Caro Ramiro Figueira
Foi bom ter voltado a Canjadude e Che-Che, apesar de ser em pensamento, sítios por onde andei e onde permaneci dois anos, já lá vão mais de cinquenta.
Na verdade, nós saímos da Guiné, mas a Guiné não sai de nós.
Abraço.
Zé Martins (**)
13 de julho de 2022 às 09:27 (*)
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Notas do editor:
(**) Último poste da série > 13 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23426: Frase do dia (2): Quando o General Bettencourt Rodrigues chegou à Guiné (21Set73), já a FAP tinha destruído as bases de apoio do PAIGC no estrangeiro, Kumbamori no norte, Kambera e Kandiafara no sul, faltava Koundara no leste, a alguns quilómetros de Buruntuma (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74)
12 comentários:
Essa é uma pergunta que vale um milhão de dólares (agora mais forte que o euro...): atão, porquê ? Serão os ex-combatentes da Guiné uns gajos masoquistas ?... Não se vê os franceses a dizerem o mesmo da Indochina e da Argélia, ou os americanos do Vietname... Nem talves os ex-combatentes de Angola ou Moçambique...
Zé, há quem pense que é apenas saudade dos verdes anos perdidos... Outros, mais críticos, dirão que é masoquismo...
Ainda há tempos um camarada nosso, ex-combatente na Guiné, do teu tempo, se queixava da família: Sempre que abro a boca, e falo na Guiné, à mesa, caem-me logo todos em cima... ' Lá estás tu a chafurdar na merda...'
"Na verdade, nós saímos da Guiné, mas a Guiné não sai de nós.", José Marins 13.07.2022.
Então, o que dizem os nossos camaradas filósofos que também os temos aqui no blogue?
Para mim, às vezes, o ter estado na guerra na Guiné é como a ligação de uma mãe a filho que muito sofrimento lhe deu ao nascer.
(porra, aquela porcaria deu-me grandes chatices, mas agora gostava de lá ir outra vez).
Saúde da boa e cuidado com o calor
Valdemar Queiroz
Olá Camaradas
"Na verdade, nós saímos da Guiné, mas a Guiné não sai de nós."?
Pois claro que a Guiné não sai de nós! Foi uma experiência traumática com a duração de dois anos, num momento muito marcante das nossas vidas. Além disso, nunca poderemos esquecer que íamos fazer algo de positivo e de importante para a Pátria... apesar de não querermos ir.
Daí que nos venha a tal curiosidade de irmos ver como se vive lá hoje e como está o que deixámos. Nada de "masoquismos", mas talvez um certo saudosismo nada condenável.
Creio que é isso e nada mais...
É verdadeiramente lamentável que na nosso família alguém se permita dizer: "Lá estás tu a chafurdar na merda...", sempre que falamos na Guiné... É uma desumanidade e uma insensibilidade e, o que é pior, às vezes até por parte das "patroas"!
Penso que, se tivéssemos estado presos numa penitenciária qualquer seria mais fácil a comunicação com os outros e a aceitação do que disséssemos. Se calhar, ao falar da Guiné, mostramos algo que "os outros" não têm para exibir e, por isso, reagem com aquela boçalidade. Não somos nós que estamos errados são "eles" que fazem a catarse da sua inferioridade. A malta do psi que descreva o fenómeno... mas os "mestrados" estejam quietos!
Um Ab.
António J. P. Costa
Um Ab.
Interessante esta frase e algumas coisas boas ficaram e penso que a nossa mente filtra o que de mau passámos ao longo da Comissão. Tenho uma casa de férias em Alcácer do Sal e, nesta altura do ano (Arroz) as melgas e mosquitos são mais que muitos. Comigo não querem nada e com os meus familiares, mulher, netos, etc. é uma lástima. Na guiné fui vacinado contra essa praga que nos picava mesmo através do camuflado. Outra coisa engraçada é que na Guiné eu, se calhar como muitos de vós comia outras até fartar e aqui não consigo comer. Ele há coisas inesquecíveis a feta do "Fanado", bailaricos com população local.....Não são saudades, são memórias.
Ab.
António Mendes da Silva
Alf. Mil. Com.
