Guiné > Nota de 50 escudos (pesos), frente e verso. Banco emissor: BNU - Banco Nacional Ultramarino. No câmbio e no comércio, em relação ao escudo da metrópole, emitido pelo Banco de Portugal, havia uma quebra de 10%... Ou seja: 100 pesos (escudos do BNU) só valiam 90 escudos (do Banco de Portugal)... Recorde-se que o BNU foi criado em 1864 como Banco Emissor para as ex-colónias portuguesas (, tendo também exercido funções de banco de fomento e comercial no país e no estrangeiro; vd,. aqui a sua história).
Foto: © Sousa de Castro (2005). Todos os direitos reservados.
1. E se fosse hoje, em euros ? Quanto ganhávamos ? Quanto gastávamos ? (*) Fui encontrar um conversor de escudos para euros, que nos permite fazer conversões desde o ano de 1960... Está disponível na página Pordata - Base Dados Portugal Contemporâneo:
"A funcionalidade permite converter um determinado montante (em euros ou em escudos) de um ano em preços de 2014, utilizando o deflator do Índice de Preços no Consumidor (IPC) 'base 2012'. Trata-se de transformar os valores a preços correntes (ou nominais, com inflação) de um determinado ano em valores a preços constantes (reais, sem inflação) de 2014."
Em matéria de comes & bebes, por exemplo, podemos ver quanto custaria hoje, em euros, os alguns dos artigos que consumíamos na Guiné por volta de 1969/70 (**):
(i) um quilo de camarões tigres ou lagostins, do rio Geba Estreito, comidos na tasca do Zé Maria, em Bambadinca custava 50 pesos ou escudos da Guiné, o quilo, cozidinhos)= 14,79 € (em 1969);
(ii) uma arrafa de whisky novo (J. Walker Juanito Camiñante de 5 anos, rótulo vermelho, JB): 48,50 pesos = 14,35 € (em 1969);
(iii) uísques mais caros: 12 anos, J. Walker rótulo preto, Dimple, Antiquary: 98,50 [=29,14 €]: 15 anos, Monkhs, Old Parr: 103,50 [=30,52 €] (estou a confiar na memória do Humberto Reis, acho que eram mais caros, os uísques velhos] (, em 1969);
(iv) um bife com batatas fritas e ovo a cavalo na Transmontana, em Bafatá, custava 25 pesos, vinho ou cerveja aparte = 7,40 € (em 1969);
(v) uma vaca raquítica, em Sonaco, comprava-se (quando fui gerente de messe, em 1970) 950 pesos = 269,36 €;
(vi) nas tabancas, fulas, por onde passávamos e onde ficávamos uma semana ou mais, de cada vez, em reforço do sistema de autodefesa, era costume comprar, mesmo a custo, galinhas e frangos, a sete pesos e meio por bico [= 2,22 €]:
(vii) um parto de ostras em Bissau, numa esplanada á beira rio, em meados de 1970, custava 20 pesos [= 5,67 €];
(viii) um relógio da prestigiada marca suiça Longines, na loja libanesa Taufik Saad, Lda, em Bissau, custou ao Valdenar Queiroz, em 16/12/1970, 2950 pesos [=836,45 €].
(ix) coisas miúdas do dia a dia: um maço de SG Filtro 2,5 pesos [=0,74 €]; um uísque, no bar da messe, eram 2,50 pesos sem água de sifão [= 0,74 €] e com água eram 3,00 pesos [= 0,89]; era mais barato que a cervejola...
(x) quanto à lerpa, ou ramim, uma noite boa, ou má, poderia dar (valor médio) 200 a 300 pesos para a lerpa e 50 a 100 para o ramim (, garantia um jogador como o Humberto Reis);
(xi) uma queca, dependia: 50, 100, 150 pesos... "Quando em Bissau, no Pilão, frequentei várias vezes a Fátima, que não era caboverdiana mas sim fula, e dava-lhe 50 pesos de cada vez" (, confessa o nosso camarada A.Marques Lopes, que é de 1967/68)...
