segunda-feira, 29 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22049: Notas de leitura (1349): “Trabalho forçado africano, o caminho da ida”, com coordenação do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, Edições Húmus, 2009 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Julho de 2018:

Queridos amigos,
Aqui está uma boa oportunidade para os interessados em escravatura e trabalho forçado saberem mais a preços módicos: o velho tráfico nas suas condições de transporte, mas também na Costa francesa dos somalis e com incidência em Moçambique e saber mais sobre a intervenção dos Países Baixos no tráfico atlântico de escravos. Extinta formalmente a escravatura, ela manteve-se com outros nomes e daí a análise que se pode ler sobre a mão-de-obra para a cultura do cacau em São Tomé e Príncipe ou os contornos do recrutamento para o trabalho forçado na Companhia dos Diamantes de Angola.

Um abraço do
Mário


Trabalho forçado africano, o caminho da ida

Beja Santos

“Trabalho forçado africano, o caminho da ida”, com coordenação do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, Edições Húmus, 2009, acolhe um conjunto de trabalhos centrados sobre o caminho da ida, como observa José Capela: o percurso pluriforme que vai da modalidade de tráfico a partir das costas africanas para o Atlântico até ao circuito dos recrutamentos coloniais compulsivos. 

Daí o leque de análises: os “contratados” para a cultura do cacau em São Tomé e Príncipe, o recrutamento para o trabalho forçado na Companhia dos Diamantes de Angola, o tráfico de escravos a partir da Costa francesa dos somalis nas datas tardias de finais do século XIX, atingindo a colónia de Moçambique. 

Mas há ainda mais, precede este trabalho forçado três séculos de comércio negreiro ilícito e daí o estudo das condições de transporte de escravos no Atlântico Sul durante o século XVII; a intervenção dos Países Baixos no tráfico atlântico de escravos e a mão-de-obra fornecida pela Costa da Mina à área servida pelo porto do Recife entre fins do século XVII e a primeira metade do século XVIII.

O leitor interessado por estas matérias encontrará análises de primeira água. Logo a investigação de Arlindo Caldeira sobre as condições de transporte negreiro do Atlântico Sul durante o século XVII. Escreve, em dado passo: 

“O desembarque de multidões de africanos esqueléticos, que faz parte da iconografia da escravatura, não se afasta, em muitos casos, da realidade, mas resulta de múltiplos factores e não apenas da escassez de comida a bordo. A razão principal tem a ver com as condições de saúde. Muitos dos escravos chegavam ao local de embarque bastante debilitados pelas enfermidades e pelo esforço do longo percurso que os trouxera até aí. Mas, mesmo quando não eram atingidos por doenças graves, os escravos embarcados, quase todos criados longe do Litoral e tendo de enfrentar agora mares agitados (e não raros, tempestades) a bordo de pequenas embarcações, eram afectados por violentas crises de enjoo, com náuseas e vómitos. E, nestes casos, o tipo de alimentação disponível não era seguramente a mais atractiva nem a mais indicada. 

Além do enjoo, o pânico e o desespero levavam também muitos a recusarem deliberadamente a comida, como forma de anteciparem uma morte que lhes parecia próxima e ainda mais terrível (…) Um índice significativo das condições de vida a bordo é o das taxas de mortalidade. A mortalidade a bordo revela-se, de uma forma geral, chocantemente alta. Uma doença contagiosa galopante ou um percalço que alargue excessivamente a duração da viagem podiam revelar-se catastróficos. Mas, em contrapartida, as condições de navegação favoráveis, diminuindo o tempo da ligação transoceânica eram, quase sempre, bastante auspiciosas”.

No trabalho de Maciel Santos sobre a compra dos “contratados” para São Tomé avultam aspetos muito interessantes. Logo a conjuntura: 

“Durante a década de 1890, a colónia portuguesa de São Tomé e Príncipe tornou-se um dos maiores produtores mundiais de cacau. Entre 1894 e 1903, a sua produção cacaueira teve uma taxa de crescimento anual de 15,5% (contra 1,9% do Equador e 8,8% do Brasil). Este crescimento – o maior de todos os produtores com quotas de mercado entre os 10% e os 20% – levou a que a ponderação de São Tomé no mercado mundial tivesse passado, entre esses anos, de cerca de 9% a 18%. 

