sábado, 26 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22317: Tabancas da Tabanca Grande (6): O régulo vitalício, José Belo, da sempre saudosa Tabanda da Lapónia, de regresso de Key West, traz-nos uma história da espionagem russa e sueca durante a guerra fria, em 1982, ao tempo ainda de Olof Palm

1. Mensagem de José Belo que acaba de ultrapassar as duas centenas de referências no nosso blogue... 

Para quem não sabe, ele foi (e continua a ser) um "Maioral", ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70) e é hoje cap inf ref do Exército Português... 

Temos  um especial carinho por ele por ser o único exemplar que conhecemos, vivo, de uma espécie que nunca chegou a existir ou que pura e simplesmemte  desapareceu há muito: os luso-lapões... A ser verdade que ele é um exemplar único, então é porque é ou foi "desenhado" como um protótipo... Se  o não fosse, hoje seria coronel de infantaria reformado e andaria pela linha do Estoril a mostrar as mazelas e as sequelas de guerras passadas... Felizmente para ele a Pátria / Mátria / Fátria mandou-o para longe... ou não fez nada para o trazer de volta... Vive na Suécia há 4 décadas. Mas nunca se sabe por onde pára...

Por acaso, soubemos, pelo blogue da Tabanca do Centro, em poste de 14 junho último, que o José Belo tinha acabado de regressar "depois de uma muito interessante estadia em Key West, Florida,  com muito jazz e não só".... E esclareceu: "Voltei à Suécia para participar num encontro de antigos juristas de Direito Internacional tanto americanos como suecos"... Coisa que poucos sabem, ele é também jurista, especializado nesta área, a do direito internacional...

Há dias fez "prova de vida" (, como convém nas nossas idades...), perante a Tabanca Grande,  e veio relembrar-nos então um episódio, já esquecido por todos nós,  de um grave incidente, ocorrido em outubro de 1982, há quase 40 anos, com um submarino atómico russo que "encalhou" em águas territoriais suecas. Era então primeiro ministro Olof Palme (1982-1986) (já o tinha sido em 1969-1976). 

Como é sabido, a Suécia é uma país neutral ... com uma relação especial com a NATO (a que não pertence nem nunca pertenceu). O que não a impediu de ser uma potência regional, crítica da política externa imperialista tanto dos EUA como a URSS.

Porque todos fomos filhos e vítimas da "guerra fria" que opôs uma metade do mundo contra outra metade, faz-nos bem recordar estas histórias de modo a aumentarmos a nossa capacidade de resistência e resiliênca face à guerra, a todas as guerras, frias ou quentes (de que Deus nos livre!).  Bem vistas as coisas, a nossa geração nasceu e viveu, uma grande parte da sua vida, em plena guerra fria, o período de grande tensão geopolítica que opôs dois blocos militares, a NATO e o Pacto de Varsóvia, durante quase meio sécul0, de 1947 a 1991 (, ano da dissolução da URSS). Houve alturas, gravíssiamas, em que estivemos quase à beira da III Guerra Mundial.

Em suma, bem vindo de regresso a casa, Zé Belo! (LG)

 
Date: terça, 22/06/2021 à(s) 11:44
Subject: Ainda a espionagem russa e sueca durante a guerra fria 


Durante um considerável período de tempo os soviéticos usaram os seus submarinos estacionados no Báltico para tentar infiltrações nas numerosas defesas marítimas suecas.

Tendo em conta existirem numerosos arquipélagos ao longo das costas suecas (só o arquipélago de Estocolmo é formado por mais de 40 mil(!) ilhas ) esta tarefa de defesa é complicada.

Os incidentes eram frequentes e levavam ao uso de cargas de profundidade  por parte da marinha sueca.
Um caso extremo sucedeu a 27 de Outubro 1981.

O submarino soviético U-137 encalhou nuns rochedos junto de Thorhamnkär, na entrada do estreito que conduz à maior e mais secreta base naval sueca de grande importância estratégica.
Esta base está rodeada de um vasto perímetro de segurança onde é proibida a estadia de cidadãos não suecos.

Dispõe de profundos túneis cavados na rocha onde tanto barcos como instalações de radar e artilharia de costa se encontram resguardados.

O submarino, navegando à superfície aproveitando condições meteorológicas extremas, conseguiu infiltrar-se até cerca de dois mil metros da base na altura em que  encalhou. Dispunha de modernos  mísseis de carga atómica.

De imediato, e temendo represálias aquando do regresso à União Soviética, o comandante do submarino e grande parte da tripulação pediram exílio político às autoridades suecas.

