quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24072: Tabanca Grande (543): Manuel Seleiro, ex-1º cabo, Pel Caç Nat 60 (São Domingos, Ingoré e Susana, 1968/70), natural de Serpa, DFA, sofreu cegueira total e amputação das mãos, ao levantar e desativar um engenho explosivo, durante uma operação, em 13/3/1970... Senta-se à sombra do nosso poilão, sob o nº 870.


Foto nº 1 > Guiné > Região do Cacheu >  São Domingos > Pel Çaç Nat 60 > 1968/70 > O Manuel Seleiro, a sintonizar o rádio e a ouvir música.


Foto nº 2 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > Pel Çaç Nat 60 > 1968/70 > O Seleiro (à esquerda), no café do Leal


Foto nº 3 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > Pel Çaç Nat 60 > Estrada  São Domingos - Susana - Varela > Proximidades de Nhambalã > 13 de novembro de 1969 > O 1º cabo caçador Manuel Saleiro, que era o "sapador" do pelotão, aqui levantando uma mina anticarro... Foi desativada sem problemas... O problema é que mais à frente havia outra não detetada pelos picadores (*)...


Foto nº 4 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > Pel Çaç Nat 60 > Três minas A/P


Foto nº 5 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > Pel Çaç Nat 60 > Estrada 
 São Domingos - Susana - Varela > Proximidades de Nhambalã > 13 de novembro de 1969 >  O Seleiro, feliz, por ter feito, com sucesso, o seu trabalho...

Fotos (e legendas): © Manuel Seleiro (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. 

Os créditos fotográficos das fotos de nºs 3 e 5 devem ser atribuídos ao fur mil Moreira, que vive hoje em Riba D' Ave: ele foi o fotógrafo que estava lá, nesse dia fatídico de 13/11/1969, nas proximidades de Nhambalã, no blogue do Pel Caç Nat 60  estão em formato reduzido, sem edição]. 

1. Manuel Seleiro, de seu nome completo, Manuel Francisco Cataluna Graça Seleiro, natural de Serpa, 76 anos (nasceu a 29/7/1946), Cataluna da mãe, Seleiro do pai. Famílas bem conhecdias da terra, que ele já não visita  desde 2014.  João Cataluna, do grupo musical de Serpa, "Os Alentejanos", é seu primo do lado materno.

Fiquei chocado, ontem à tarde, ao falar ao telemóvel com o Manuel Seleiro , e só então saber que ele era invisual total, tinha perdido as duas vistas e as duas mãos (!) ao levantar e desactivar uma mina (creio que A/P), na  mesma ocasião  em que foi ferido o Hugo Guerra, em 13/10/1970 (*)

O José Arruda (1949-2019), o  José Eduardo Gaspar Arruda,o líder histórico da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas), era uma figura pública, fui ao seu funeral: sofreu cegueira total e amputação (do membro superior esquerdo), um acidente com mina em Moçambique. Como também são figuras conhecidas de muitos de nós  o Cândido Patuleia Mendes (natural do Bombarral, meu vizinho,  com amigos na Lourinhã, ferido em Angola) e o Manuel Lopes Dias (não sei onde foí ferido)  (estes dois útimos membros da atual direção da ADFA, eleitos para o triénio de 2022/24, o prmeiro como tesoureiro e o segundo como secretário: mas já foram ambos presidentes da direção).

Da condição do Manuel Seleiro eu, confesso, que não sabia. Aliás, nunca nos encontrámos. Só sabia que era DFA.  Mas falou-me com uma aparente naturalidade e tranquilidade, fazendo-se valer da sua prodigiosa memória e grande coragem. Imagino o que tenha sido o seu calvário, no processo de tratamento, convalescência, reabilitação e integração ao longo de anos... Deu-me algumas detalhes... Mas eu não quis obrigá-lo a reviver o seu doloroso passado, para mais numa conversa telefónica... Disse-me que tem, não uma prótese, mas "dois dedos enxertados" numa das mãos (
a esquerda), que lhe permitem realizar algumas tarefas do dia-a-dia, incuindo comer ou  escrever no computador: recebe e responde a emails, tem dois blogues...  

