Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 18 de julho de 2024
Guiné 61/74 - P25758: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (52): Operação Jaguar Vermelho - II: dia 31 de Maio de 1970
"A MINHA IDA À GUERRA"
João Moreira
OPERAÇÃO JAGUAR VERMELHO - II
1970/MAIO/31
Às 6h30 rebentou uma armadilha, montada por nós na véspera.
Os guerrilheiros reagiram com rajadas em várias direcções, para ver se nós denunciávamos a nossa presença.
O Rafael de Jesus Lopes, apontador de morteiro 60 do meu grupo de combate, reagiu e eu chamei-lhe a atenção por ter feito fogo sem eu ter dado ordem. Ele respondeu que foi ordem do nosso capitão.
Eu não teria dado essa ordem, porque o fogo inimigo tinha todo o aspecto de ser para saber se e onde nós estávamos.
Após este contacto fomos ver a armadilha accionada, e verificamos sulcos de arrastamento no chão, além de sangue e uma sandália plástica ensanguentada.
Retiramos para um local, relativamente próximo, onde seria feito o reabastecimento de água.
Instalamos os 3 grupos de combate (2.º e 4.º da CCav 2721, mais o grupo de milícias), em círculo, para o helicóptero pousar e deixar a água.
O Capitão Moura Borges ficou numa zona central, junto a uma árvore de grande porte.
Bastante tempo depois de a Companhia se ter instalado, fomos surpreendidos com um forte ataque com morteiros, RPG e armas ligeiras.
Reagimos o melhor que soubemos e pudemos - éramos periquitos, com 45 dias de Guiné - e lá conseguimos conter o ataque.
No rescaldo do ataque, tínhamos o capitão, o alferes do meu grupo de combate e quatro soldados milícias, feridos com estilhaços e tiverem de ser evacuados. Havia mais militares com estilhaços, mas como os ferimentos não eram graves não foram evacuados.
O reabastecimento de água foi feito nesta ocasião. A água veio em pipos de vinho, e os nossos militares queixaram-se de que a água tinha um sabor horrível.
Com estas evacuações, a Companhia passou a ser comandada pelo alferes Pimentel do 2.º grupo de combate, e o 4.º grupo de combate passou a ser comandado por mim (furriel miliciano Moreira) por ser o furriel mais antigo.
No deslocamento que fizemos para Canfanda, sofremos mais três ataques de abelhas que debilitaram os nossos militares.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 11 DE JULHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25735: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (51): Operação Jaguar Vermelho - I: dia 26 de Maio de 1970
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