Guiné-Bissau > Região do Boé (?) > 24 de Setembro de 1973 > Foto (e legenda) da revista PAIGC Actualités, nº 54, Outubro de 1973:
"O Camarada Luís Cabral, secretário geral adjunto do nosso Partido, eleito Presidente do Conselho de Estado, seu representante nas relações internacionais, sendo igualmente o comandante supremo das Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP)"...
No Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum, estas e outras fotos do dia 24 de setembro de 1973, o da proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau, por parte do PAIGC, partido revolucionário que se intitulou único e legítimo representante de todo o povo da ex-Guiné Portuguesa (!), são alegadamente tiradas na "região libertada de Madina de Boé" (sic), uma ficção que se mantem até hoje, 50 anos depois, mesmo contra toda a evidêncial factual...
Já falámos, "ad nauseam", da ajuda sueca (alegadamente "desinteressada", "humanitária", "solidária", etc.), que atingiu valores que chegaram aos 2,5 mil milhões (!) de coroas suecas [c. 269,5 milhões de euros] durante o período de 1974/75-1994/95 (sendo de 53,5 milhöes de coroas suecas, ao valor actual, ou sejam, cerca de 5, 8 milhões de euros, o montante correspondente ao período da "guerra de libertação", de 1969/70 até 1976/77)...
Enfim, essa ajuda chegou a representar 5 a 10% do total do valor das importações da Guiné-Bissau...Ao fim destes anos todos, os suecos fecharam a torneira, ao descobrirem que estavam a mandar o dinheiro dos contribuintes para o lixo...
A administração de Luís Cabral e, depois, do golpista e tribalista'Nino' Vieira, dois heróis da liberdade da Pátria, infelizmente não conseguiram trilhar com sucesso os caminhos da liberdade, da justiça, da paz, da reconciliação e do desenvolvimento com que sonhara e por que lutara o "pai" da Pátria, Amílcar Cabral, hoje tão mal-amado e esquecido na sua própria terra, talvez por ser meio-guineense e meio-cabo-verdiano...
Antº Rosinha disse (*)...
"Declarações de Luís Cabral que deplorava ter encontrado os cofres vazios, uma administração sem quadros", quer dizer, o aprendiz de colonialista, Luís, irmão de Amílcar, estaria à espera de uma passadeira vermelha e um abre alas com banda de música.
Depois de andarem 13 anos a dizer que não precisavam de nada do 'colon', que nós sabemos governar melhor e os nossos amigos vão-nos ajudar, admira a desilusão de Luís Cabral, com a debandada dos funcionários colonialistas.
De facto até parecia fácil governar as colónias portuguesas para quem conhecia bem aquela "paz colonial", por dentro e por fora, com a colaboração de funcionários como Luís Cabral, Amílcar Cabral, Aristides Pereira... em geral.
Para alguns correu bem, outros nem tanto. (**)
O Antº Rosinha , ex-fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93, ex-"colon" e retornado, como ele gosta de se intitular com a sabedoria, bonomia e o sentido de humor de quem tem várias vidas para contar... por que já as viveu (as "Berças", Angola, Brasil, Guiné-Bissau, Portugal pós-25 de Abril...) |
"Declarações de Luís Cabral que deplorava ter encontrado os cofres vazios, uma administração sem quadros", quer dizer, o aprendiz de colonialista, Luís, irmão de Amílcar, estaria à espera de uma passadeira vermelha e um abre alas com banda de música.
Depois de andarem 13 anos a dizer que não precisavam de nada do 'colon', que nós sabemos governar melhor e os nossos amigos vão-nos ajudar, admira a desilusão de Luís Cabral, com a debandada dos funcionários colonialistas.
De facto até parecia fácil governar as colónias portuguesas para quem conhecia bem aquela "paz colonial", por dentro e por fora, com a colaboração de funcionários como Luís Cabral, Amílcar Cabral, Aristides Pereira... em geral.
Para alguns correu bem, outros nem tanto. (**)
7 de novembro de 2023 às 19:10
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(*) Vd. poste d 6 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24826: Notas de leitura (1631): Uma nova leitura da incontornável entrevista de Carlos de Matos Gomes sobre a descolonização da Guiné (2) (Mário Beja Santos)
Notas do editor:
(*) Vd. poste d 6 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24826: Notas de leitura (1631): Uma nova leitura da incontornável entrevista de Carlos de Matos Gomes sobre a descolonização da Guiné (2) (Mário Beja Santos)
(**) Último poste da série > 6 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24454: S(C)em comentários (11): "Na imensidão da Lapónia a Natureza é uma das terapias espirituais" (José Belo)
12 comentários:
Olá Camaradas
Subscrevo inteiramente.
Já estou farto das loas cantadas aos "nossos heróicos combatentes"-
Um Ab.
António Costa
Mas havia o outro lado da moeda: o "Portugal de Salazar e Caetano" estava "orgulhosamente só"... Spínola tinha razão: não vou ganhar a guerra só aos tiros... E depois dele se ir embora, deixou de haver verdadeira liderança politico-militar no CTIG... Esse terá sido o drama dos últimos soldados da império
... Matar e morrer por quem ? E porquê?
