quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2385: Moedas do tempo colonial (Joaquim Almeida, Custóias, CCAÇ 817, 1965/67)


Guiné > Região do Óio > Porto Gole > CCAÇ 817 > 1965 > Duas moedas, de 1 escudo (peso), encontradas num acampamento do PAIGC. A de baixo foi emitida, em 1946, por ocasião do V Centenário da Descoberta da Guiné.


Foto: © Joaquim Almeida (Custóias) (2007). Direitos reservados,



1. Mensagem do Joaquim Almeida (Custóias)(1):


Caro Luís Graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote:

Envio uma imagem de duas moedas que guardo religiosamente, da Guiné, uma do tempo em que Guiné era chamada de colónia, e outra da mudança, efectuada na revisão constitucional de 11 de Junho de 1951, na Lei nº 2048 no Título VII acrescentado à Constituição de 1933, para Província Ultramarina (2).

Estas moedas foram as únicas coisas recuperadas após uma revista, a qual foi feita depois do assalto a um acampamento na bolanha de Porto Gole, na zona de Mansoa, em 3 de Julho de 1965, tendo sido nesta operação o meu Baptismo de Fogo.

Um abraço

Joaquim Almeida (Custóias)

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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 16 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2271: Tabanca Grande (40): Joaquim Gomes de Almeida, O Custóias, bazuqueiro, CCAÇ 817 (Canquelifá e Dunane, 1965/67)
(2) Vd. posts de:
28 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXIX: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (1) (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P2384: Mansambo: a árvore dos 17 passarinhos, baptizada por mim (Albano Gomes, ex-1º Cabo Cripto, CART 2339, 1968/69)

Guiné > Zona leste > Sector L1 > Mansambo > 1969 > A árvore dos 17 passarinhos que servia de mira para os ataques do IN (1).

Foto: © Carlos Marques dos Santos (2006). Direitos reservados

Guiné > Zona leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > A árvore dos 17 passarinhos ... ou será que eu troquei as fotografias ? É um pormenor a esclarecer com o fotógrafo... (LG).

Fotos: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Albano Gomes, com data de hoje:

Caro Luís Graça:

Foi Cripto da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), acompanho, para além de outros, os escritos do Torcato Mendonça e do Marques do Santos e, como tal, recordo tudo aquilo que se vai contando sobre a operacionalidade da CART 2339, OS VIRITOS, pois como deve calcular, passou-me tudo pelas mãos, codificando e/ou descodificando.

Mas quando se fala de Mansambo e da Árvore dos 17 passarinhos, há qualquer coisa que me toca e faço questão de contar.

Quando um certo dia me dirigi à cozinha, estava eu e o cozinheiro a quem a malta chamava de Ferragudo, por ser natural dessa terra algarvia, olhavámos então para os milhares de passarinhos que com os seus ninhos ocupavam a árvore na sua totalidade.

Foi então que perguntei:
- Ferragudo, quantos passarinhos terá esta árvore? - Respondeu o amigo Ferragudo:
- Não sei, mas deve ter p'ra aí uns 17.

Claro que aquilo provocou uma enorme risada a todos quantos por ali estavam e foi então que eu baptizei a árvore com o nome de Árvore dos 17 passarinhos e assim ficou conhecida por toda a malta.

Um muito obrigado pelo criação do blogue.

Albano Gomes

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Albano. Obrigado pela tua estória. Já houve aqui alguma controvérsia sobre a famosa árvore, que ficamos agora a saber que foste tu que baptizaste, e que eu cheguei a conhecer, já que fui várias vezes a Mansambo, ainda no tempo da vossa comissão (2ª metade de 1969), integrado em colunas logísticas ou no âmbito da actividade opercaional do Sector L1... Como sabes, eu pertencia à CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).

Ficas automaticamente convidado a integrar a nossa Tabanca Grande, da qual já fazem parte vários camaradas teus da CART 2339. Manda-nos as duas fotos da praxe, uma do tempo de Guiné e outra actual. E, claro, conta-nos mais coisas de Mansambo e da tua vida (secreta) de cripto... Vocês sabiam coisas que escapavam ao comum dos mortais... Não queres partilhar connosco alguns dos teus segredos que, claro, já não segredos de Estado ? Um Bom Ano para ti.

__________

Notas de L.G.:

(1) 24 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXVII: Mansambo e a árvore dos 17 passarinhos (Carlos Marques dos Santos)


(...) Quanto à foto de Mansambo, a vista aérea – que é espectacular e que pessoalmente agradeço - gostava de saber de que ano é, se o Humberto tiver esses dados.

A zona está totalmente nua, só com uma grande árvore ao fundo que se encontra à entrada do aquartelamento, pois vê-se a bifurcação para a estrada Bambadinca-Xitole (esquerda-direita).

Falta ali uma árvore, a tal de referência para o IN, e que os nossos soldados chamavam a árvore dos 17 passarinhos, tal era a quantidade deles, que se situava na parte mais afastada da entrada.

A mancha branca de maior dimensão seria o heliporto. Faltam os obuses, um de cada lado, à esquerda e à direita. Ao lado dessa árvore ficava o depósito, que era uma palhota, de géneros e munições, e que ardeu a 20 de Janeiro de 1969 (nesse dia chegaram os 2 Obuses 105 mm). Era véspera do aniversário da CART 2339. Ao fundo vê-se uma mancha, à esquerda do trilho de entrada que era a tabanca dos picadores. À direita, no triângulo de trilhos, ficava a nossa horta.

A fonte ficava à direita da foto onde se vêem 3 trilhos, na mancha mais negra em baixo. Se confrontares com um mapa da zona vê-se aí uma linha de água. (...)


24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1694: Fotos Falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (11): Paisagens: a árvore dos dezassete passarinhos

Comentário de L.G.:

(...)O que ainda hoje me intriga é por que razão a deixaram de pé, quando os valentes soldados da CART 2339 construiram o campo fortificado de Mansambo, como lhe chamava o PAIGC... Sempre me intrigou este detalhe, quando por lá passava em colunas logísticas ou operações... Hoje arrisco uma explicação: para aquelas toupeiras humanas, que foram simultaneamente arquitectos, engenheiros, trolhas, carpinteiros, caboqueiros, etc., a árvores dos 17 passarinhos era um traço de distinção no meio daquela paisagem quase lunar, angustiante, de floresta recém desmatada, um buraco no meio do inferno verde, na fronteira com as zonas libertadas do PAIGC, no Sector L1, Zona Leste, ao longo da margem direita do Rio Corubal... Um pouco à semelhança dos grafittis com que os artistas plásticos underground marcam as paredes e os muros da nossas desoladas cidades de cimento armado...

Guiné 63/74 - P2383: Em busca de... (14): Victor Manuel Ferreira Cardoso, meu tio, ex-1º cabo do BRT, morto em 1971 (Vitor M. Araújo)

1. Mensagem de Vitor M. Araújo

Assunto - Pedido de informações relativamente ao 1º Cabo Victor Manuel Ferreira Cardoso, Brigada de Reconhecimento e Transmissões (BRT), Guiné, morto em 1971

Saudações amigas.

Queria desde já cumprimentar os editores pelo excelente trabalho com o Blogue.

