1. Dizia-nos o nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) na sua mensagem de 18 de Março de 2015:
Queridos amigos,
Pela primeira e talvez última vez na minha vida, fui duas vezes numa semana aos Açores.
Aqui vos deixo o relato da ida ao Pico, com mau tempo no canal, a
montanha cheia de forro, impossível de fotografar, seria blasfémia
reproduzir o que vem nas brochuras turísticas. Havia ventania a rodos, o
avião foi parar à Horta, seguimos para a Madalena, passeei ao fim do
dia.
Na manhã seguinte, deu para ir a S. Roque, havia luz, parecia que S.
Jorge queria que eu lá fosse e eu cheio de saudades pelas férias que lá
passei com as minhas queridas filhas.
Espero que gostem.
Estou sempre pronto para regressar àquelas ilhas de que me sinto cativo e nativo.
Um abraço do
Mário
Mau tempo no canal: do Faial ao Pico, ali perto está S. Jorge (2)
Regressou-se à Madalena, o viandante banqueteou-se com sopa de peixe e polvo panado, uma delícia, e bebericou um vinho translúcido da ilha, um néctar perfumado. Deitou-se a ouvir os ventos uivantes, e tinha a manhã livre, a comemoração do Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, ao que veio, é para mais tarde. Vamos então passear pela Madalena e conhecer os seus trunfos, depois da igreja. Aqui está o edifício da câmara, o viandante gosta do escudo nacional com as pombas do Espírito Santo, ao contrário da Terceira os picoenses ou picarotos são pouco dados às cores berrantes, com exceção do vermelho das janelas e portas daquelas casas com adegas que podemos ver nos Biscoitos, na Mirateca, no Cais do Morato ou em Cachorro, povoações que visitaremos mais adiante.
Há aqui uma lembrança do tempo antigo, irresistível, o solar aponta para as águas do canal, o que espevita o fotógrafo amador é a qualquer coisa de quinhentista desta arquitetura vernacular, por isso fotografa-se com gosto.
O Museu do Vinho estava fechado, mas é uma estrutura tão bem disposta e integrada entre currais que tinha que ficar para a história desta viagem com prazos estritamente marcados. E vamos seguir.
Os senhores da associação de consumidores, gentis, conhecedores e amantes destas belezas, induziram o seu convidado a ir até ao lugar do Cachorro, muito procurado na estação balnear, tem recantos que dão para perceber que aqui se passam férias de sonho, e com vista para o Faial e para S. Jorge. O fotógrafo amador bem esperou uma ondulação muito forte, mas não ficou desapontado com o resultado da imagem, a permanente tensão entre as águas revoltas e o que resta do vulcão.
Estamos agora no Lajido, há para aqui muitas casas de Verão e estruturas museológicas do vinho. O turista gostou muito desta casinha, pois vai fazer parte da história da viagem. E agora vamos para S. Roque do Pico, terra de baleeiros e suas lembranças.
Aqui temos S. Roque, vistas amplas, o antigo cais da baleia, a fábrica (hoje museu) e o monumento aos baleeiros. Em 1992, aqui chegou o viandante, vindo da Calheta de S. Jorge, em dia límpido de Verão, com muito bom tempo no canal. Agora, nostalgicamente, o viandante olha para o fundo, para aquele ponto onde está a calheta e tem muitas lembranças.
Correu tudo muito bem em Lajes do Pico, sessão na Biblioteca Dias de Melo. Quando o viandante foi para a Guiné, levava na bagagem o livro “Pedras Negras”, que o José Dias de Melo lhe oferecera em Ponta Delgada, em data incerta, ou 1967 ou 1968. E comoveu-se com as fotografias do escritor e falou desse encontro ao vereador que presidiu à sessão. A grande surpresa foi ter recebido como lembrança um livro de Dias de Melo. O último trabalho foi uma manhã a falar aos jovens da Madalena, o viandante estava inspirado, mas o mais importante foi a captação destas imagens na Filarmónica, recordar o fervor musical dos açorianos, talvez só comparável com as gentes da Figueira da Foz, não há aldeia sem banda, todos os eventos são abrilhantados com fagotes, trompas e trombones. Homenagem a quem põe música nos nossos corações!
Acabou-se o trabalho, do Pico segue-se para S. Miguel para tomar avião para Lisboa. O Viandante já está cheio de saudades, como diz o outro as saudades são só as do futuro. Pois guardo estes Açores como células vivas do que somos como gente do Atlântico, a mística e a bruma.
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Notas do editor
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Último poste da série de 1 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14428: Os nossos seres, saberes e lazeres (82): Berlim, cidade ainda hoje invisivelmente dividida: as marcas da guerra e do terror (Parte II) (Luís Graça)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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