terça-feira, 19 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23443: Estórias do Zé Teixeira (54): Amores em tempo de guerra: II - Correspondência desviada (conclusão) (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381)

1. Em mensagem do dia 17 de Julho de 2022, o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) enviou-nos, como tinha prometido, a segunda parte da sua estória Correspondência desviada.


Amores em tempo de guerra II

Correspondência desviada (continuação)

Resumo da primeira parte(*)

O alferes José Barbosa foi acordado alta noite. Alguns soldados do seu grupo de combate discutiam. Levantou e foi verificar o que se passava. A discussão centrava-se no Joaquim Santos que ultimamente ao regressar do seu serviço de sentinela acordava os camaradas em altos berros e palavrões.

O alferes, perante as queixas dos camaradas,   dispôs-se a ouvir o Joaquim em privado. Descobriu um homem transtornado. Todas as semanas escrevia à esposa e vice-versa. Ultimamente a correspondência que ele enviava à esposa extraviava-se, o que estava a degradar a relação entre o casal.

O alferes orientou-o quanto à forma segura de fazer chegar a sua correspondência à esposa. Aconselhou-o a ir de férias à metrópole e em conversa com a esposa aclarar a situação e resolver o problema.



Férias bem merecidas

No dia seguinte o Joaquim escreveu à esposa, seguindo o estratagema aconselhado pelo alferes, informando-a que contava regressar de férias dentro de algum tempo para estar com ela. Certo, porém, que o pobre rapaz acalmou depois da conversa com o comandante.

O alferes recolheu os elementos necessários sobre a morte do irmão do Joaquim em Angola, e fez uma exposição ao Comando Chefe de Bissau. Havia de facto uma lei militar que isentava de servir a Pátria, em missão no Ultramar, todo o militar a quem tivesse falecido algum irmão em combate. Tal lei estava escondida num Decreto-Lei e só era usada a requerimento do próprio interessado. Ora como ninguém conhecia a lei, esta não era cumprida.

Passado cerca de quinze dias, embarcou no avião da TAP em Bissau. Ainda a tempo de receber uma carta da esposa que o deixou imensamente feliz. Ela esperava-o ansiosamente, falava-lhe da menina com um entusiasmo de enlouquecer. Para aumentar a sua felicidade, vinha na carta uma fotografia da Anita, a sua menina que mal conhecera.

Tudo aconteceu rapidamente. A confirmação da viagem, a ida para Bissau no lugar do copiloto de um bombardeiro T6 e o embarque dois dias depois, de manhã, para Lisboa, que nem teve tempo de informar a esposa da data de chegada. O único telefone que havia na sua terra era propriedade do merceeiro. Possivelmente o Joaquim não sabia o número do telefone, mas nem pensou em tal. O importante era chegar junto da sua esposa, da sua menina, e abraçá-las.

- Cheguei!... E agora, vou ter com a Ana Maria ao trabalho? Vou a casa dos meus sogros ver a Anita? Vou a minha casa ver a minha mãe e talvez o meu pai esteja por casa!?… - pensou o Joaquim, logo que se viu fora do aeroporto de Lisboa.

Aspirou profundamente o ar de Lisboa, o ar da liberdade, da segurança… Sentia-se seguro, mas estava inquieto, nervoso. Dentro da sua cabeça bailavam fantasmas que tentava expulsar. Seguiu para a central de camionagem à procura de transporte que o levasse até à vila a cerca de cinquenta quilómetros de Lisboa. O restante percurso, de cinco quilómetros, teriam de ser feitos a pé. Não era dia de feira, não havia outro tipo de transporte, a não ser de táxi, muito caro para o seu bolso. O seu meio de transporte era a bicicleta que estava parada em casa da mãe, desde que partira para a vida militar. Talvez depois fosse ter com a Ana Maria, cujo transporte da empresa de confeções até casa, também era a bicicleta.

