Foto nº 1A > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > Pel Çaç Nat 60 > 1968/70 > Março de 1970 > 1º cabo Seleiro à porta da sua morança. Faltavam-lhe dois meses para acabar a sua comissão de serviço... Mas só sairá da tropa em 1975... Uma mina vai-lhe mudar alterar completamente a sua vida e os seus sonhos...
Foto nº 1 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > Pel Çaç Nat 60 > 1968/70 > 1970 1º cabo Seleiro à porta da sua morança, "cinco dias antes do acidente" (sic), com a mina que lhe roubou a vista e as mãos. (Claro que não foi em "acidente", foi "em combate"...)
Foto nº 2 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > Pel Çaç Nat 60 > 1968/70 > s/d > Esta foto foi tirada junto à porta da arrecadação do velho quartel de S. Domingos. A foto mostra três minas A/P em situações diferentes. A primeira está fechada e pronta a ser acionada. A segunda está aberta, vê-se a dinamite e o mecanismo. A terceira está aberta, vê-se todo o mecanismo desmontado."
Foto nº 3 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > Pel Çaç Nat 60 > 1968/70 > s/d > A DO-27 na pista de São Domingos. Foi numa avioneta destas que veio a enfermeira paraquedista (Maria) Ivone Reis (1929-2022): foi ela quem assistiu os dois feridos da mina, em 11 de março de 1970, o Seleiro e o Guerra, na evacuação Ypsilon.
(...) "Comecei a levantar-me e senti o estrondo infernal, o sopro que me projectou de costas, o sangue quente a escorrer na cara e os gritos dele a dizer que estava morto… Mas não estava. Os nossos homens trataram-nos o melhor possível, pediram as evacuações e fizeram uma macas com bambus e camisas. Tinha medo de perder a consciência e passar para o outro lado.
Aguentei, em choque, até chegarmos ao HM 241 em Bissau e o que mais me agradava naquele desespero todo era continuar a ouvir o Seleiro a dizer que estava morto. Se ele se calasse, sabia que podia ter perdido um amigo. (...) (*)
Fotos (e legendas): © Manuel Seleiro (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
1. O Manuel Seleiro passou a ser nosso grã-tabanqueiro desde ontem. Já o devia ter sido há muitos mais anos... Mas só agora calhou falar com ele, ao telemóvel. Senta-se à sombra do nosso poilão, sob o nº 870 (**). E, como é da praxe, vamos publicar a seguir um texto dele, justamente aquele em que relata as circunstâncias dramáticas da explosão da mina A/P que lhe roubou aos de vida e os seus melhores sonhos. É um texto que um dia tem de figurar na antologia dos nossos melhores postes. Aqui reproduzido, com a devida vénia...
Aguentei, em choque, até chegarmos ao HM 241 em Bissau e o que mais me agradava naquele desespero todo era continuar a ouvir o Seleiro a dizer que estava morto. Se ele se calasse, sabia que podia ter perdido um amigo. (...) (*)
1. O Manuel Seleiro passou a ser nosso grã-tabanqueiro desde ontem. Já o devia ter sido há muitos mais anos... Mas só agora calhou falar com ele, ao telemóvel. Senta-se à sombra do nosso poilão, sob o nº 870 (**). E, como é da praxe, vamos publicar a seguir um texto dele, justamente aquele em que relata as circunstâncias dramáticas da explosão da mina A/P que lhe roubou aos de vida e os seus melhores sonhos. É um texto que um dia tem de figurar na antologia dos nossos melhores postes. Aqui reproduzido, com a devida vénia...
Quarta-feira, 10 de março de 2010 > Pel Caç Nat 60 Guiné 68/74 -P61: Aquele dia (Dez de Março de 70!)...
Quartel de S. Domingos. Sector Militar, de São Domingos: Algures nas matas da Guiné, junto a fronteira do Senegal. Decorria então o ano de 1970 na Guiné.
Destacamento de São Domingos, sete e trinta da manhã, o Pel Caç Nat 60 sai com destino à fronteira do Senegal, com o objectivo de pintar os marcos que faziam a divisão da fronteira Guiné/Senegal...
Às dez e meia da manhã, volvidos os primeiros vinte quilómetros, já em plena mata, há uma chamada de atenção, alguma coisa se passa. Os homens passam a palavra até chegarem à minha secção. Sou informado que, na frente, foi detectada uma mina anti-pessoal. Os homens ficam nervosos.
