Brasil, Rio de Janeiro > 2020 > No alto do Pão de Açúcar, com a Praia Vermelha, na Urca, e a praia de Copacabana, ao fundo.
Vinicius de Moraes e Helo Pinheiro... A Garota de Ipanema é a canção brasileira mais conhecida em todo o mundo, de tal icónica que tornou Ipanema, a belíssima praia carioca, um dos maiores cartões do Rio de Janeiro e de todo o Brasil. A música composta, em 1962, por Tom Jobim, génio da bossa nova, em parceria com o poeta Vinícius de Moraes, faz também parte do nosso imaginário lusófono. Foi o próprio Vinícius de Moraes quem, três anos mais tarde, revelou o segredo bem guardado: a musa de inspiração, a "garota de Ipanema", era Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto Pinheiro, ou simplesmente Helô Pinheiro, uma adolescente de 17 anos em 1962.
Foto´(Vinícius de Moraes e Helo Pinheiro): Créditos: Divulgação. Fonte: Letras > Quem é a Garota de Ipanema (com a devida vénia...)
[ António Graça de Abreu, foto à esquerda: (i) docente universitário reformado, escritor, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); (ii) natural do Porto, vive em Cascais; (iii) autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); (iv) ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74; (v) é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem mais de 310 referências no blogue; (vi) texto e fotos (sem legendas) enviados em 15/7/2022 ]
Rio de Janeiro, Brasil, 1989, 2015, 2020
por António Graça de Abreu (*)
O Rio de Janeiro é a natureza feita cidade (Stefan Zweig)
Gosto do Rio de Janeiro. Três vezes cirandando pela grande cidade, como diria Zweig, recortada pelo esplendor da natureza.
Em 1989, meio à aventura, um mês no Brasil, de lugar em lugar num velho Wokswagen Golf, e a minha tia Hermínia, irmã do meu pai, com muitos anos de terra brasileira, a amedrontar-me “ai, o menino, ai o menino.” E não houve ladrão para assustar e atacar, por Niterói, Cabo Frio, Búzios, Petrópolis, Nova Friburgo. Depois Paraty e Angra dos Reis. Desbravar o grande Brasil e ser feliz em lugares de encantamentos breves, em hotéizinhos de passagem na berma da estrada.
De volta ao Rio de Janeiro, em 2015, ao encontro reconfortante da família, primos do meu sangue, com uma conferência pelo meio na Universidade de São Paulo. Outra vez, mergulhar sozinho na cidade e nas ondas límpidas de Copacabana. Sem ladrão, nem assalto, o meu pobre aspecto de meio ventrudo septuagenário, careca e feio, quase assustando o homem da favela sobranceira que desce para o mar procurando angariar sustento na praia, e que devia pensar que o ladrão era eu.
2020, outra vez o Rio de Janeiro. Desta vez, cheguei majestosamente de barco, entrando ao alvorecer pela baía de Guanabara, pintada pela brisa da manhã a azul escuro e prateado. Foram dois dias para me aconchegar na cidade, subida ao Pão do Açúcar, compras em Copacabana, ida ao Maracanã onde joga o Flamengo e o Fluminense, mais uma caminhada curta pelo centro do Rio com breve visita à estranha Catedral e a descoberta, junto ao navio, no cais de Mauá, do original Museu do Amanhã, do arquitecto espanhol Santiago Calatrava, o mesmo da nossa Gare do Oriente.
Tempo de praia, molhar o corpo no sal de Copacabana. Porque o mar estava agitado, com ondas altas, procurei um recanto mais sossegado, a praia Vermelha, na Urca. Meus olhos deram de chofre em umas tantas moças pouquíssimo ataviadas de roupa, usando fio dental da cabeça aos pés, beldades perfeitas, descendentes dessas índias tamoio de antanho à mistura com sangue quente português, ninfetas do mar e da terra, companheiras e amigas, superiores aos homens, todas netinhas da "leda e formosa" garota de Ipanema, das travessuras de Vinicius de Moraes e Tom Jobim.