2. O Sousa de Castro, por seu turno, diz-nos que "no meu tempo (1972/74) não era muito diferente: os preços que se praticavam eram mais ou menos os mesmos"...
Quanto ao que o exército nos pagava... "Puxando um pouco pela memória, eu como 1º cabo radiotelegrafista ganhava 1.500$00, sendo 1.200$00 por ser 1º cabo e mais 300$00, de prémio de especialidade." [, tudo somado, 1500§00 em 1973 =305,10 €].
Segundo a mesma fonte, o Sousa de Castro, "a dita queca, se a memória não me trai, creio que era assim: para os soldados cinquenta pesos; para os cabos sessenta pesos; a partir daqui não me lembro quanto pagavam os mais graduados... Quanto às cabo-verdianas, a coisa era de facto mais cara, em final de comissão paguei cento e cinquenta ou duzentos pesos, isto em Fevereiro de 1974" [mais ou menos 24 ou 32 euros]...
"Por lavar a roupa, como cabo pagava 60 pesos [, em 1973]", informa o Sousa de Castro.[=12,20 ]
Em 1969, recordo-me que os soldados da CCAÇ 12 (que eram praças de 2ª classe, oriundos do recrutamento local), recebiam de pré 600 pesos/mês [=177, 51 €], além de mais uma diária de 24$50 [=7,25€] por serem desarranchados. 600 pesos deviam dar para comprar duas sacas de arroz de 100 kg cada...
3. E um capitão miliciano, comandante de companhia, quanto é que recebia ao fim do mês? (Sabemos que um parte dos nossos vencimentos era depositado na metrópole)...
Temos as memórias (e os papéis) do Jorge Picado:
(...) "Apontamento que resistiu ao tempo, referente ao mês de junho [de 1970]: Total abonos:13900$00; total descontos; 8967$00; a receber 4932$00. Nos abonos estão incluidos 4000$00, relativos aos abonos de família (já tinha os 4 filhos), de março, abril, maio e junho. [de 1970]". (...)
(...) "Vencimentos a receber em agosto em virtude do aumento: março-julho [1970]: 10500$00;
Fev 1326$00; total 11826$00; descontos Cx Geral Aposentações; 710$00; Imposto de selo -12$00; a receber (líquido): 11104$00 [=3148,45€]...
4. E a viagem de férias à metrópole, na nossa querida TAP ?
O António Tavares pagou, em meados de 1971, à Agência Correia, em Bissau, um total de 6 430$80 [ = 1643,21 €] pela viagem "Bissau- Lisboa.- Porto -Lisboa -Bissau "... Diz que pagou em três prestações "a importância total, que não ganhava, como explico: 4.430$80 em 03-08-71; 500$00 em 22-09-71 e finalmente 1.500$00 em 21-10-1971"... Na cópia do bilhete (que ele juntou, no poste P15216] consta uma taxa de 110$80.... O pagamento foi em pesos. "O Escudo era trocado com uma agiotagem de 10%."...
É difícil fazer comparações com os preços dos bens e serviços que se pagavam nessa época, na metrópole, para não falar dos salários médios nos diferentes ramos de atividade... No blogue A Nossa Quinta de Candoz tenho um pequeno apontamento sobre a estrutura e a evolução dos salários, num ramo muito específicio, a "construção civil de ramadas", nas décadas de 1950 e 1960, no Douro Litoral...
Numa pequena empresa que podia empregar em média meia dúzia de homens, pagos ao dia, o patrão, o "ramadeiro", podia ganhar no máximo 50 escudos (=21,41 €), o oficial mais qualificado 30 escudos (=12,84 €) e os serventes 20 escudos (=8,56 €). Fizemos esta conversão para os valores nominais de 1960.. Uma década depois (em 1970), com a inflação, estes valores (a preços constantes de 2014) seriam 14,18 €, 8,51 € e 5,67 €, respetivamente...
