terça-feira, 22 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22306: Memória dos lugares (422): CTOE - Centro de Tropas de Operações Especiais, Lamego: reportagem da visita possível, mais de 60 anos depois (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Foto nº 1   > CTOE - Centro de Tropas de Operações Especiais (criado em 1960 c0mo CIOE - Centro de Instrução de Operações Especiais) (vd. o blogue do nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro, "Rangers & Coisas do MR")

Por detrás do Virgílio Teixeria, musealizada,  uma metralhadora quádrupla  AA CMK1 20mm m/953



Foto nº 2 > O velho convento de Santa Cruz, onde se instalou em agosto de 1839 o regimento de infantaria nº 9


Foto nº 3 >  Uma relíquia da história  da nossa artilharia, o obus 7.5, de montanha, de origem italiana (segundo o nosso especialista, cor art ref António J. Pereira da Costa, que faz hoje anos...)



Foto nº 4 > Legenda: "RI 9. As sentinelas dos terrenos dos paiois abrirão fogo sobre quem tente escalar os muros, 1948"...



Foto nº 5 > Làpide de homenagem a um dos primeiros comandantes da unidade militar de La,ego, o RI 9, no período de 1849-1862, o Cor José Manuel da Cruz



Foto nº 6 > Interior do quartel, visto da porta de armas...


Foto nº 7 > O Virgílio Teixeira, sessenta anos depois...


Fotos: © Virgílio Teixeira  (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de 6 do corrente, enviada pelo Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); economista e gestor, reformado; natural do Porto,vive em Vila do Conde; tem cerca de 170 referências no nosso blogue.

Ontem fiz uma visita de estudo ao CTOE - Quartel dos Ex- Rangers de Lamego.

Eu passei por lá, no ano de 1960, acompanhando 
o meu querido irmão Jorge Teixeira (1941 - 2021, num camião militar, ele ia lá fazer um serviço, e demoramos um dia do Porto até lá, pelas curvas do Marão velhinho. Ainda não se falava da guerra de África.

Para os que lá passaram e para outros, tem interesse ver como hoje está aquilo? Se for de algum interesse posso fazer um pequeno comentário com foto. Bem como a visita a um Hotel Rural, Casa dos Viscondes da Várzea, em Lamego, da Maria Manuel Cyrne, um espectáculo do Douro, ou a rota dos Barcos do Douro, rio acima, rio abaixo, até ao Pinhão, com a passagem da Eclusa de Barragem da Régua; os antigos e actuais comboios até Barca de Alva... ou, as maravilhosas vistas e paisagens na rota do Túnel do Marão e obras de arte, em pleno Alto Douro...

Aguardo Respostas!

Ab, Virgilio Teixeira

2. Resposta do nosso editor, em 7 do corrente:

Virgílio, essa história de 1960 pode e dever ser contada... Como a tua visita de saudade, 60 anos depois... Mete nas legendas das tuas fotos... E podes fazer mais outro poste com a tua viagem pelo Douro: temos uma série, "Os nossos seres, saberes e lazeres", que também podes usar...

Aliás, dou-te os parabéns por te meteres ao caminho com a tua Manuela... Portugal tem muito por descobrir, de Norte a Sul, Leste a Oeste. (...)

Abração, Luis

3. Visita a a Lamego, em 5 de junho de 2021. Tcxto e fotos enviados em 14 do corrente;

Objectivos fotografar e visitar o antigo centro de formação de Rangers, termo americano importado, porque o primeiro curso foi dado por um ranger americano.

Conheci no início da sua formação com 17 anos, em 1960 numa deslocação com o meu falecido irmão Jorge, 2« sargento rádio montador profissional de transmissões. Numa coluna militar saída do Porto, ele ia com a missão de montar o sistema de rádio não existente entre as unidades. 

Eu fui à boleia na caixa do camião coberto de lona, não me lembro a marca, mas era tudo velho e avariavam na subida do Marão. Foi preciso um dia inteiro e passei frio. Dormi no quartel mas não me lembro de pormenores.

