Foto nº 5 > Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > Junho de 1969 > Na minha função de Oficial de Dia. Normalmente fazia as minhas rondas na minha própria motorizada, quando não tinha Jeep disponível, uma vez que a área a percorrer era grande. Era uma Honda Azul, de 50 cc, que depois, quando regressei, deixei por lá abandonada. Pode observar-se a existência de valas abertas fundas, para escoamento das chuvadas diluvianas, quando apareciam.
Foto nº 1 >Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > Junho de 1969 > Na porta de armas do Quartel de Brá, vista de dentro, com a guarita da sentinela e a nossa bandeira nacional.
Foto nº 2 > Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > Junho de 1969 > O aquartelamento visto de fora, da estrada. Tinha uma extensão à volta de 1000 metros, de frente para a estrada, e uma quantidade indeterminada de instalações militares. [Em finais dos anos 40, havia aqui um campo de aviação.]
F04 > Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > Junho de 1969 > Instalações da Casa do Oficial de Dia,
Foto nº 6 > Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > Junho de 1969 > Um camião com tropa a regressar de Bissau, após saída nocturna, em dia de chuva. Existia transporte de meia em meia hora, de Brá para Bissau e regresso, até ao final da noite.
Foto nº 3 > Guiné > Região de Bissau > Bissau > Junho de 1969 > Num barco patrulha, da nossa Marinha de Guerra, na foz do Rio Geba, nas instalações da Marinha. [Ao fundo, o Ilhéu do Rei.]
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Foto nº 7 > Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > 6 de Março de 1968 > O interior do CA – Conselho Administrativo.
Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
CTIG - Guiné 1967/69 - Álbum de Temas: T036 – O QUARTEL DO DEPÓSITO DE ADIDOS EM BRÁ
I - Anotações e Introdução ao tema:
Quase todos os militares que passaram pelo TO do CTIG, conhece o Grande Quartel do Depósito de Adidos, localizado em Brá, na estrada alcatroada que liga Bissau ao aeroporto de Bissalanca, sensivelmente a meio caminho, uns 5-6 quilómetros de cada lado.
Infelizmente o autor não conhece os dados, mas seriam demasiados, muitos militares nunca tiveram o prazer de conhecer e visitar a capital daquela Província Ultramarina, que não sendo uma grande coisa, sempre era muito melhor do que em qualquer outro local do interior. Podiam ter tido uma ideia melhor do que era o CTIG, e não chegaram a conhecer, sempre havia bastantes esplanadas, cafés, restaurantes, bares, cinema, e o ícone de todas as coisas, o café do Bento, a chamada 5ª Rep, mesmo ali no centro da cidade, ao lado da Catedral de Bissau, do QG da Amura, da Avenida e Praça do Império, e o Palácio do Governo.
Além é claro da vida mundana e obscura, pois era tudo escuro, a maioria das pessoas, e depois quando não havia energia ficava tudo a preto, apenas com a claridade do céu, e era uma coisa bonita de se ver, era uma situação recorrente, todas as noites os geradores da cidade eram desligados umas horas, por falta de combustível.
Não falando, não podia esquecer, as visitas ao famoso Pilão, o imenso ‘Bairro de Lata’ da cidade grande, naquela altura deviam habitar cerca de 200 mil pessoas na sua totalidade. Para além de ser um bairro dormitório, sem nenhuma espécie de condições para uma vida decente, sem água canalizada e sem esgotos ou saneamento, sem energia e luz eléctrica, era tudo ou quase tudo iluminado a candeeiros de petróleo, que cada casa o tinha.
Falar aqui do bairro do Pilão, também designado por Cupilão, é uma tarefa ingrata e brutal para as nossas actuais sensibilidades, eu conhecia tudo aquilo muito bem, tinha uma viatura especial só minha, uma motorizada de 50 cc, que me levava a todo o sítio onde quisesse, sem dependências de nada, de horas de ninguém. Por isso sei do que falo, a maioria pouco ou nada sabe, posso afirmar isso, pois eu estava lá no terreno e contavam-se pelos dedos, os militares que por lá andavam, pois sem transporte, aquilo é uma zona imensa, numa cidade tão pequena, era preciso andar muito naquele labirinto imenso.