Com essa mão de dois dedos edita o seu blogue (Pel Caç Nat 60) e a sua página de divulgação do Cante Alentejano (Luar da Meia Noite), que é também a sua página pessoal na Web... É "leitor" regular (!) do nosso blogue, ou melhor, acompanha o nosso blogue por voz...

Está registado no Blogger desde novembro de 2008. No seu perfil diz que a sua ocupação é a "informática". Presumimos que tenha feito formação nesta área, o que permite por exemplo acompanhar regulamente o nosso blogue (e outros) em modo áudio (há programas que leem o ecrã para os invisuais... Também foi rádio-amador. Foi fotógrafo na Guiné, mas hoje só  reconhece as fotos que tirou e que o filho digitalizou, através das legendas...

Sobre os seus passatempos, diz:

"Gosto do Mar, e do campo, a leitura, e a informática, Desporto favorito: Natação, Não gosto de animais: Adoro as aves, em particular os melros, pela sua beleza, de cantar, gosto de acordar com as suas melodias... Gostava da eletrónica. A minha cor preferida, o Azul. O pior da minha vida, foi ter que fazer a guerra. Mais vale um pássaro num ramo Que numa gaiola dourada."

Aceitou de bom grado integrar a nossa Tabanca Grande!... Passa ser o nosso grã-tabanqueiro nº 870, o lugar que lhe reservamos sob o nosso fraterno e mágico poilão, à sombra do qual se untam os amigos e camaradas da Guiné.

Sobre o seu passado militar, já sabemos que  foi 1º cabo, de rendição individual, no Pel Caç Nat 60 (São Domingos, Ingoré e Susana, 1968/70). Ficou no ativo como cabo. É DFA - Deficiente das Forças Armadas. Cegueira total, e amputação das duas mãos, na sequência da explosão de um engenho explosivo. 

Sobre o Hugo Guerra (**),  diz-me que não tem notícias dele há anos. Ao que parece, estará doente e acamado. Tal como não tem notícias da Manuela Gonçalves (a Nela), das Caldas da Raiha, professora reformada, esposa do infortunado alf mil Nelson Gonçalves, um dos comandantes do Pel Caç Nat 60, vítima de mina A/C, em 13/11/1969, que lhe levou uma perna (***), e foi a primeira mulher a integrar a Tabanca Grande... (Infelizmente, confirmámos hoje esta nossa amiga já nos deixou, conforme página do Facebook "Em memória de Manuela Gonçalves";   vamos fazer-lhe oportunamente um In Memoriam, no nosso blogue).


2. O Manuel Seleiro vive na Parede, Cascais, vamos convidá-lo para um dia destes aparecer na Magnífica Tabanca da Linha e arranjar-lhe uma boleia.

Contactos (que ele disponibiliza na sua página na Web):
Telem:  930 672 960
Email: manuelseleiro@gmail.com

Telefonem-lhe que ele gosta. Ajuda a suportar a sua solidão.  A esposa também tem problemas de visão  (lateral).

Mas, como o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (!), viemos também a saber que: 

(i) ele sabia que eu era natural da Lourinhã; 

(ii) disse-me que era casado com uma senhora do Sobral, Lourinhã; 

e (iii) tem um filho, Emanuel Seleiro, de uma primera relação: andou nos pupilos
do Exercito, está a trabalhar na Associação dos Bombeiros Voluntários da Lourinhã (BVL), de que foi presidente da direção, até maio de 2022, o meu amigo, vizinho e colega de escola Carlos Horta...

Para acabar esta apresentação do Manuel Seleiro aos membros da Tabanca Grande (****) foi-lhe fazer, talvez, uma surpresa (ele deve conhecer esta moda, mesmo que a não tenha listado na sua página pessoal, Luar da Meia Noite):



Vídeo (2' 12'') > Alojado em Luís Graça > Nhabijoes (2020). 

Lisboa > Casa do Alentejo > 8 de fevereiro de 2020 > Sessão de lançamento do livro do serpense José Saúde,  "Um ranger na guerra colonial: Guiné-Bissau, 1973-1974: memórias de Gabu" (Lisboa, Edições Colibri, 2019, 220 pp.)