Quando cheguei ao local da mina, o alf mil Hugo Guerra [foto à esquerda ] nforma que vai tentar levantar a mina, Decorridos alguns minutos pergunto ao alf mil Hugo Guerra como iam as coisas, ao que ele me responde que estava nervoso.
Quartel de S. Domingos. Sector Militar, de São Domingos: Algures nas matas da Guiné, junto a fronteira do Senegal. Decorria então o ano de 1970 na Guiné.
Destacamento de São Domingos, sete e trinta da manhã, o Pel Caç Nat 60 sai com destino à fronteira do Senegal, com o objectivo de pintar os marcos que faziam a divisão da fronteira Guiné/Senegal...
Às dez e meia da manhã, volvidos os primeiros vinte quilómetros, já em plena mata, há uma chamada de atenção, alguma coisa se passa. Os homens passam a palavra até chegarem à minha secção. Sou informado que, na frente, foi detectada uma mina anti-pessoal. Os homens ficam nervosos.
Quando cheguei ao local da mina, o alf mil Hugo Guerra [foto à esquerda ] nforma que vai tentar levantar a mina, Decorridos alguns minutos pergunto ao alf mil Hugo Guerra como iam as coisas, ao que ele me responde que estava nervoso.
O alf mil Hugo Guerra dá a ordem para que a mina seja desactivada. Tomei o lugar dele junto da mina.
Procede-se à segurança do local para que as coisas decorram sem incidentes. Mando afastar os homens a uma distância razoável, processo que requer muita atenção.
Procede-se à desminagem do local, o momento de muita tensão... O passo seguinte é desmontar o sistema da mina, que é constituido por dinamite e o detonador, este o mais perigoso, que requer particular cuidado...
O inevitável aconteceu, a mina estava armadilhada e explode. Gritos, confusão, leva algum tempo até os homens se recomporem.
No momento tudo ficou em silêncio depois as vozes de algums soldados Que se aproximavam. Senti umas mãos que me seguravam, era o enfermeiro José Augusto, que me prestava os primeiros socorros, colocava os garrotes para parar as hemorragias, o soro e uma injecção para as dores.
Alguns homens preparavam uma maca, com as camisas e uns paus para me transportar, fizeram cinco quilómetros comigo através da mata serrada. O alf mil Hugo Guerra sai ferido com alguma gravidade…
Como estava relativamente perto de mim foi atingido por estilhaços.
Pelo Rádio foi pedido ao quartel de São Domingos para mandarem viaturas ao nosso encontro para chegar mais rápido à pista onde deveria estar uma avioneta à espera.
Assim foi, quando chegámos à pista já lá estava avioneta, fui entregue à enfermeira paraquedista (quero aqui prestar a minha homenagem a estas Mulheres, em particular à enfermeira Ivone Reis; estas Mulheres muitas vezes corriam riscos quando tinham de socorrer os feridos em pleno combate)...
Meia hora depois chegam à Base Aérea e fui levado para o Hospital Militar de Bissau. Já no hospital, foram feitas as primeiras intervenções cirúrgicas, provavelmente devido às anestesias perdi a noção do tempo, e do local onde me encontrava.
Num momento de lucidez ouvi passos, que se aproximavam perguntei onde me encontrava. Foi me dito que estava no hospital de Bissau, perguntei quando ia para Lisboa. A resposta foi... "amanhã".
No dia seguinte [quinta-feira, 12 de março de 1970 ]pela manhã, tive a visita do Governador da Guiné, o general António de Spínola. Que deixou palávras de consolo e rápidas melhoras, e um elogio pelo dever de servir a Pátria...
Meia hora depois chegam à Base Aérea e fui levado para o Hospital Militar de Bissau. Já no hospital, foram feitas as primeiras intervenções cirúrgicas, provavelmente devido às anestesias perdi a noção do tempo, e do local onde me encontrava.
Num momento de lucidez ouvi passos, que se aproximavam perguntei onde me encontrava. Foi me dito que estava no hospital de Bissau, perguntei quando ia para Lisboa. A resposta foi... "amanhã".
No dia seguinte [quinta-feira, 12 de março de 1970 ]pela manhã, tive a visita do Governador da Guiné, o general António de Spínola. Que deixou palávras de consolo e rápidas melhoras, e um elogio pelo dever de servir a Pátria...
Nesse mesmo dia à noite saí da Guiné no avião militar. Cheguei a Lisboa no dia treze de Março por volta das cinco da manhã, caía uma chuva miudinha.