Abundava a podridão humana, e vamos chegar a isso, por ali e para sobreviver, muita da população feminina se dedicava à prostituição, gostava mais de falar do negócio do sexo, era um negócio rentável, para quem não tinha mais nada que fazer e sem rendimentos, e tinha uma família para sustentar, pais, irmãos, filhos, avós, sei lá que mais. Não gostava de tratar deste assunto aqui, e duma forma abadalhocada, pois isto carecia de se entender bem a situação social e financeira daquele imenso e desordenado aglomerado urbano, sem nenhumas infraestruturas, das mais elementares.
Todas as ruas de terra batida, com enormes buracos abertos que não se podiam ver, depois as enormes trincheiras ou valas a céu aberto por onde circulavam os esgotos, os montes de lixo que nunca acabavam, os mini mercados a céu aberto carregados de moscas e mosquitos, com um cheiro nauseabundo, a elementar falta de água potável e a sua canalização. Tudo era transportado em baldes à cabeça, de água vinda de uma fonte qualquer, sem haver uma leve certeza de que poderia ser bebida por um ser humano.
Mas apesar de tudo, e talvez por isso, era o lugar mais frequentado por muita tropa, rapazes de 21 e 22 anos, carregados pela solidão, do isolamento do mato meses e meses sem ver uma mulher, branca ou preta. Tinha tanto para contar, mas não é este o tema de agora, ficará para um dia, mais tarde, mas antes teria de se perceber as raízes e as razões de tudo isto.
Voltando a Brá:
Era para lá que se mandavam algumas das tropas acabadas de chegar da Metrópole, ali ficavam a aguardar transporte para os seus locais de destino, feitos normalmente por via fluvial, uma vez que por estrada pouco ou nada havia com condições de circular, mas claro havia as excepções, aqueles que desembarcavam directamente para as Lanchas em direcção aos seus destinos no mato, sem nunca pisarem a terra de Bissau, o chão papel.
Também era para lá que ia parar toda a tropa, vindos dos seus aquartelamentos espalhados pelo CTIG, para o embarque de regresso a casa. Mas também, as tropas em deslocações dentro do território, aguardando que lhes fosse destinado um novo aquartelamento.
Foi isso que aconteceu ao meu Batalhão (BCAÇ 1933), quando regressou de Nova Lamego com chegada a Bissau em 26Fev68, e ficou em regime de quadrícula um mês em Bissau, tendo as suas instalações no Depósito de Adidos de Brá, onde cabia tudo.
Pois ali também iam parar as tropas, e eram muitas, ou que passavam férias em Bissau, ou que estavam em regime de Consulta Externa no HM 241 em Bissau, bem como as tropas que eram evacuadas para Lisboa, e as que regressavam também da metrópole, findo o período de tratamento.
E ainda aqueles que vinham do mato para passar férias na metrópole, ficavam uns dias antes do embarque, e depois no regresso a mesma coisa, até partirem para os seus quarteis.
Quero dizer que era um Quartel – mais propriamente chamado de ‘Depósito de Adidos’ – e por isso haveria sempre um grande movimento neste quartel, chegando os mapas de registo das refeições a ter cerca de 1000 militares, adidos a este Quartel.
Era por isso um enorme aglomerado de grandes barracões, tudo bem organizado, não sei ao certo a quantidade de casernas, mas sei que os refeitórios eram enormes, na hora do almoço e também do jantar, era uma grande confusão, e toda a gente protestava contra a qualidade e quantidade de comida servida.
Durante a estadia do meu Batalhão, no mês de Março de 1968, tive a oportunidade de ver in loco como era aquilo, no dia em que era escalado para o serviço de ‘Oficial de Dia’ e ser o responsável pela boa ordem nesse quartel, em especial nas refeições, pois não eram permitidos ‘levantamentos de rancho’.
Todas as queixas e culpas de tudo, e a resolução de todos os problemas ficavam a cargo do Oficial e Sargento de Dia. Aquilo era o fim do mundo. Aparecia lá de tudo, brancos e pretos, gente boa educada, mas a maioria estava já ‘marada’ da cabeça e aproveitavam-se para só fazer confusão e descarregar as suas fúrias, legítimas, contra tudo e contra todos. Tive muita dificuldade em lidar com tudo isto, foi uma das razões que me levaram ao HM 241 para fazer uma cura de sono, já não tinha capacidade no fim da comissão para aguentar tanta desordem, pois não conhecia praticamente ninguém por ali.
Estávamos no período de Maio de 69 quando acabo a minha missão e fico sem uma ocupação e mandam-me para os Adidos, que não gostei, faltavam-me 2 meses para regressar a casa.