A mãe do Joaquim, nem queria acreditar. O seu menino regressou. Mal sabia que era apenas por trinta dias, mas estava ali e isso era o mais importante. A Ana Maria tinha-a informado da feliz notícia, mas ela não contava que fosse tão rápido. Tremia. Tremia de alegria incontida. Pendurou-se no seu pescoço. (Tinha um físico de mulher baixa e abonada. Ele era parecido com o pai; alto e forte.) Chorou de alegria. Choraram ambos, mas pouco conversaram. O Joaquim foi buscar a bicicleta e preparou-se para abalar ao encontro da esposa. Azar o seu. A bicicleta por falta de uso tinha os pneus vazios. Felizmente a do pai estava ao lado e o Joaquim nem pediu licença. Partiu a todo o gás para apanhar a Ana Maria à saída.

Ela não contava com o Joaquim ali. A surpresa paralisou-a, para de seguida atirar a bicicleta ao chão e correr para ele. Só os verdadeiros amantes saberão compreender o que se passou naqueles dois corações. Os seus corpos uniram-se em abraços sem fim. Aqueceram-se em ternos beijos e poucas palavras. A felicidade apoderou-se deles. Longos minutos depois, seguiram para cada dos pais da Ana Maria ao encontro da Anita a filha, fruto do seu amor.

O tempo voou. O mês de férias esgotou-se sem que antes pusessem as conversas em dia e alimentassem profundamente o amor que os unia. Tentaram descobrir porque não chegavam os aerogramas que o Joaquim escrevia, sem resposta plausível.

O tio, que lhes cedera o pequeno espaço para Ana Maria e a Anita viverem na ausência forçada do sobrinho, acolheu-os, estranhamente, com alguma frieza. Desconhecia, segundo lhes disse, que a correspondência do sobrinho se extraviava, aliás, queixou-se que a Ana Maria quase não lhe ligava. Apenas o “bom dia” e “boa noite”.

Para não correrem o risco de novo corte da corrente afetiva via correspondência, decidiram continuar com o esquema proposto pelo alferes Joaquim Barbosa. Os aerogramas escritos por ele, para a Ana Maria, seguiam dentro de carta fechada para casa da mãe e esta, os faria chegar ao destino.

Na hora de regresso à Guiné, o Joaquim sentia-se feliz e confiante. Levava com ele a imagem de uma criança que o adorou, tanto quanto ele a ela. A esperança de voltar em breve e sobretudo a certeza de que era amado pela Ana Maria. Isto bastava-lhe.

A felicidade que irradiava ao apresentar-se ao alferes, quando regressou, foi a melhor forma de pagamento que este sentiu, e a vida na Guiné continuou…

Causas e efeitos da correspondência desviada

Naquele fim de tarde, uns tempos depois do regresso do Joaquim, estava o alferes José Barbosa sentado à porta da sua cabana, em amena cavaqueira com dois furriéis, quando vê chegar o Joaquim, um tanto alvoraçado.
- Meu alferes.  dá-me licença? Preciso de falar consigo!
- Não me venha outra vez com outra história da sua mulher! Porte-se como um homem! Já sabe que a todo o momento deve chegar a guia de marcha para o seu regresso a casa. Tenha calma!
- Meu alferes, eu sei que não tenho perdão, disse Joaquim, mas preciso de regressar a casa já. Vou matar o meu tio! - Atirou de topete.
- Está doido homem!
- Não. Não estou. Sabe quem desviava as minhas cartas? Era ele, o grande filho da puta do meu tio. Leia este aerograma da Ana Maria.
- Tenho mais que fazer. Conte-me você!
- Diz ela aqui. O tio, na segunda-feira, convidou-me para ir com ele a Lisboa resolver problemas pessoais. Perante a minha resistência, porque ia perder um dia de trabalho, prontificou-se a pagar-me a féria e tanto porfiou que fui com ele. O sacana não foi tratar de qualquer assunto. Passeamos por Lisboa, de café em café, até que ao aproximar-se a noite, alegando que era tarde para regressar, convidou-me para ir com ele para uma pensão. Usou palavrinhas doces sobre a minha pessoa. Eu era jovem merecia saborear a vida... tu estavas longe e nem precisavas de saber… enfim. Um cabrão de merda.

Meu querido, só tive tempo de correr a apanhar o barco para o Barreiro. A camioneta de carreira preparava-se para fazer a última viagem, mas cheguei a tempo. Tranquei-me em casa com a menina e no dia seguinte fugi para casa da tua mãe.

