quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8780: O que se comprava em Bissau com o patacão da guerra ? Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa ou eram "proibitivos" (4) (Joaquim Peixoto / Beja Santos)


 "Certificado de bagagem" (sic), passado em 14 de Setembro de 1973 pelo administrador do concelho de Bissau, José Júlio Costa de Araújo, licenciado em CSPU [, Ciências Sociais e Política Ultramarina, pelo ISCSPU - Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina,]  a pedido do Fur Mil Joaquim Carlos da Rocha Peixoto, natural de Penafiel e residente em Bissau ... Possivelmente o documento foi pedido pelo nosso camarada, de regresso à Metrópole, para evitar que o gravador Akay 1720 fosse "taxado" na Alfândega em Lisboa...

Foto: © Joaquim Peixoto (2011). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Joaquim Peixoto [, foto à direita, no T/T Niassa, em 1971,], com data  de 12 do corrente:

Assunto: O que se comprava em Bissau

Amigo Luís:

Ao ler os artigos que se compravam em Bissau, encontrei este documento em que provava que tinha adquirido um Gravador AKAY 1720, e que fazia parte do recheio da minha casa.

Não sei qual o motivo que me levou a requerer este documento. Servirá sempre como garantia.

Um abraço
Joaquim Peixoto


2. Comentário de Beja Santos  [, foto à esquerda, em Bambadinca, finais de 1969 ou princípios de 1970,] ao poste P8767 (*)

Meus caros confrades, convém também distinguir entre o proibitivo e proibido. Proibitivos eram igualmente os Christofle, os vidros de Murano, as louças Rosenthal, que se podiam adquirir na Taufik Saad.

Pinto da França foi embaixador na Guiné-Bissau, em 1977, e contou no seu livro "Tempo de Inocência", de que já aqui se fez recensão, que as lojas do Bissau Velho eram autênticas cavernas de Ali Babá, as posições pautais, durante a guerra, permitiram que estes produtos aparecessem mais facilmente nas "províncias ultramarinas" que na Europa.

Proibidos eram os livros que podíamos comprar no café Bento, pois que a censura não tinha preocupações com a Guiné: desde as actas do Congresso Democrático de Aveiro até aos livros de Roger Garaudy, tudo ali se podia comprar, mesmo ao lado da revista Flama.

E canção de protesto e intervenção? Havia de tudo, desde o Zeca Afonso até ao Adriano Correia de Oliveira. Mesmo em Bafatá, como escrevi nos meus livros, se comprava o último grito da música clássica: dois discos de vinilo com a ópera Carmen, última gravação operática da Callas, custaram-me 400 escudos.

Enfim, contradições e errâncias que até nos deram muito jeito. Um abraço do Mário
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Nota do editor

(*) Vd. poste de 12 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8767: O que se comprava em Bissau com o patacão da guerra? Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa... ou eram "proibitivos" (3) (Augusto Silva Santos / Hélder Sousa / Juvenal Amado / Luís Borrega / Luís Dias / Rui Santos)

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