À noite após o jantar o pessoal podia ir visitar a cidade de Bissau, comer mais, ou apenas embebedar-se, isso era a ordem do dia, está-se mesmo a ver o estilo. O pessoal tinha à sua disposição os camiões militares, que faziam as suas carreiras regulares entre Bissau e Brá, de meia em meia hora, isto até à meia-noite se não me engano.
Eu próprio estive lá no mês de Março de 1968, e mais tarde, após ter terminado a Comissão Liquidatária do meu Batalhão, também fui mandado para lá, e sobre este tema, terei ainda muito que contar. Finalmente a dois meses da minha saída, fui colocado como Adjunto no Conselho Administrativo daquela Unidade fixa, cujos problemas eram enormes.
Eu tinha acabado de sair do Hospital Militar de um internamento de 15 dias na Psiquiatria, e tinha todas as possibilidades de ter regressado antes do Batalhão, como evacuado, o que muita gente conseguiu fazer. Mas eu queria era mesmo regressar com a minha Unidade, e cumprir tudo aquilo com que tinha sonhado, desembarcar de um navio no Cais de Alcântara, depois desfilar naquela marginal, e mais tarde voltar a desfilar nas ruas de Tomar até o RI15, a minha Unidade Mobilizadora, e assim foi tudo feito.
Em relação ao ajuntamento de barracões de madeira de que era composto o imenso terreno de Brá, era tudo muito fraco, construído na maioria em madeira e tapado com folhas de zinco, que transformavam aquele interior numa verdadeira fornalha. As madeiras e as suas brechas, eram ninhos de milhares de baratas, que era a principal população daquelas habitações, e para mim isto foi terrível, pois é o animal que mais me repugna. Nem vou mais falar nisto. Tudo a juntar às nuvens de mosquitos que pairavam por todo o lado.
Sem que fosse o Tema do Poste, desviamos a conversa por locais incontornáveis, como o Pilão, os sítios icónicos da cidade de Bissau, o Hospital Militar, a viagem de regresso, o desfilar pelas ruas de Tomar, e outras divagações.
Desculpem mas quando escrevo não penso no que estou a escrever, a mente manda-me para outros temas e conversas.
Estávamos no período de Maio de 69 quando acabo a minha missão e fico sem uma ocupação e mandam-me para os Adidos, que não gostei, faltavam-me 2 meses para regressar a casa.
À noite após o jantar o pessoal podia ir visitar a cidade de Bissau, comer mais, ou apenas embebedar-se, isso era a ordem do dia, está-se mesmo a ver o estilo. O pessoal tinha à sua disposição os camiões militares, que faziam as suas carreiras regulares entre Bissau e Brá, de meia em meia hora, isto até à meia-noite se não me engano.
Eu próprio estive lá no mês de Março de 1968, e mais tarde, após ter terminado a Comissão Liquidatária do meu Batalhão, também fui mandado para lá, e sobre este tema, terei ainda muito que contar. Finalmente a dois meses da minha saída, fui colocado como Adjunto no Conselho Administrativo daquela Unidade fixa, cujos problemas eram enormes.
Eu tinha acabado de sair do Hospital Militar de um internamento de 15 dias na Psiquiatria, e tinha todas as possibilidades de ter regressado antes do Batalhão, como evacuado, o que muita gente conseguiu fazer. Mas eu queria era mesmo regressar com a minha Unidade, e cumprir tudo aquilo com que tinha sonhado, desembarcar de um navio no Cais de Alcântara, depois desfilar naquela marginal, e mais tarde voltar a desfilar nas ruas de Tomar até o RI15, a minha Unidade Mobilizadora, e assim foi tudo feito.
Em relação ao ajuntamento de barracões de madeira de que era composto o imenso terreno de Brá, era tudo muito fraco, construído na maioria em madeira e tapado com folhas de zinco, que transformavam aquele interior numa verdadeira fornalha. As madeiras e as suas brechas, eram ninhos de milhares de baratas, que era a principal população daquelas habitações, e para mim isto foi terrível, pois é o animal que mais me repugna. Nem vou mais falar nisto. Tudo a juntar às nuvens de mosquitos que pairavam por todo o lado.
Sem que fosse o Tema do Poste, desviamos a conversa por locais incontornáveis, como o Pilão, os sítios icónicos da cidade de Bissau, o Hospital Militar, a viagem de regresso, o desfilar pelas ruas de Tomar, e outras divagações.