A intensificação da produção do arquipélago esteve associada a uma fase de prosperidade pregando parte dos capitais aí investidos. Entre 1875 e 1903, a cotação do cacau nos grandes centros de consumo não teve uma tendência continuada de alta. No entanto, para capitais agrícolas produzindo para o mercado mundial, o lucro consiste numa diferença entre preços: o que regula o mercado e o preço individual de produção. Este último era tendencialmente mais baixo no arquipélago. 

Devido à desflorestação recente, os cacaueiros das ilhas deram durante anos produções por hectare superiores às da maioria dos centros produtores mais antigos, da América Central e do Sul”

A investigação aprofunda a natureza do recrutamento, o porquê da escolha dos “angola”, o processo do “resgate”, a produção de escravos pelas mercadorias, tudo para concluir a existência de uma correlação entre a expetativa de rendas e a procura de escravos, processou-se uma oferta de escravos fora da ordem colonial (daí a ficção jurídica do “resgate”), a única solução jurídica para São Tomé.

Recorde-se que a editora Campo das Letras já publicara com a coordenação do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto dois outros importantes trabalhos correlativos: Trabalho forçado africano, Experiências coloniais comparadas e Trabalho forçado africano, Articulações com o poder político.

Aproveita-se a oportunidade para se publicitar o importante site do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto que dá informação sobre os conteúdos da primorosa revista Africana Studia, disponível a preços muito acessíveis.
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22025: Notas de leitura (1348): "A Batalha do Quitafine", por José Francisco Nico; edição de autor, 2020 (2) (Mário Beja Santos)

6 comentários:

Antº Rosinha disse...

Ainda havia "contratados" em Angola durante os 13 anos de guerra em Angola.

Esses contratados eram recrutados em algumas regiões do Sul, apenas.

Era em geral na região dos bailundos e vizinhos, regiões muitissimo pouco ou nada colonizadas, para não dizer nalguns casos onde branco nunca tinha entrado.

Tambem havia trabalhadores doutras regiões de Luanda e do norte, mas esses eram eles que vinham â procura de trabalho, já estavam "viciados" a ter patacão na mão.

O problema maior era que os contratos eram de meio ano ou um ano, e muitos já não estavam a querer regressar à vida monótona e sedentária e aos rituais da "tabanca", no caso, da sanzala, ou quimbo ou arimbo.

Antº Rosinha disse...

O Centro de Estudos Africanos, tanto da Universidade do Porto, como de qualquer outra cidade do mundo, mas principalmente de capitais africanas, devem manter sempre em aberto este capítulo do "trabalho forçado africano, o caminho de ida", e não fechar este capítulo, pelo menos estas próximas dezenas de anos.

E esses estudiosos podem fazer ao vivo com as novas tecnologias, algumas dessas viagens de "ida" grandes reportagens tanto no atlântico como no mediterrâneo.

E, no caso de acompanharem nessas viagens, algum cidadão guineense, facilmente o reconhecerão no acto de pedirem boleia "parti b`leia", em coro e em grupos de homens, mulheres e crianças.

De facto é melhor, como fazemos aqui, olhar aquilo que só nós vamos ainda olhando, para o passado, constrange menos e não precisamos de "fechar os olhos" e "cerrar os dentes".

Obrigado pela trabalheira, Beja Santos, mas tens que pormenorizar um pouco mais.

P.S. Quem dera aos Moçambicanos do norte terem o mediterrâneo ou o Atantico norte â mão, mas o Índico não dá saída.

Fernando Ribeiro disse...