Ele escrevia a dizer-te que eu era uma doidivana e tu acreditavas. Aí tens. O bandido estragou a fechadura da caixa do correio para me roubar as cartas que me escrevias. Nem penses que vou regressar àquela casa. Aguardo o teu regresso aqui...

- Basta! - disse o alferes - Amanhã vou enviar o seu processo diretamente ao Governador. Tem de partir urgentemente, mas só o faço se me prometer que não vai cometer represálias sobre o seu tio. Esqueça o que se passou! A sua mulher soube resolver o problema da melhor maneira. Não vai, agora, criar conflitos. Promete?
- Como posso prometer,  meu alferes !!... Ele é meu tio, bem o sei, mais que levantar falsos testemunhos sobre a minha mulher, queria abusar dela, aproveitando-se da minha ausência. Como posso prometer ? Eu não lhe perdoo.
- Vá dormir e amanhã falamos. Boa noite.

Uns dias depois o Joaquim recebe ‘Guia de Marcha’ para regressar a Portugal continental. Era o fim da sua guerra, passados vinte meses de sofrimentos e torturas de coração. Era tempo de voltar para junto da sua filhinha e da esposa. Enevoava-lhe a mente o sentimento de vingança sobre o seu tio. Não lhe podia perdoar o que este fizera à sua família, escondendo as suas cartas para a esposa, e muito menos a tentativa de abusar sexualmente da sua amada, apesar do alferes lho ter exigido. Era tempo de agir logo que chegasse à terra. Fervia de emoção só ao pensar, que dentro de alguns dias, voltava para junto das suas mulheres, como costumava dizer para si, nos silenciosos momentos de encontro espiritual.

Foi acompanhado pelo alferes até à avioneta que transportava a correspondência para a Sede da Companhia. Despediram-se num longo abraço entrecortado por palavras de estímulo do comandante e agradecimentos por parte do Joaquim, que em pranto lembrou a noite em que o Barbosa lhe tirou a G3 da mão, e o ouviu pacientemente.
- Sabe, meu alferes, na câmara da arma estava a bala que eu tinha destinado meter na minha cabeça. Não aguentava mais a pressão e os tormentos que vivia. Você salvou-me. Obrigado, estou eternamente grato. Quando regressarem vou esperá-lo no desembarque e levo as minhas mulheres para que conheçam o homem que eu mais estimo.
- E você promete-me que não fazer mal ao seu tio. É uma ordem, ouviu!
- Prometo que vou tentar…

...E subiu para a carlinga...

O alferes José Barbosa ainda tinha esperanças de ver o Joaquim, dois meses depois ao regressar a Lisboa, como ele lhe prometera.

Esqueceu-se com toda a certeza. Nem respondeu às cartas que o José Barbosa lhe escrevera nos primeiros tempos após o regresso. Nunca mais deu sinal de vida.

Passaram-se anos e anos, até que no convívio anual comemorativo do regresso da Companhia, onde o Joaquim nunca compareceu, alguém disse que o “perna marota” tinha falecido.

José Teixeira

____________

Nota do editor

(*) - Vd. poste de 14 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23430: Estórias do Zé Teixeira (53): Amores em tempo de guerra: II - Correspondência desviada (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381)

16 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé, fizeste o teu TPC... A conclusão da história é perfeitamente verosímil. Deixaste os teus leitores em suspenso. Li de um fôlego a segunda parte. Tudo acaba bem quando acaba em bem. Há pormenores, todavia, que, num conto, são desnecessários... Deduz-se que o Joaquim não fez justiça pelas suas próprias mãos, contrarimente ao que o alferes J. B. temia. Mas a história tem todos os ingredientes do "livro de cozinha" literário do Camilo Castelo Branco... É uma história à Camilo sobre "o país dos brandos costumes" onde o "bestiário" não é no Jardim Zoológico mas começa na "família"....

Eu não poria a família do Joaquim a viver a 50 km de Lisboa, na pensínsula de Setúbal...A Ana Maria podia ser alentejana, mas eu achava-a mais minhota. A ser alentejana da pensínsula de Setúbal não trabalharia numa fábrica de confecções, mas talvez na indústria... corticeira... ou de componentes eletrónicos... Eu prolongaria a angústia do Joaquim, obrigando-o a ir de comboio até ao seu Norte profundo... De qualquer modo, a história também podia passar-se no Sul... E aí o Joaquim teria mascarado, em público o tio, que no outro dia apareceria enforcado na figueira do quintal de casa... No Minho teria havido uma cena de porrada, mas a coisa ficava por aqui, a honra ficava limpa sem sangue... Em Trás os Montes, aí não, o Joaquim teria mesmo limpo o sebo ao tio e fugido para Espanha...