Desculpem mas quando escrevo não penso no que estou a escrever, a mente manda-me para outros temas e conversas.
II – As Legendas das fotos:
Não tenho grande quantidade de fotos deste Mega aquartelamento. Estive lá no mês de Março de 1968, quando o meu batalhão esteve um mês em Bissau, vindo de Nova Lamego e partindo seguidamente para São Domingos. Neste período apenas fiz fotos na cidade de Bissau, pois havia mais motivos.
No fim da comissão, muito atribulado, só pensava no dia da partida e pouco liguei às fotos, até ao final, no dia do embarque onde realmente consegui imagens que se podem considerar inéditas.
Ficam aqui algumas, para dar uma ideia àqueles que nunca conheceram, como era o Depósito de Adidos de BRA em Bissau, no CTIG, no meio do ano de 1969.
F01 – Na porta de armas do Quartel de Bra, vista de dentro, com a guarita da sentinela e a nossa bandeira nacional. Pode ver-se um Unimog pronto a sair, a estrada do aeroporto está lá, as guaritas e tudo bem arranjado, estradas interiores asfaltadas, muitas plantas e algumas árvores. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.
F02 – O aquartelamento dos Adidos em Brá, visto de fora, da estrada. Tem uma extensão à volta de 1000 metros, de frente para a estrada, e uma quantidade indeterminada de instalações militares. Era tudo em asfalto, e os barracões em madeira e zinco. Era tudo fortificado, com arame farpado a toda a volta, e com Postos de Observação ao longo de todo o Perímetro do Quartel. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.
F03 – Num barco patrulha, da nossa Marinha de Guerra, na foz do Rio Geba em Bissau. Faltavam poucos dias para a viagem de regresso, mas fui convidado para um almoço no Patrulha, julgo que se chamava o ‘Órion’, sem ter a certeza. Foto captada em Bissau, nos Estaleiros da Marinha, no mês de Julho de 1969.
F04 – Instalações da Casa do Oficial de Dia, com boa localização. Não se pode comentar negativamente, pois tinha o que era preciso, incluindo quarto para descansar e dormir, esplanada, cadeiras, e tudo o mais. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.
F05 – Na minha função de Oficial de Dia, no aquartelamento dos Adidos em Br+a. Normalmente fazia as minhas rondas na minha própria motorizada, quando não tinha Jeep disponível, uma vez que a área a percorrer era grande. Era uma Honda Azul, de 50 cc, que depois quando regressei deixei por lá abandonada. Pode observar-se a existência de valas abertas fundas, para escoamento das chuvadas diluvianas, quando apareciam. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.
F06 – Um camião com tropa a regressar de Bissau, após saída nocturna. Conforme já disse, existia transporte de meia em meia hora, de Brá para Bissau e regresso, até ao final da noite. Esta noite estava chuvosa, está escuro, a foto não sai bem. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.
F07 – O interior do CA – Conselho Administrativo, em Brá. Não tenho grandes recordações neste periodo, pois só lá passei menos de um mês, e andava sempre por fora, a tratar de assuntos da minha função. Esta foto foi captada no gabinete, em Março de 68, quando passamos por lá, vindos de Nova Lamego a caminho de S. Domingos. Fotos ainda a preto e branco. Na saída, para a esquerda vai a caminho do aeroporto, e para a direita para Bissau. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em 6 de Março de 1968.
Direitos de Autor:
«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM.
Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933/RI15/Tomar, CTIG/Guiné de 21 Set 67 a 04Ago69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos,».
Legendadas hoje, em, 2018-09-24
Virgílio Teixeira
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 18 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19691: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXVII: Memórias do Gabu (VII)
Último poste da série > 18 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19691: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXVII: Memórias do Gabu (VII)
13 comentários:
E havia o "Clube Militar", no Quartel-General... mais conhecido por "Biafra"... Mas era só para os oficiais...
3 DE MAIO DE 2007
Guiné 63/74 - P1726: Álbum das Glórias (12): Bissau: Clube Militar, mais conhecido por Biafra (Mário Bravo)
(...) Mensagem do Mário Bravo (Ex-Alf Mil Médico, CCAÇ 6, Bedanda, 1971/72, actualmente a viver e a trabalhar no Porto onde é ortopedista) (1):
Meu Caro Luís Graça:
Não consegui organizar a minha vida para estar presente em Pombal, o que lamento e peço desculpa.