Neste blogue é visível para as novas gerações a ideia de que os camaradas de guerra estão unidos pelo vínculo forjado no campo de batalha, elo perene e por vezes mais forte que o elo familiar. Chega a ser comovente o reencontro de velhas memórias e amizades.

Mas ao contrário de muitos, não defendo a vitimização do ex-combatentes da guerra colonial (1961-1974). Pessoalmente tenho o maior apreço pelos ex-combatentes, que apesar de todo sacrifício pessoal demonstrado continuam a servir valorosamente á pátria, cada um a sua maneira.

O meu nome é Vitor Araújo, moro em Santa Maria da Feira e nasci em 1974, portanto não sou ex-combatente.

A nação não deve esquecer! A nação não pode esquecer ! A guerra já dizia Clausewitz é a continuação da política por outros meios. Os ex-combatentes lutaram e foram gigantes perante o quadro das adversidades, escassos recursos, forneceram o espaço de manobra político aos políticos, que em última instância falhararam miseravelmente.

Escrevi no Blogue porque tenho curiosidade em saber as circunstâncias que envolveram a morte de um tio que nunca cheguei a conhecer e aspectos da sua unidade. Tentei sem resultado pesquisar na Net e mesmo no motor de busca interno do blogue.

O nome do meu tio era Victor Manuel Ferreira Cardoso, natural de Espargo, freguesia de Santa Maria da Feira. O seu posto era de 1º Cabo do Exército da BRT - Brigada de Reconhecimento e Transmissões. Faleceu em 10/06/1971 em combate (aparentemente vítima de um morteiro)

Cumprimentos, desejo de boas festas.

2. Resposta do editor de L.G.:

Vitor:

Muito obrigado por nos ter escrito, obrigado pelo seu apreço em relação a todos nós, ex-combatentes da Guiné. Vou encaminhar o seu pedido para os meus camaradas, alguns dos quais poderão ter pistas que levem ao conhecimento, mais pormenorizado, das cirscunstâncias em que viveu e morreu, na Guiné, o seu tio e nosso camarada, Victor Cardoso... Publicarei o seu texto no nosso blogue, tornando ainda maior a probabilidade de encontrar antigos camaradas da unidade ou sub-unidade a que pertencia o Cardoso. Tenha um Natal, em paz e alegria. Luís Graça

Amigos e camaradas: Preciso da vossa ajuda, mais uma vez... Não tenho qualquer ideia do que fosse a BRT, na Guiné...Brigada ou Batalhão ? Creio tratar-se do Batalhão de Reconhecimento das Transmissões. Povavlemente o nosso camarada Cardoso era 1º Cabo Cripto.

Segundo averiguei no portal do Exército, a história do BRT é a seguinte:

(i) Em 1952 foi criada a Chefia de Cifra do Exército (CHECIE);

(ii) Em 1959 surge o SRT - Serviço de Reconhecimento das Transmissões;

(iii) Em 1965, é criado o BRT - Batalhão de Reconhecimento das Transmissões;

(iv) Em 1982 o BRT passou a designar-se Batalhão de Informações e Reconhecimento das Transmissões (BIRT);

(v) Finalmente,em 1993 é criado o Batalhão de Informações e Segurança Militar (BISM), herdeiro das tradições e missões do SRT, BRT e BIRT.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2382: Natal de 2007: Boas Festas do Albano Costa (Guifões, Matosinhos)

Porto, Praça da Liberdade, Árvore de Natal de 2007...



Guiné-Bissau, Novembro de 2000, uma imagem de uma tabanca, algures no interior... Duas imagens que contrastam, cada uma delas com a sua beleza e o seu significado especial (LG).

Fotos: © Albano Costa (2007). Direitos reservados

1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada Albano Costa (1):

Caros amigos tertulianos, desejo que tenham umas festas muito felizes junto das vossas famílias e amigos.

Envio um postal que ilustra a árvore de Natal da cidade do Porto e outra imagem do interior da Guiné... Duas imagens, cada uma com a sua beleza.

Um abraço para todos, Albano Costa (1).

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Nota de L.G.:

(1) Albano Costa (ex-1º cabo da CCAÇ 4150, Guidaje, 1973/74): vive e trabalha hoje em Guifões, Matosinhos. Se lá forem, procuram a FotoGuifões... O Albano é a gentileza em pessoa e muito popular na sua terra.

Regressou à Guiné em Novembro de 2000, com o filho Hugo Costa (este, por sua vez, voltou lá em 2006). Fala da Guiné com grande paixão e carinho.


Ele já era fotógrafo profissional antes da tropa. Tem um fabuloso álbum fotográfico sobre a Guiné. Em Novembro de 2000, quebradas as últimas resistências psicológicas, voltou à Guiné, agora como simples turista, revisitando sítios por onde estivera vinte e seis anos antes e conhecendo muitos outros de que só ouvira falar... Nessa memorável viagem de 15 dias, com um grupo de camaradas - viagem de que ele não se cansa de falar - , ele não só fez um excelente vídeo (realização, montagem e insorização do Hugo Costa, seu filho, de seis horas!) como tirou muitas e excelentes fotografias que temos vindo a divulgar no nosso blogue.

Guiné 63/74 - P2381: Diana Andringa, com o teu apoio, podemos ajudar o António Batista, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto)


Maia > 21 de Julho de 2007 > O nosso primeiro encontro com o António da Silva Batista (ao centro). À esquerda, o Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492, Xitole, 1971/74) ; à direita, o Paulo Santiago (ex-Alf Mil, cmdt do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72).

Foto: © João Santiago (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Álvaro Basto (1):

Cara Diana

O meu nome é Álvaro Basto e sou um tertuliano e camarada do blogue do Luís Graça que, como muitos outros, também fez a guerra do ultramar na Guiné entre 72 e 74 (1).

Estive na Culturgest no lançamento do teu filme (e do Flora), As Duas Faces da Guerra e devo dizer-te que aquelas imagens me emocionaram muito, de tal modo que nem tive coragem para te dar os parabéns pessoalmente (sou de lágrima fácil) (2).

Penso que todos os tertulianos que estiveram presentes, e como viste ainda foram bastantes, comungaram do mesmo sentimento, um sentimento de gratidão para contigo por teres feito o que no fundo todos gostariam de ter feito já, ou seja, pôr o outro lado a falar.

Só por curiosidade, desta vez não me foi possível deslocar do Porto a Lisboa para o lançamento do DVD do filme mas encomendei-o por email no dia 18 à Midas Filmes que num acto de extraordinária eficiência (a que já não estamos habituados), me enviou o filme por correio de tal forma célere que o recebi na manhã do dia 19 ainda antes pois do seu lançamento oficial (3).

Fazendo parte de uma minitertúlia aqui de Matosinhos que todas as quartas se junta para um almoço familiar, depois de almoço viemos todos (e ainda éramos uns 7) para minha casa (re)ver o filme.

Penso que a estas horas as respectivas encomenda de novas cópias se já não chegaram irão chegar em breve à Midas Filmes.

No entanto tomei a liberdade de te escrever para te sondar sobre o teu possível interesse jornalístico de investigação sobre um caso que nos chocou a todos e que já foi abordado embora de forma ligeira no Blogue do Luís Graça. O caso do Morto Vivo (4).

O António Batista, hoje meu amigo, vive amargurado por ter sido um prisioneiro de guerra durante mais de dois anos, ter regressado e verificado que tinha sido dado como morto, tendo visitado o seu própro tumulo (!) e passados estes anos só agora se está a tentar que receba uma pensão a que justamente tem direito.

