sábado, 16 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23435: Frase do dia (4): Quer queiramos, quer não, na Guiné era diferente de Angola e Moçambique... É a minha segunda pátria. Confesso que em Mampatá do Forreá sentia-me em casa e ainda hoje tenho lá "ermons", "sobrinhos" e até "filhos". Para outros sou "avô". Até já me ofereceram uma casa para eu ir para lá viver (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70)

1. Comentário de José Teixeira ao poste P23429 (*):

(i) ex-1.º Cabo Aux Enf,  CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70);

(ii)  um dos históricos do nosso blogue, integrando a Tabanca Grande desde 14/12/2005; 

(iii) autor de diversas séries (Estórias do Zé Teixeira; Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado; O meu diário); 

(iv) tem 374 referências no nosso blogue: é autor de vários livros, entre contos e poesia, o último dos quais "Palavras que o Vento (E)leva", 2022, 138 pp., edição da Poesia Impossível, a ser lançado em novembro próximo; 

(v) um fundadores e régulos da Tabanca Pequena de Matosinhos; 

(vi) voltou à Guiné-Bissau por diversas vezes; 

(vii) gerente bancário reformado; 

(viii) avô babado de três netos; 

(ix) mora em São Mamede de Infesta)


Quer queiramos, quer não, na Guiné era diferente de Angola e Moçambique. Afirmo isto porque tenho,  entre os meus amigos, como todos nós, gente que andou por essas bandas, com quem tenho dialogado. 

O teatro de guerra era pequeno, tanto quanto a "província". A maior parte dos que estavam no interior tinha o seu aquartelamento com tabancas ao lado, ou, como eu, vivia na própria tabanca. 

As operações, apesar de duras e violentas, eram de curta duração, na maioria dos casos. Alguns de nós, como eu, passávamos muito tempo na tabanca. A população recebia-nos bem -sabia acolher e conviver. 

Confesso que em Mampatá do Forreá sentia-me em casa e ainda hoje tenho lá "ermons" "sobrinhos" e até "filhos". Para outros sou "avô". Até já me ofereceram uma casa para eu ir para lá viver. Todos os dias tenho alguém a pedir-me amizade no FB dizendo-se filho de A, neto de B, etc. De Empada nem tanto porque a tabanca ficava ao lado do quartel e o convívio era menor, mas quando lá estive em 2005, 2011 e 2013 fui reconhecido, bem recebido e mimado.

Quando entrei no barco - O Niassa - para regressar a casa, lembro-me de ter dito cá para mim: "Adeus Guiné para sempre, jamais cá voltarei"... E, passados uns anos, a saudade daquela gente, a beleza daquela terra, começou a atormentar-me. Agora é a minha segunda Pátria.

Ainda há dias, filha do Chefe de tabanca de Mampatá, e creio que à data Régulo do Forreá, esposa do atual Régulo de Contabane, ao chegar a Lisboa, me telefonou para saber com estou e a minha "senhora" e para nos encontrarmos em breve.

Zé Teixeira
_________

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro Teixeira, caros camaradas:

Quando leio publicações sobre o chão que também pisei, em 1972/74, logo me reconduzo a esse sítio, não por ter sido por lá feliz, mas por me terem marcado para sempre as dores de um tempo mau. Claro que recordo também de momentos de doçura, do bulício da criançada a caminho da escola e da gente boa que por lá havia.
O Zé Teixeira, muito mais do que eu, prendeu-se ao povo da Guiné, muito especialmente à comunidade de Mampatá, e é hoje, com toda a propriedade e merecimento um luso-guineense, como o é também o Lobo de Quebo.
Sinto-me feliz pelo amor que o Zé Teixeira tem dedicado à Guiné.
Um grande abraço.
carvalho de Mampatá

Antº Rosinha disse...

A Guiné não seria muito convidativa para fazer dela a sua "segunda Pátria".

Havia um ou outro ex-militar que não regressou com a sua unidade à metrópole e ficou na Guiné mas contavam-se pelos dedos os casos notórios, e que assumiram a familia guineense que constituiram e a Guiné como se vivessem na sua própria terra.

Claro que com a decepção da independência que foi para o indígena, imaginemos o que foi a decepção para ex-colon.

Mas havia uma norma da tropa, que consistia que aquele militar que acabasse a tropa e quizesse ficar na colónia, podia ficar, e se quizesse vir com a unidade pra a metrópole e regressar como civil o estado pagava-lhe a passagem de regresso à colónia.

No caso de Angola, imaginemos quantos teriam optado ou por ficar ou regressar, não conheço estatística, mas que foi um bom corropio , isso foi.

Na Guiné conheci um operário na TECNIL, ex-cabo,mas que mais tarde em 1981 veio com a prole guineense para Portugal.

Conheci no Gabu um ex-cabo com uma prole enorme, mas que ainda em 1988 ainda permanecia por lá.

Haveria mais um ou outro caso, mas raros.

Talvez com o 25 de Abril, teria havido alguns mais, mas que tivessem optado de imediato pelo "retorno", com ou sem família.

Valdemar Silva disse...

António Rosinha
Quem quereria ficar na Guiné depois de terminada a comissão?
Para seguir a vida militar teria que vir à metrópole e depois, só se oferecendo voltaria à Guiné e outra vez à guerra. Se quisesse ficar como civil, o mais provável seria no negócio dependente da guerra que só em Bissau daria algum patacão.
Lembro-me, também, de um homem da Tecnil de Nova Lamego que tinha sido militar, que eu conhecia de Lisboa.
Angola e Moçambique era muito diferente. Na Guiné, sem ser em Bissau, havia os negócios ligados à Casa Gouveia e um comércio de sírios/libaneses que começava a apertar, daquilo que conheci, reduzido a Bafatá e Nova Lamego já ameaçado.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

José Teixeira disse...

O fato de gostar das gentes da Guiné, ter lá amigos verdadeiros e admirar a beleza natural no quer dizer - ir viver para a Guiné. Aliás, perto do fim da minha comissão fui convidado para ficar em Empada como enfermeiro, casa, mulher e sobrevivência garantida, o que naturalmente recusei.

José Teixeira disse...

Meu camarada e amigo Carvalho de Mampatá.
São mais as vozes que as nozes.

Abraços