Timor Leste > Escola São Francisco de Assis (ESFA), em Boebau, Manati, Liquiçá, inaugurada em 2018. Foto de cronologia da página do Facebook da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (com a devida vénia...)
Todo vosso, Rui Chamusco" (..:)
Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Chegou finalmente o dia da comemoração do 5.º aniversário da inauguração da ESFA.
Muita ansiedade, alguma preocupação sobre a viagem, grande azáfama em preparar o evento. À hora marcada, frente ao Hotel Timor, em Dili, lá estamos nós (Eustáquio, Mário Louro, Mariana, Adobe, Monizia e eu) prontos para acolher a chegada da Sra. Embaixadora que, passados alguns minutos se fez presente.
A partir da escola Cafe de Liquiçá, começa a grande aventura do caminho até Boebau. Um percurso com muitos precalços, buracos e e mais buracos, pedras inesperadas, lamas escorregadias, curvas e contracurvas, subidas e descidas arrepiantes, pessoas e animais ocupando as vias já de si estreitas e perigosas. Um autêntico “cabo das tormentas”. Compensavam-nos as paisagens deslumbrantes que se estendiam por montes e vales. Valeu-nos a perícia dos motoristas, com destaque para o senhor João que nos safou de situações embaraçosas.
E por fim, chegamos a , a terra prometida. Uma grande emoção de aqui voltar. Ambiente de festa em frente da escola, com o povo e sobretudo as crianças com os rituais de acolhimento caracteríticos (danças, imposição dos tais, ramos de flores, palmas, beijos e abraços. Muita emoção e algumas lágrimas impossível de conter.
Depois, o ritual muito próprio desta região: oferta de areka, folha de malus e cal para mascar, ou tabaco para inalar. Seguem-se os discursos de boas vindas e os discursos dos convidados. Sobre a mesa, são colocados cocos que o Cesáreo foi colher e prepar e que saborosamente fomos consumindo. Ao som de músicas e canções cantaram-se os “parabéns”, cortou-see distribui-se o bolo. É uma satisfação enorme ver e ouvir estas crianças (e não só) cantar canções portuguesas: o malhão, as modinhas, viva a máusica, etc, etc... Cantam com a alma e o coração.
Depois do almoço, com ementa timorense à qual não faltou uma garrafa de vinho do Porto para o brinde, fzemos a visita à “casa dos professores” , que a Astil de Portugal patrocinou, donde se observam paisagens do outro mundo: montes de Ermera, ribeira de Laoeli, enxtensão do vale até Atabai já junto ao mar. Valeu a pena o esforço dispendido para aqui chegar. Como diz a professora Cristina, “ isto enche-me a alma”.
De regresso à escola, já todo o mundo dançava. Mas foi sobretudo a dança das crianças que nos cativou e levou a associarmo-nos a elas (menos eu que ando coxo).
Depois foi a hora do adeus. Muita gratidão, muitos beijos e abraços, muitos “beija-
mãos” das crianças, e algumas lágrimas. Eu promenti que dentro em pouco vou voltar, e estarei uns dias com eles. Assim o farei.
E agora outra vez a amargura do caminho. Isto é mesmo para gente valente, que saiba suportar tanto baloiço, alguns arrepios, algum cansaço e outras contrariedades.
Mesmo assim, fomos brindados com a paisagem de uma cascata impressionante, que vertia as suas águas em queda até ao caminho por onde passamos. O restante caminho fez-se bem, até Aipêlo e até Dili.
Junto ao Hotel Timor de novo, para agradecermos mais uma vez a visita da sra embaixadora Manuela Bairos e louvarmos a sua coragem e simpatia para connosco.
“ No queremos a un hombre pregonero / Queremos a un hombre / Que se embarre connosotros / Que viva connosotros / Que bebe connosotros el vino en las tabernas. / Los otros no interessan / Los otros no interessan.”
É de gente assim que nós precisamos. Bem haja, Dra Manuela. Não iremos esquecer a sua presença e proximidade. Que São Francisco de Assis a proteja.
Ao percorrermos o trajeto de Ailok Laran para Dili, um percurso penível devido ao mau estado dos caminhos que mais parece a “via dolorosa”, o Eustáquio que tudo faz para evitar os saltos e sobressaltos, muda de direção pensando que o outro caminho seria melhor. Eis então quando, o caminho escolhido estava interrompido. “ Por quê não se pode passar?” perguntei eu. “Parece que há morto ou ‘barlak’ (festa de noivado)”. E vai daí, toca a virar à esquerda à procura de outra solução.
Mais à frente, noutro cruzamento, havia um ferro espetado no chão com um pano
branco a servir de bandeira.
Sempre a aprender, até morrer...
