(i) ex-fur mil, defurriel mil, 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), "Os Mais de Nova Sintra", os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974;
(ii) membro da Tabanca Grande nº 815, tem 17 referências no nosso blogue; vive em Esposende, é professor reformado.
Em novembro de 1973 , o furriel Barros, instalado em Gampará, com a 2ª Cart, 3º grupo de combate, escreveu uma carta à sua mãe, Jandira Lima, em Esposende, para que lhe fosse enviad, para a Guiné, um bolo-rei da Nélia [, confeitaria que ainda existe: R. 1.º de Dezembro, nº 24, 4740-226 Esposende, telef: 253 961 119] ou mesmo da Primorosa.
Numa comunicação breve aos soldados do seu 3º grupo, o Barros tinha informado que a malta
iria ter um bolo-rei, no período do Natal, o que criou uma certa euforia
entre os soldados..
Os soldados vibraram de
contentamento e um bolo-rei na Guiné era “ouro sobre o azul” num
ambiente de sobressaltos, sofrimentos, ansiedades, de tragédias e de dramas
que envolvia toda a actividade da
guerra.
Passados quinze dias, o
bolinho, numa longa viagem, chegou ao aquartelamento, depois de uma longa
demora, nos serviços do SPM de Bissau.
O Barros parecia um
“empresário de pastelaria” e, sempre com o seu elevado sentido de partilha,
reuniu, no dia 23 de dezembro [de 1973], os soldados em
círculo, e dividiu o bolo-rei
em 27 bocadinhos, bem cortadinhos e apresentou uma proposta sentenciosa a todos
os presentes:
A quem saísse a fava, teria de pagar, um próximo bolo-rei que
seria comprado em Bissau, de qualidade muito inferior, como é natural, ao da Nélia, uma pastelaria de excelência a
nível local, mesmo, em todo o Norte do País.
As fatias “magricelas” foram divididas por todos os soldados que
começaram a mastigar o bolo, cada um olhando e inspeccionando as bocas com a expectativa
de saída da “abominável” fava …
O Barros, muito atento, num ápice, sentiu na boca ressequida a maldita fava e pensou logo que estava “desgraçado”, pois iria ser gozado por todos e não estava em questão pagar outro bolo,
apenas receava ser colectivamente gozado, o que era a “praxe” no meio do grupo.
O Barros pensou de
imediato, em sair daquela incómoda situação e sabem o que fez ele?
Engoliu a fava que foi directamente para o
estômago e, mais tarde, expelida pelos
intestinos, e o ânus está como testemunha,
O Cruz, soldado natural
de Barcelos, gritou:
− Furriel, o bolo não tinha
fava e você disse que vinha sempre com uma fava!...
O Venâncio, o Pedralva,
o Domingos e o Araújo estavam muito desconfiados mas nada disseram,
limitando-se a saborear o ressequido bolo-rei que estava a ser digerido
muito lentamente, quase que “ruminando”, para que o sabor demorasse mais um
pouco porque guloseimas, no aquartelamento, praticamente não existiam.
− Olha, Cruz, o pasteleiro esqueceu-se de colocar a fava e não sei o que se passou − desculpou-se o Barros, com um ar de comprometido!... − Sabem, o Geninho, pasteleiro da Nélia, o melhor pasteleiro da região, não se lembrou de colocar a fava e com tantos bolos-rei que faz, este escapou.
E acrescentou, com o ar muito natural:
− Sabem que o Geninho, faz uns torrões de amendoim que são “os melhores do mundo”, e podem crer que, quando for de férias a Esposende, vou-vos trazer torrões da Nélia − prometeu o Barros tentando atenuar a expectativa que os soldados tiveram da famosa “fava invisível”.
Uma coisa é certa, o
Barros só contou a história passados uns meses aos seus companheiros da caserna que acharam muita graça à atitude
do furriel que se tinha “safado” de um gozo geral.
No final, todos se
levantaram, com a cadela Sintra a comer umas míseras migalhas que tinham
sobrevivido, e estava-se na hora do jantar com os cozinheiros Eduardo, o
Rochinha e o Bichas, este na Messe, já com a missão cumprida, junto aos
panelões para se distribuir a comida.
Gampará, 23 de dezembro de 1973.
Carlos Barros
Esposende 10 de Junho
de 2020
Último poste da série > 6 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21614: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (13): O Elias Parafuso e o bolo de chantili
5 comentários:
Sobre a história do bolo-rei, ver aqui:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bolo-rei
Carlos:
Engoliste só a fava ? E tens mesmo a certeza que ela saiu ?...
Uma bela história de Natal para a nossa série "O meu Natal no nato"... Temos mais de 7 dezenas de referências com este marcador...
Festas, boas e quentes!... LG
Temos aqui outra história, engraçada, de um bolo-rei
24 DE DEZEMBRO DE 2007
63/74 - P2378: O meu Natal no mato (11): Saltinho, 1972: O melhor bolo rei que comi até hoje, o da avó Clementina (Paulo Santiago)
(...) A minha avó Clementina, avó materna, resolveu enviar-me, por encomenda postal, um bolo-rei, dirigido para o SPM de Bambadinca. Como chegou após o dia 24, reenviaram-no para o SPM 3948 (era do Pel Caç Nat 53). Chegou ao Saltinho, já tinha vindo eu para Bissau. Reenviaram a encomenda para Bambadinca, acabando por receber o bolo-rei em meados de Janeiro. Estava duríssimo, mas...foi o melhor bolo-rei que comi até hoje.(...)
Carlos, passa pela Confeitaria Nelia e saca de lá um bolo-rei para comeres com os amigos e camaradas de Esposende...a pala da publicidade que fizeste... fizemos...A casa...Ainda é bom ? Festas Boas e quentes.LG.
Amigo Barros,
Apesar de não ser de Esposende, mas sim natural de Braga, é aqui que moro. Conheço o concelho de Esposende há muitos anos. Desde muito criança. Tendo passado primeiro por Fão, depois Apúlia e finalmente Esposende (cidade), onde de quando em vez o avisto na Lota por volta das 10,30/11 horas.
Para terminar, permita que lhe diga que também estive na Guiné entre Abril de 1972 até ... talvez Setembro de 74. Isto porque estive internado no hospital de Bissau.
Cordialmente
Nuno Soares da Silva
nmbssilva@gmail.com
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