Eu escrevi um texto sobre este assunto dos "contratados", mas há um outro texto infinitamente melhor do que o meu. É do ex-capitão miliciano Pedro Cabrita, que o publicou no blog da C.Cav. 2692 / B.Cav. 2909, companhia esta que esteve no Norte de Angola. Passo a transcrever a passagem que aqui interessa:

"(...)
O sol queimava sufocante e abrasador.

No terreiro enorme da fazenda havia uma fila com cerca de trinta ou quarenta negros que se alinhava junto ao casarão amarelo-torrado de traça colonial, uma espécie de castelo imponente que dominava as cercanias.

O edifício é enorme e circundado a toda a volta por uma varanda integrada na construção, coberta pelo telhado que se prolonga em forma de guarda-sol de aba larga e o protege da inclemência do fogo ardente que cai dos céus. Ao longo daquele autêntico passeio liso de cor grená-escuro gasto pelo uso, dispõem-se alguns bancos e cadeiras de repouso e, naquele dia, também uma pequena mesa com uma cadeira trazida do mobiliário interior, onde confina a fila de negros maltrapilhos e mal alimentados.

Era dia de pagamento. Por norma, a tropa do Mucondo, a quem cabia a protecção da fazenda, sempre que passava por ali parava e procurava inteirar-se da situação quanto a notícias de movimentos dos turras, deixando uma palavra de segurança e conforto apreciada por todos. Por vezes, como naquele dia, nem chegavam a parar os motores das viaturas. Uma troca rápida de palavras seladas com um aperto de mão ou, por vezes, apenas um aceno à distância, se a pressa era muita, cumpriam um protocolo de rotina a que ambas as partes já estavam habituadas.

O capataz, de alcunha “General Ramalho”, que nunca se conseguiu esclarecer donde provinha, admitindo tratar-se de uma espécie de título obtido no início da guerra nos anos sessenta, homem de grande corpulência e anafado, bigode à Clark Gable esmeradamente aparado, quase sempre de chapéu colonial enterrado na cabeça, dirige-se para as viaturas que tinham parado a alguns metros da casa.

Repentinamente inflecte a sua marcha e aponta, em passo apressado, para um negro que, cansado de estar de pé ali à torreira do sol sabe-se lá havia quanto tempo, se sentara no chão. De chibata na mão agride com alguma violência o funcionário – assim eufemisticamente tratados – enquanto o agarrava pelo braço e o punha de pé, sacudindo-o sem que este esboçasse qualquer tentativa de defesa. Uma espécie de boneco de palha nas mãos do “General”.

- De pé seu cão! Foi o que se percebeu da torrência de impropérios e prepotência despejados sobre o pobre coitado.

Todos assistiam em silêncio àquela cena, sufocando uma amálgama de revolta e dúvida momentânea em distinguir o verdadeiro inimigo que nos trazia ali. Por fim ouvem-se alguns murmúrios de agitação entre os militares. A violência é desmedida e pouco qualificável.

De repente, o Alferes que comandava a coluna salta da viatura de G3 em punho apontada ao capataz, denotando um evidente transtorno pela forma apressada como caminhava e a expressão que levava no rosto.

- Se você volta a fazer isso na minha frente despejo-lhe o carregador na barriga! Ouviu bem o que lhe disse? Gritava o Alferes de G3 em riste apontada à barriga do capataz e os olhos esbugalhados parecendo quererem saltar-lhe das órbitas.

Por momentos pensou-se que podia acontecer ali uma tragédia. O capataz também assim o entendeu pelo ar lívido e agitado com que o Alferes o interpelava. Por entre palavras de justificação e tentativas de apaziguamento mal balbuciadas pelo “General” o Alferes foi recuperando a calma, não sem continuar a avisar de forma clara de que aquele cenário não deveria repetir-se, pelo menos na sua presença, o que pareceu ter sido inteiramente apreendido.

(continua)

Fernando Ribeiro disse...