O primeiro ministro sueco na altura era Olof Palme (1927-1987) que de imediato procurou soluções políticas para o incidente. Os soviéticos no entanto não aceitaram negociar.

Apresentaram um ultimato de muito curto prazo no qual exigiam a devolução do submarino com a totalidade da tripulação. Caso tal não viesse a suceder no prazo estipulado,  eles viriam buscar o submarino usando todos os meios para tal necessários.

Ao mesmo tempo em que grande parte da esquadra soviética do Báltico estacionava no limite das águas territoriais suecas precisamente frente à base naval. Os suecos deslocaram reforços marítimos, aéreos  e terrestres para a zona.

Veementemente aconselhados internacionacionalmente, acabaram por aceitar o ultimato rebocando o submarino, com a totalidade da tripulação, até junto da armada soviética.

Como seria de esperar, aquando do regresso à União Soviética, a história terminou "menos bem" para o Comandante e alguns membros da tripulação.

E incidentes mútuos continuam nos nossos dias com uma Rússia pós-soviética.

Um abraço, J. Belo
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Nota do editor:

Último poste da série > 30  de maiode 2021 > Guiné 61/74 - P22239: Tabancas da Tabanca Grande (5): Convívio de 4 tabancas (Sra da Graça, Matosinhos, Candoz e Atira-te ao Mar) na terra das 3 pontes, Peso da Régua

2 comentários:

Anónimo disse...

Joseph Belo (by email)

Data - 26 jun 2021 13:32

Assunto - A espionagem militar entre a Suécia e a Rússia durante a guerra fria e … nos nossos dias.
Caro Luís

Creio ser de interesse imediato,quanto ao texto sobre a espionagem militar soviética,a apresentação deste esclarecimento (demasiado longo para ser “comentário”).

As situações criadas pela espionagem militar de ambos os países era, e é hoje em dia,paralela, e com responsabilidades óbvias de ambas as partes.

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As “animosidades” sueco-russas têm longas raízes históricas de mais de 10 séculos independentemente dos regimes políticos ao longo dos tempos.

Desde o período em que a Suécia dominava o mar Báltico e uma muito grande parte do norte europeu até aos nossos dias.

Todos os incidentes que se sucedem regularmente( hoje em dia) envolvendo Marinhas e Forças Aéreas de ambos os países deverão ser analisados desde uma longa perspectiva histórica.
É um livro ainda não encerrado ,com todos os perigos que o facto acarreta.
Os actuais interesses geo-estratégicos norte-americanos, e da NATO ,mais não são que detalhes à margem desta narrativa histórica .~

As contínuas actividades de espionagem militar por parte dos Russos têm respostas por parte da Suécia.

Enquanto ,durante a guerra fria, os Estados Unidos fotografavam alvos de interesse militar desde uma muito elevada altitude ,”encomendavam “ à Força Aérea sueca(então considerada a quarta a nível mundial,tanto pelo número de esquadrilhas,qualidade dos aviões,modernidade técnica e preparação dos Pilotos) fotografias a muitíssima baixa altitude (para evitar os radares soviéticos da época) de bases e outros alvos militares tanto no Norte Sovietico como dos países socialistas com bases militares na costa oriental do Báltico.

Nestas actividades de espionagem aérea 560 (!) pilotos suecos perderam a vida durante todo o período da guerra fria.

500 abatidos pelos soviéticos e 60 por mortes devido a avarias ou falta de combustível aquando do regresso das missões.

Tinham ordens terminantes quanto a serem evitadas (quando perseguidos) as rotas mais próximas ,e óbvias ,no regresso à Suécia ,procurando evitar conotações evidentes.
A neutralidade sueca e os interesses norte-americanos continuam a ser um capítulo feito de variegadas “nuances”.


Nas enormes distâncias do Círculo Polar Árctico o facto de o meu vizinho mais próximo viver a 297 quilómetros da minha casa nada diz de especial.

No entanto nos últimos anos tenho sido surpreendido pela passagem de colunas de blindados dos Marines Norte-americanos junto à minha casa.

A Suécia não faz parte da NATO mas,de qualquer modo,fazendo Portugal parte da Aliança não é todos os dias que colunas militares norte-americanas se passeiam entre os chaparros…Alentejanos!

Um abraço do J.Belo

José Botelho Colaço disse...

Joseph Belo: Para um ser humano como eu abaixo dos conhecimentos mínimos do Mundo que nos rodeia fica estupfacto com estes factos. Obrigado meu capitão.