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela, menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar.
Moça do corpo dourado
Do Sol de Ipanema
O seu balançado
É mais que um poema
É a coisa mais linda
Que eu já vi passar.
Gosto do Rio de Janeiro. Três vezes cirandando pela grande cidade, como diria Zweig, recortada pelo esplendor da natureza.
Em 1989, meio à aventura, um mês no Brasil, de lugar em lugar num velho Wokswagen Golf, e a minha tia Hermínia, irmã do meu pai, com muitos anos de terra brasileira, a amedrontar-me “ai, o menino, ai o menino.” E não houve ladrão para assustar e atacar, por Niterói, Cabo Frio, Búzios, Petrópolis, Nova Friburgo. Depois Paraty e Angra dos Reis. Desbravar o grande Brasil e ser feliz em lugares de encantamentos breves, em hotéizinhos de passagem na berma da estrada.
De volta ao Rio de Janeiro, em 2015, ao encontro reconfortante da família, primos do meu sangue, com uma conferência pelo meio na Universidade de São Paulo. Outra vez, mergulhar sozinho na cidade e nas ondas límpidas de Copacabana. Sem ladrão, nem assalto, o meu pobre aspecto de meio ventrudo septuagenário, careca e feio, quase assustando o homem da favela sobranceira que desce para o mar procurando angariar sustento na praia, e que devia pensar que o ladrão era eu.
2020, outra vez o Rio de Janeiro. Desta vez, cheguei majestosamente de barco, entrando ao alvorecer pela baía de Guanabara, pintada pela brisa da manhã a azul escuro e prateado. Foram dois dias para me aconchegar na cidade, subida ao Pão do Açúcar, compras em Copacabana, ida ao Maracanã onde joga o Flamengo e o Fluminense, mais uma caminhada curta pelo centro do Rio com breve visita à estranha Catedral e a descoberta, junto ao navio, no cais de Mauá, do original Museu do Amanhã, do arquitecto espanhol Santiago Calatrava, o mesmo da nossa Gare do Oriente.
Tempo de praia, molhar o corpo no sal de Copacabana. Porque o mar estava agitado, com ondas altas, procurei um recanto mais sossegado, a praia Vermelha, na Urca. Meus olhos deram de chofre em umas tantas moças pouquíssimo ataviadas de roupa, usando fio dental da cabeça aos pés, beldades perfeitas, descendentes dessas índias tamoio de antanho à mistura com sangue quente português, ninfetas do mar e da terra, companheiras e amigas, superiores aos homens, todas netinhas da "leda e formosa" garota de Ipanema, das travessuras de Vinicius de Moraes e Tom Jobim.
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela, menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar.
Moça do corpo dourado
Do Sol de Ipanema
O seu balançado
É mais que um poema
É a coisa mais linda
Que eu já vi passar.
__________
Nota do editor:
16 comentários:
Luís, as duas primeiras fotos são minhas, a primeira é no alto do Pão de Açúcar, com a Praia Vermelha, na Urca, e a praia de Copacabana, ao fundo.
A outra é uma favela, tirada do alto do navio de cruzeiros, à distância, no cais de Mauá.
A terceira é da net, Vinicius de Moraes e a verdadeira garota de Ipanema.
Abraço,
António Graça de Abreu
Sem ladrão nem assalto, nem brasileiros saiam do Brasil.
Aquilo é tudo uma maravilha.
Um dia no Hospital Amadora-Sintra fui para uma sala de espera a aguardar um exame.
Na sala estava apenas um homem sentado, também a espera.
Reparei que o homem passado uns segundo começou a chorar. Então está com algum problema? perguntei-lhe. Não, estou chorando de admiração, assim sozinhos no Brasil um de nós era assaltante, respondeu-me com sotaque bem brasileiro.
Depois contou-me como era ir a um hospital no Brasil. Arrepiante.
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
p.s. excelentes fotografias.