Vinte escudos (!) era quanto um assalariado agrícola, jornaleiro, não qualificado, podia ganhar no norte do país, durante os anos 50/60... Claro que os salários na agricultura vão começar a subir com a rarefação da mão de obra rural, devido ao êxodo do interior (industrialização e urbanização, emigração, guerra colonial)...
Enfim, e para acabar por hoje, lembro-me que em 1972, cá na metrópole, um carrinho Fiat 127 custava 62 contos [= 14.256,05 €], o que era muita massa...(1972 foi antes da grande crise de 1973, em que os salários levaram uma machadada de 25%!)...
Mais massa ainda eram 200 contos, que dava para comprar um apartamento no final da década de 1960 (, arredondando, cerca e 60 mil euros, hoje): alguém me contou que foi quanto pagou uma avozinha, a um oficial general médico, para livrar o querido netinho da obrigação de ir defender a Pátria, "lá longe onde o sol castiga(va) mais"... Éramos todos iguais, todos os portugueses (menos as portuguesas...), mas havia uns mais iguais do que outros!... (Sempre foi assim, e sempre será assim, dizem os mais cínicos ou os mais realistas...).
Mas podemos fazer um apelo à memória dos nossos leitores; quanto custava, na época da guerra colonial, cá na metrópole, uma bica ("cimbalino" no Porto), o jornal "A Bola", um maço de cigarros SG, um bilhete de cinema, uma imperial ou um fino, um uísque marado numa "boite" da Reboleira, o aluguer de um quarto em Lisboa ou Coimbra, um quilo de bacalhau e por aí fora ?... E quanto é que a malta ganhava, em média, nas fábricas e nos escritórios, antes de ir conhecer os "resorts" turísticos, as rias, os rios, as matas e as bolanhas da Guiné ?... LG
(i) um quilo de camarões tigres ou lagostins, do rio Geba Estreito, comidos na tasca do Zé Maria, em Bambadinca custava 50 pesos ou escudos da Guiné, o quilo, cozidinhos)= 14,79 € (em 1969);
(ii) uma arrafa de whisky novo (J. Walker Juanito Camiñante de 5 anos, rótulo vermelho, JB): 48,50 pesos = 14,35 € (em 1969);
(iii) uísques mais caros: 12 anos, J. Walker rótulo preto, Dimple, Antiquary: 98,50 [=29,14 €]: 15 anos, Monkhs, Old Parr: 103,50 [=30,52 €] (estou a confiar na memória do Humberto Reis, acho que eram mais caros, os uísques velhos] (, em 1969);
(iv) um bife com batatas fritas e ovo a cavalo na Transmontana, em Bafatá, custava 25 pesos, vinho ou cerveja aparte = 7,40 € (em 1969);
(v) uma vaca raquítica, em Sonaco, comprava-se (quando fui gerente de messe, em 1970) 950 pesos = 269,36 €;
(vi) nas tabancas, fulas, por onde passávamos e onde ficávamos uma semana ou mais, de cada vez, em reforço do sistema de autodefesa, era costume comprar, mesmo a custo, galinhas e frangos, a sete pesos e meio por bico [= 2,22 €]:
(vii) um parto de ostras em Bissau, numa esplanada á beira rio, em meados de 1970, custava 20 pesos [= 5,67 €];
(viii) um relógio da prestigiada marca suiça Longines, na loja libanesa Taufik Saad, Lda, em Bissau, custou ao Valdenar Queiroz, em 16/12/1970, 2950 pesos [=836,45 €].
(ix) coisas miúdas do dia a dia: um maço de SG Filtro 2,5 pesos [=0,74 €]; um uísque, no bar da messe, eram 2,50 pesos sem água de sifão [= 0,74 €] e com água eram 3,00 pesos [= 0,89]; era mais barato que a cervejola...
