O mundo visto da Tabanca de Candoz...
Foto: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados
Sagração
da primavera
por Luís Graça
Come-se o sável da tradição
que transborda as margens dos rios da nossa memória,
na semana santa em que o pecado era a carne
ou a tentação da carne ou a falta dela.
Frita-se o sável no azeite dos pobres,
supremo luxo, na sexta feira santa
em que Cristo morreu por todos nós,
os inocentes, os pecadores
e todos os que nunca tomam partido
entre a veemência do mal e a urgência do bem.
E quem não tem sável, come savelha,
que de sáveis por São Marcos enchiam-se os barcos.
E quem não tem sável, come savelha,
que de sáveis por São Marcos enchiam-se os barcos.
Vem o sável apanhado nas redes
das pesqueiras do Douro quando o sável e a lampreia
chegavam a Porto Antigo e daqui à tua aldeia,
e os barcos rabelos eram endiabrados brinquedos
que caíam no buraco negro dos cachões,
carregados do vinho fino
que não matava a fome á pobreza.
Boa era a truta, bom o salmão,
e melhor o sável quando sazão,
diziam o fidalgo e o abade
que eram mais carneiros do que peixeiros.
e os barcos rabelos eram endiabrados brinquedos
que caíam no buraco negro dos cachões,
carregados do vinho fino
que não matava a fome á pobreza.
Boa era a truta, bom o salmão,
e melhor o sável quando sazão,
diziam o fidalgo e o abade
que eram mais carneiros do que peixeiros.
E quem tem bula, que coma carne!
Comia-se o sável um vez por ano,
na cozinha gourmet dos camponeses
de entre Douro e Minho.
Aleluia, aleluia, Cristo ressuscitou!,
traz a boa nova o compasso
que bate a todas as portas dos cristãos.
E estalam foguetes no ar,
e rebentam em flor as cerejeiras
(aqui chamam-se cerdeiras),
e as videiras dão gamões,
e o verde é mais verde
sob o azul do céu das serras
que estrangulam os vales e os lameiros
Comia-se o sável um vez por ano,
na cozinha gourmet dos camponeses
de entre Douro e Minho.
Aleluia, aleluia, Cristo ressuscitou!,
traz a boa nova o compasso
que bate a todas as portas dos cristãos.
E estalam foguetes no ar,
e rebentam em flor as cerejeiras
(aqui chamam-se cerdeiras),
e as videiras dão gamões,
e o verde é mais verde
sob o azul do céu das serras
que estrangulam os vales e os lameiros
e o rio Douro quando era selvagem e livre.
É a primavera que chega,
e há de ser o solstício do verão,
É a primavera que chega,
e há de ser o solstício do verão,
regulando a vida circadiana dos adoradores do sol
e dos comedores de sável.
É vida que triunfa sobre a morte.
é a Páscoa aqui no Norte,
é a festa da brava gente
que sempre teve engenho e arte,
quer na paz quer na guerra.
e dos comedores de sável.
É vida que triunfa sobre a morte.
é a Páscoa aqui no Norte,
é a festa da brava gente
que sempre teve engenho e arte,
quer na paz quer na guerra.
Pois que seja boa e santa e feliz a Páscoa,
para todos,
em toda a terra,
por toda a parte.
Tabanca de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses,
4 de abril de 2015
4 de abril de 2015
v2
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Nota do editor;
Último poste da série > 28 de março de 2015 > Guine 63/74 - P14412: Manuscrito(s) (Luís Graça) (51): Morreu um poeta
10 comentários:
Muito lindo poema pascal...
Boa Páscoa
Para todos
Joaquim
O foto da igreja do Grilo, tirada da Candoz, com o zoom da minha nova Panasonic Lumix DMC-TZ60 Black, sem tripé, é para o meu amigo e vizinho,de Baião, Álvaro Vasconcelos que fez anos no dia das mentiras... E como eu não estava "conetado" com o mundo (leia-se: o nosso blogue), não lhe pude dar o alfabravo de parabéns a que ele tinha direito... Aqui vai, atrasado, mas caloroso, como sempre...