Ficaram demasiadas perguntas no ar tais como, o que é ou quem é que veio no caixão para cá, se houve troca então e a família do outro nunca se pronunciou, sabendo eu que o médico militar nunca assinou a certidão de óbito dos irreconhecíveis porque é que os serviços do exercito mandaram um caixão com o nome dele para cá (posso provar isso). e muito mais.

Nem imaginas as histórias que o Batista tem, tanto do seu tempo de presídio como do pós-regresso. Sugeria que para uma abordagem inicial lesses o que já foi publicado no blogue sobre este assunto (4) e depois me dissesses alguma coisa, pois eu, além de algum material que recolhi sobre o assunto, tenho uma quase obrigação moral para com aquele homem já que assisti ao reconhecimento dos inúmeros cadáveres dos militares que pereceram na emboscada em que ele foi feito prisioneiro.

Sei que a RTP na altura elaborou alguns trabalhos sobre o assunto e que pelo menos no Telejornal de 16 ou 17 de Setembro de 1974 se fez uma grande menção ao facto. Se tiveres acesso a essas imagens ainda melhor.

Fico a aguardar os teus comentários.

Entretanto desejo-te um Bom Natal e um Ano Novo repleto de sucessos coisas boas para ti e para os teus.

Álvaro Basto
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Notas dos editores:









(4) Vd.posts sobre o António Batista:

Guiné 63/74 - P2371: O Sold António Baptista não constava das listas de PG (Prisioneiros de Guerra) (Virgínio Briote)













segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2380: Ponham hoje o vosso melhor sorriso para que o mundo se torne um pouco mais bonito (Carlos Vinhal, Luís Graça & Virgínio Briote)

"Amigos e camaradas da Guiné, que em dois anos e meio fizeram esta coisa bonita que é o nosso blogue, ponham hoje um sorriso bonito para que o mundo também se torne um pouco mais bonito".

Ilustração: © Joana Graça (2006)

Amigos & camaradas:

1. Mensagem (natalícia) dos editores do blogue:

Há dias (16 de Dezembro) lançámos para a blogosfera a seguinte mensagem:

Aproxima-se uma data que no TO da Guiné nos era muito cara...Vamos lá a puxar da caneta, ou melhor, das teclas do computador e toca a recordar o melhor ou o pior Natal das nossas vidas... Onde é que eu estava na noite de 24 para 25 de Dezembro de 196.., 197.., algures na Guiné ?... Deve haver para aí muitas estórias (natalícias) por contar... Um Alfa Bravo. Os editores do blogue, Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote .

A resposta não se fez esperar, a criatividade veio ao de cima, rompendo mais uma vez o dique das memórias e das emoções, contidas durante décadas. Em poucos dias publicámos uma dúzia de estórias, umas mais tristes, outras mais alegres, todas elas comoventes e mostrando a face positiva, solidária e até divertida do tuga que, meio Dom Quixote e meio Sancho Pança, andou pelas matas e bolanhas da Guiné, entre 1963 e 1974 ...

Na véspera do Natal de 2007, os editores do blogue gostariam, entretanto, de formular os seguintes desejos (que transformariam em realidade se eles tivessem uma varinha mágica):

(i) que seja Natal todos os dias, em Lisboa, em Bissau e no resto do mundo;

(ii) que a mensagem natalícia de paz, de justiça, de tolerância e de solidariedade chegue a todo o lado, de Pitões das Júnias a Missirá, do Porto a Bafatá, de Angra do Heroísmo à Florianópolis, da Suécia aos EUA, da Europa a África, de Cabo Verde a Timor, passando por Macau, Angola, Moçambique, São Tomé e Princípe, onde quer que se fale português ou outra língua humana, onde haja irmãos, amigos e camaradas nossos, de todos os credos e grupos étnicos, que raças há só uma;

(iii) que a doença, a solidão, a tristeza e a pobreza não se sentem à mesa da gente, esta noite nem no resto das noites do ano, em Portugal, na Guiné-Bissau e no resto do mundo;

(iv) que esta mensagem possa chegar a todo o lado e possa ser entendida por todo o mundo...

(v) e, por fim, que todos os amigos e camaradas da Guiné, que fazem parte da nossa Tabanca Grande, e todos aqueles que nos espreitam, nos visitam, nos lêem, esteja bem na sua pele, no seu corpo e na sua alma, em paz consigo e com os outros, e sobretudo que continuem a pensar que a vida é bela, e que vale a pena vivê-la, num mundo superlotado e desigual, mas onde todos temos direito a um lugar, minimamente confortável e saudável...

Amigos e camaradas da Guiné, que em dois anos e meio fizeram esta coisa bonita que é o nosso blogue, ponham hoje um sorriso bonito para que o mundo também se torne um pouco mais bonito.

Os editores, Luís Graça, Carlos e Virgínio Briote.

2. Mensagens do pessoal da Tabanca Grande, chegados até à véspera de Natal, à nossa caixa de correio (por ordem alfabética)... A caixa fica aberta por estes dias, sendo actualizada sempre que possível:


Abreu dos Santos:


Um Santo Natal para todos.

Albino Silva:

Caro Camarada Luis Graça, Grande Chefe de Tabanca.

Quero aqui desejar-te um Santo Natal e Próspero Ano Novo,e bem assim como para tua Familia.

Aproveito de enviar Boas Festas para toda a Tabanca Grande,e em especial para aqueles que nos vão aturando no dia a dia ao lançarem as nossas historias naquele nosso Blogue onde todos os dias o visitamos,e todos os dias ficamos a conhecer coisas novas de tantos Camaradas que como nós estiveram no Ultramar,em especial na Guiné,e que para mim continua a ser a minha leitura diária preferida e de bastante interesse para mim,pois além de enviar os meus relatórios,também tenho encontrado outros Camaradas que eram do meu Batalhão,o BCAÇ 2845, e contribuido com outros Camaradas em enviar documentação de suas Companhias,e ainda atender outros com o envio de declarações de uns que foram feridos em combate e de baixas,para efeito de acompanhamento Psicológico e outros.

É evidente que só posso fazer isto porque gentilmente o Comandante do meu Batalhão,o Sr.Coronel Aristides Américo de Araújo Pinheiro,a residir em Lisboa,me havia oferecido a documentação da Unidade com toda a sua História Original, na altura em que escrevi o Livro HISTÓRIA DA UNIDADE DO BAT CAÇ 2845 para dele tirar dados.

Parabéns pelo vosso Trabalho, Esforço e Dedicação, e com a mesma força de vontade continuem a trabalhar assim,pois nós gostamos muito de ler e ver todo um trabalho que admiro,e que nos faz recordar os bons e maus momentos passados na Guiné.

BOAS FESTAS e um Grande Abraço.

Álvaro Basto

Carlos:

(...) O almoço de quarta passada foi o almoço normal. O nosso "almoço das quartas feiras". O de Natal, com toda gente e que por sinal vai ser jantar, irá ser na quinta ou sexta da próxima semana no Vilas, em Leça do Balio. Estamos só à espera que o Luis fale com a familia para marcarmos para quinta ou sexta.

Será um encontro um bocado mais alargado até porque iremos ter a companhia das nossas "donzelas" e, claro, não deixaríamos de te avisar.