(*) Vd. postes de 2 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17814: Ser solidário (204): "Uma escola em Timor" - Parte I: o projeto de construção de uma escola em Manati-Boibau, Liquiçá, Timor Leste... (Rui Chamusco, tabanca de Porto Dinheiro)
8 comentários:
Tiro o chapéu a estes portugueses e timorenses que ergueram esta escola nas montanhas de Timor Leste, numa zona onde havia 150 crianças sem acesso ao ensino básico...
Rui, a avaliar pela viagem, o transporte de materiais para a construção da escola deve ter sido uma uma pequena odisseia...Ab, Luis
Obrigado amigo Luís por esta envolvência do blogger que orientas.
Descrever é uma coisa, mas o melhor é vivenciar. Sim, o transporte dos materiais é o que nos fica mais caro. Mais ainda que os mesmos materiais. Mas tudo se faz, com o dinheiro dos "malaes" e a perícia e calma dos timorenses.
Peço-te desculpa de ainda não te haver enviado sa fotos que me pediste. Fá-lo-ei brevemente.
Abraço
Jose Teixeira (by enail)
segunda, 3/07/2023, 18:24
Obrigado, Luís.
O que mais custa, é o que mais vale, ainda há gente em Portugal capaz de sentir que dar-se é a melhor forma de servir. os mais frágeis em qualquer parte do mundo. O sabor do "fruto" amadurecido, ou seja, os bons resultados são o nosso melhor prémio.
Um Chi-coração.
Zé
Obrigado, Rui... Ainda te vou publicar mais uns excertos das tuas deliciosas e inspiradoras crónicas...
Tu és um "malae" por fora e um timorense por dentro... Abraço fraterno, Luis.
È completa a minha ignorância sobre a geografia de Timor Leste... Já agira sobre Liquiçá, fica a sbar,segundo a Wikipédia...
Liquiçá (em tétum Likisá) é uma cidade costeira de Timor-Leste, 32 km a oeste de Díli, a capital do país. A cidade de Liquiçá tem 19 mil habitantes e é capital do município do mesmo nome.
Em Abril de 1999, na campanha de intimidação e violência que antecedeu o referendo sobre a independência, mais de 200 pessoas foram mortas na igreja de Liquiçá, quando membros da milícia Besi Merah Putih, apoiados por soldados e polícias indonésias, atacaram a igreja.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Liqui%C3%A7%C3%A1
Como surgiu este projeto ? O prof Rui Chamusco responde em entrevista ao "Jornal Tornado - JPOrnal Gobal para a Lusofonia",
Quarta-feira, Julho 5, 2023
https://www.jornaltornado.pt/uma-escola-luso-timorense-esquecida-nas-montanhas-de-timor-leste/
Uma escola luso-timorense esquecida nas montanhas de Timor-Leste
Por J.T. Matebian, em Timor-Leste
21 Março, 2023
Um excerto, com a devida vénia (LG):
(...) Este projeto tem como ponto de partida uma conversa informal entre dois amigos – Gaspar Sobral (timorense residente em Portugal), e eu próprio, em 2015.
O amigo Gaspar manifestou-me o seu grande desejo de construir uma escola na terra dos seus ascendentes em Boebau, pois na visita que lhes fizera em 2000 verificara que havia muitas crianças sem escolaridade. De imediato, eu como professor aposentado e livre de obrigações, anui ao seu desejo, respondendo prontamente: “conta comigo.”
Esta ideia foi crescendo e, em Fevereiro de 2016, decidimos vir a Timor visitar a localidade de Boebau (Liquiçá) e tomar conhecimento desta necessidade. O Chefe de Suco informou-nos, através dos cadernos de registo, do número de crianças que aí viviam. Mais ou menos 400, das quais só 111 iam às escolas mais próximas. Por consulta presencial, o povo pediu que fosse construída uma escola. E assim fizemos.
Em 19 de Março de 2018 foi inaugurada a “Escola São Francisco de Assis – Paz e Bem”, com a presença de gente muito importante (Embaixador de Portugal, representante do Núncio Apostólico, Director da Escola Portuguesa de Díli, coordenador da Caixa Geral de Depósitos, Directora da Fundação Oriente, Director da Educação do Município de Liquiçá, Diretor da Polícia Municipal), e muitos amigos e povo de Boebau e Manati. (...)
(...) Este ano frequentam a ESFA 88 crianças no ensino pré-escolar e primário. Com muito esforço a ASTIL de Portugal e a ASTILMB (Manati/Boebau) têm conseguido manter a escola em funcionamento, graças ao voluntariado de amigos portugueses e timorenses.
As crianças que a frequentam são todas oriundas de famílias pobres, e por isso tudo é gratuito excepto o pagamento de ordenados aos professores. Ainda não temos professores portugueses ou timorenses destacados pelos ministérios de educação. Muitas promessas, muitos aplausos, mas nada de concreto que nos ajude a encontrar uma solução. Este é o nosso grande problema, que urge resolver. Disto depende a sustentabilidade da ESFA. Pedimos encarecidamente que nos ajudem. SOS! (...)
O Governo de Timor Leste pode fazer melhor
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