Que garota e que poema lindos... Qual a escolha? A garota, claro!
"Que garota e que poema lindos... Qual a escolha? A garota, claro!"
Camarada e amigo Manuel Luís Lomba; homem do (meu)Minho e da terra onde os galos, já assados, cantam à meia noite e que tive o grato prazer de cumprimentar na apresentação do meu livro (o teu livro sobre A batalha de Cufar é magnífico); a tua observação sobre a garota de Ipanema mostra que estamos, ainda, bem VIVOS! Qual a escolha? A Garota, pois claro!!!
Joaquim Costa
Havia um Brasil imaginário no nosso tempo colonial em guerra, na cabeça de alguns revolucionários angolanos, caboverdeanos e moçambicanos.
Uns eram mais revolucionários outros menos revolucionários, outros assim, assim.
Os que eram assim assim, que eram a maioria, o Brasil deles resumia-se a Vinícius de Morais, Tom Jobim, Caetano Veloso e irmã, Chico Buarque e a Banda, Jorge Amado, um bocadinho de Brasilia e seu arquiteto e pouco mais, alem das praias tropicais com garotas de toda a ordem.
E sonhavam com coisas mirabolantes para suas terras com alguma semelhança.
Um dia esses revolucionários assim assim, a maioria tiveram oportunidade de ir parar com os costados a esse Brasil...e viram extremos inimagináveis.
O Brasil ultrapassa qualquer imaginação, para o melhor e para o pior.
Até o falar-se o nosso idioma, custa a entender.
No Brasil não falam o nosso idioma, falam um crioulo muito parecido com o nosso idioma.
Pudera, com gente oriunda de África e de todos os cantos do mundo a viver no Brasil, teria de haver um idioma crioulo com palavras do português do Minho, Beiras, Madeira e Açores.
Já não vai ser no nosso tempo e dos nossos filhos, mas talvez ainda apanhe os nossos netos já velhotes, em que não vão perceber o que dizem os brasileiros, cabo-verdianos, guineenses, santomenses, angolanos e moçambicanos apanhando umas palavras na dicção e algumas mais na escrita.
Afinal, calhando, até por cá se vai, também, falar em crioulo.
Carago, manga de bajuda bonita memo, cum dejassete aninhos e já anda.
E duensa ka bali
Valdemar Queiroz
Em 1898 o Abreu ainda não tinha nascido, pois foi meu contemporâneo em Teixeira Pinto.
Vamos lá ser sérios, pois, gabarolisses... já bastaram as das chegadas do mato
Um abraço!
Ramiro Jesus.
Caros amigos
Em vez de se entrar com duas pedras nas mãos e com "frases fortes" ("vamos lá a ser sérios"), levando à conta de "gabarolices" o que logo à vista aparentava ser uma "gralha", daquelas que só acontecem a "quem faz coisas", considero que seria mais útil uma chamada de atenção, amiga, fraterna, para o que era um erro de datas.
Percebe-se isso bem, pois logo depois das fotos, quando começa o texto, temos o título da escrita "Rio de Janeiro, Brasil, 1989, 2015, 2020 - por António Graça de Abreu" e aqui está a data correta, "com seriedade, sem gabarolices".
Estou a apelar a um pouco mais de compreensão para com quem tem que fazer as coisas, com menos impulsividade e agressividade. Desnecessário.
Abraços
Hélder Sousa
Caro Hélder, para sossego do nosso camarada Ramiro, já rectifiquei a gralha do editor. Como bem dizes, só não erra quem está quietinho.
Carlos Vinhal
Coeditor
Amigos e camaradas da guiné.