Tenho estado um pouco afastado do teu tão estimado blogue, mas prometo retomar em força. Hoje à noite estava a ver umas fotos da Guiné e encontrei esta que se refere ao chamado Clube Militar. Quando cheguei a Bissau, em Novembro de 1971, fiquei instalado neste complexo militar. Junto desta messe havia um espaço onde dormiam os oficiais, em passagem por Bissau. Quem é que não se lembro do famoso Biafra ?
Para o devido reconhecimento, como se dizia em gíria militar (ainda me lembro), envio duas fotos referentes à situação descrita. (...)
Vou desiludir o camarada médico Mário Bravo, um dia ainda vou procurá-lo no Porto, só preciso de saber onde é que ele trabalha.
1 - Havia sim o Clube Militar no QG, que já foi aqui referido na minha reportagem por Bissau, mas que tenho mais uma séria de Postes a que chamei 'as minhas férias na Guiné' que estão aí à espera de um dia as mostrar. O Clube Militar era o meu local certo onde sempre ia quando estava em Bissau, normalmente para a piscina. Este Clube era um luxo - naquelas condições - e conheço aquilo muito bem.
A foto que vi no Link era a fachada do Clube, que se espalhava por uma grande área bem tratada, tenho imensas fotos deste local e por toda a zona. O que se vê em frente, é a esplanada virada para os 'jardins suspensos da Babilónia' por ali passava a malta com maior poder militar no CTIG, parava lá de tudo, até o Spinola.
Tinha a zona de refeições, os bares interiores, salas de jogos e muito mais, e acho, não tenho a certeza, que tinha ar condicionado, ou pelo menos muitas ventoinhas de tecto.
A segunda foto do camarada Mario, que diz ser as trazeiras do dormitório, não reconheço esse local.
Tenho as fotos principais, da fachada do 'Casarão' a que foi dado o nome de 'Biafra'. Nessa altura passam por Bissau os aviões carregados de material para a guerra do Biafra, que todos se devem lembrar bem, não foi bem como a nossa.
O Biafra (Caserna dos oficiais, digo, dos alferes milicianos, pois os outros tinha quartos próprios) era realmente um escandalo no meio daquele luxo, por isso eu muitas vezes ficava no Grande Hotel, para fugir aos milhares de mosquitos e àquela podridão que era uma caserna muito pior do que uma normal caserna de soldados, num quartel normal. Isso eu sei.
Podes mandar dizer, se conseguires, que toda aquela zona foi melhorada e reabilitada, que passou a ser em 1984, quando lá estive, o Hotel 24 de Setembro, que era em termos de oferta muito fraco, para não aplicar coisa pior. Degradou-se, mas construiram mais habitações unipessoais. Hoje não sei, mas não se houve falar muito do Clube de Santa Luzia, para onde fui tantas vezes.
Portanto, o Clube Militar não se confunde com 'O Biafra'.
Quando quiserem conhecer mais sobre este local, eu tenho muito material para oferecer.
Obrigado por finalmente sair este Poste dos Adidos.
Não referi nele o Clube Militar, pois já o tinha referido antes noutros postes, e tenho outros exclusivos do Clube Militar de Santa Luzia, ou do Quartel General.
Ab,
VT/.
Estou na Lourinhã, e ontem falei/falámos com a nossa amiga Laura Fonseca, amiga de um amigo teu, o engº Alberto... Ela tem ideia de ter estado contigo e o Alberto, há dias, creio que em Vila do Conde... Ela tem uma filha que vive para os lados de Esposende...
A Laura, escritora, investigadora, professora uuniversitária, doutorada, é especialista em questões de género... Todos os anos vem passar um semana / dez dias connosco na Lourinhã / Praia da Areia Branca... É minha amiga desde 1976, quando me casei... E amiga da Alice há muito mais... Tratam-se por "manas"... É uma mulher de grande coragem e lucidez, uma mulher do Norte. E, claro, uma mulher de afetos.
Aquele abraço, daqui do Sul, Luís.