Outras fotos das redondezas: eólicas da serra de Montemuro, a aldeia da Pala, junto a Porto Antigo, na albufeira da barragem do Carrapatelo, a lua...
Como os editores do blogue estão de "vacanças" pascais, nomeadamente eu e o Carlos Vinhal, a atividade editorial por estes dias é mais escassa... Tirando este, os postes já estavam programados... proveitei um salto até à Madalena, Vila Nova de Gaia, para postar este "manuscrito" e estes fotos que tirei ontem lá por terras de Candoz... onde a Páscoa é sempre à... segunda-feira.
Joaquim Luis Mendes Gomes
5 de abril de 2015 07:53
Páscoa...
Despertei.
Dia luminoso a nascer.
Diante da minha janela.
Sinto em mim
uma alegria pura.
como uma chuvinha leve,
macia e doce
que vem do Céu.
Me refresca e inebria.
Mesmo sem alcançar,
as dimensões reais
e o que quer dizer
do que aconteceu.
Ressuscitou Jesus,
morto por nós na cruz,
ao terceiro dia.
Sinto-O Diz-mo a luz da Fé
que se acendeu sem mim.
Dá-me segurança.
E a esperança viva
de que assim vai ser comigo.
Connosco.
Minha vida real
A nossa vida
não tem mais fim.
seu termo final
será a glória,
ao pé de Quem divino,
nos criou um dia
e adoptou.
como seus filhos.
Ó Mistério pascal!...
Mafra, 5 de Abril de 2015
7h41m
ouvindo Messias de Hendel
Joaquim Luís Mendes Gomes
jcamara301@aol.com
5 abrt 2015 02:50
Votos de uma Snta Páscoa na companhia dos familiares. Muita saúde para todos.
Abraço,
José Câmara
Vim a casa dos meus cunhados para celebrar com eles a Páscoa e receber o compasso... Mais logo voltamos para Candoz... Aqui ficam os versinhos que eu fiz para os donos da casa lerem quando, daqui a um hora, vier o compasso... E eles não levam a mal que eu os divulgue, em primeira mão, no nosso blogue... Boas festas a todos os camaradas e amigos da Tabanca Grande. LG
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Viva o compasso da Madalena
Vem em abril este ano
O nosso pascal compasso,
Vem o sicrano e o beltrano,
A todos damos um abraço.
É já forte a tradição,
Da gente aqui do norte,
Abre a porta, pede a bênção,
A todos deseja sorte.
É um povo hospitaleiro,
Que sabe receber e dar,
Se na fé é o primeiro,
Não fica atrás no folgar.
Obrigados, nossos vizinhos,
Pela visita pascal,
E aceitem com carinhos
… As amêndoas deste casal.
Ana Carneiro e Augusto Soares, Madalena, 5 de abril de 2015
Vd., aq1ui no DN . Diário de Notícias... 28/3/2010
Excerto,. reproduzido com a devida vénia...
BICHOS
Sável: Uma delícia em risco de desaparecer
por JOANA CAPUCHO28 março 2010Comentar
Vive no mar, a peneirar toneladas de água para engolir apenas o zooplâncton. Em Março, dirige-se para as embocaduras dos rios, em cardumes gigantescos, e sobe-os para a desova. Muitos acabam nas redes dos pescadores, mas é nesta viagem que o sável joga a sua sobrevivência.
É um maná em vias de desaparecer. Parente da popular sardinha e da espinhosa savelha, o sável é um gigante com as características de toda a família: gordo, saboroso e espinhoso. É também caro e raro na gastronomia, pois só é pescado nos finais do Inverno.
Vive no mar, a peneirar toneladas de água para engolir apenas o zooplâncton. Geralmente em Março, dirige-se para as embocaduras dos rios, em cardumes gigantescos, e sobe-os para a desova. Nessa viagem fluvial é capturado para se tornar o pitéu de muitos apreciadores.