(...) Portanto, o nosso jantar de Natal para o qual, cada um irá levar uma pequena lembrança para ser sorteada entre todas, será no Vilas e será ou na quinta ou na sexta da próxima semana, dependendo do que o Luis e a familia decidirem. (...).


Carlos Marques dos Santos:

Luís: Com um abraço desejo-te e à tua família um BOM NATAL e ANO NOVO.


Carlos Vinhal:

Caros Tertulianos e Amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné: Desejo-vos um Bom Natal junto dos vosso familiares e amigos. Que o Novo Ano traga a concretização daquilo que o 2007 deixou por realizar. O vosso amigo e camarada C.V.


Diana Andringa:

Feliz Natal e o melhor 2008 possivel para todos.

Gilda Braz:

A todos os meus Familaires, Amigos e colegas, um Santo e Feliz Natal.


Fernando L.J. Coelho:

Um Feliz Natal e um espectacular Ano Novo... Divirtam-se.

Fernando Franco:

Para todos os tertulianos e familiares cá do rapaz da Intendência: Feliz Natal e Bom Ano Novo, são os meus votos.

Germano Santos:

Caros Luis, Carlos e Virgínio,

Antes que se faça tarde ou que vocês se ausentem para passar o Natal com a família, deixem-me aproveitar a oportunidade para vos desejar a todos e também à vossa família umas Boas Festas, com um Natal cheio de saúde e um Ano Novo, se possível, melhor que este 2007.

Quero aqui deixar também uma palavra de agradecimento pelo excelente trabalho que têm vindo a desenvolver com o nosso blogue.Bem hajam por todo o empenho demonstrado e por nos pôrem em contacto uns com os outros.

Helder Sousa:

Caro amigo e camarada

Ainda não é "o postal de Natal" que te enviarei para te desejar umas "Boas Festas" para ti, tua família e tornar extensivo a todo o pessoal desta imensa comunidade em que se transformou o Blogue, a Tertúlia, a Tabanca Grande.

Através do nosso blogue acabei por concluir que o João Tunes foi meu contemporâneo (embora mais velho) nas "lides associativas" do velho Instituto Industrial de Lisboa. Já trocámos alguns mails, concluímos que ficamos a dever mais esta situação de reencontro ao amigo Luís Graça e que certamente um dia destes nos encontraremos em alguma iniciativa do Blogue!

Agora uma pequena observação. A propósito já não sei de quê (isto da idade....) estava na net à procura de qualquer coisa relacionada com Bula e apareceu-me este endereço http://namitipenabula.blogspot.com/ que me parece ser de uma missão ou qualquer coisa do género e tem a particularidade de ter muitas coisa em italiano.

Sem dúvida que a Guiné ainda tem um largo capital de simpatia, é uma pena que desperdicem tanto pois se conseguissem (sem paternalismos) canalizar todas as boas vontades que existem teriam certamente a possibilidade de um melhor e maior desenvolvimento (...).

Henrique Matos:

(...) Depois disto resta apenas desejar a toda a tertúlia o melhor Natal domundo e que no próximo ano sejam muito felizes. Como sempre com um grande abraço.

Hugo Moura Ferreira:



Natal é quando as pessoas querem,Pena é que o queiram cada vez menos! PAZ e Concórdia acima de tudo trazem-nos a Felicidade. Um Bom Natal para todos e respectivas Famílias

João Carvalho:

Feliz Natal e um Óptimo 2008

Jorge Cabral:

Querido Amigo,

Para ti e todos os Tertulianos, o Bom, o Melhor, o Óptimo!
Estar vivo é já celebrar o Natal!
Abraço Grande
Jorge

José Armando:

Camarada Carlos Vinhal: Por teu intermédio, caro e dedicado editor, e para todos os camaradas tertulianos e respectivas famílias os meus desejos de um Óptimo Natal e o melhor para 2008 !

José (ou Joseph) Belo:

Partir mantenhas: Desta Tabanca congelada de Kiruna (27 graus negativos hoje!), no Norte daSuécia, já bem dentro do Círculo Polar Ártico,um grande abraco para todo o pessoal do mato ,com os votos de FELIZ NATAL e um BOM ANO de 2008 .

José Marftins (através do Carlos Vinhal):

Caros Tertulianos:´Pede-me o nosso camarada José Martins que vos deseje, em seu nome, um Bom Natal e um novo Ano cheio de venturas.

O equipamento dele entrou em dificuldades técnicas, daí a sua impossibilidade de vos contactar. Um abraço, Carlos Vinhal.

José Rodrigues Firmino:

Desejo-vos os melhores momentos nesta época festiva. Que o Natal seja um momento de paz,concórdia e amor e o Ano de 2008 permita concretizar todos vossos desejos.

José Teixeira:

É um prazer dos grandes [estar contigo no jantar de 5ª feira, 27, em Leça do Balio]. Manga di ronco. Para ti e quantos ter são queridos um SANTO NATAL J.Teixeira, Esquilo Sorridente.

Luís Nabais:

Atenção, este ano não há presépio! A vaca está louca, não se consegue segurar nas patas. Os Reis Magos não podem vir, porque os camelos estão no governo.
O Burro não está, porque anda a treinar a seleção. A nossa Senhora e o S. José foram meter os papéis para o rendimento mínimo. A ASAE fechou o estábulo, por falta de condições. O Tribunal de menores, ordenou entregar o menino Jesus ao pai biológico… E antes que me tirem as mensagens de borla, aproveito para Desejar Bom Natal a Todos.

Marrafa:

Ainda que se percam outras coisas ao longo dos anos, mantenhamos o Natal como algum brilhante...Regressemos a nossa fé infantil.Um santo e Feliz Natal.

Paulo Salgado, Conceição e Paula Salgado:

Um simples postal para todos os tertulianos, nele envolvendo o nosso sentido de fraternidade e de solidariedade.

Paulo Santiago:

Abraços com desejos de Bom Natal.

Raul Albino:

Caros editores,

Venho por este meio desejar a toda a tertúlia um Santo Natal e um Novo Ano cheio de saúde e bons empreendimentos bloguistas.

O Luís tem razão ao considerar que alguns dos nossos habituais participantes no blogue têm estado estranhamente silenciosos. No meu caso fiz uma interrupção pontual, para terminar o 2º volume das Memórias de Campanha da CCAÇ 2402, antes do próximo convívio anual (da companhia).

Em Outubro tomei a liberdade de escrever ao Vitor Junqueira, a perguntar-lhe a razão do seu silêncio. Surpreendentemente não obtive qualquer resposta. Esta iniciativa
deveu-se ao facto de, após uma esforçada e bem sucedida organização do convívio em Pombal, o silêncio tinha de ter uma forte razão para acontecer, não pondo de parte a saúde.

Creio que por altura da edição do livro do Beja Santos, nos voltaremos a encontrar, ou, o mais tardar, aquando do próximo convívio em 2008. Então trocaremos impressões sobre a evolução que o blogue tem tido, dando inclusivamente algumas sugestões. A continuação do bom trabalho que vêm executando e umas Boas Festas para todos, são os votos de Raul Albino.