Acho que só fiquei uma vez nos Adidos em Brá... E foi quando desembarcámos do "Niassa" em finais de maio de 1969... Aos tombos, caídos numa terra estranha, com uma brutal temperatura e humidade, "depositaram-nos" no tal quartel que tão apropriadamente se chamava "Depósito" de adidos ou ardidos... Éramos, a CCAÇ 2590 (mais tarde CCAÇ 12), sessenta gatos pingados, o capitão, os alferes, os sargentos e furriéis, os cabos, especialistas disto e daquilo... O resto da maralha (uma centena) estava à nossa espera, em Contuboel, no Centro de Instrução Militar... O Valdemar Queiroz, o Renato Monteiro, o Abílio Duarte e outros, já lhes tinham dado a recruta e ensinado as primeiras palavras de português... Dia 2 de junho lá fomos nós, rio Geba acima, de LDG... Tivemos dois dias para saborear as delícias de Bissau do Depósito... Como havia patacão fresco, comemos e bebemos cá fora... Recordo-me de ir de Unimog, já à noite, para a "bagunça" de Brá...Uma receção inesquecível... Quando voltei, para ir de férias, uma no depois fiquei noutra "bagunça", o "Chez Toi", um hotel rasca, os quartos eram feitos de paredes de tabique...
Quando se voltava a Bissau, a malta evitava ficar em Brá... LG
Virgílio, conheceste bem o Pilão... Tens fotos ? Seria interessante fazeres este tema... Andavas por lá de motorizada mas,s e calhar, não levavas a máquina fotográfica... Não dava jeito... Eu, por causa disso, andei a fugir da polícia Luanda num musseque, há 15 anos atrás... É preciso cuidado e tato...
O Pilão não era muito diferente das ilhas do Porto ou dos bairros de lata de Lisboa dessa época...Falas em 200 mil habitantes, só no Pilão... Onde foste buscar esse número ? A Guiné tinha meio milhão no princípio dos anos 60... Cerca de 550 em 1961, triplicando a população em 2003... O crescimento exponencial dá-se depois da independência... e não durante a guerra colonial.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Demografia_da_Guin%C3%A9-Bissau#/media/File:Guinea-Bissau_demography.png
Além do Pilão, havia outros bairros populares (Ajuda, por exemplo), fora do "alcatrão" e do "centro histórico"...
Ab, Luís.
Vamos responder por partes:
- Com um bocadito de jeito, possivelmente estiveste em Bra quando eu lá fui colocado, em meados de 69, após cessar a minha actividade no meu batalhão.
Pela minha guia de consultas no HM241, passei por lá em 17Maio69, e fui varias vezes às consultas várias, para me desenfiar do CA do Depósito de Adidos.
Nesta altura, conforme referes, finais de Maio 69, estava eu nos Adidos, comendo e dormindo lá, e fazendo os serviços inerentes, o pior dos quais, o de oficial de dia.
Depois da baixa à psiquiatria, tive alta em 7-6-69, data a partir da qual fico em definitivo nos Adidos, como adjunto do CA do quartel.
É muito natural que tenhamos nos encontrado, nos dois dias que lá passaste.
O tempo era realmente ardente, era insuportável dormir naquelas barracas, mas lá chegamos ao fim.
Ab,
VT/.
O Pilão, e outros bairros.
Não tenho uma unica foto do pilão, era perigoso andar por lá a fotografar, sozinho.
Havia o bairro da Ajuda, mas não era nada disto, um pequeno bairro, mas também nada de fotos.
Havia o bairro da Ajuda, mas não era nada como o Pilão.
Bem como a zona e bairro de Landim, tenho coisas incriveis neste local, mas não posso passar ao papel.
O Pilão era grande demais, o numero que adiantei está na minha memória, mas não os contei. Talvez os 200 mil seja a população total de Bissau, mas 90% vivia no Pilão e afins.
Não posso confirmar muito, não é invenção, era o que se falava por lá.
Ab,
VT.
O Alberto, companheiro actual de uma senhora, viuva de um 'Virgilio', vivem agora em Vila do Conde. Falou-me que conheceu uma Laura Fonseca, vossa amiga, mas não estivemos juntos, não conheço a Laura, ela tem uma filha aqui ao lado em Esposende.
Ele não fala muito mas disse-me assim ao acaso.
Este Alberto, é o tal da CHERET que te falei, já teve algumas mulheres, é Engenheiro com a especialidade de altas tecnologias que não entendo bem. Foi Professor Universitário toda a vida. Um dos filhos suicidou-se, teve uma vida complicada, embora seja da classe da alta burguesia do Porto. Somos conhecidos e amigos de miudos, encontramo-nos na Guiné, para onde levou a sua noiva com ele, depois passou por Catio, Piche e deu baixa ao HM241, nas mesmas datas em que eu lá estive mas nunca nos encontramos lá. Veio evacuado, devido a muitos conhecimentos da parte médica.