Enfim, mas o mestre, o dono do conto, és tu!...E confesso que gostei. Continua. Relê o Camilo, é eterno e inimitável.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

"Caixas de correia", naquele tempo, nas vilas e aldeias ? Um luxo... Deixavam-se as cartas debaixo da porta... E nem todos os carteiros eram de fiar... Sei da história de um, de resto meu velho amigo, já há muito falecido, que, sendo mais velho, catrapiscava a rapariga com quem viria mais tarde a casar... Mas, temendo a concorrência, surripiava as cartas que os outros pretendentes mandavam à rapariga...

Ele nunca me contou, obviamente, esta história, mas era voz corrente... E ainda por cima só havia um carteiro... O "amor" e o "ciúme" nem sempre são bons conselheiros... Aliás, nunca o foram... LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Seguramente que a guerra do ultramar / guerra de África / guerra colonial (1961/74) teve consequências na demografia, na família, no casamento, separação e divórcio, nos nascimentos fora do casamento, na violência conjugal, na saúde mental, etc. ...

Julgo que o assunto não está devidamente estudado... São histórias como esta, que o Zé Teixeira escreveu, que nos alertam para os "dramas escondidos" (e nalguns casos "tragédias ocorridas") provocados pela separação forçada de casais (em muitas situações, de dois anos)...

Não sabemos quantos militares, mobilizados para Angola, Guiné e Moçambique, eram casados, mas seriam mais, a nível do contigente geral, entre as praças do que entre os sargentos e oficiais milicianos... E, claro, seriam mais os casados nas classes de sargentos e oficiais do quadro permanente...

Tal como o Joaquim, havia militares que deixaram as esposas grávidas ou já com filhos pequenos. E alguns morreram sem conheceram os filhos, a não ser de fotografia (temos casos aqui referidos no blogue)...

A grande maioria das praças não tinha um "pé de meia suficiente" para vir de férias ao fim de um ano: a viagem na TAP, no caso da Guiné, era superior a 6 contos (ida e volta)... E, tanto quanto sei, não havia apoio, tanto do Estado como da TAP, aos militares casados que queriam gozar o seu direito de licença de férias...

Acredito que as praças que eram casados, com filhos pequeninos, uma parte deles, fizesse das tripas coração para estar com a família durante pelo menos os 30 dias da licença anual de férias... Mas terá havido outros tantos casos em que a família esteve separada dois ou quase dois anos... Com todas as consequências conhecidas e imaginadas...

Nas aldeias e pequenas vilas e cidades (onde a maior parte dos jovens de então viviam), o controlo social era mais apertado. Havia jovens mulheres casadas, com os maridos no ultramar, que se vestiam de preto, como se fossem viúvas... Em Trás-os-Montes, no Alto Minho, etc.

Mas também não sabemos, por falta de testemunhos, dos dramas que que estas mulheres passaram (solidão, sofrimento, assédio sexual e moral, ciúme, angústia do não regresso do cônjuge, etc.). É verdade que foi quase uma constante na nossa história: as viagens até à Índia podiam levar 2 anos (ida e volta, quando se voltava...)... Para o Brasil, um ano ou mais... (E quantos homens voltavam ?... Nem sempre voltavam, e se voltavam podiam ser portadores de graves doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis...). Por outro lado, sempre tivemos o problema dos nascimentos fora do casamento, dos filhos "ilegítimos", das crianças abandonadas, do infanticío, dos "expostos" nas rodas dos conventos e das misericórdias...

Em suma, Zé, isto dá pano para mangas... Oxalá o resto da malta queira (e possa) também contar as suas "histórias", os seus "segredos"...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Nº de divórcios (entre 1960 e 1978)

1960 749
1961 756
1962 743
1963 658
1964 678
1965 695
1966 695
1967 722
1968 743
1969 501
1970 509
1971 542
1972 616
1973 604
1974 777
1975 1.552
1976 4.875
1977 7.773
1978 7.043
(...)