Victor Alves:
Este Natal coma perú !
Ass: Os Bacalhaus

Feliz Natal
Victor Alves (Fur Mil CCAÇ 12, 1971/72)


3. Notícia de mais mails natalícios, com ou sem postais em anexo (que infelizmente não pdoemos reproduzir aqui, por falat de tempo dos editores), fora as mensagens de telemóvel, que nos têm chegado (desde o início de Dezembro). A todos, o nosso obrigado, muito sensibilizado e emocionado. Pedimos perdão a quem, por lapso, não for citado (por exemplo, os amigos e camaradas que usaram os nossos endereços de e-mail pessoais) :

A. Marques Lopes, Artur Conceição, Beja Santos, Carlos Matos de Oliveira, Fernando Chapouto, Francisco Palma, Henrique Cerqueira, Joaquim Almeida (Custóias), Joaquim Mexia Alves, Jorge Matos Sequeira, Jorge Santos, Jorge Teixeira, Manuel Lema Santos, Mário Fitas, Nuno Rubim, Santos Oliveira, Sousa de Castro, Torcato Mendonça, Vitor Condeço, Zélia Neno...

Madalena, Vila Nova de Gaia, 24 de Dezembro de 2007, 23h00. L.G.

Guiné 63/74 - P2379: O meu Natal no mato (12): Mansoa, 1971: Uma de caixão à cova... para esquecer o horror (Germano Santos)

1. Mensagem do Germano Santos:

Caros Editores,

Antes de mais, votos de que tudo esteja a correr bem convosco e com os vossos familiares.

Está a escrever para o blogue alguém que até hoje só por uma vez bebeu uísque. E fê-lo exactamente na noite de 24 para 25 de Dezembro de 1971, na longínqua Mansoa, tendo apanhado uma bebedeira de caixão à cova.

Nunca mais mais, até hoje, voltei a ficar embriagado e, como já disse, nunca mais voltei a beber uísque. Nem sequer o seu cheiro suporto, quanto mais o seu sabor. E a razão dessa ingestão e bebedeira de uísque ficou a dever-se a uma situação muito grave e lamentável a que assisti parcialmente.

Já não me recordo que horas eram, mas estaríamos muito próximo da meia-noite de 24 para 25 de Dezembro de 1971, quando um ou dois helicópteros aterraram de urgência na pista de Mansoa para evacuar uns seis militares gravemente feridos em Mansabá. Como sabem, Mansabá dista cerca de 30 Kilómetros de Mansoa e os feridos foram transportados por via terrestre de Mansabá para Mansoa a fim de serem evacuados para o Hospital de Bissau.

O que é que tinha acontecido ? Segundo me disseram, exactamente por ser véspera de Natal, um grupo de camaradas nossos, talvez fartos da guerra que viviam e que não queriam, e ainda pelas saudades dos seus familiares, que nestas épocas são sempre mais fortes, quer estejamos na guerra quer estejamos noutro lado qualquer, pôs-se a brincar com granadas, atirando-as ao ar, até que uma delas levou a sua missão até ao fim e explodíu.

Estive a assistir à transferência deles para os helicópteros e vi cenas que preferia nunca ter visto na minha vida. O estado de todos eles era gravíssimo e ainda hoje me interrogo se algum escapou.

Também não sei qual era a Companhia que na altura estava em Mansabá, sei sim que não era nenhuma companhia do meu batalhão.

Do que vi e que não queria ver nunca, resultou a minha única incursão pelo uísque e também a minha única bebedeira da vida. Foi uma noite muito difícil de passar, podem crer.

Um abraço e votos de Boas Festas e um Feliz Natal para todos os tertulianos camaradas da Guiné.

Germano Santos
Op Cripto da CCAÇ 3305 do BCAÇ 3832

Guiné 63/74 - P2378: O meu Natal no mato (11): Saltinho, 1972: O melhor bolo rei que comi até hoje, o da avó Clementina (Paulo Santiago)

1. Mensagem do Paulo Santiago, com data de 19 de Dezembro:

Tinha chegado à Guiné em Outubro. Com a aproximação do Natal,na época não era o hino ao consumismo que hoje se verifica,sentia-me triste e acrabunhado. As saudades dos meus pais e irmã apertavam-me o coração.

No Saltinho na noite de Consoada, apesar do bacalhau com batatas bem regado, notava-se que todos tinham o pensamento a muitos quilómetros de distância.

No dia 25 de manhã chegou um heli com o Gen Spínola que desejou as Boas Festas ao pessoal da CCAÇ 2701 e do Pel Caç Nat 53. O astral continuou em baixo.

Na semana a seguir ao Natal, recebi uma carta do meu Pai,onde me informava das saudades que tinham sentido naquela quadra e, para as minorar, o meu lugar à mesa, na noite de 24, tinha sido ocupado por um meu conterrâneo, doente e sem família. Senti isto como uma bela prenda de Natal, oferecida pelo meu saudoso Pai.

Como já referi em memórias anteriores, em 1971, apanhei boleia em 24 de Dezembro, no heli do Spínola de Bambadinca, onde estava desde Outubro, para o Saltinho onde passei mais um Natal com os meus camaradas do 53 e da 2701. Em 6 de Janeiro de 1972, dia em que fiz 24 anos, regressei a Bambadinca, via Bissau.

A minha avó Clementina, avó materna, resolveu enviar-me, por encomenda postal, um bolo-rei, dirigido para o SPM de Bambadinca. Como chegou após o dia 24, reenviaram-no para o SPM 3948 (era do Pel Caç Nat 53). Chegou ao Saltinho, já tinha vindo eu para Bissau. Reenviaram a encomenda para Bambadinca, acabando por receber o bolo-rei em meados de Janeiro.

Estava duríssimo, mas...foi o melhor bolo-rei que comi até hoje.

Abraço com desejos de BOM NATAL

Paulo Santiago

domingo, 23 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2377: Em busca de ... (13): Malta da CCAÇ 11, Paunca, 1970/72 (Jaime Antunes)

Guiné > Zona Leste > Paunca > CCAÇ 11 > Pós 25 de Abril de 1974 > Confraternização entre o Fur Mil Op Esp J Casimiro Carvalho e um guerrilheiro do PAIGC, apontador de RPG (1).

Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem de Jaime Antunes, a quem saudamos e convidamos a integrar a nossa Tabanca Grande:

Caros amigos,

Nestas coisas da vida há recordações que sempre perduram. Como muitos dos Portugueses, na minha juventude, também estive em África. Por uma escolha do Senhor Ganeral Spínola, 25 Milicianos, no dia 20 de Novembro de 1970, embarcaram no navio Ana Mafalda com destino ao CTIG. Todos classificados nos primeiros lugares dos cursos. Esta situação levantou-nos muitas dúvidas que foram esclarecidas à nossa chegada ao QG. Tínhamos sido selecionados para integrar uma Companhia de Africanos... a CCART 11. Posteriormente e porque uma Companhia de Artilharia... não era ... uma Companhia de Infantaria... o Senhor General ... passou a CCAÇ 11 para que já não houvesse reclamações quanto às constantes saídas de Paunca (1) para ir reforçar outras zonas.

Fui colocado no 4º Pelotão e ... cheguei em Novembro de 1970 e fui rendido em Setembro de 1972.

Mantenho contacto com alguns dos elementos que estiveram nessa altura na CCAÇ 11 mas faltam outros que lhe perdemos o rasto. Manifesto aminha disponibilidade para conseguir reunir mais alguns camaradas.