Do passado não podemos alterar nada! nem um só segundo da vida ou dos factos.
Já podemos, e devemos lutar, para que a História registe toda e só a verdade.
E todas a versões fantasiosas e torpes mentiras, sejam rejeitadas e condenadas.
Quanto aos protagonistas do passado e do presente, serão julgados pelos seus atos.
Joaquim, inteiramente da acordo. (E gosto muito de voltar a te ver por aqui.)
Se a leitura do passado já é uma tarefa altamente complexa, a do passado não o é menos. Num caso temos excesso de ruído, noutro muitas "brancas", muitos buracos ou falhas no "puzzle" e nas grelhas de leitura.
No que diz respeito à "nossa" Guiné ( sem paternalismos, saudosismos e muito menos tiques neocolonialistas...), eu diria que temos de continuar a juntar as peças.
Já agora, vamos fazer 20 anos em 23 de abril de 2024... Estamos na idade de ir para a tropa...
Viva Luís Graça! Tudo bem!
Decerto querias dizer: "Se a leitura do presente (passado) já é uma tarefa altamente complexa"
Não me estou a armar em corretor de gralhas. (logo eu, com tão grande défice na escrita)
Foi só para dar uma ajuda e concordar na dificuldade de leituras ajustadas, ao que se passa nos nossos dias, em todos os domínios, dentro e fora do nosso país.
Quanto ao passado, vamos juntando as peças e discernindo em diálogo, fazendo imergir a verdade do amontoado de informações e contradições.
Um abraço.
JLF
Caríssimo Joaquim: Ainda bem que topaste a gralha, obrigado... É isso mesmo:
"Se a leitura do passado já é uma tarefa altamente complexa, a do presente não o é menos"...
Caro amigo Luis Graça,
Tu dizes e bem "...Esse terá sido o drama dos últimos soldados do império
... Matar e morrer por quem ? E porquê?"
Isso sim...Sem sombras de duvidas e se juntarmos também a cada vez mais forte politizaçao no seio dos oficiais (Milicianos...? podemos insinuar algumas das causas ou consequencias (?) do fenomeno que eu caracterizei de "paradoxo portugués" quando vimos a indisfarçavel satisfaçao com que alguns desses "ultimos soldados do império" receberam os guerrilheiros nas localidades e em alguns aquartelamentos do mato depois do 25A74.
Todavia, este caso, que parecia excepcional e unico, afinal nao foi o primeiro nem o unico na historia mundial, pois descobri que, a martirizada Polonia viveu um caso muito parecido, mas por razoes bem diferentes. Em 1983 num encontro de futebol para as eliminatorias do Euro 1984, os Polacos por força de um odio visceral e num fundo de fortes rivalidades com a antiga URSS, ficaram agradecidos a Portugal numa derrota que nao so afastava a Polonia do Euro 84, mas igualmente comprometia as chances da URSS que, de facto, acabaria por ser eliminada em Portugal num jogo memoravel, decidido com um golo solitario do Carlos Manuel.
Mais tarde um dos jogadores da Polonia recordaria a partida nesses termos: "Aos 32 minutos, um grito de alegria irrompeu nas bancadas dominadas pelos polacos, após o golo de Carlos Manuel. No fim, os branco-vermelhos perderam por 0-1. "Eu (e os meus colegas) fomos aplaudidos... por termos perdido o jogo", disse Iwan. O antigo avançado ainda assumiu que, antes do confronto com Portugal, ele e os seu companheiros tinham recebido frigoríficos da empresa Polar (hoje inexistente) de Wroclaw, produtos muito preciosos na época comunista polaca." (extraido do Jornal Expresso).
Com um abraço amigo a todos e aproveito saudar, de forma especial, ao JLFernandes e dizer-lhe que a sua presença é sempre bem vinda na TG.
Cherno Baldé
Nota: Junto na minha voz para
PS: Sobre as relaçoes, historicamente, pouco amistosas entre Russos (Sovieticos) e Polacos, fomos testemunhos dessa realidade durante o periodo em que estivemos a estudar na ex-URSS, pois durante as viagens aos paises do Ocidente, principalmente Alemanha e a cidade autonoma de Berlim, tinhamos que atravessar o territorio polaco e observavamos, com muita pena, que éramos mal vistos pelos polacos, entre outras possiveis razoes, porque, de certa forma, representavamos, aos seus olhos, o dominio soviético. Apesar disso, convém salientar que o comportamento dos agentes da policia sempre foi muito correcto e profissional, com poucas palavras, claro.
Cherno AB
Luís: Permita-me subscrever o teu post.
A História rezará que Amílcar Cabral/PAIGC tinham o desígnio da independência da Guine, mas, mas esse desígnio não comportava a liberdade dos guineenses. Pela sua natureza de partido-armado-estado.
Este post de Luís Graça é mais uma pequena "camada" para tempo, anos de 1960-1980, da História da Guiné.
