é preciso muita ginástica para arranjar alguma cor artificial !
Não é pessimismo,
muito menos um lamento,
Não é pessimismo,
muito menos um lamento,
quando muito um recado,
de quem, mesmo com menos energia,
ainda tem a mania de tentar perceber
o mundo que o cerca,
o mundo que o cerca,
que o condiciona.
Um grande abraço
Um grande abraço
Ernesto Pacheco Duarte
[Fixação de texto: LG]
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Nota do editor:
Último poste da série > 25 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13331: Blogoterapia (252): Fui no dia 14 a Monte Real encontrar-me com jovens de antigamente (Francisco Baptista)
Último poste da série > 25 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13331: Blogoterapia (252): Fui no dia 14 a Monte Real encontrar-me com jovens de antigamente (Francisco Baptista)
1 comentário:
Grande Ernesto, ainda bem que não é pessimismo... Esse é que nos mata. A lucidez só faz bem... A verdade, mesmo que amarga, se traga. Diz o povo com milénios de experiência, dor, sofrimento...
Não deixes de ir ao correio e mandar-nos de vez em quando recados como este... Um murro no estomago faz-nos bem, de vez em quando... Um alfrabravo fraterno. Luis
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