O mundo vai acabar. Que chatice pá, eu pensava que os "reacionários" se encontravam de Rio Maior para cima, para o Norte, mas já estão espalhados por todo o País. O A. Rosinha anda lá perto, parece que não é do Norte, só olha para a paisagem o Valdemar anda perdido só agora é que viu, o Manuel l. Lomba, é do Norte tem uma vista do caraças e viu logo à primeira e os outros se ainda não viram nada é porque estão a perder a visão. No meio disto tudo, eles vão salvar-se todos, porque ainda não vi uma manifestação deles a favor do LGBT, isto só por si é um voto a seu favor e se há uma coisa que sobressai destas fotografias é aquele pedaço de mulher. Será que só os "velhos" é que gostam de apreciar estas coisas? Penso que não, è de parar o trânsito, que maravilha, que coisa linda de ver e provar, vou rezar para que os meus netos e os vossos não deixem acabar este País porque isto e aqui também está ao seu alcance. Para finalizar, também acho que as farpas não são uma forma de fundamentar uma questão e a tolerância deve prevalecer, nem que seja pelos nossos que estão a partir. Para mim que sou mais novo, não vou olhar para o lado, porque posso ser acusado de estar a perder faculdades e só de olhar para aquela fotografia, já comecei a ver melhor. Que cura para os meus pobres olhos, o melhor é continuar "reacionário" até morrer porque agora tenho a certeza que o mundo não vai acabar e se não me fiz entender é porque a minha doença é mesmo grave.
Em nome do Pai, do Filho e da Pátria, Amén.
Um abraço a todos sem exclusão.
Victor Costa Ex.Fur.Mil.At.Inf.
Caro Joaquim Costa:
Redimo a omissão, que bela melodia, sem prejuízo da escolha da garota, claro!
A tua referência ao meu livro é grande gentileza, os dois partem de ideias editoriais, que o teu pede meças ao meu é uma modesta retribuição.
No referido ao galo de Barcelos, a lenda reza que foi assado à mesa do juiz, seu dono e da sua capoeira, levantou-se da pingadeira e cantou, sem pescoço nem cabeça, em denúncia da sua injustiça, acabara de condenar um inocente à forca . O juiz ficou sem almoço e o inocente salvo in extremis, eis a moral da estória....
Abraço.
Em tempo: não leiam pede, leiam não pede...
Costa, o que é isso "o Valdemar anda perdido só agora é que viu" ?
Provavelmente estás a jogar aos comentários, doutra forma nunca dei nenhuma explicação de ficar a ver navios, mesmo estando junto à estátua do Adamastor, no Alto de Santa Catarina.
Por isso, o que é que queres dizer de eu estar, agora, com um visionamento surpreendente?
Outra conversa, é tu veres uma simples fotografia de meio corpo de uma menina bonitinha que teria servido à imaginação de Vinícius de Morais para lhe dedicar:
Vinha cansado de tudo
De tantos caminhos
Tão sem poesia
Tão sem passarinhos
Com medo da vida
Com medo de amar
Quando na tarde vazia
Tão linda no espaço
Eu vi a menina
Que vinha num passo
Cheio de balanço
Caminho do mar
que foi a primeira versão da "Garota de Ipanema".
A garota de Ipanema seria Heló Pinheiro nesta fotografia com dezassete anos, longe de ser 'aquele pedaço de mulher'
Tá bem que teres assistido aos desfiles LGBT ficaste com as ideias desfiguradas com as transformações de implantes dos "pedaços de mulher" a desfilar, é o que faz ser "reacionário", se fosses inovador nem te passaria pela cabeça que o mundo vai acabar por causa duns carnavais. E desconfiado das vanguardas, tem cuidado com as mulheraças que podem ser chinesices.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz
p.s. desculpa a António Graça Abreu aproveitar o post para dar "prova de vida".
Esqueci-me:
O Costa do meu comentário é o Victor Costa.
Não me passaria pela cabeça atirar um comentário assim, ao meu conterrâneo Joaquim Costa que teve a amabilidade de me oferecer o seu livro e me fazer chorar quando pisou as terras dos caminhos da minha terra.
Valdemar Queiroz
Meu caro Valdemar
Foi o que eu entendi!
A Victor o que é de Victor
A Joaquim a que é de Joaquim
Pois Costas há muitos…
Um abraço aos dois.
Joaquim Costa
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