Se observarmos o Mapa da Província da Guiné 1961 (P23893) e traçarmos uma área formando um triângulo com o cume em Buruntuma, o lado esq. a estrada Buruntuma-Gabu-Bafatá-Xime, o lado drt. a fronteira Guiné-Conacri e a base Xime-Xitole-rio Corubal-fronteira, verificamos as centenas de tabancas existentes.
Se nos lembrarmos da mesma área do mesmo triângulo num Mapa em 1974, verificamos que de Buruntuma ao Xime, do Xime ao Xitole, rio Corubal e fronteira serem meia dúzia as tabancas existentes.
Para o PAIGC a guerra era feita para libertar a Guiné dos colonialistas, se em toda aquela grande área do território já não havia colonialistas, podiam chamar vitoriosamente zona libertada.
Evidentemente que a população daquela zona não era colonialista, mas por razões militares toda a gente foi obrigada a abandonar as suas tabancas.
Não sabemos por quanto mais tempo haveria guerra na Guiné e nem nos passa pela cabeça alguma imagem semelhante da entrada dos vietcongues em Saigão.
Este ponto de vista nada tem de apoio aos assassinos do PAIGC.
Valdemar Queiroz
Valdemar, é um exercício pedagógico, esse, de comparar as cartas (dos anos 50, antes da guerra), com a situação, no terreno, no final da guerra...
Temos as cartas militares que são um fotografia, de grande rigor, das povoações existentes antes do PAIGC ter "deitado fogo ao capim", a que se seguiu depois a resposta da polícia administrativa, e as Forças Armadas Portuguesas, com bombardeamentos aéreos, barragens de artilharia, operaçóes terrestres, construção de quartéis, reordenamentos, etc.
Só para dar um exemplo, que eu conheci muito bem, de julho de 1969 a março de 1971, enquanto operacional da CCAÇ 12, o sector L1 (grosso modo, triângulo ou Banmbadina / Xime / Xitole / maregm direita do rio Corubal + regulafos do Enxalé e Cuor, a norte do rio Geba)...
https://arquivo.pt/wayback/20150605213755/http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial17_mapa_Bambadinca.html
https://arquivo.pt/wayback/20150605214358/http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial14_mapa_Xime.html
https://arquivo.pt/wayback/20151009212324/http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial15_mapa_Fulacunda.html
https://arquivo.pt/wayback/20151009211754/http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial16_mapa_Xitole.html
https://arquivo.pt/wayback/20151009212653/http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial10_mapageral.html
Só ao longo da margem direita do Corubal, podíamos citar uma série de povoacções, de maior ou menor importància populacional, nomeadamente balantas e biafadas que foram destruídas, ou abandonadas, ou relocalizadas, e a que op PAIGC passou a chamar abusivamente "zonas libertadas" (ou sejam, sob o seu controlo)... Regulados com o Xime, o Corunbal, o Cuor, ficaram praticamente só com quarteis (Xime, Mansambo, Xitole, Enxalé, Missirá...) e alguns destacamentos de milícias e aldeias em autodefesa (fulas) (Amedalai, Demba Taco, Tabatai, Moricanhe, Candamá, Finete...). A grande tabanca de Samba Silate, balanta, por exemplo, desapareceu do mapa...
Chamemos as coisas pelos seus nomes: no início da guerram funcionou o terror de um lado e do outro... Os meus soldados fulas (os mais velhos) contaram-me histórias desses tempos... E houve uma separalão das ãguas,como em qualquer guerra civil: balantas, biafadas e mandingas, +por um lado, e fulas, por outro... (Refiro-me apenas ao sector L1)...
Todos estes topónimos passaram depois a fazer parte da nossa "via sacra"...onde demos e lev+amos muita porrada...
Ponta Varela
Madina Colhido
Poindom
Gundaguè Beafaada
Darsalame (Baio)
Buruntoni
Madina Tenhegi
Tubacutá
Ponta do Inglès
Ponta Luís Dias
Mangai
Concodea Beafada / Concodea Balanta
Mina / Fiofioli, etc.
Biro
Galo Corubal
Satecuta, etc.
O comando do BART 2917 calculava em 6 mil habitantes a população fora do "nosso" ontrolo administrativo...E havia sítios onde a nossa artilharia (Xime e Mansambo, com o 10,5) náo chegava... E em operações terrestres, a nível de batalhão, só íamos uma vez por ano... ou nem isso.
Olá Camarada
Continuo a ter muita dificuldade em entender esta das "áreas libertadas". É um tema a discutir e com profundidade.
A comparação entre os mapas em vigor no "meu tempo" e os do tempo de paz (anteriores) leva-me a concluir que as tabancas que existiam antes do início da guerra eram em grande (enorme) número, porém (em topografia 50.000) muitas delas não passavam de aglomerados de 3 ou 4 moranças com um nome impresso ao pé. Tenho para mim do que vi, que por exemplo em Demba Taco essas tabancas não teriam mais de 20/30 habitantes. A concentração de população junto das unidades militares (metropolitanas ou guineenses) procuravam concentrá-la fora do controlo do PAIGC e até garantir-lhe uma certa qualidade de vida eu, nas "áreas libertadas" não exista.
Um Ab.
António J. P. Costa
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