(x) quanto à lerpa, ou ramim, uma noite boa, ou má, poderia dar (valor médio) 200 a 300 pesos para a lerpa e 50 a 100 para o ramim (, garantia um jogador como o Humberto Reis);
(xi) uma queca, dependia: 50, 100, 150 pesos... "Quando em Bissau, no Pilão, frequentei várias vezes a Fátima, que não era caboverdiana mas sim fula, e dava-lhe 50 pesos de cada vez" (, confessa o nosso camarada A.Marques Lopes, que é de 1967/68)...
Quanto ao que o exército nos pagava... "Puxando um pouco pela memória, eu como 1º cabo radiotelegrafista ganhava 1.500$00, sendo 1.200$00 por ser 1º cabo e mais 300$00, de prémio de especialidade." [, tudo somado, 1500§00 em 1973 =305,10 €].
Segundo a mesma fonte, o Sousa de Castro, "a dita queca, se a memória não me trai, creio que era assim: para os soldados cinquenta pesos; para os cabos sessenta pesos; a partir daqui não me lembro quanto pagavam os mais graduados... Quanto às cabo-verdianas, a coisa era de facto mais cara, em final de comissão paguei cento e cinquenta ou duzentos pesos, isto em Fevereiro de 1974" [mais ou menos 24 ou 32 euros]...
"Por lavar a roupa, como cabo pagava 60 pesos [, em 1973]", informa o Sousa de Castro.[=12,20 ]
Em 1969, recordo-me que os soldados da CCAÇ 12 (que eram praças de 2ª classe, oriundos do recrutamento local), recebiam de pré 600 pesos/mês [=177, 51 €], além de mais uma diária de 24$50 [=7,25€] por serem desarranchados. 600 pesos deviam dar para comprar duas sacas de arroz de 100 kg cada...
3. E um capitão miliciano, comandante de companhia, quanto é que recebia ao fim do mês? (Sabemos que um parte dos nossos vencimentos era depositado na metrópole)...
Temos as memórias (e os papéis) do Jorge Picado:
(...) "Apontamento que resistiu ao tempo, referente ao mês de junho [de 1970]: Total abonos:13900$00; total descontos; 8967$00; a receber 4932$00. Nos abonos estão incluidos 4000$00, relativos aos abonos de família (já tinha os 4 filhos), de março, abril, maio e junho. [de 1970]". (...)
(...) "Vencimentos a receber em agosto em virtude do aumento: março-julho [1970]: 10500$00;
Fev 1326$00; total 11826$00; descontos Cx Geral Aposentações; 710$00; Imposto de selo -12$00; a receber (líquido): 11104$00 [=3148,45€]...
4. E a viagem de férias à metrópole, na nossa querida TAP ?
O António Tavares pagou, em meados de 1971, à Agência Correia, em Bissau, um total de 6 430$80 [ = 1643,21 €] pela viagem "Bissau- Lisboa.- Porto -Lisboa -Bissau "... Diz que pagou em três prestações "a importância total, que não ganhava, como explico: 4.430$80 em 03-08-71; 500$00 em 22-09-71 e finalmente 1.500$00 em 21-10-1971"... Na cópia do bilhete (que ele juntou, no poste P15216] consta uma taxa de 110$80.... O pagamento foi em pesos. "O Escudo era trocado com uma agiotagem de 10%."...
É difícil fazer comparações com os preços dos bens e serviços que se pagavam nessa época, na metrópole, para não falar dos salários médios nos diferentes ramos de atividade... No blogue A Nossa Quinta de Candoz tenho um pequeno apontamento sobre a estrutura e a evolução dos salários, num ramo muito específicio, a "construção civil de ramadas", nas décadas de 1950 e 1960, no Douro Litoral...