Nunca mais visitei o Centro, mas de Lamego o que mais me lembrava era daquela aventura, claro que a boleia não estava autorizada, fui clandestinamente, sem problemas visto que eu já nasci e fui criado quase dentro dos quartéis, como familiar de profissionais.

Regressamos 2 dias depois sem problemas que eu saiba.

Li nos comentários do blogue alguém que esteve nos Rangers, suponho que numa conversa com o João Crisóstomo em que ele sentia uma certa nostalgia desse passado, e como temos cá muitos Rangers, comecei a matutar na ideia, de ir ver o Quartel de Lamego, hoje quartel de Santa Cruz em homenagem a um ten cor, não sei bem se é assim, há uma placa pouco legível que fala no ten cor José Manuel da Cruz, há uma data parece 1846, mas vamos em frente porque não sei inventar.

Já não tendo pedalada para fazer a viagem e conduzir por aquelas estradas, combinei com a minha filha mais nova, e marido, com o pretexto de irmos revisitar a Régua e assim o meu genro nos levar.

É lá fomos, passando pelo túnel do Marão, seguindo os barcos rio Douro acima, a passagem pela eclusa da comporta da barragem da Régua, não sabia bem como funcionava aquilo, fomos ainda à uma bela quinta onde o meu genro tinha estado em grupo pela empresa, com umas vistas fantásticas e falei então que gostava de ir fotografar o Quartel dos Rangers, e assim fomos. Ele também tem um familiar que lá esteve e poderá ver as fotos.

Grande desilusão, passamos lá uma hora a fotografar o que havia à vista, não encontramos viva alma, tudo fechado a 7 chaves, era Sábado e o tasco fechou para fim de semana, penso eu, espreitei lá para dentro e nem um cão de guarda se via.

A ideia que fica é um local isolado como deve ser, mas que encerra ao fim de semana, pois chegamos antes do meio dia.

As fotos que junto não estão legendadas, mas dá para perceber, em especial para quem foi hóspede. As luvas brancas que uso é uma necessidade dermatológica, isto é uma chatice.
 
Lamento desiludir as pessoas, não fazia ideia de estar tudo fechado.

Despeço-me com amizade.
Virgílio Teixeira

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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de junho de  2021 > Guiné 61/74 - P22290: Memória dos lugares (421): quartel do BENG 447, Brá, Bissau, um hotel de cinco estrelas

10 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio, vê se está tudo nos conformes...Tive que inventar umas legendas, com a ajuda do blogue do nosso "ranger" MR...(que de resto pode acrescentar algo mais, nas legendas ou em comentário). Nunca fui ao quartel e de Lamego conheço apenas o santuário e pouco mais...

Estou "prisioneiro" em casa, fechado no quarto como um puto, desde sábado...Em "confinamento profilático", e a caldos de galinha!... Fiz ontem o teste da Covid-19. Rezo para que seja negativo...Já não tenho febre nem diarreia... Nem posição para estar sentado na cama!...

Aproveito para dar um salto ao blogue e sobretudo ler: A Peste, romance de 1947, do Albert Camus; e o Fernando Pessoa, claro, que é livro de cabeceira (na excelente seleção de poemas, feita pelo saudoso Eduardo Lourenço, edição da Visão, 2006).

O João Crisóstomo vai ficar contente com a tua lembrança. Ele hoje faz anos.

Um abraço fraterno, Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio, hoje os quarteis são como as igrejas, só abrem à hora da missa... Tenho duas igrejas na minha terra, que são monumentos nacionais. Estão fechadas. Já não há padres nem cristãos. Nem tropas. Dantes as igrejas e os quartéis estavam cheios... Há quem tenha saudades desse tempo. Eu não. Mas obrigado pelo teu esforço. Em Candoz, estou perto de Lamego que conheço só como turista estúpido. Um bom dia para ti. Luís

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Eu ainda fiz fogo com o obus de montanha (italiano da fábrica Ansaldo) 7,5 cm. Julgo que foi usado na guerra (Moçambique(?)) até as munições se gastarem. Era decomponível em 8 cargas transportadas "a dorso" e podia fazer tiro com inclinações superiores a 45º. Nesse caso, era necessário abrir um buraco para a culatra não bater no solo.
Também fiz fogo com a Met. AA 20 mm, mas creio que as munições foram cedidas à Marinha que as usava nas LFP numa Guiné (melhor). Esta arma nunca foi usada nos TO daquelas PU...
Ambas estão numa unidade de Oper. Esp.. Não têm que ver com aquilo, mas fazem bonito.