As macas eram muitas pois este avião militar fazia o transporte de Angola, Moçambique, e Guiné, Em Lisboa as ambulâncias faziam o percurso de noite para não chamar a atenção dos lisboetas.
Nesta altura já estava internado no hospital Militar, na Estrela. Serviço de cirurgia plástica. Quero aqui informar que logo que dei entrada neste serviço, entrei em coma... Só decorridos quinze dias recuperei a consciência.
A partir daqui foi um desencadear de acontecimentos, uns bons e outros maus. Descobri que não tinha uma das mãos, o braço esquerdo estava com gesso, e tinha os olhos com pensos, este foi o primeiro choque que sofri.
Os dias iam passando lentamente, até descobrir que estava cego... Mas o mais grave desta situação, a minha família não sabia que eu estava gravemente ferido no Hospital Militar, os serviços do Exército não comunicaram o facto à minha família. Os meus pais tiveram a informação por um amigo meu que por essa altura prestava serviço no Hospital Militar.
O tempo decorrido da minha chegada a Lisboa, até os meus pais terem conhecimento foi de 23 dias... Nesse ano de setenta completei vinte e quatro anos, estava na flor da idade, andei de serviço em serviço durante mais quatro anos [no total, 5 anos, mais 20 meses no TO da Guiné, de julho de 1968 a março de 1970 ].
Em 1975 sai do hospital Militar com a bonita recordação: cego, sem a mão direita e com dois dedos na mão esquerda. Moral baixa, estado psicológico baixo. O Hospital Militar não dispunha de Psicólogos... (***)
PS - A data que consta no texto acima é a minha versão do acidente. A versão do alf mil Hugo Guerra aponta para o dia 13 de março de 1970. (*) [foto à esquerda: O Seleiro e o Guerra ].
Entrada para o Serviço Militar: 18 de abril de 67. Partida de Lisboa: 12 julho 1968 para a Guiné. Acidente na Guiné 10 de março de 1970. (****)
Manuel Seleiro, 1º cabo, DFA,
____________
Notas do editor:
(**) Vd. poste de 16 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24072: Tabanca Grande (543): Manuel Seleiro, ex-1º cabo, Pel Caç Nat 60 (São Domingos, Ingoré e Susana, 1968/70), natural de Serpa, DFA, sofreu cegueira total e amputação das mãos, ao levantar e desativar um engenho explosivo, durante uma operação, em 13/3/1970... Senta-se à sombra do nosso poilão, sob o nº 870.
(***) Último poste da série > 3 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24033: (De)Caras (194): O mecânico-desempanador Mota, da CCAÇ 3535 (Zemba, Angola, 1972/74), mais conhecido por "Matraquilho" (Fernando de Sousa Ribeiro)
(****) Também pelas minhas contas, e de acordo com a própria narrativa do Seleiro, o "acidente" foi a 11 de março de 1970, uma quarta-feira... Evacuados para o HM 241, em Bissau, os nossos camaradas partem em avião militar, para Lisboa,no dia seguinte, dia 12, à noite. Chegam a Figo Maduro, na sexta-feira, 13, às 5 horas da manhã.
13 comentários:
Manel, conheci o teu mano João Cataluna na Casa do Alentejo, e falei com ele por duas vezes. Estava longe de imaginar que tu também eras Cataluna (um apelido de origem espanhola, não ?, há em Serpa mais gente que veio, em tempos, do outro lado da fronteira...). Vou divulgar este teu poste. Obrigado por quereres partilhar com os teus/nossos camaradas da Guiné as tuas (des)venturas... Um abraço, Luis
Estes relatos, estas recordações, deixam sempre, pelo menos a mim, um certo aperto no estômago.
Quando estive em Tancos convivi com vários futuros Furriéis (então e ainda "Cabos milicianos") que estavam a fazer "minas e armadilhas" e sempre me interroguei como seria estar na situação de desarmar um "bichinho" daqueles.
Isto que o Manuel Saleiro nos transmite, acrescendo as indicações do Hugo Guerra, embora seja um relato duro e cru, ainda assim talvez não consiga transmitir bem a quem não esteve nessas situações toda a envolvência de responsabilidade, de tensão, de angústia, e também de sofrimento (às vezes físico, algumas fatal, mas sempre psicológico) por quem as efetivamente teve que operacionalizar.
Só posso enaltecer a coragem, física e moral, do Saleiro e desejar-lhe boa continuação com esse tipo de atitude.
Abraço
Hélder Sousa
Caro Hélder
Talvez por ser "bonito" - quem sabe? - no início da comissão fui destacado a tempo inteiro para a secretaria do comando.