Só fez um ano de comissão, mas não sabe nada de datas, vive apenas de leituras e sabe muito de muita coisa, que eu não acompanho.
Juntamo-nos à vezes no café, as nossas mulheres gostam de falar uma com a outra.
Há dias falou nesse encontro, mas não deu muitos pormenores, nem eu lhe pergunto nada.
Não sei mais nada.
Ab,
VT/.
Não sabia do Campo de aviação. Obrigado.
Com a construção do de Bissalanca, acabaram com este e montaram um verdadeiro depósito de 'gentes'.
Apesar de tudo era um dos locais mais 'modernos e limpos' de Bissau e da Guiné.
Não deixo de endereçar o meu alto reconhecimento, ainda não o tinha feito, àqueles que conseguiram realizar os Mapas cartográficos da nossa ex-Guiné.
Somos um povo do carago!
Neste dia, como a maioria, senão todos, já não tem a sua mãe, então aqui vai um Bom Dia da Mãe, para as mães dos nossos filhos e netos (bisnetos, talvez não!)
Ab,
VT/.
Virgílio, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é Grande... Estivemos nos Adidos sem saber um do outro... Se calhar até estiveste de oficial de dia, num desses 3 dias...
Estive nos Adidos quando eu lá pernoitei, tês noites, dormindo em colchões no meio do chão: de 30 e 31 de maio de 1969, e 1 de junho... De manhã, ala, moços, que se faz tarde, a LDG espera-nos no cais da Marinha...
Nota: os quadros da CCAÇ 2590 [, futura CCAÇ 12] eram de origem metropolitana, sendo o restante pessoal [praÇs] fornecido pelo recrutamento da PU [Província Ultramarina](89 praças, das quais 11 cabos e/ou soldados arvorados).
25 DE MAIO DE 2010
Guiné 63/74 - P6466: A minha CCAÇ 12 (2): De Santa Margarida a Contuboel, 5 mil quilómetros mais a sul (Luís Graça)
(...) Tendo embarcado no Niassa a 24 de maio, juntamente com outras Companhias independentes como a 2591 e 2592 [, futuras CCAÇ 13 e 14,], chegamos ao CTI da Guiné em 29, pelas 21 h, tendo desembarcado no dia seguinte de manhã [, 30].
A 31 [de maio], no Depósito de Adidos, SEXA, o Comandante-Chefe das Forças Armadas, Brigadeiro António de Spínola, passa revista às tropas em parada e dirige-lhes palavras de boas-vindas. Também já não me lembro do discurso, de circunstância, pronunciado naquela inconfundível voz de ventrícola do nosso Homem Grande (Reconhecê-la-ia até no inferno).
Colocados em Contuboel (Sector L2, Zona Leste, a norte de Bafatá, a meio caminho da fronteira norte), a fim de darmos a segunda fase de instrução ao nosso pessoal africano, embarcamos em LDG [Lancha de Desembarque Grande] para o Xime, a 2 de junho, tendo seguido depois em coluna auto até ao local destinado.
Um dia de viagem, exaustivo, extenuante, com o primeiro grande banho de pó e de emoções: íamos descobrindo a Guiné profunda, da tensa viagem entre o Xime e Bambadinca, com a ponte do Rio Udunduma, recém-dinamitada e parcialmente destruída pela guerrilha, na mesma noite do ataque a Bambadinca (28 de Maio de 1969)...
Luís, realmente estivemos no mesmo sitio no dia 31 de Maio pelo menos, mas vou reunir o que tenho para melhor responder a estas questões pertinentes.
Vou dormir,
Boa noite,
VT/.
Guiné 63/74 - P6466: A minha CCAÇ 12 (2): De Santa Margarida a Contuboel, 5 mil quilómetros mais a sul (Luís Graça)
Comentários ao Poste P6466 que não conhecia, não é do meu tempo de bloguista:
Luís, « é disto que o povo gosta ». ‘ Discursos de Spínola às multidões Guineenses’.
Estas excelentes narrativas, com memória e dados desta natureza, só mesmo com apontamentos escritos na altura dos acontecimentos. Li com muita atenção estas coisas que mexem com a gente, não são fotos de vitrais que me interessam! Desculpa esta minha saída fora do contexto.