Momento cultural: atuação do grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa, com o João Cataluna ao centro (voz e acordeão). Moda alusiva ao embarque de tropas para a guerra colonial, "Lá vai uma embarcação / Por esses mares fora, / Por aqueles que lá vão / Há muita gente que chora"... (Reproduz-se a letra mais abaixo.)

Trata-se de uma homenagem sentida a um combatente da terra, o José Saúde, nascido em Aldeia Nova de São Bento, hoje vila, concelho de Serpa (em 23/11/1950), mas que foi cedo para Beja, a sua segunda terra, onde ainda hoje vive e onde nasceram as suas duas filhas, Marta e Rita.

Os dois concelhos viram sacrificados, no "altar da Pátria", 69 dos seus filhos, durante a guerra do ultramar/guerra colonial: 35, de Beja; 34, de Serpa... Só a freguesia de Aldeia Nova de São Bento teve 10 mortos, uma terra que viu decrescer a sua população para menos de metade em pouco de meio século: 8.842 habitantes em 1950, 3.073 em 2011.

Há uma versão original desta moda, de 1973, gravada pelo Trio Guadiana e o Quim Barreiros (como acordeonista). Segundo Miguel Catarino, "esta gravação data de 1973 e pertence à Banda 1 da Face A do disco EP de 45 R.P.M. editado pela 'Orfeu, etiqueta da 'Arnaldo Trindade e Companhia, Lda.', matriz 'ATEP 6514', em que o Trio Guadiana, acompanhado pelo acordeão de Quim Barreiros, interpreta quatro modas regionais alentejanas populares, com arranjos musicais do acordeonista. Esta moda é uma das mais pungentes que existe no Cante Alentejano, de seu nome 'Tão Triste Ver Partir', conhecida também como 'Lá Vai Uma Embarcação' ".

Convirá acrescentar que isto não é "cante", mas tem as suas raízes na música tradicional alentejana. No cante, não se usam, em regra, instrumentos musicais. Abrem-se exceções para a viola campaniça... A voz é o único (e grande) instrumento do cante, música do trabalho, do lazer e do protesto, cantada nos campos, na rua e na taberna... Em grupo, sempre em grupo. Homens e mulheres, se bem que os grupos corais femininos só tenham começado a aparecer há 3 décadas, por razões socioculturais... Mas as mulheres sempre cantaram, em grupo, com os homens no duro trabalho agrícola... Em grupo, num coro polifónico, "à capela" que não deixa ninguém indiferente: ou se ama ou se odeia... Um alentejano (do Baixo Alentejo) nunca conta(va) sozinho. No campo, trabalhava-se em "rancho", e cantava-se em "rancho"...O "cante" amenizava a dureza do trabalho e da vida no Alentejo dos latifúndios...

Lá vai uma embarcação (**)

É tão triste ver partir
Um barco do Continente,
Para Angola ou Moçambique
Lá lai outro contingente.

Tanta lágrima perdida,
Quando o barco larga o cais,
Adeus, minha mãe querida,
Não sei se voltarei mais.

Lá vai uma embarcação
Por esses mares afora,
Por aqueles que lá vão,
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora,
Com mágoas no coração,
Por esse mares afora,
Lá vai uma embarcação.

É tão triste ver partir
Um barco do Continente,
Para Angola ou Moçambique
Lá lai outro contingente.

Tanta lágrima perdida,
Quando o barco larga o cais,
Adeus, minha mãe querida,
Não sei se voltarei mais.

Lá vai uma embarcação
Por esses mares afora,
Por aqueles que lá vão,
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora,
Com mágoas no coração,
Por esse mares afora,
Lá vai uma embarcação.

[Revisão, fixação de texto: LG]


Contacto de "Os Alentejanos",
música tradicional Alentejana, Serpa

Telem: 962 766 339 / 938 527 595
Email: joaocataluna@gmail.com
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24067: Blogues da nossa blogosfera (177): Pel Caç Nat 60 (São Domingos, Ingoré e Susana, 1968/74), blogue criado por Manuel Seleiro, 1º cabo caçador, DFA, natural de Serpa - Parte I: Histórias de minas que marcaram corpos e almas...