As diversas práticas culinárias de preparação do sável provocam avalanches de sofredores de gula a acorrer aos festivais e centros tradicionais de preparação do bicho, um pouco por todo o País. A pesca do sável é, portanto, um importante recurso económico, mas ao mesmo tempo contribui para uma diminuição dos efectivos populacionais e coloca em risco a continuidade da espécie.
Para alguns apreciadores, quanto mais a montante for pescado, mais é apreciado. "O sável chega aos rios bastante gordo e todo o processo de subida é feito contracorrente, transpondo barreiras e desenvolvendo as gónadas. Daí que, muitos o prefiram comer quando capturado mais a montante, já em condições de atleta", explica Pedro Raposo de Almeida, professor da Universidade de Évora e investigador no Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências de Lisboa.
No nosso país, a subida dos rios está actualmente dificultada e muitas vezes até impossibilitada. A construção de barragens e de açudes, responsáveis pela interrupção das rotas migratórias, são a ameaça mais séria à espécie, classificada "em perigo" pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. "Quando chega aos rios, o sável traz reservas energéticas para a migração e para a reprodução. Ao entrar, deixa de se alimentar. Se gastar as reservas energéticas a ultrapassar barreiras, o processo de reprodução torna-se mais difícil", salienta Pedro Raposo de Almeida.
Se anteriormente à construção das barreiras, o sável e a sua congénere ocupavam nichos de reprodução diferentes, reproduzindo-se o sável mais a montante, actualmente dá-se muitas vezes uma sobreposição das áreas de desova das duas espécies. O aparecimento de híbridos, geralmente estéreis, leva também a uma quebra da população.
Como é frequente em muitas espécies, a grande maioria dos sáveis adultos morre depois de reproduzir. "Os juvenis têm de regressar ao mar, mas é complicado direccioná-los para as passagens construídas para o efeito nas barragens", alerta o investigador do Instituto de Oceanografia. Muitos juvenis não acedem às passagens e são sorvidos, acabando por morrer nas turbinas.
Pedro Raposo de Almeida alerta que "é necessário assegurar a continuidade longitudinal das áreas de reprodução da espécie, criando mecanismos eficazes de transposição de barreiras e assegurando um fácil regresso dos juvenis". O investigador refere que "algumas coisas têm de ser feitas a nível nacional, como a avaliação do estado das populações (através dos levantamentos das capturas) e o condicionamento da pesca em determinados locais e alturas do ano".
Apesar de existir pouca informação sobre os efectivos populacionais do sável, sabe-se que nos últimos anos a espécie tem sofrido uma acentuada redução. "Em Portugal, é das espécies que é possível que estejam mais ameaçadas em termos de conservação. É importante que não se esgote um recurso que é de todos", salienta Pedro Almeida.
(...)
Já agora, o resto do artigo... Salvemos o sável, se é que vamos a tempo... LG
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Sável: Uma delícia em risco de desaparecer
por JOANA CAPUCHO28 março 2010Comentar
Extremamente sensível, o sável entra facilmente em stress, acabando por morrer, o que torna a sua manipulação deveras complicada.
Bom dia de Pascoela amigo Luís.
Aqui na freguesia do Grilo é hoje que recebemos a Cruz. Ontem estive em casa dos filhos, conforme é tradição.
Vi agora as fotografias -depois de ler a poesia com que nos presenteaste-, e destaco a da Igreja.
Muito obrigado ainda pelas tuas palavras.
Completei 67 "vidas" no passado dia 3, mas o "1 dos enganos"... é o de aquecimento!
A propósito: todos nos enganamos, vivemos o dia em perfeita sintonia tradicional do calendário. Eu estive na Guiné de 1970 a 1972 e vem assinalado 72/74
sinal de que serei mais novo um par de anos!...sabe de mais!
Um abraço e cumprimentos para a Alice e resto da família.
Respira-se a festa, vive-se a festa nas tuas fotos e no teu poema.
É um hino em dois andamentos há vida simples do campo, ao despertar da natureza em cores e força, enfim há alegria de viver em comunhão com a terra que se renova.
Um abraço
Francisco Baptista
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