Estava eu há seis meses no "ar condicionado", quando na manhã de 06OUT71 se ouve uma explosão perto do quartel. Sabíamos que os 3.º e 4.º pelotões tinham saído para reconhecimento da zona próxima, uma vez que na noite anterior, o quartel tinha sido atacado. Corremos logo para a porta das transmissões para saber o que se tinha passado. A notícia foi dura e crua, o "maior" do 4.º pelotão (Alf Mil Art MA Santos do Couto) tinha sido vítima do rebentamento de uma mina antipessoal que tentava neutralizar. Seguiu-se um espaço de tempo, que hoje não consigo medir, até que alguém me pergunta quem é o furriel "mais velho" de minas e armadilhas. Se pensar digo: - Eu. Hoje põe-se-me o problema. Por nota, eu era o mais velho, por NMec seria o mais novo. Não me lembro, agora, onde andaria o Sousa, meu camarada de MA, ele até pertencia ao 4.º pelotão que estava no mato e era comandado pelo malogrado alferes Couto.
Sei que do nada estava eu em farda n.º 2 em pleno mato a armadilhar 3 minas AP para as rebentar. Entretanto, os restos do Alf Couto jaziam algures num pano de tenda. Lembro-me de ter armadilhado 3 minas e rebentarem 4. Primeiro momento de sorte.
Perguntas, o que se sente? O que eu senti, não sei, mas medo, muito.
Acabado o trabalho voltei ao quarto para mudar de camisa, tão molhada como se tivesse regressado debaixo de chuva.
A meu (des)favor: Não ser operacional, nunca ter sido chamado, até àquele momento, para neutralizar engenhos explosivos e saber que o meu alferes tinha morrido, momentos antes, no exercício da função.
Até ao fim da comissão, coadjuvado pelo meu camarada Sousa, fiz alguns trabalhos, felizmente pouco complexos e sem consequências.
Segundo momento de sorte: uma vez ia pisando uma "mina amiga", implantada por mim mesmo, tendo sido salvo por um soldado que me acompanhava e que, a tempo, me puxou para trás, pela farda. Acho que nestas coisas, o acaso, a sorte, o destino ou uma mão amiga têm muita influência.
Grande abraço, amigo Hélder
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
Boa tarde, camaradas.
Sou o membro mais novo da tabanca...
(870).
Estou em crer que -70 era o «explosivo "800".
Obrigado a todos pela vossa atenção.
Manuel seleiro
Parede
Parabéns camarada Manuel Seleiro por enfrentares a vida com estoicismo depois das limitações que sofrestes com essa maldita mina, nessa guerra que não causaste ou procuraste. Continuas a ser um combatente corajoso ao publicares a experiência difícil de vida que tens tido como deficiente de guerra, com isso estás a ajudar muitos dos teus camaradas. . Muito obrigado. Um grande abraço, saúde e felicidades.
Francisco Baptista
boa tarde, Baptista.
Vai-se fazendo por a vida...
Obrigado por as tuas palavras .
Abraço a todos os camaradas.
Manuel Seleiro
Parede
Camarada Manuel Seleiro
Acho que por aqui algures já te dei as boas-vindas. Espero que te sintas bem na tertúlia.
Pelo que nos contas, tiveste uma longa estadia de 5 anos no hospital para recuperação. Nesse espaço de tempo nunca te propuseram continuares nas fileiras, pediste e não te foi concedida essa pretenção ou nenhuma delas? É uma curiosidade que tenho porque me parece haver naquele tempo diferenciação no tratamento dos estropiados de guerra, função de serem praças, sargentos ou oficiais.
