Data: 5 de outubro de 2016 às 23:48
Assunto: VELHOS SÃO OS TRAPOS
Caras Amigas, Amigos e Camaradas
Ignoro se sabem que regressei do Centro de Apoio Social de Runa – IASFA, Ministério da Defesa Nacional.
Houve informação para umas e uns e falhou para outras e outros. Inclusive fui chamado para entrar no Centro de Apoio Social do Porto. Visitei.
Escrever e passar o tempo… Mas como se o meu relógio biológico deixou de actuar. Perdi-me num vazio. Fico deveras danado por verificar que o ser humano não se prepara para atravessar o tal "corredor – o da morte", que vi bem ao vivo em Runa. Nem se fala lá em Lar. Talvez com
razão. Parece não fazer sentido discutir e falar da morte.
Ingmar Bergman, grande realizador sueco que ficará com o seu nome vincado na História, não só do Cinema como do Mundo, num dos seus filmes coloca na boca de uma sua personagem uma explicação para esse final de vida – antes e sabendo que vai morrer. Talvez depois de ver
bem nos seus olhos:
– A Morte é… – E cai em terra.
Pois ela é o fim. Antes dela? Velhice. Ser velho? Direi e convicto:
– Velhos são os trapos. Não sou velho!
– Mau agouro. Nem sequer vou pensar nisso! – Dizem por aí.
Pois esse período que a antecede. Nem sequer temos pesos e medidas – gosto muito desta afirmação: "Pesos e medidas" – nem sei o autor.
Queda!
Há, nos dias de hoje, velhice? É uma doença! Só se for na província, lá para o interior! – Palavras ditas…
Mas é o ciclo natural da vida. Principalmente as mulheres disfarçam ao retirarem de um lado… Pondo noutro.
Bisturis retira anos. Matematicamente retiram uma, quem sabe… Duas décadas. Além de operações, tatuagens. Vestidos berrantes e largos, para esconderem a barriga e seios descaídos.
Julgo ter sido Cícero – se não foi ele fui eu ou alguém:
– Somente os idiotas se lamentam em envelhecer…
Destaco, para terminar por hoje algo escrito pelo Poeta do Mundo, é a minha enciclopédia:
– "O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela".
Um abraço
Mário Vitorino Gaspar
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Nota do editor:
Último poste da série > 4 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16446: Banco do Afecto contra a Solidão (17): Regressei do Lar de Runa... ap
Último poste da série > 4 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16446: Banco do Afecto contra a Solidão (17): Regressei do Lar de Runa... ap
3 comentários:
Um forte e grande abraço, meu caro camarada Mário Gaspar.
Manuel Joaquim
Caríssimo camarada Mário Gaspar.
Folgo em ler-te de novo. Só por isso, recebe um abração com amizade.
António Murta.
"Não há cousa tão junta a outra como a morte à vida" (provérbio popular, Séc. XVI).
Mário, é corajoso da tua parte partilhares connosco os teus sentimentos e emoções nesta fase difícil da tua vida... Aos 20 anos, no teatro de operações da Guiné, não pensávamos na morte, porque não tínhamos tempo... O imperatibvo era sobreviver... Hoje temos mais tempo e vagar para pensar nela.... Afinal, a morte faz parte do "continuum" da vida... É um facto que são os dois atos mais solitários da vida, o nascer e o morrer... Aí estamos intrinsecamente e inexoravelmente sozinhos... Mais do que da vida, os artistas e os poetas falam da morte...Criámos a ilusão de que podíamso ser deuses, logo imortais... Hoje, que vivemos mais anos, e a quarta idade começa aos 85, temos que recuoperar as preocupações do passado, que era "a arte de bem morrer"...
Resumindo, acho que nos faz bem falar destas coisas, que são um tabu na nossa cultura: temos que falar em voz alta (e partilhar uns com os outros...) os problemas (complexos) do envelhecimento, do abandono, da solidão e da morte...Afinal, "só uma porta a vida tem, enquanto a morte tem cem"...
Que os bons irãs da Tabanjca Grande te protejam, amigo e camarada!
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