Jaime Antunes

___________

Nota de L.G.:

(1) Sobre Paunca e a CCAÇ 11, vd. posts de:

25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)

30 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1636: Álbum das Glórias (10): Paunca, CCAÇ 11: Com o PAIGC, depois do 25 de Abril de 1974 (J. Casimiro Carvalho)

Recorde-se que a CCAÇ 11 (recruta, instrução de especialidade e IAO) foi formada em Contuboel.

Sobre esta unidade formada a partir da CART 11/CART 2479, há já também diversos posts (uma parte dos quais da autoria do meu amigo Renato Monteiro):

23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P899: Diga se me ouve, escuto! (Renato Monteiro)

23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P898: Saudades do meu amigo Renato Monteiro (CART 2479/CART 11, Contuboel, Maio/Junho de 1969)

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1001: Estórias de Contuboel (i): recepção dos instruendos (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

30 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1005: Estórias de Contuboel (ii): segundo pelotão (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1015: CART 2479, CART 11 e CCAÇ 11 (Zona Leste, Gabu, subsector de Paunca)

Guiné 63/74 - P2376: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (6): Insularidade e solidariedade no Natal dos açorianos

Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > Marco comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné (1446-1946) > Porto Gole, na margem direita do Rio, na estrada Bissau - Nhacra - Mansoa - Porto Gole - Bafatá (interdita no meu tempo, 1969/71.

Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole 2005 > Monumento erigido pela CART 1661 (Porto Gole, Enxalé, Bissá, 1967/68). Dizeres, gravados na base do monumento, em pedra: "Para ti, soldado, o testemunho do teu esforço".

Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 2005 > Restos do brazão da CART 1661 (Porto Gole, Enxalé, Bissá, 1967/68). Dizeres, inscritos na chapa em bronze: "Coragem, Esperança".

Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 2005> O Rio Geba, visto de Porto Gole. Do outro lado, a margem esquerda. Mais à frente, para leste, antes do Xime, o Rio Corubal vai desaguar no Rio Geba.

Fotos: © Jorge Neto (2005), ou melhor, Jorge Rosmaninho, o autor de Autor do blogue Africanidades ("Vivências, imagens, e relatos sobre o grande continente - África vista pelos olhos de um branco", um andarilho de África, incluindo a nossa Guiné-Bissau) que entretanto se mudou para um outro poiso: vd. a nova versão do Africanidades. Com a devida vénia, ao Jorge, desejando-lhe o possível meljor ano de 2008, para ele, para a nossa África e para os nossos amigos africanos. Estas fotos já tinham sido divulgadas em post publicado no nosso blogue (versão anterior) (1). Justifica-se a sua (re)publicação, em novo formato, por haver poucas referências e pouca documentação no nosso blogue em relação a Porto Gole onde o Henrique Matos passou, emboscado, o seu Natal de 1967. (LG)


1. Mensagem do do Henrique Matos, 1º comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68), açoriano que vive hoje em Olhão (2):

Caro Luís e co-editores:

Hesitei antes de escrever este post pois não tenho qualquer episódio interessante relacionado com o Natal no mato. Pretendo apenas dar uma imagem das dificuldades acrescidas que os açorianos sentiam quando eram arrancados das suas ilhas para servir a Pátria.

Se achares interessante avança, se não também não há problema.Aqui vai com um título sugestivo:

2. Comentário de L.G.:


Obrigado, Henrique... Vou-te publicar estes apontamentos biográficos na tua série Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52... Faço votos para que a tua insularidade seja apenas física, e que continues a contar, no Natal e pela vida fora, com a solidariedade dos teus velhos camaradas de tropa e de guerra. Daqui do Porto, onde vim passar o Natal, vai um Alfa Bravo para ti e todos os nossos camaradas açorianos (que infelizmente ainda são poucos na nossa Tabanca Grande: para além de ti, assim de repente só me lembro do Mário Armas de Sousa, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 54, 1968/70, que no entanto não tem dado notícias) (3). (LG).


3. O meu Natal no mato ou as peripécias dos natais de um ilhéu na tropa

por Henrique Matos


1.º Natal - Acabada a recruta em Dezembro de 66, já próximo do Natal, tínhamos umas férias de não sei quantos dias até começar aespecialidade. Ir aos Açores estava fora de questão, as viagens só se faziam de barco e demoravam 3 a 4 dias para cada lado, quando o mar deixava.

Estava assim preparado para passar o Natal no quartel tal como os outros açorianos que não tinham família no continente. Mas a sorte estava do meu lado. Tinha feito amizade com um camarada que me convidou a ir com ele. Lá fomos de comboio até Rio Torto, perto de Gouveia, onde encontrei uma família espectacular que me fez esquecer um pouco o primeiro Natal longe dos meus. Até deu para fazer uma grande festa, pois como tocava umas coisas em viola e bandolim, animei o grupo lá do sítio com umas Janeiras.


2º Natal - Este, [o de 1967, ] passado na Guiné, em Porto Gole, e de que guardo apenas a breve recordação de estar toda a noite de prevenção à espera de um grupo IN que uma mensagem codificada dizia ter atacado uma coluna Bissau-Mansoa seguindo depois na nossa direcção.

3.º Natal - Internado no HMDIC (Hospital Militar de Doenças Infecto-Contagiosas) na Boa-Hora, [em Lisboa,] mais uma vez estava na contingência de passar o Natal sozinho. Mas... lá está a sorte. Um camarada ali internado, também vindo da Guiné, convida-me e lá fomos fazer a consoada em casa de seus pais, ali mesmo em Lisboa. Neste caso deu apenas para ter uma ceia excelente porque tinhamos de regressar ao hospital antes da meia noite.

Depois disto resta apenas desejar a toda a tertúlia o melhor Natal do mundo e que no próximo ano sejam muito felizes. Como sempre com um grande abraço.

Henrique Matos

________________

Notas de L.G.

(1) Vd. post de 30 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXV: CCART 1661 (Porto Gole, Enxalé, Bissá, 1967/68) (Luís Graça)

(2) Vd. último post desta série:

18 de Outubro de 2007 >Guiné 63/74 - P2191: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (5): O baptismo de um periquito no Enxalé
Vd. também post de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)


(3) 26 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXIII: O açoreano Mário Armas de Sousa (Pel Caç Nat 54: Missirá, 1969/70) (Luís Graça)

(...) Caro colega: Sou ex-furriel miliciano e estive na Guiné de 1968 a 1970, em Porto Gole, Enxalé, Xime e Missirá. Também estou na fotografia da vossa página, tirada no quartel do Xime, junto dos bidões.Tenho alguma informação e fotografias do meu grupo de combate para acrescentar à vossa página se possível (...)

(...) Meu caro Mário:

Fico muito contente (e o resto dos camaradas também) por este feliz reencontro, ao fim de tantos anos. Andámos juntos, no mesmo sector, e na mesma altura (mais tarde conhecido como o Sector L1, Zona Leste, com sede em Bambadinca e que incluía entre outros aquartelamentos e destacamentos, além da sede, o Xime, o Enxalé, Mansambo, o Xitole, Missirá...

No meu tempo, Portogole creio que já pertencia a Mansoa (e não a Bambadinca). Esta povoação ficava na estrada Bafáta-Mansoa-Bissau (interdita no nosso tempo) (...)