(**) Vd. poste de 25 de novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3518: História de vida (18): Evacuado duas vezes e meia...(Hugo Guerra, ex-alf mil, cmdt Pel Caç Nat 50, 55 e 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70); hoje cor ref, DFA

(...) Fiquei a comandar o Pel Caç Nat 60 e ainda tenho algumas lembranças de coisas que por lá aconteceram. Adiante.

No dia 13 de Março de 1970, ia comandar um patrulhamento até à fronteira e eis senão quando detectámos uma primeira mina reforçada, mas em tal estado de conservação que não houve qualquer problema para a levantar.

Tinha no Pelotão um Primeiro Cabo, de nome Seleiro, já com um longo historial de levantar minas e, depois de a vermos, concordei que ele a levantasse, o que foi feito sem qualquer problema. Passámos o detonador para a bolsa do enfermeiro e continuámos a progressão.

Como eu era sempre o terceiro ou quarto homem depois das picas, vi perfeitamente que os picadores tinham localizado qualquer coisa. Montada a segurança,  lá chamei de novo o Seleiro para conferenciarmos sobre aquela.

Depois de nos certificarmos que estava isolada, tinha que decidir se abortava a operação, rebentando a mesma e regressando a São Domingos, expostos a alguma emboscada do IN. Se fosse entendido desactivar a mesma, poderíamos ir ao objectivo e no regresso levantá-la sem qualquer perigo.

Um e outro rastejámos até à mina que parecia nova e eu comecei a dizer ao Seleiro que a queria levantar. Ele acabaria a sua comissão dois meses mais tarde.

Comecei a suar por todos os poros e depois de olhar bem aquela malvada, disse ao Seleiro que não era capaz. Ele disse-me que não havia crise e tomou o meu lugar.

Deitado no chão a cerca de 5 metros, acompanhei todos os seus movimentos com angústia e só relaxei um pouco quando ele, de joelhos e com a mina na mão, prestes a desarmadilhá-la me chamou:

- Meu Alferes, olhe aqui.

Comecei a levantar-me e senti o estrondo infernal, o sopro que me projectou de costas, o sangue quente a escorrer na cara e os gritos dele a dizer que estava morto…

Mas não estava. Os nossos homens trataram-nos o melhor possível, pediram as evacuações e fizeram uma macas com bambus e camisas. Tinha medo de perder a consciência e passar para o outro lado.

Aguentei, em choque, até chegarmos ao HM 241 em Bissau e o que mais me agradava naquele desespero todo era continuar a ouvir o Seleiro a dizer que estava morto. Se ele se calasse, sabia que podia ter perdido um amigo.

Quarenta e oito horas depois chegámos ao aeroporto de Figo Maduro e, como já foi dito por um camarada nosso, fomos colocados dentro de ambulâncias militares e sem qualquer barulho para não acordar a cidade, levaram-me a mim para o HMP na Infante Santo e o Seleiro foi levado para o Anexo, em Campolide.(...)


(***) Vd. poste de 26 de março de 2006 > Guiné 63/74 - P634: Uma mina na estrada de São Domingos para Susana (Manuela Gonçalves)

(****) Último poste da série > 28 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24019: Tabanca Grande (542): Eduardo Jacinto Estevens, ex-1.º Cabo Radiomontador da CCS/BCAV 3854 (Nova Lamego, 1971/73), que se senta no lugar n.º 869 da nossa Terúlia

11 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manel, ainda hoje custa a crer que o nosso Exército não disponibilizasse, aos sapadores "encartados" e aos "sapadores self-made men", como tu, o equipamento mínimo... É de arrepiar ver-te de "peito feito" para aquela mina assassina... Devia haver normas, mas na guerra, naquela guerra, havia que improvisar, desenrascar, arriscar...

Mais uma vez sê vindo a esta amostra da nossa geração que fez a guerra e a paz (mas pagou um preço alto...), e que se reune nesta comunidade virtual, à volta de um simbólico poilão, árvore sagrada na Guiné... LG

Anónimo disse...