Um abraço e votos de boa saúde
Carlos Vinhal
Coeditor
Da conversa que tive de novo com o nosso grã-tabanqueiro nº 870, Manel Seleiro, vamos corrigir, esclarecer ou adiantar o seguinte:
(i) ele não é irmão do João Cataluna (do grupo musical "Os Alentejanos"): são primos, do lado materno;
(ii) nasceu em 1946, vai fazer os 77 em 29/7/2023 (e ficará muito feliz se a gente lhe "cantar os parabéns" aqui na Tabanca Grande);
(iii) saiu do hospital em 1974 mas voltou lá com paludismo: dessa vez esteve lá mais 6 meses, e só saiu em 1975;
(iv) oficiais, sargentos e praças, no HMP, viviam em regime de "apartheid": só se encontravam nas consultas médicas;
(v) foi rádio-amador, mas já não é;
(vi) as fotos da Guiné são dele, na altura tinha máquina; só reconhece as fotos que publicámos pelas "legendas";
(vii) as fotos foram digitalizadas pelo seu filho, Emanuel Seleiro, mas não é capaz de as editar: disse-lhe que, em formato extra-largo, no blogue, ganham outra qualidade;
(viii) diz que não poude evitar uma lagrimazinha ao "ler" os postes que publicámos; aliás, não é ele que "lê", como é óbvio (sofre de cegueira total);
(ix) como explica na sua página, recorre a um "leitor de ecrã"... (os leitores de ecrã "programas, de computador que os Deficientes (VISUAIS) usam para ter mais autonomia no computador, e de modo a facilitar o acesso às aplicações mais populares da Internet.Com software de Síntese de voz e a Placa de som do PC, a informação do ecrã é lida permitindo o acesso a uma variadade de aplicações de trabalho, educacionais e de lazer.
E enviar informações para uma linha (Braille)";
(x) não sabe braille, mas tem competrências informáticas que lhe permitiram criar e editar um blogue e uma página pessoal;
(xi) antes da tropa trabalhou em várias empresas, na Grande Lisboa, a última, a Fábrica de Loiça de Sacavém;
(xii) para se deslocar (inclusive para ir a um ou convívio) tem de utilizar os transportes públicos (em geral o táxi); a esposa também é deficiente visual (não tem visão lateral);
(xiii) depois da desgraça que lhe aconteceu, continuou no "ativo" no Exército: é 1º cabo, DFA; a pensão de invalidez (e agora a de aposentação) deve ser a sua principal fonte de rendimento;
(xiv) tardiamente, aranjalharam-lhe uma prótese, aliás duas, de dois modelos, o último era uma prótese eletrónica, mas não se deu bem, "está aí a um canto";
(xv) ainda pediu ao ortopedista, o dr. Pina (?), para ir para o Hospital de Hamburgo, na Alemanha: mas não havia vagas, quem não tinha pernas ou braços tinha prioridade sobre sobre cegos e amputados das mãos, como ele...
(xvi) viveu num tempo cruel: veio para Lisboa à procura de trabalho, foi para a fábrica Barros, em Moscavide, para onde iam muitos alentejanos de Serpa e arredores... Com um interno de meia hora para almoçar ou jantar, comia à pressa para dar dois toques na bola, no pátio da fábrica... Um dia com uma bolada partiu um vidro da janela do escritório... O "senhor engenheiro" deu de imediato ordem de despedimento...
... Porra, tiro-te o quico, Manel!
Carlos, em relação à tua pergunta, e antecipando-me à resposta do Manel... Parece-me que sim, que havia grande discriminação: a "progressão na carreira", no caso das praças, acabava em cabo; no caso dos oficiais, podia-se chegar a coronel...
Tenho acompanhado com muita emoção todo este sangrento filme que envolveu o Manuel Saleiro e o Hugo Guerra que conheci na sua passagem por Mampatá. Aquele jovem alferes que foi enviado para Gandembel chegadinho da Metropole. Ali viveu momentos terríveis que punham aos saltos o nosso coraçao, apesar de estarmos a mais de 10 Km, "passeou" por campos de minas que o guerrilheiro Braima Camará ia semeando, conforme me contou em 2008 no Simpósio de Combatentes. Depois, quando Gandembel foi abandonado, foi para o Norte e caiu com a Manuel Saleiro.
Doi muito, ainda hoje, tomar conhecimento destas tristes realidades de uma guerra que não queríamos. Parece que estou a ver e a ouvir os lamentos do Hugo, quando em Mampatá se apercebeu do que o esperava.
Ao Manuel Saleiro um abraço sentido de admiração pela sua força anímica. Ao Hugo Guerra cujo FB está parado, mas creio que está vivo um abraço de solidariedade e amizade.
Zé Teixeira
Para vossa informação, ontem percorri a estrada entre S. Domingos e Susana.
Andam a reparar a estrada, os primeiros km já estão.
Há uns anos, uma camioneta carregada de mulheres também pisou uma mina e morreram muitas desta mulheres.
São outras minas de outras guerra na mesma estrada...
Um bom carnaval para todos, que o meu vai ser na praia.
Abraço
Patricio, estás em Varela, pelo que deduzo. E levas contigo a cana de pesca. O que é feito da casa do Pepito ? Se vires alguém da família dá lembranças nossas. E tira umas fotos de Varela. Mantenhas. Luis
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