Guiné 63/74 - P2375: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (8): A Batalha do Como (Mário Dias / Santos Oliveira)

Photobucket

Guiné > Ilha do Como > 1964 > Op Tridente (de 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964) > "A designada Ilha do Como é, na realidade, constituída por 3 ilhas: Caiar, Como e Catunco mas que formam na prática um todo, já que a separação entre elas é feita por canais relativamente estreitos e apenas na maré-cheia essa separação é notória.

"Na ilha não existia qualquer autoridade administrativa nem força militar pelo que o PAIGC a ocupou (não conquistou) sem qualquer dificuldade em 1963. As tabancas existentes são relativamente pequenas e muito dispersas. Possui numerosos arrozais, o que convinha aos guerrilheiros pois aí tinham uma bela fonte de abastecimento, acrescido do factor estratégico da proximidade com a fronteira marítima Sul e o estabelecimento de uma base num local que facilitava a penetração na península de Tombali e daí poderia ir progredindo para Norte.

"Não tinha estradas. Apenas existia uma picada que ligava as instalações do comerciante de arroz, Manuel Pinho Brandão (na prática, o dono da ilha) a Cachil. A partir desta localidade o acesso ao continente (Catió) era feito de canoa ou por outra qualquer embarcação. A casa deste comerciante era, se não estou em erro, a única construída de cimento e coberta a telha.

"Portugal não exercia, de facto, qualquer espécie de soberania sobre a ilha. Tornava-se imperioso a recuperação do Como. Foi então planeada pelo Com-Chefe a Operação Tridente na qual foram envolvidos numerosos efectivos, divididos em 4 Agrupamentos (...), num total de cerca de 1200/1300 homens"

Fonte: Mário Dias > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias) (15 de Dezembro de 2005)

Foto e legenda: © Mário Dias (2005). Direitos reservados. Imagem alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2007 Photobucket Inc. All rights reserved.

Guiné > Região de Tombali > Como> 1964 > Pel Mort 912 > Carta de tiro para a posição ocupada no do Cachil

1. Mensagem enviada dia 19 de Dezembro, pelo editor, ao pessoal da Tabanca Grande:

Amigos e camaradas:

A quem viu ontem o último episódio desta primeira série sobre A Guerra - a II Parte será só para o ano, foi o que deduzi - , gostaria que comentassem a batalha do Como, que teve o merecido destaque (2ª parte do programa). Acho que foi um bom trabalho de investigação documental... Mário Dias: Não queres quebrar o teu silêncio ? Santos Oliveira, que achaste ? Luís Graça


2. A resposta do Mário Dias e do Santos Oliveira não se fez esperar. Aqui vai já a do Mário Dias, de 20 de Dezembro:


Caro Luís e camaradas desta Tabanca Grande que já é mais Hipertabanca.

Luís:

Só mesmo tu, com esses teus apelos tão subtis, consegues fazer-me sair da
hibernação na qual tão bem me sinto. A este meu despertar - momentâneo - não é estranha a deixa que o Santos Oliveira (a quem particularmente saúdo) me lança na resposta à tua mensagem.

Ele, embora não participante na Op Tridente [Jan/Mar 1964], esteve no Cachil e portanto conhece bem o terreno e como era aquela mata do centro da ilha. Já agora, antes que me esqueça, a minha admiração pela carta de tiro que elaborou e que está muito correcta quanto aos objectivos principais. Ao vê-la no blogue, recordei todos aqueles locais por onde andei e que lá estão referenciados: Cauane, Curcô, S.Nicolau, Cassaca, Cachida e Cachil (1).

Mas vamos ao que interessa, isto é, a minha opinião sobre o episódio da Batalha do Como, da série "A Guerra", exibido pela RTP (2).

Também eu julgo que, de um modo geral, os relatos feitos por ambas as partes estão certos e não houve exageros nas opiniões dos intervenientes. O que se me afigura é que deveria conter mais imagens que ilustrassem as dificuldades do terreno, tanto das bolanhas como da cerrada mata, bem como cenas de combate, que existem. Recordo que por lá andou um reporter que na Guiné cobria todos os acontecimentos de relevo para a RTP. Chamava-se Sousa Santos e filmava tudo nas velhas máquinas com suporte de película de 16 mm.

Também um 1º cabo fotocine, de seu nome Raimundo e ao qual me referi nos relatos que fiz sobre esta operação, filmou alguns combates para o EME [Estado Maior do Exército]. Nas imagens apresentadas reconheci, como é natural, muitos dos participantes e relembrei algumas cenas tais como:

(i) A incrível improvisação do acampamento onde se instalou a chamada "Base Logística" e que servia também de comando da operação;

(ii) As péssimas condições de alimentação, que foram exclusivamente ração de combate nos primeiros 23 dias e de apenas uma refeição quente por dia no tempo restante;

(iii) A travessia de um braço de ria sobre uma ponte pedonal no trajecto entre a base e Cauane. A cena é de uma fase já mais avançada pois, de início, nesse local existiam apenas uns troncos muito toscos que só podiamos utilizar na maré vazia. Essa ponte foi construida com ferros de andaime e pranchas de madeira pelos sapadores de engenharia. A isso me refiro também nos meus relatos;

(iv) A outra imagem que me fez sorrir foi a do grupo de comandos em Cauane junto ao tosco mastro onde estava hasteada a bandeira nacional. Parecemos mais um grupo de maltrapilhos do que os combatentes empenhados, aprumados e disciplinados que, modéstia à parte, realmente eramos. O que se passou foi que à chegada ao local do reporter (de helicóptero, claro) nós tínhamos os camuflados e enxugar da água e da lama do atravessamento de uma bolanha. Tem o seu quê pitoresco.

Quanto aos aspectos operacionais propriamente ditos, podes verificar que os relatos que fiz para o blogue estão correctos e confirmados pela "outra parte" da contenda. Os guerrilheiros do PAIGC abandonaram as tabancas e instalaram-se na mata muito cerrada onde se escondiam mas fomos à procura deles. Ao princípio foi bem difícil pois o seu poder de fogo e a abordagem da mata feita por terreno descoberto deu-lhes vantagem. Porém, tentando a aproximação de noite e também com algumas manobras de diversão fomos conseguindo. Se de início eles faziam muito mais fogo do que nós, na fase final já estavam debilitados e com falta de munições conforme se ouviu na reportagem.

Entravamos e saíamos da mata com relativa facilidade e evitavam o contacto. Limitavam-se a tiros isolados dados pelos sentinelas para avisar da nossa presença.

Certamente que durante a operação Tridente muita gente, principalmente população, abandonou a ilha. É possível que após a nossa retirada, sentindo-se mais seguros, tivessem regressado bem como a própria guerrilha se tivesse reequipado e fortalecido. O que eu sei, e disso estou seguro, é que no final da batalha era fácil para qualquer tropa, continuando a patrulhar e a efectuar acções ofensivas, dominar a situação no terreno o que não teria permitido a reinstalação em força da guerrilha. Não sei se isso foi feito ou não mas, só por curiosidade, talvez o Santos Oliveira que esteve no Cachil depois da Batalha do Como nos possa esclarecer sobre a actividade operacional, fora do arame farpado, desenvolvida pela companhia ali aquartelada.