Um Ab.
António J. P. Costa

Anónimo disse...

Luis, obrigado pelo teu esforço. Desejo com toda a sinceridade que ultrapasses esta fase tão má, eu nem me quero imaginar. Também já tenho uma familia inteira fechada em quarentena. A filha mais velha, marido e filhos.
Vou tentar ultrapassar esta gaita, já tenho a minha dose com o problema dos dedos.
Eu vou mandar os parabens ao João Crisóstomo, e ao nosso Coronel António J. P. Costa, acho que ele é um bom comentador em qualquer assunto e isento.

Eu vi agora o Poste, levanto-me tarde e só depois do pequeno almoço, abro o telemóvel e computador, por isso são 11 horas e tenho de sair sem falta, mas volto mais tarde.

Só gostava de comentar sobre as fotos que foram inseridas, boa seleccção para aquilo que foi possivel.
Mas tem uma que passou despercebida, pois é verdade não fiz a legendagem.
É uma que fiz da porta de armas, de onde se pode ver algum do interior do CTOE. Estas aqui são só exteriores e não dá ideia de nada, excepto do abandono aos fins de semana.
Vê se consegues meter essa, é fácil identificar.

Até mais tarde,

Ab,

Virgilio Teixeira



Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Tó Zé, hoje é o teu dia de ser gentil...A "olhómetro" tirei as "medidas" ao obus... Acertei, 75... Como era de "montanha", nunca foi usada na Guiné... Só se fosse no Boé... Voi melhorar a legenda...

Tu que és um homem da artilharia AA, tens razão quando dizes: estas peças foram a Lamego, se calhar por "incultura geral"...Devia haver mais "carinho" por tudo o que a memória da nossa vida coletiva, incluindo pro estes "brinquedos bélicos"...

Ainda há uns semanas vi na RTP, na série "Visita Guiada", o episódio nº 5, sobre o sistema de defesa da costa de Lisboa... E é confragedor ver o estado de vandalização a que chegou o forte da Trafaria (onde tenho ideia que chegaste a prestar serviço!).

Toda esta "tralha" dá para fazer um parque fabuloso, com as peças de artilharia e os bunkers musealizados. É como o nosso a "arqueologia industrial" ou "sanitária... A "arqueologia militar" tem de ser salva, protegida, restaurada... Argumenta-se que os "pobres" não podem dar-se a estes luxos...

Vê aqui (e boa continuação das festas!):

Artilharia de Defesa da Costa de Lisboa, Plano Barron

Episódio 5 de 25 Duração: 40 min

https://www.rtp.pt/programa/tv/p40436/e5

Em 1939, António de Oliveira Salazar encomenda ao Exército Inglês um relatório sobre a defesa do Porto de Lisboa. O relatório Barron fará o levantamento da segurança da capital portuguesa, em caso de ataque por mar, e proporá um sistema de defesa de costa eficaz.

O sistema defensivo que se concebeu a partir do relatório Barron foi implantado no terreno entre os anos 40 e 50 do séc. XX e esteve ativo até ao final dos anos 90. É o quinto sistema de defesa do Porto de Lisboa desde o século XVI.

De Alcabideche à Fonte da Telha, onde se encontram algumas das oito baterias do chamado Plano B, uma visita guiada por Maria Rita Pais, investigadora de arquiteturas militares, e pelo antigo oficial da RAC (Regimento de Artilharia de Costa), Coronel Alpedrinha Pires.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio, desejo as melhoras e boas notícias. Já inseri a foto nº 6 (de um total de 7). LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Delicioso o "aviso ao povo" (foto nº 4)... Estamos em 1948, a tropa do RI 9 não fazia coisa por menos: "Fogo sobre os escaladores dos muros dos paiois"... Curioso, já que ainda não havia, nessa época, tradição de alpinismo no país dos brandos costumes... Mas esta "chapa", só por si, valeu a viagem, ó Virgílio!