(continuação)

Fez-se um enorme silêncio no amplo terreiro. Apenas o ruído monótono dos motores das viaturas cortavam o gelo daquele quadro de enorme contraste com o calor tórrido daquela manhã. O capataz, mal recuperado do susto, dirigiu-se de cabeça baixa para a mesa dando início aos pagamentos. A queixa haveria de chegar às chefias militares com o Alferes a ser admoestado e o assunto a ficar pelo conveniente esquecimento, embora o “General” tenha tido alguma dificuldade em esquecê-lo.

Aos poucos o Santos, com quem estabeleci uma relação de proximidade e convivência mais intensa, foi-me inteirando do funcionamento da fazenda e as relações de trabalho estabelecidas com os assalariados, facto que suspeito igualmente longe do conhecimento de muitos angolanos regressados a Portugal após o 25 de Abril, que por vezes se insurgem contra algumas destas realidades quando delas fazemos eco, negando com veemência a sua existência.

Há, no entanto, que salientar que estes actos menos dignos e reveladores de um espírito colonialista exacerbado destituído de senso e humanismo não exemplificavam a generalidade das relações estabelecidas entre brancos e negros em Angola. Eu próprio fui testemunha disso em múltiplas situações, onde o que falhava era a política central do estado e não a relação fraterna e de amizade que ao longo de séculos de foi desenvolvendo. Mas é necessário admitir que estes casos existiam um pouco por toda a parte onde as relações de exploração de trabalho nas grandes fazendas do Norte não olhavam a meios para a obtenção de lucros fáceis sem o menor respeito pelos trabalhadores assalariados. Não terá sido por acaso que foi naquela zona precisa que acabou mesmo por eclodir a luta armada pela emancipação e independência, em resposta directa a actos de prepotência e exploração desenfreada já devidamente relatados por autores que as presenciaram no tempo e contexto exactos em que ocorreram.

A fazenda era ali uma ilha perdida num imenso oceano de águas turvas e nevoeiros vários, impenetrável, desconhecida e praticamente isolada do mundo. Ali tudo podia acontecer sem que alguém viesse a ter conhecimento, salvo a tropa que existia para defender a fazenda e a sua exploração das imensas riquezas da terra. Os trabalhadores eram recrutados no Sul junto ao mar ou no interior próximo, região ainda pouco perturbada pela guerra, e trazidos em magotes acondicionados em camionetas de caixa aberta. Vinham de centenas de quilómetros de distância – perdendo o rumo e o sentido das distancias – sendo despejados naquele depósito de paredes inexpugnáveis erguidas pelos medos da guerra. Muitos por ali ficavam de geração em geração, trabalhando de dia e trespassando a noite em bebedeiras colectivas de alienação de quaisquer desejos ou projectos de futuro que nem existiam.

A cantina – conceito eufemístico atribuído a uma armadilha com telhado e alguns bancos, montada num canto do terreiro mesmo ao lado dos locais de pernoita dos assalariados – vendia essencialmente cerveja e arvorava-se no único oásis em centenas de quilómetros em redor, sendo proporcionado pelo patrão, num acto de tocante solidariedade e preocupação, que procurava proporcionar aos funcionários momentos de divertimento e lazer nas horas vagas. Uma espécie de “centro comercial” onde se pudesse espairecer o espírito e recarregar baterias, depois de mais uma jorna no corte do capim ou na apanha dos bagos amargos do café, que por fim tisnados da cor da pele do assalariado, partiam picada fora levando consigo os silêncios da morte lenta, que a tropa ajudava a emudecer. Uma espécie de ratoeira colorida que embebedava os sentidos e ajudava ao esquecimento do dia anterior. Uma antecâmara de um futuro vazio, sem data nem sétimo dia, nem projecto de dia nenhum.

(continua)

Fernando Ribeiro disse...