Caro Manuel Seleiro:
Não tenho conhecimentos para me pronunciar sobre este acidente que te causou grande sofrimento e redução das tuas capacidades. Mesmo assim admiro a tua perseverança que te permitiu desenvolver outras faculdades e , de certo modo, vencer uma batalha duríssima. À distância pareço tentado a dizer : mais valia provocar a detonação da mina ainda que isso resultasse no fracasso da operação. Éramos muito novos e deixávamo-nos enredar pela doutrina dos "grandes" da Pátria.
Um grande abraço de boas vindas.

Carvalho de Mampatá

Carlos Vinhal disse...

Luís
Mesmo na nossa guerra acho que nenhum superior podia obrigar alguém sem o curso de minas e armadilhas a neutralizar qualquer engenho explosivo. Muitos comandantes podiam fechar os olhos ao trabalho dos voluntários, mas não seria regra.
A mim jamais obrigariam a levantar uma mina antipessoal depois de ter acontecido aquela fatalidade ao Alferes Couto, no dia 06OUT70. A partir desta data, eu e o meu camarada Sousa substituímo-lo e nunca deixámos ninguém mexer em minas mesmo nas nossas.
Quanto aos meios ao nosso dispor, eram na verdade muito escassos, só ao fim de meses é que descobri na arrecadação do material de guerra um explosor eléctrico, e a partir daí deixei de usar cordão lento e detonadores prirotécnicos.
Eu e o Sousa cometemos imprudências? Claro que sim, mas conscientemente.
Um abraço ao camarada Seleiro e que seja bem aparecido na Tabanca Grande.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não sei (tenho que falar com ele...) se o Manuel Seleiro tinha o curso de minas e armadilhas...A verdade é que era ele o "sapador" do Pel Caç Nat 60 naquela época em que lá esteve, 1968/70, tendo passado por São Domingos, Ingoré e Susana. Ele era de rendição individual, como todo o pessoal metropolitano dos Pelotões de Caçadores Nativos... e das companhias ditas "africanas", como a minha CCAÇ 12...

Nesta história da mina que o deixou cego e sem mãos, e segundo a versão do Hugo Guerra, seu comandante, faltavam-lhe dois meses para acabar a comissão. Tinha chegado à Guiné em julho de 1968. É por isso que o comandante faz questão de ser ele a levantar a mina (na picada de São Domingos para o Senegal). Provavelmente não quis detonar, para não alertar o pessoal do PAIGC...Ao reconhecer que não era capaz de levantar a mina (que eu julgo que era uma antipessoal, podendo ser sinalizada e levantada ou detonada mais tarde...), o Manuel Seleiro ofereceu-se para o substituir... A mina estava armadilhada, como ele vai contar num próximo poste...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sim, a mina era antipessoal e estava armadilhada... Se fosse anticarro, o Seleiro e o Hugo (que estava a 5 metros) não ficariam vivos para nos contar o que aconteceu e que mudou completamente as suas vidas: o Seleiro, por exemplo, esteve cinco anos (!) no hospital principal, de março de 1970 a 1975... O tempo de três comissões no inferno da Guiné!...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vinte meses de Guiné (julho de 1968 / março de 1970), mais cinco anos no hospital (!) não três, são quatro comissões no inferno da guerra!... LG

Manuel Seleiro disse...

Bom dia a todos.
Obrigado ao Luís graça por a moda alentejana.
A mina era ante pessoal estava armadilhada...
fiz um curso de dez dias em Bissau.
O resto estava por nossa conta e risco.
Ali só havia duas maneiras era explodir a dita ou desmontar...
Abraço a todos os camaradas.

Manuel Seleiro

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Manel. Fica esclarecido: fizeste um curso de minas e armadilhas, de dez dias em Bissau. Para todos os efeitos eras o sapador encartado do Pel Caç Nat 60, e não ganhavas mais por isso... Ou chegaste a receber, individualmente, o dinheiro do prémio do leventamento de minas (que devia ser, no teu tempo de 2 contos para as anticarro, e 1 conto para as antipessoais) ?...