Esta história – De Santa Margarida ao Gabu é a mesma do meu batalhão, com uma diferença de quase dois anos, mas na sua essência foi a mesma quase para todos que fizeram este percurso, e agora temos mais uma coisa em comum. Mobilizados pelo RI15 de Tomar, o IAO em Santa Margarida, e depois a viagem de comboio até ao Cais – não sei ao certo se era o da Rocha de Conde de Óbidos ou o de Alcantara, porque não estive lá, apenas em 1960 quando o meu irmão foi para a India, era o de Alcantara.
Nem vou comentar ou pormenorizar, mas isto começa também em 27 de Setembro de 1967, e acaba em Nova Lamego em 4 de Outubro de 1967. Só que a passagem pelos Adidos foi só para esperar pela madrugada, para seguir viagem, Rio Geba acima, o resto já sabes, Bambadinca, passando por aqueles locais que a gente nem sabia de que se tratava e lá chegamos ao destino.
Não houve palavreado nos Adidos, ainda lá estava o Schultz, e parece que não era homem para estas coisas bombásticas.
Quanto ao resto faz de conta que estás a contar a história do BCAÇ1933.
A diferença aqui, é como já sabes e já contei várias vezes, eu antecedi a minha viagem, fui com o Comando do Batalhão à frente no dia 20 Set 67. Quando o Timor chegou a Bissau a 3OUT67, eu já lá estava para fazer a reportagem, já tinha ido a Nova Lamego e voltado para Bissau, para assuntos do meu serviço. Mas depois segui com a tropa na mesma coluna fluvial e depois motorizada.
O impacto que contas da chegada àquela terra, não diverge muito do meu, só que para mim acho que foi mais brutal, bem como para muitos outros, os futuros que faziam as viagens de avião. Aquele momento em que se abrem as portas do avião e entra-se de ‘choque’ num forno húmido, é brutal. Aquela terra vermelha, húmida pelas chuvas, a atmosfera com aquele indescritível odor, a temperatura a 500º a humidade a 1000% são marcas que jamais se poderão esquecer, mesmo com um AVC dos fortes – salvo seja! -!
Julgo que, e isso pode confirmar-se, que a malta que vinha de barco, lentamente se foi ambientando, não foi em segundos. Quem foi de férias e voltou, sabe isso perfeitamente, pois ao abrir as portas do avião era aquela caldeirada, e mais não digo.
Eu não passei pela maior parte dessas formalidades, embarcamos 6 pessoas de Figo Maduro, não havia despedidas ali, eu não tive ninguém, não me lembro se os outros tiveram ou não. E na chegada não havia ninguém a receber-nos, no mesmo dia fui apresentar-me ao QG apanhando a mais desconfortável situação, entrar vestido com a farda nº 1, a derreter pelas costas abaixo, e entro numa verdadeira ‘arca frigorifica’ para cadáveres, o suor acho que se colou às costas instantaneamente, não me lembro de situação mais desagradável.
Depois cada um seguiu o seu destino, e aqui cada um sabe da sua vida, acho que fui de qualquer forma um grande privilegiado, em relação a muitos, mas não a todos…
VT/ ............
Vamos a Bra:
Eu tenho comigo as minhas guias de Consultas e baixas hospitalares do HM241 e com isso, mas nada sendo certo, sei que pelas datas inscritas nas consultas, eu estava nos Adidos entre 29 e 1 de Junho. Era ali o meu poiso, não era no Biafra, aquilo era só para gajos de passagem, eu já estava colocado nos Adidos.
Essas fotos que juntei, podem ser num destes dias. Escrevi Junho de 69, mas podem ser fins de Maio ou meados de Junho. Os slides só muitos meses depois foram revelados, e não sei ao certo qual seria a data pois não tinha calendário.
De qualquer modo tenho ‘Alta’ do Hospital em 07JUN69 e fico nos Adidos até final.
Quanto à confusão daquela Unidade Fixa, já disse tudo, a confusão reinava por aquelas bandas e ninguém conseguia por ordem na malta que por ali passava.
Em Junho e Julho ia todas as noites a Bissau, mas já não tenho tantas fotos dessa época.
De dia, sábados, domingos, ia até ao Clube para a Piscina, mas não dormia no Biafra, aquilo não prestava para nada, só se dormia razoável, com as redes mosquiteiras.
De resto o Clube era um paraíso, ‘à beira Geba plantado’.
Vou mandar isto agora, antes que o meu Poste fuja da primeira entrada, pois depois nunca mais volto atrás, nem sei ir para lá.
Abraço,
O amigo e irmão porque somos todos filhos de Deus.
Virgilio Teixeira
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