Numa pequena empresa que podia empregar em média meia dúzia de homens, pagos ao dia, o patrão, o "ramadeiro", podia ganhar no máximo 50 escudos (=21,41 €), o oficial mais qualificado 30 escudos (=12,84 €) e os serventes 20 escudos (=8,56 €). Fizemos esta conversão para os valores nominais de 1960.. Uma década depois (em 1970), com a inflação, estes valores (a preços constantes de 2014) seriam 14,18 €, 8,51 € e 5,67 €, respetivamente...
Vinte escudos (!) era quanto um assalariado agrícola, jornaleiro, não qualificado, podia ganhar no norte do país, durante os anos 50/60... Claro que os salários na agricultura vão começar a subir com a rarefação da mão de obra rural, devido ao êxodo do interior (industrialização e urbanização, emigração, guerra colonial)...
Enfim, e para acabar por hoje, lembro-me que em 1972, cá na metrópole, um carrinho Fiat 127 custava 62 contos [= 14.256,05 €], o que era muita massa...(1972 foi antes da grande crise de 1973, em que os salários levaram uma machadada de 25%!)...
Mais massa ainda eram 200 contos, que dava para comprar um apartamento no final da década de 1960 (, arredondando, cerca e 60 mil euros, hoje): alguém me contou que foi quanto pagou uma avozinha, a um oficial general médico, para livrar o querido netinho da obrigação de ir defender a Pátria, "lá longe onde o sol castiga(va) mais"... Éramos todos iguais, todos os portugueses (menos as portuguesas...), mas havia uns mais iguais do que outros!... (Sempre foi assim, e sempre será assim, dizem os mais cínicos ou os mais realistas...).
Mas podemos fazer um apelo à memória dos nossos leitores; quanto custava, na época da guerra colonial, cá na metrópole, uma bica ("cimbalino" no Porto), o jornal "A Bola", um maço de cigarros SG, um bilhete de cinema, uma imperial ou um fino, um uísque marado numa "boite" da Reboleira, o aluguer de um quarto em Lisboa ou Coimbra, um quilo de bacalhau e por aí fora ?... E quanto é que a malta ganhava, em média, nas fábricas e nos escritórios, antes de ir conhecer os "resorts" turísticos, as rias, os rios, as matas e as bolanhas da Guiné ?... LG
Fonte: Cortesia de Pordata - Base Dados Portugal Contemporâneo... O conversor é interativo... Brinquem um bocadinho com ele,,, e façam as vossas comparações entre o hoje e o antigamente...
___________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 27 de outubro de 2015 > Guiné 63774 - P15296: (Ex)citações (296): "A ternura dos 20 anos", vídeo de Armando Ferreira, grã-tabanqueiro nº 704: seleção de comentários (António Murta, Cherno Baldé, José Sousa Pinto, Mário Vasconcelos e Tony Levezinho)
(**) Vd. também postes de:
11 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8764: O que se comprava em Bissau, com o patacão da guerra ? Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa... ou eram "proibitivos" (1) (Helder Sousa / Augusto Silva Santos)
(**) Vd. também postes de:
11 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8764: O que se comprava em Bissau, com o patacão da guerra ? Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa... ou eram "proibitivos" (1) (Helder Sousa / Augusto Silva Santos)
11 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8766: O que se comprava em Bissau, com o patacão da guerra ? Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa... ou eram "proibitivos" (2) (Magalhães Ribeiro)
12 de setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8767: O que se comprava em Bissau com o patacão da guerra? Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa... ou eram "proibitivos" (3) (Augusto Silva Santos / Hélder Sousa / Juvenal Amado / Luís Borrega / Luís Dias / Rui Santos)
15 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8780: O que se comprava em Bissau com o patacão da guerra ? Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa ou eram "proibitivos" (4) (Joaquim Peixoto / Beja Santos)
13 comentários:
No meu tempo (1963/1965) comprava 12 ovos por um peso, um cabrito por 10 pesos, 11 frangos por um quilo de tabaco em folha (2 pesos)mais tarde, lá para o termo da comissão um cabrito um cabrito ultrapassava os 150 pesos, uma vaca de 700 pesos passou a mais de 1.000, e ... uma dúzia de ovos ... 12 pesos, era a inflação galopante, pois pudera .... 100 pesos eram manga de patacão.