(continuação)

Havia um vencimento mensal. Uma espécie de lenitivo de consciência ou cortina de nevoeiro que suavizava o peso e o sentido da presença colonial. Trinta e um escudos angolares mensais, alguns trinta e dois, representando em escudos do Puto (designação angolana da metrópole) menos vinte a vinte e cinco por cento, que era por quanto nos cambiava às escondidas o cauteleiro da Mutamba os escudos que trazíamos de Portugal. As relações de trabalho ali regiam-se pelas normas supostas em uso no continente e ilhas adjacentes. O vencimento era entregue com recibo e tudo, por via de regra assinado com uma cruz, sem Cristo mas igualmente dorida na carne e na alma, ou lambuzado com uma impressão digital de gordura, restos do último mergulho de mão na lata de peixe podre do almoço oferecido pela gerência. Para a maior parte, o recibo apenas saldava uma pequena parte da dívida amontoada na cantina que crescia mês após mês, qual algema invisível que apenas permitia trabalhar sem descanso e impedia o uso da liberdade de romper as grilhetas da submissão que os prendiam ao patrão e ao trabalho. De uma forma ardilosa, enredava-se o trabalhador numa teia de interesses de uma só feição, capaz de o prender para sempre a um ciclo vicioso, do qual apenas se conseguia desembaraçar pela lei da morte ou incapacidade total para o trabalho, como único atalho para a liberdade que só assim conquistavam. Uma prisão sem grades cuja fuga era impensável. Uma autêntica jaula cercada por centenas de quilómetros de terra escaldante impossível de transpor, na qual era necessário pagar para permanecer prisioneiro. As dívidas acumuladas na cantina conferiam ainda o lucro do patrão na venda das cervejas e um ou outro produto de primeira necessidade, subvertendo o velho rifão de dar com uma mão para tirar com a mesma, porque a outra brandia o chicote e mantinha a ordem de uma desordem que não existia.

Era o Santos que me explicava toda esta teia complexa de relações humanas e de trabalho. Era evidente a sua enorme dificuldade em aceitar as coisas tal como funcionavam ali, ainda por cima sob a protecção da tropa, que era algo que o transtornava de forma particular.

Voltámos a falar no assunto por diversas vezes e outras tantas nos confortámos mutuamente, convencendo-nos de que pouco ou nada podíamos fazer, senão apontar uma G3 à barriga bem nutrida dum capataz bruto e servil, no fundo também ele escravo dos verdadeiros proprietários da fazenda, esses sempre ausentes, viajando pelo mundo inteiro, tentando convencer jovens Alferes de que a aquela guerra estava ganha e que o inimigo afinal nem existia. Aos poucos fui entendendo que, afinal, o inimigo estava bem mais próximo de nós do que se supunha. Como fui paulatinamente assimilando os conceitos e preconceitos que me debitava o meu companheiro de viagem de Lisboa até Luanda. Como entendia agora a consideração em que me colocava, deixando-me até um convite para o visitar na sua mansão algures não sei onde, mas certamente distante, muito distante, daquele local perdido e quase desconhecido em pleno coração dos Dembos.

(...)"

Pedro Cabrita, ex-capitão miliciano, em http://ccav2692susaeles.blogspot.com/2020/04/parte-3-270-dia.html.

Fernando Ribeiro disse...

A respeito de São Tomé, lembro a célebre morna "Sodade", que Cesária Évora tão bem cantou.

Lembro também uma canção de Bonga, sobre um poema em língua quimbundo de Mário Pinto de Andrade, chamada Muimbu ua Sabalu (Canção de Sabalu), em que ele canta o seguinte:

Mon'etu a kasule
Akutumisa ku São Tomé
K'exirié ni madocumento
Aiué! Aiué!


Nosso filho caçula (mais novo),
Foste levado para São Tomé.
Não tinhas documentos.
Ai! Ai!

Mon'etu uaririle
Mama uasalukile
Aiué! Aiué!
Akutumisa ku São Tomé


O nosso filho chorou.
A mãe enlouqueceu.
Ai! Ai!
Foste levado para São Tomé.

Mon'etu uai kiá
Uai mu pura iá
Aiué! Aiué!
Akutumisa ku São Tomé


O nosso filho já foi,
Foi no porão deles.
Ai! Ai!
Foste levado para São Tomé.


Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano, C.Caç. 3535 / B.Caç. 3880, Angola 1972-74