António Mendes, se calhar são essas pequenas grandes coisas que nos "marcam", para além do "sangue, suor e lágrimas"...Sem dúvida, o contacto com a população, gentil, da Guiné... Sem dúvida, os cheiros e os sabores... Sem dúvida, as ostras (e outros petiscos, como a galinha de cafriela...). E muito mais, afinal...
Fernando Ribeiro, claro que que não quis (nem quero) ofender os ex-combatentes de Angola e de Moçambique que são tão "especiais" como os da Guiné...
A verdade que é quase toda a malta (com exceção de quem nunca saiu de Bissau) conhecia a "Guinezinha" (omo dizia a Cilinha...), no todo ou em parte... Antes ou depois... A Guiné é do tamanho do Alentejo... E fica mais perto de Portugal do que Angola ou Moçambique... Muita malta lá voltou em "turismo de saudade" (sic)... Angola e Moçambique ficam mais "fora de mão" e apresentavam, durante anos, "problemas de segurança"...
Mas ainda bem reagiste à minha "provocação" (ou melhor,"insinuação")... Sobre os antigos combatentes da Indochina, da Argélia e do Vietname, confesso que sei pouco...Mas podes partilhar connosco o que tu sabes...
Tó Zé, é por essas e por outras reações "adversas" ou "condescendentes" de amigos e familiares, que eu também ouço dizer: "Agora, só falo da Guiné nos convívios da malta"...
Eu, por um lado, entendo: as nossas "caras-metade", os nossos filhos,os nossos parentes, e muitos dos nossos colegas de trabalho e amigos... não sabem do que é que falamos...E sobretudo não querem mostrar "empatia" para com os antigos combatentes... Não querem pôr-se na nossa pele... Como se tivéssemos "lepra"... Há um certo "pecado original" por se ter sido antigo combatente... Há um estigma, que terá nascido com o 25 de Abril... Afinal, os "heróis" foram os faltosos, os refractérios, os desertores, os exilados políticos... ouve-se dizer por aí, às vezes. A verdade é que o "regime democrático" atirou com a guerra colonial para debaixo do tapete (já ninguém diz "guerra do Utramar", e na Academia Militar é a "guerra de África"...).
Confesso que durante anos, omiti essa "parte" do meu "curriculum vitae"... Acho que isso acontece em todas as guerras..."perdidas". Os alemães não visitam Auchwitz (disseram-me quando lá estive)... Ninguém sabe fazer o luto da guerra...
É uma assunto que dá pano para mangas...
Quer queiramos, quer não, na Guiné era diferente de Angola e Moçambique. Afirmo isto porque tenho entre os meus amigos, como todos nós, gente que andou por essas bandas, com quem tenho dialogado.
O teatro de guerra era pequeno, tanto quanto a "província" A maior parte dos que estavam no interior tinha o seu aquartelamento com tabancas ao lado, ou, como eu, vivia na própria tabanca. As operações, apesar de duras e violentas, eram de curta duração, na maioria dos casos. Alguns de nós, como eu, passávamos muito tempo na tabanca. A população recebia-nos bem -sabia acolher e conviver. Confesso que em Mampatá do Forreá sentia-me em casa e ainda hoje tenho lá "ermons" "sobrinhos" e até "filhos". Para outros sou "avô". Até já me ofereceram uma casa para eu ir para lá viver. Todos os dias tenho alguém a pedir-me amizade no FB dizendo-se filho de A, neto de B, etc. De Empada nem tanto porque a tabanca ficava ao lado do quartel e o convívio era menor, mas quando lá estive em 2005, 2011 e 2013 fui reconhecido, bem recebido e mimado.
Quando entrei no Barco - O Niassa - para regressar a casa, lembro-me de ter dito cá para mim: Adeus Guiné para sempre, jamais cá voltarei, e passados uns anos, a saudade daquela gente, a beleza daquela terra, começou a atormentar-me. Agora é a minha segunda Pátria.
Ainda há dias, filha do Chefe de tabanca de Mampatá, e creio que à data Régulo do Forreá, esposa do atual Régulo de Contabane, ao chegar a Lisboa, me telefonou para saber com estou e a minha "senhora" e para nos encontrarmos em breve.
Zé Teixeira
Pois e Martins foi uma etapa da vida que gracas a Deus ainda estamos a gozar.
Ex furr miliciano Germano Penha
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