Anónimo disse...

Revisto o poste, já está melhor, faltava a foto 6, a única onde se pode fazer uma ideia do que é para lá da porta de armas.
Obrigado pelas legendas, pois na maioria não sabia o que era, e estava muito calor. Assim fiquei a saber mais o que representam, fiquei mais culto. Hoje, com este Poste, depois da viagem, fiquei a saber quase tudo da história do Quartel de Santa Cruz, é isso que está lá escrito, as fases porque passou, e além disso é no Norte e não na Amadora (sem segundas intenções)!

E não havia muito mais a fotografar, tenho mais uma dúzia delas, mas vai tudo cair no mesmo, um deserto de morte. O parque de estacionamento estava vazio, e havia bastante movimento em Lamego.

Não tenciono voltar lá, só com uma garantia de uma viagem guiada, por aqueles locais sinistros, e de má recordação para tantos!
Luis, podes ver que aqueles avisos e memoriais, estão escritos na pedra, que tanto adoras.

Abraço,

Virgilio Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio: como tu não gostas de inventar, e muito vem, aqui tens uma fonte bibliográfica:

Resumo histórico do Regimento de Infantaria nº 9. - Lamego : Minerva da Loja Vermelha, 1930. - 22 p. ; 20 cm.

Cópia digitalizada disponível aqui, na Biblioteca Digital Nacional:


https://purl.pt/26965/3/#/1

Vou-te mandar o pdf... Para melhor se perceber a foto nº 5, segue este excerto (pp. 21/22):

_________________________

Instalações definitivas

O quartel que o Regimento ocupa em Lamêgo, desde Agosto de 1839, é constituído pelo Convento e Cêrca dos Cruzios, tendo estado sempre a cargo dos Militares até que, por concessão do Ministério da Guerra de 12 de Julho de 1884 a Igreja e o seu côro, dependência esta, em que, bem como na tôrre Sul se instalava a Arrecadação Regimental, foram cedidos á Confraria de Nossa Senhora da Conceição, mediante uma remuneração de 700:000 reis para construção de uma dependência equivalente á cedida.

O Paiol está instalado próximo do quartel, numa eminência a Oeste, dominando o Campo de Santa Cruz, que constitui a "Parada Exterior do Quartel" e serve de «Campo de Instrucçãondo RegimentO'i, embora desde longa data ali se realisem mercados periódicos.

Este Campo, outróra um souto, levou dezoito anos a aplanar (1846 a 1864) pelos soldados do Regimento e por iniciativa do Comandante, Tenente Coronel, José Manuel da Cruz, que, no cunhal da Tôrre, mandou inscrever a data de 4 de Abril de 1848.

O Hospital Militar acha-se estabelecido junto á Igreja de S. Francisco, na Ruade Almacave, em edifício que foi dos Frades Franciscanos.

A primitiva Carreira de Tiro existia próximo da povoação de Juvandes, na margem direita do Rio Balsemão, a 6 kilometros de distância de Lamêgo. Tinha 403 metros de extensão.

A actual existe junto do Cemitério de Penude, a 5 kilometros de Lamêgo, onde foi construída pelos soldados do Regimento, com 600 metros de extensão, por 15 de largura, com espaldão natural, abrigo para marcadores e alojamento para uma Companhia.

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António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
Aqui há uns anos pretendeu-se criar nas U/E/O do Exército "colecções visitáveis" expondo especialmente artilharia e outros meios de combate. Assim pretendi-se dispersar pelas unidades material que, se estivesse armazenado não se divulgaria e não teria interesse. É assim que nos aparecem materiais em unidades que pouco têm que ver com eles.
Pretende-se ou pretendia-se que nas unidades houvesse pessoal que conhecesse aquelas armas e soubesse falar delas. Além disso, a manutenção seria mais fácil por estar dispersa e a cada unidade fossem atribuídas poucas armas que pudessem ser mantidas. É sempre bom que estes materiais estejam sob telha e em lugares abrigados. De outra forma sucedia o que aconteceu à colecção que estava no jardim junto à Porta-de-Armas do CIAACascais...
Um Ab.
António J. P.Costa