Fonte: Pordata

https://www.pordata.pt/Portugal/Div%c3%b3rcios-323

Recorde-se que em 1977 e 1978 houve profundas alterações jurídicas ao Código Civil, sendo revisto o regime jurídico do divórcio (1977) e o direito da família (1978). O n´de divórcios até hoje atingiu um máximo em 2002: 27.708... Mas também é verdade que hoje há muito menos casamentos (entre pessoas do sexo oposto):

Ano / Nº de casamentos:

1960 69.457
1961 78.199
1962 70.817
1963 71.209
1964 73.310
1965 75.483
1966 77.199
1967 78.864
1968 76.553
1969 79.180
1970 81.461
1971 83.438
1972 77.325
1973 84.334
1974 81.724
1975 103.125
1976 101.885
1977 91.403
1978 81.111

(...) Fonte: Pordata
https://www.pordata.pt/Portugal/Casamentos-16

Pássamos dos mais de 100 mil (103.125 em 1975) para os menos de 30 mil (29.057, em 2021)...

Anónimo disse...
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José Teixeira disse...

Luís, obrigado pelas tuas achegas. Contigo aprende-se sempre. Na realidade, o colega em que me baseei para escrever este conto, era do Sul, mas como todos os autores, deixei lá uma costelinha do nortenho que sou.
Também sinto que houve profundos dramas de relacionamento com camaradas casados e até namoradas:
Um amigo meu se casou, "à força" da sua consciência, por ter engravidado a namorada. Ainda antes de ter a criança já o tinha trocado por um vizinho. Em dada altura apercebeu-se que ela deixara de lhe escrever e pediu a um irmão para tentar descobrir o que se passava. Veio o mano de Felgueiras ao Porto vigiar a cunhada e descobriu o que se passou entretanto. O escolhido já vivia com ela.
Um outro caso passado com um amigo, camarada desde a recruta, ao regresso da Guiné. Recebeu da namorada uma carta a despedir-se. Ele ficou muito transtornado e teve a sorte de encontrar um amigo que lhe deu a mão e o pôs a pensar. Pelo comportamento que a vítima assumiu de desespero, podia tornar-se num caso grave. Felizmente outro amigo comum deu-lhe a mão.
Este é um tema que merecia ser aprofundado.
Abraços.
Zé Teixeira

Anónimo disse...
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José Teixeira disse...

Meu caro comandante alfero Belo. Obrigado pelo que escreveste. Todos os comentários críticos são bem aceites. O Luís com a dia amizade quiz ajudar o “escritor” e como aprendiz que sou só tenho que agradecer. A crítica ao texto está no terceiro comentário. Que é mais uma reflexão sobre possíveis situações problemáticas vividas por camaradas. Quem melhor que tu pode dar-lhe continuidade?

É sempre gratificante ter notícias tuas.
Fraterno abraço do teu seringas.
Zé Teixeira

Anónimo disse...
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Tabanca Grande Luís Graça disse...

Costuma-se dizer que os bons críticos são sempre maus criadores, ou melhor, nem sempre o melhor crítico é um bom criador nem um criador é necessariamente um bom crítico... Não me arrogo o direito de ser crítico (literário ou artístico) do amigo que é escritor ou artista... ´É o caso do Zé Teixeira.

Em contrapartida, tenho gosto em escrever-lhes, aos amigps, um prefácio para um livrinho ou um textozinho para o catálogo de uma exposição... O que já tenho feito, nomeadamente para diversos talentos literários que o nosso blogue tem revelado ao lomgo destes anos...

Por favor, caro Zé, não tomes estes comentários como "crítica literária"...Sou um simples leitor, e há muito, das tuas histórias e memórias, e regozijo-me com os teus progressos.

Já agora deixa-me que corrija uma gralha. Eu queria dizer: "E aí o Joaquim teria DESMASCARADO, em público o tio, que no outro dia apareceria enforcado na figueira do quintal de casa...

O resto da frase é um estereótipo camiliano: "No Minho teria havido uma cena de porrada, mas a coisa ficava por aqui, a honra ficava limpa sem sangue... Em Trás os Montes, aí não, o Joaquim teria mesmo limpo o sebo ao tio e fugido para Espanha"...

Agora vou ser eu que vou levar porrada dos transmontanos como o Francisco Baptista, não hoje, que ele faz anos, mas amanhã...

Mantenhas, amigos e camaradas!

José Teixeira disse...

Luís. Eu aprendo com todas as pessoas de boa vontade. Sei que quanto mais sei, fico com a sensação de que menos sei, porque quero sempre saber mais. Desde que tive o grato prazer de te conhecer em 2005 no Natal, na Madalena e tomei contato com o blogue tenho aprendido muito com tanta gente que por aqui tem passado e continua por cá.
Tu és o mestre de eleição que me abriste a porta de tua casa com a tua querida Alice (o nosso primeiro encontro foi em casa da tua cunhada). Depois acolheste-me em Lisboa, mais tarde na Ericeira. As tuas sensatas achegas a este texto, (não considero críticas) vão ajudar-me no futuro, podes crer.
Seis que gostas de ler o que escrevo desde a primeira hora em que passei para o Blogue o "Diário" que escrevi guerra colonial da Guiné.
Gosto de escrever e pronto... às vezes saem textos bonitos.
Um xi coração do
Zé Teixeira

Valdemar Silva disse...

Zé Teixeira, bela história e com o seu quê Camiliano como diz o Luís Graça.
Tomara eu ter jeito para escrever assim.
Mas, talvez por manias do passatempo 'Bom observador' fiquei, logo, a pensar na Vila a 50 km de Lisboa e com uma fábrica de confeções.
".. Seguiu para a central de camionagem à procura de transporte que o levasse até à vila a cerca de cinquenta quilómetros de Lisboa"
Afinal, uma carreira para o Barreiro a passar o Tejo e a falta de fábricas de confecções por aquelas bandas, falha por não se conhecer a região.
Venham mais amores em tempo de guerra, que se eu tivesse jeito contava a história do 'Amor de Raquel' tatuado no braço, e arrependido para toda a vida.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Por vezes o nosso Zé Belo acerta no alvo,o que é próprio de um Atirador de Infantaria,
A análise ao texto do Z.T feita no comentário do Professor foi demasiado professoral.
Um certo e inapropriado ego assertivo escapou-se para a frente.
A auto-crítica é algo fora de moda?

Manuel Teixeira

Anónimo disse...
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Carlos Vinhal disse...

Julgava eu que a ideia era discutir o conteúdo e menos a forma literária desta estória do Zé Teixeira, um dos meus camaradas preferidos, como editor. Não nomeio os outros porque posso esquecer algum e não quero cometer injustiças.
Tentativas de aproximação/assédio à mulher do próximo foi e é vulgar em todos os tempos. Não esqueçamos que a ida dos nossos homens para a guerra do ultramar se veio juntar à emigração que há muito se fazia sentir em Portugal. Lembro-me de a minha mãe, nascida e criada no alto Minho, dizer que quando os homens da terra emigravam, normalmente para as “américas”, as esposas punham luto, só o tirando quando os eles voltavam ou elas fossem ter com eles.
Nos anos 60 eram centenas de milhar as namoradas e esposas que tinham o seu amor longe, fosse emigrado ou na guerra. Claro que se as bases amorosas não fossem sólidas, o “edifício” ruía ao fim de pouco tempo. Conheci na minha aldeia um caso de uma rapariga que tinha o namorado na guerra mas que acabou por casar com um vizinho que regressou mais cedo.
A minha mulher tinha, e tem, duas irmãs, entre ela, a mais velha, e a mais nova, distam apenas 3 anos.
Namoravam as três ao mesmo tempo com rapazes de idades próximas que acabaram todos por irem para o ultramar. Duas esperaram pelos seus noivos, com os quais acabaram por casar, e uma pelo marido. As três mantêm casamentos de 50 anos. Isto seria o normal mas houve outros desfechos.
A história do Zé, pouco terá de camiliano. Aqui não há fidalgos, amores proibidos e outros dramas urdidos por um homem que vivenciou, ele próprio, um amor proibido e que acabou com a sua vida às suas próprias mãos.
Carlos Vinhal

Anónimo disse...
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