Um abraço. Gosto de te ver a comentar aqui (na "montra de trás" do blogue). Admiro a tua perícia e persistência. Estás mais à vontade do que muitos dos nossos grã-tabanqueiros... Um alfabravo. Luís Graça.

Carlos Vinhal disse...

Um curso de 10 dias!!! Que loucura!!!
Eu fiz um curso de 6 semanas, na EPE, com aulas de manhã e de tarde, avaliação diária com testes rápidos de 10 perguntas e um teste semanal que parecia um lençol, tantas era as questões, e mesmo assim acho que fui muito mal preparado.
Quem manda é que decide como nos havemos de matar e matar os outros.
Já pensaram se algum dia os combatentes entrarem em greve, como os professores, os médicos, os enfermeiros, os transportes, etc., os políticos estão bem tramados, têm de andar eles aos tiros uns aos outros. Enquanto isso, ontem morreram inocentes, morrem hoje e morrerão amanhã.
Ou muito me engano ou está a preparar-se um caldinho entre o ocidente, o oriente e o médio oriente. Com jeitinho ainda vamos assistir.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Eduardo Estrela disse...

Relativamente às CCaç 13 e 14 e porque nenhum dos militares que as compunham trazia de Portugal a especialização de minas e armadilhas, foi ministrado em Bolama um curso a alguns dos graduados.
Não sei como terá sido com a 12 mas o Luís Graça sabe pela certa.
O outro furriel mil. do meu grupo, o António Manuel Gaspar de Carvalho, nosso querido camarada do blogue, frequentou esse curso em Bolama.
Lamentavelmente foi vítima do rebentamento duma A/P, no dia 02 de Março de 1970, junto à tabanca de Cabele Uale, quando fazíamos uma deslocação /intervenção no corredor de Sitató.
Tinham sido detectadas 8 A/P, o Carvalho levantou 4 e pisou uma outra que não tinha sido localizada.
Por essa infelicidade sofreu amputação dum pé.
Abraço fraterno
Eduardo Estrela

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A propósito da letra da moda "Lá vai uma embarcação"... A grafia correta do verso "Por esses mares afora"...

https://duvidas.dicio.com.br/afora-ou-a-fora/

Dúvidas de Português > Afora ou a fora
Afora ou a fora

Flávia Neves Professora de Português

Afora, escrito junto, significa principalmente algo que ocorre em direção ao lado de fora ou ao longo de alguma coisa: pela estrada afora, pela porta afora, pela vida afora,... A fora, escrito separado, é usado unicamente nas expressões: de dentro a fora e de fora a fora. Assim, a palavra afora e as palavras a fora existem na língua portuguesa e estão corretas. Porém, seus significados são diferentes e devem ser usadas em situações diferentes.

Exemplos:

Seguiu pela estrada afora, sem olhar para trás.
Meu terreno, de fora a fora, tem 750 m de comprimento.
Afora, escrito junto, pode ser um advérbio ou uma preposição. Enquanto advérbio, afora tem o significado de: para o lado de fora e ao longo de. Enquanto preposição, é sinônima de: à exceção de e para além de.

Exemplos:

Ela saiu correndo pelo portão afora. (advérbio)
Pela estrada afora seguiremos felizes. (advérbio)
Lembrarei desse acontecimento pela vida afora. (advérbio)
Afora Caio, todos os alunos tiveram boas notas. (preposição)
Afora termos visitado o Chile, também conhecemos o Peru e a Bolívia. (preposição)
A palavra afora é formada a partir de composição por justaposição, ou seja, dois vocábulos que se unem numa só palavra: a + fora. É antônima de adentro.

Exemplos:

Saiu de rompante pela sala afora.
Entrou de rompante pela sala adentro.
A expressão a fora é pouco usada pelos falantes. Estabelece uma relação com a expressão de dentro, tendo o mesmo significado que para fora: de dentro a fora, de dentro para fora. (...)

Flávia Neves
Professora de português, revisora e lexicógrafa, nascida no Rio de Janeiro e licenciada pela Escola Superior de Educação do Porto, em Portugal (2005). Atua nas áreas da Didática e da Pedagogia.

(Reproduzido com a devida vénia)