Rui Santos
Obrigado, Rui, camarada do "caqui amarelo", veteraníssimo (temos tão poucos camaradas de 1963!), tens razão: cem pesos, era manga de patação!... O "monsttro" da inflação fez muitos estragos...A inflação está também associada à economia de guerra.. Abraço grande. Luis
100 PESOS = 1 GARRAFA OLD PARR 1972-74
GANHEI ENTRE 5400 ESC A 6240 (JÁ EM 1974) POR MÊS
5400$00 em 1973 seriam 1.098,36 €;
6240$00 em 1974 representariam hope 1.005,81 €;
100 pesos em 1973 eram equivalentes a 20,34 €...
Hoje uma Old Parr Whisky 12 Anos garrafa 1 L, no Corte Inglês (passe a publicidade) custa-te 46,5 €... Eu dispenso...
Um abraço para ti. LG
Para uma família africana cem pessos era muito dinheiro... Para a maior parte dos nossos militares, era muito dinheiro... Uma lavadeira em Bambadinca devia receber, no meu tempo (1969/71) 100 pesos por mês...
Com a inflação provocada pela guerra (era tudo importado!), houve uma progressiva degradação dos preços...e dos rendimentos. O problema agrava-se a partir de 1973, com a chamada crise petrolífera...
Recorde-se que em 1973 os países árabes organizados na OPEP aumentararam o preço do petróleo em mais de 400% como forma de protesto pelo apoio norte-americano a Israel durante a Guerra do Yom Kippur, .«... A nossa economia foi muito afetada...E a inflação disparou...
Quando estive cerca de duas semanas em Sansancuta, no sul do regulado de Badora, em reforço do sistema de autodefesa,com uma secção da CCAÇ 12, entre 24 de fevereiro e 12 de março de 1970, escrevi no meu diário que os camponeses fulas eram muitas vexzes obrigados a vender o seu arroz de sequeiro, ao comerciante (português ou libanês) a 3 pesos o quilo... Depois um saco de 50 quilos custavam em Bambadinca, na mesma loja, 300 pesos...É ppr isso que digo que os 600 pesos do pré que ganhavam os nossos soldados de "2ª classe" (fora os 735 pesos do desarrancho= 24$50 * 30 dias) davam para comprar 1 saco de 100 quilos... Ora o arroz era a base da alimentação dos guineenses...
O ordenado de um 1ºcabo Radiostelegrafistas é correto 1.500 escudos
Cuando estive em Bissau de Agosto de 1971 a Agosto de 1972 nos meus tempos libres depões de cumprir com os turnos de servicio de Radiotelegrafista ia trabalhar para um pequeno estaleiro aonde construiamos pequenos barcos de pesca e ganhava a hora 20 pesos era então no ano 1971 muito dinheiro como ja cumentado era um dia de um trabalhador na agricultura.
Em uma hora ganhava para comer uma travessa de ostras faltava a cerveja
Um abraço
Recorde-ase que o salário mínimo, em Portugal, foi criado em maio de 1974, e não se deveu tanto a um "excesso revolicionário" do 25 de abril como foi sobretudo uma forma de compensar os devastadores efeitos resultantes da inflação da segunda metade dos anos 60... Os trabalhadores, as empresas, os consumidores, os combatentes na guerra de África, a população portuguesa em geral... passaram a conhecer, a ouvir falar e sobretudo a sentir o fenómeno da inflação, que foi devido ao aumento dos preços internacionais (crise do petróleo em 1973, por exemplo) e à entrada das remessas dos emigrantes (França, Alemnaha, etc.).
Em 1973, o custo de vida subiu 25 por cento!... O salário mínimo foi fixado em 3.300$00 (531,02 € hpje).
