terça-feira, 5 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23143: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXXI: Itália, Florença, 2015





Florença (Firenze, em italiano) e os seus tesouros artísticos mundialmente :conhecidos  a Ponte Vecchio; o Nascimento de Vénus, de Boticcelli; a Vénus de Urbino, de Ticiano; o David, de Michelangelo



Florença, Itália, 2015

por António Graça de Abreu (*)


[Docente universitário reformado,  escritor, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangu
e e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74; é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem 307 referências no blogue; texto e fotos enviados em 2/4/2022; as imagens presumimos que sejam retiradas da Net, e sejam do domínio público, ou se trate de postais com reproduções artísticas, compradas pelo autor em Florença]


Até morrer, todos os anos hei-de ir a Itália.

António Mega Ferreira


Três vezes em Florença, a última em 2015, com Dante Alighieri e Nicolau Maquiavel por perto, neste burgo toscano onde “nostro intelleto si profunda tanto” [1] que é infinita a inteligência e o espanto.

Circunvoluções no interior de palácios da cidade sombreada a flores. O exuberante pulsar das antigas ruas, as torres, as duas margens do rio Arno unidas pelo cintilar de correntes de prata, tudo vecchio, como a ponte dos ourives, respirando restos da cinza depurada pelos séculos.

Nos Ufizzi, escritórios de outrora, a Vénus de Urbino, de Ticiano, escandalosa e púdica, mais maravilhas de Leonardo da Vinci. E Boticelli, Caravaggio, Michelangelo, Rafael, e tantos mais.

Do pincel de Boticelli, a deusa Vénus, mulher recatada e triste, abre-se numa concha, diante das mil maldades do mundo. O feminino perfeito, a mão púdica acariciando o seio pequeno, a outra mão no sexo enovelando o esplendor de cabelos de oiro.

Num túmulo rendilhado em São Miniato, um cardeal português, um tal D. Jaime, filho do infante D. Pedro, tão jovem e tão precocemente falecido. Cá fora, a reverência dos ciprestes e das flores do azevinho. Ao longe, a cúpula de Santa Maria del Fiore suspensa no céu azul.

O David gigante, de Miguel Ângelo, em cópia na Piazza della Signoria, o original na Academia, um corpo poderoso e claro, cinco metros de perfeição em mármore de Carrara. Em frente de mim, duas monjas clarissas ajoelham diante do esbelto David, nu, branco, imaculado, os músculos, as veias, o sexo, o suave e violento retesar da energia, a arte do sagrado e da humana poesia. A luz e a harmonia.

Florença, a Toscânia pujante, o ondular dos campos, searas e olivais. Uma taça de chianti, vino nobile ao cair o dia, enobrece a estadia. 

[1] Dante Alighieri, La Divina Commedia, Il Paradiso, I, verso 8.

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1 comentário:

Valdemar Silva disse...

Nesta estátua do David, de Miguel Ângelo, e outras cópias, são muito observadas a espetacular construção, a carinha e pilinha do David e pouco observada a desproporcionada mão do bracinho estendido.
Dizem que se trata duma "manu fortis" (mão forte) atribuída ao David bíblico na idade média.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz