segunda-feira, 9 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16070: (In)citações (90): Colonização versus descolonização - fenómeno de aculturações inter-raciais (José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71) com data de 1 de Maio de 2016:

Colonização versus descolonização - fenómeno de aculturações inter-raciais

Sobre o comentário ao post 16028

Olá Luís, bom dia!
Lá vieste tu desassossegar-me, coisa que agradeço.

De facto, as minhas leituras predominantes incidem sobre a África desde o período da colonização, que teve inicio por alturas do sec. XIX com as grandes viagens de exploração e de interesses científicos e antropológicos, com destaque para a geografia, a agricultura e a mineralogia. A civilização, como é sabido, tem evoluído por impulsos de domínio de umas civilizações sobre outras, e a Europa não escapou a esse modelo mutacional, de que Portugal é exemplo. Tenho reflectido e desenvolvido algumas ideias com conclusões empíricas sobre a matéria.

Em África houve colonialismo, como antes tinha havido na Europa, com grandes áreas e populações que se alternavam em regimes colonizadores sobre outros, e lhes conferiam maior riqueza de conhecimentos também por via do cruzamento de raças, e inter-acção humanística, designadamente a paternidade.

Referes as vítimas dos "ismos", e eu subscrevo.Os "ismos" no meu entender são a constatação de formas de domínio, de que podem ou não resultar impulsos socialmente evolutivos ou de regressão bárbara. Normalmente não registam estagnação. Assim, porque é que um Deus de uma religião há-de ser melhor que outro de outra? Porque é que as religiões vão alterando as suas catequeses à evolução dos interesses sociais em diferentes grupos da humanidade? Por que é que o capitalismo há-de ser melhor que o fascismo ou o comunismo, se os modelos abrigarem exploração de classes com os seus cortejos de dificuldades, sempre subordinados a cliques autocráticas e plutocráticas? Por isso estou de acordo com as tuas interrogações.

O processo colonizador não pode ser visto como o modelo da escravatura, porque hoje temos grandes nações que cresceram e desenvolveram-se pela integração de escravos, e hoje são excelentes exemplos de miscigenação e progresso. O processo colonizador poderá ser, então, um processo de desenvolvimento e de enriquecimento pela valorização das sociedades, que passará por fases até à equiparação de deveres e direitos entre os concidadãos. Assim, colonialismo não é pejorativo.

A descolonização das colónias africanas resultou de uma enormidade de crimes, conforme razões já invocadas noutras ocasiões, crimes que aos olhos dos militares a quem se exige consciência permanente: desde logo, o crime de traição, por razões óbvias e amplamente referidas; depois, o crime de lesa-pátria, uma Pátria que não podia alterar as estruturas num clique, como se constata e confirma com múltiplos exemplo; e finalmente, o crime contra a humanidade, tendo em conta os muitos milhares de assassinatos que se verificaram, e qualquer líder militar consciente (para que servem os altos estudos militares?) tem obrigação de levar em conta no desencadear de uma acção, com perspectivas mais do que presumíveis, pois quebrado o cimento da nacionalidade, revitalizar-se-ia a questão tribal, por um lado, e a questão do domínio, por outro, tanto mais que as potências da guerra-fria não deixariam de aproveitar a lacuna, e potenciariam os seus campos de experiências bélicas sem saírem chamuscadas, enquanto alargariam as áreas de influência. Assim, os responsáveis pela vergonhosa descolonização, que abandonaram os povos e os territórios por razões de traição ou saudades das famílias na metrópole, devem ser julgados, à semelhança do que aconteceu com os responsáveis dos crimes étnicos da Sérvia. É queda brutalidade há responsáveis por acção e omissão.

Posso estar a exagerar nos conceitos e avaliações, mas há que denunciar a trapaça do MFA, que só tinha intenção de servir o interesse dos oficiais que o integravam, incluindo a ambição de Spínola, qual padrinho manhoso para atingir o poder, e em conjunto transformaram Portugal num peão do xadrez político das potências, onde ainda permanece, agora sob o pomposo regime da "democracia" com votos equiparados a cheques em branco.

Na medida em que temos cá um historiador activo, e muitos com dedicado interesse pela História, pode acontecer que alguém traga ciência (as fontes e a interpretação histórica), onde eu apresento o que podem classificar de palpites, mas façam-no com abordagens sistematizadas e livres de preconceitos, mostrando conhecer as diferenças culturais da cultura prosélita.

Não devo acabar sem prestar homenagem aos que deram de si à Pátria, e de expressar admiração, por todos os que foram violentados e ficaram sem familiares, amigos e bens, mas que mantiveram a serenidade sem ódio na reconstituição das suas vidas.

Abraços fraternos
JD
____________

Nota do editor

Último poste da série de 28 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P16028: (In)citações (89): Reflexão sobre a oportunidade (a falta dela) decorrente do MFA (José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

4 comentários:

Antº Rosinha disse...

JD, quase concordo com tudo o que escreves neste post.

Mas uma coisa que temos que deixar para a história é que não devemos isolar a descolonização africana "à portuguesa" do desastre das outras descolonizações que a Europa praticou.

O que o MFA fez, não foi pior para os Régulos e Sobas africanos. do que o que os franceses e Belgas e Ingleses "democraticamente" fizeram com a Nigéria, República Centro Africana, Congos e Ruanda, Uganda etc. com os massacres indescritíveis que se seguiram e continuam nesses países.

JD, o MFA fomos nós, os colonialistas/salazaristas fomos nós, e todos nós lutámos contra tudo e contra todos, até contra o próprio cinismo da sagrada ONU.

Só que a Europa pensa que com uns muros e um arame farpado em Ceuta e Mellila e com o mediterrâneo profundo os africanos esquecem o abandono, mas a Europa está enganada.

Claro que o discurso anti-colonialista "politicamente correcto" que se ouve constantemente, pela Europa "moderna e democrática" é necessário e indispensável para a desculpabilização das barbaridades que eram previsíveis.

Sabes JD que outro dia revi uma imagem numa revista semanal que à mais de 42 anos tinha visto no cinema em Luanda, que é o penúltimo Governador Geral de Moçambique ser levado em ombros por uma multidão de Moçambicanos.

Era Baltazar Rebelo de Sousa, que tal como em Angola Santos e Castro em 1974, era uma figura respeitadíssima por todos os régulos e sobas de todas as etnias.

Mas há coisas a que se chamava a "paz podre", paciência!

Mas tal como fazes, devemos contar o que presenciámos e continuamos a presenciar, porque está tudo ligado.

Cumprimentos





Anónimo disse...

O ser humano é intrinsecamente mau..às vezes tem um laivos de compaixão.
O desenvolvimento humano deve-se à ambição de "ter"..só que isso implica muitas vezes a subjugação dos mais fracos pelos mais fortes...é o caso do colonialismo.
Quanto à descolonização "exemplar"..também tenho a minha cota de responsabilidade..fui dos entregou..é que eu só queria vir embora,mas nada justifica o que se passou a seguir.
Fomos maus..mas os que receberam foram e são uns..."boas pessoas"..falo obviamente dos detiveram e detêm o "poder político".

C.Martins

JD disse...

Camaradas,
A minha vista está bastante degradada e faço sobreposição de caracteres a ler e a escrever. Assim, peço desculpa pelos erros do texto que até parece truncado por alguma manobra mal realizada. Peço desculpa por isso.
JD

Carlos Vinhal disse...

JD, revendo a tua mensagem, alterei o texto publicado, julgando eu estar agora mais completo.
Abraço
Carlos Vinhal
Co-editor