Olá Camaradas
Em 1968 meio de saco de laranjas, em Cacine, apanhadas na estrada par Boniá custava 50 pesos.
Cinco "vacas" importadas da Rep. Guiné através do Porto Cantede custavam 1950$00.
Meio bidon de ostras 50 pesos.
Poisson de primeira (como dizia o pescador senegalês do Rio e eram todos os peixes menos tainha) 6 pesos o quilo. O de segunda (só tainha) era a 4 pesos.
A vianda era vendida nas tabancas a 5 pesos o quilo, no tempo do Gen. Spínola. Quando o preço subiu para cinco pesos e meio ia vindo a casa a baixo...
Mais o mais importante é que o dinheiro não era igual em todo o "Império" e era suposto que fosse. Porquê? O que é isso de balança comercial com as colónias/TO daquelas PU?Então o país não era o mesmo? Não me explicaram esta questão e eu aceitei-a assumindo-a como vinda de razões comerciais (económicas e financeiras) ou outras como a certeza de que nenhuma delas daria um salto tipo Brasil...
Esta será talvez uma das razões a adicionar a tantas outras para a revolta das populações locais, não tanto na Guiné, mas em Angola e Moçambique.
Um Ab.
António J. P. Costa
... E uma racha de cibe, para o reordenamento de Nhabijões (o maior, senão o maior da Guiné, no meu tempo, 1969/71) custava 7 pesos e meio (!)...
Para alguns (militares e civis) os reordenamentos na Guiné foram o euromilhões... Houve sempre (e haverá sempre) gente (pouca) a ganhar com a guerra e a miséria de milhões...
Eu acho que a maior parte de nós, os militares, nada sabia, como Jesus Cristo, de economia e finanças, e estava-se nas tintas para o preço da "bianda" que em Sansancuta era vendida pelos pobres camponeses fulas a 3 pesos o quilo e depois em Bambadinca ou Bafatá era revendido pelo dobro do preço, pelos Rendeiros, pelos Zés Marias, pelos Gouveia, pelos libaneses...
Que necessidade tinham os pobres fulas forros de Sansancuta em vender o escasso e valioso arroz de sequeiro que cultivavam fora do arame farpado ? Para mais acossados pela guerra, no sul de Badora, quando o PAIGC já tinha incendiado o regulado do Corubal, na sequência da retirada de Madina do Boé... Eu e o Torcato Mendonça e alguns de nós desse tempo (1969) sabemos do que falamos...
A simples necessidade de fazer algum dinheiro, comprar umas bugigangas, umas chanatas... porque "o chefe de posto de Bambadinca mandava cipaio dar porrada se pessoal anda descalço"... Spínola procurou pôr termo a estes "excessos" da economia e administração coloniais...Tardiamente... Ele também nºão nada de economia e financças, como Jesus Cristo... Nunca lhe ocorreu, por exemplo, "guineizar" o BNU que, esse, sim. engordava à conta das "províncias ultramarinas"...e dos pobres saloios da metrópole.
Manga de pataacão eram 100 pesos, camarada e amigo To Zé!... Num quarto de hora áramos capazes de despejar uma garrafa de Old Parr que vinha da Escócia, com amor, para as "Portuguese Armed Forces"... Tínhamos velhos aliados solidários... Confesso que de uísque escoês nunca tive sede na Guiné... Do bom, muito melhor do que o nosso, de Sacavém!
Antes de ter começado a guerra do Ultramar (Para Angola em força)Março de 1961, todo o dinheiro em geral podia ser transferido para a Metrópole, oficialmente.
Cada colónia tinha o seu dinheiro, e os Bancos na Metrópole, aceitavam o dinheiro mais ou menos 1000$ por 900% (10%).
Após aquela data, Salazar decretou que o dinheiro de Angola não tinha qualquer valor fora de Angola.
(Num aparte, se não fosse essa ordem, quem tivesse dinheiro, só comprava bilhete de vinda, era a ponte marítima, que passados 14 anos foi a ponte aérea).
Corria um boato em Luanda perto de 1970, que o governo da Checoslováquia apareceu no Banco de Portugal com grandes quantidades de dinheiro ultramarino para depositar, numa jogada do MPLA, PAIGC e FRELIMO, e seus aliados.
(Lembremo-nos que Portugal tinha relações comerciais com aquele País, carros skoda, camiões Tatra e talvez outras coisas).
Como o dinheiro era do Banco Ultramarino, tinha o valor que o Banco de Portugal lhe quisesse atribuir que até podia ser 0$00.
O governo teria, segundo o boato, descalçado a bota facilmente.
Salazar e depois Marcelo, (Guiné era uma caso à parte) apenas deixavam transferir dinheiro com comprovativos de doenças na Metrópole, mesadas dos filhos estudantes, um tanto por mês se viesse de férias etc., mas tudo justificado.
Isto era em Angola e Moçambique, daí ter sido criado um negócio para muitos sargentos e oficiais fazerem transferências da Metrópole para Angola, para cambiar a 25% e mais, e no fim da comissão tinham direito a trocar ela por ela todos os angolares que lhe sobrassem no bolso.
Essa transferência era muitas vezes uma carta com ordem para entregar cá a familiares o correspondente à percentagem de angolares recebidos lá.
Isto foi como que uma indústria muito razoável.
Foi uma característica muito interessante da nossa Guerra do Ultramar.
Claro que só devemos contar aquilo que vimos, não aquilo que nos pareceu ver.
Mesmo os boatos devemos mencionar como tal.
Cumprimentos
Cinco mil pesos, isso sim, é manga de patacão!... Foi quanto custou uma máquina fotográfica, em 1973, em Bissau, ao Agostinho Gaspar...Uma "Petri"... 1017,0 €, a preços constantes de hoje!...
18 DE DEZEMBRO DE 2014
Guiné 63/74 - P14047: A minha máquina fotográfica (15): Comprei-a em 73, em Bissau por 5.000 pesos, que utilizei durante muitos anos na vida civil e fez algumas viagens ao estrangeiro na década de 80 (Agostinho Gaspar)
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2014/12/guine-6374-p14047-minha-maquina.html
Antº Rosinha e restante pessoal, o banco emissor de Angola não era o Banco Nacional Ultramarino, mas sim o Banco de Angola. Veja-se, por exemplo, esta nota: https://www.cgbfr.com/1000-escudos-angola-1970-p-098-ttb,b75_0667,a.html.
À data do fim da minha comissão em Angola (1974), um escudo angolano (chamado angolar até ao início da guerra, mais ou menos) valia cerca de 80 centavos metropolitanos nas ruas de Luanda. Nos estabelecimentos bancários locais ainda valia menos (não sei quanto). E confirmo que nenhum banco na Metrópole aceitava moeda angolana. O escudo angolano valia zero fora de Angola. Zero. Além disso, as transferências de dinheiro de Angola para a Metrópole por parte dos civis eram limitadíssimas em valor e por vezes demoravam imenso tempo.
Só razões políticas, no sentido de manter Angola "amarrada" à Metrópole a qualquer preço, podem explicar esta bizarra situação. Enquanto a economia da Metrópole estagnava e Marcelo Caetano dizia na televisão que vivíamos em tempo de vacas magras, em Angola a economia era pujante e crescia a um ritmo nunca visto. Angola produzia diamantes, petróleo, ferro, algodão, café, amendoim, caju, etc. etc. etc. Do ponto de vista alimentar, Angola era praticamente autossuficiente, produzindo grandes quantidades de carne, peixe, ovos, leite, açúcar, milho, mandioca, feijão, legumes, fruta tropical e também europeia, e por aí adiante, numa abundância de fazer inveja. Angola tinha todas as condições para ser um país independente e próspero, e isso o governo de Lisboa anterior ao 25 de Abril não podia admitir.
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