Para todos os habitantes da nossa Tabanca Grande, com especial relevo para o régulo Luís, os meus desejos de Feliz Natal.

A todos envolvo no meu abraço
Mário Dias


3. Comentário do Santos Oliveira (a quem agradeço a gentileza de me ter telefonado, ontem à tarde, desejando Bom Natal... Não o atendi, mas deram-me o recado... Desculpa lá, Oliveira, andava a passear na Praia da Cova... Sábdao, vim almoçar, de propósito, ao restaurante Carrossel - Largo Beira Mar, Cova, Gala, a Figueira da Foz à vista -, recomentado pelo António Pimentel que é um grande gastrónomo, vive no Porto mas é natural de Figueira... António: Adorei! Fui nuns Samos de peixe, numas Choras de línguas de bacalhau e numa Feijoada de búzios... Excelentes três sabores do mar, que partilhei com a minha mulher e a minha filha, para preparar o estômago para o Natal minhoto-duriense... E assim cheguei ao Porto, já ao fim da noite, vim nas calmas, pela A8, A17, A29):

Caríssimo e Digníssimo Régulo:

Saudações

Luís, afinal quem é vivo...

Cá vai a minha visão acerca da dúvida levantada pelo Mário Dias: Eu, Pel Independente de Morteiros 912 (em miniatura), recebi Ordens Divinas (CEM e Governador Militar) de que a Posição era para ser mantida com os meios próprios e sem interferências de mais ninguém (As CCAÇ destacadas para o Cachil), tão-somente me reportaria ao CEM (1).

A Secção estava permanentemente vigilante e de prevenção.

As Ordens recebidas pelas Companhias que por lá passavam, desconheço-as totalmente (nem dava, nem recebia confiança das ditas). Mas, na verdade, NUNCA vi qualquer das Unidades a sair, a não ser para ir à Lancha da Marinha que, diariamente, nos trazia a Água Potável desde Catió, em BARRIS de Vinho (e com sabor e cheiro ao tinto), ou a LDP que nos trazia Géneros a cada mês.

Eu, particularmente, sofri o tormento da água, já que não desinfectava o sangue com álcool (whisky, bagaço, vinho ou outros).

Sei que não respondo ao Mário, mas que se levanta uma dúvida, lá isso levanta. Já o disse (e volto a repetir) que só os Cmds das Unidades poderão esclarecer este ponto.

Não haverá, por aí, alguém das Companhias, que tivesse residido no Cachil após a Op Tridente, que seja senhor deste tipo de informação?

Delator, precisa-se!

Cordiais saudações à Tabanca e a toda a Aldeia, mas em particular retribuindo-as ao Mário Dias. Obrigado, amigo por acordares do teu Inverno. Também renovo os meus Votos de Boas Festas.

Um abraço com o Espírito da Época, do
Santos Oliveira

______________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)

(2) Vd, último post: 19 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2282: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (7): A revolta do pessoal da geração de 1961/66 (Santos Oliveira)

(3) Vd. o dossiê sobre a Operação Tridente, da autoria do Mário Dias, que participou nessa famosa operação:

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)

16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)

17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)

sábado, 22 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)

1. Mensagem do Hugo Guerra (ex-Alf Mil, hoje Coronel DFA, Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 50, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70) (1):

Camaradas Tertulianos:

Não queria deixar passar esta oportunidade sem vos contar uma estória que se passou comigo em Bissau, aí por volta do Natal.

Ao longo dos anos que já passaram recordo-a com graça e só tenho pena de não ter sido filmada porque era capaz de ser publicada no Youtube ou outra coisa parecida.

Dezembro 1968 . Tinha vindo a Bissau ao hospital fazer uma desintoxicação de Gandembel.

Com mais dois camaradas descíamos a Avenida que vinha do Palácio do Governo em direcção à baixa ,mais concretamente aos Correios. Eis senão quando, qual emboscada do IN, aparece a Polícia Militar, que no cumprimento da sua espinhosa missão me ataca com todas as armas de que dispunha e me passa um raspanete por eu ter mais botões desabotoados do que os permitidos no RDM. Logo a mim que me considerava um dos poucos da tropa-macaca que tinha experiência in loco do famoso corredor de Guileje...

Fiquei urso, mas os rapazes até tinham razão e lá abotoámos os botões. Chegados aos Correios, no meio da barafunda total estava um esganiçado e aperaltado 1º cabo, com a camisa desabotoada até ao umbigo.

Depois do que me acontecera pouco antes, aquela situação caía como sopa no mel... Afiando as garras tivemos este diálogo:

- Ó nosso cabo, ouça lá.

- Ó nosso cabo não, meu Alferes, sou o Marco Paulo... (Desconhecia em absoluto quem era semelhante personalidade) (2).

- Marco Paulo uma merda, ou abotoa esses botões todos ou temos chatice! - respondi eu.

Claro que o obriguei a estar em sentido até acabar o castigo e comecei a aperceber-me duns sorrisos à socapa dos camaradas que estavam por ali….

Satisfeito com a minha façanha do dia, viemos para fora e só então fiquei a saber que tive muita sorte por ele não ter dito nada…..senão ainda levava uma porrada e era enviado pra Gandembel, aliás para onde regressei passados 2 ou 3 dias depois.

Ao longo dos anos ainda sorrio quando me lembro desta estória …de Natal.

__________

Notas de L.G:

(1) Vd. post de 29 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 50 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)

(2) Extactos de uma recente entrevista do cantor Parco Paulo (nascido em Mourão, há 62 anos de idade, e com 41 anos de carreira...), ao Correio da Manhã, em 9 de Junho de 2007:

Fez tropa na Guiné durante dois anos. Do que se recorda?

– Recordo-me de ter pedido a todos os santos para não ir, acima de tudo porque eu sabia que se fosse para a Guiné possivelmente quando regressasse já não podia dar seguimento à minha carreira. A minha sorte foi que o meu produtor, Mário Martins, fazia sempre questão que eu viesse de férias. Durante esse período eu gravava, e quando voltava para a Guiné a editora lançava o disco. Por isso nunca caí no esquecimento.

Chegou a sentir medo?

– Quando cheguei à Guiné não foi fácil. Pensei: “Olha, vou para o mato. Levo lá um tiro na cabeça e pronto!” Só que fui para o quartel da Amura, para a secção de Justiça, como escriturário. Ouvia os bombardeamentos, mas não deu propriamente para sentir medo. Depois, como a rádio lá passava muitos discos meus, eu era aproveitado para abrilhantar as festas militares.

Compreendeu, à época, as motivações daquela guerra?

– Eu não estava por dentro dos assuntos da política. Disseram-me que Guiné era Portugal e eu acreditei. Hoje, olhando para trás, vejo que foram dois anos perdidos.


Também nas Selecções do Reader's Digest - Portugal - Revista, pode ler-se uma entrevita com o Marco Paulo, a propósito dos 35 anos de carreira e dos 3 milhões de discos vendidos. Alguns excertos relativos ao tempo que o MP esteve na Guiné:

(...) LO: Voltando um pouco atrás. Onde cumpriu o serviço militar?
MP: Na Guiné. Quando fui para a guerra, já tinha gravado dois ou três discos, discos sem grandes sucesso mas que passavam na rádio e que já vendiam alguma coisa. Ao regressar da guerra, não fazia ideia do que seria a minha vida no futuro, não era líquido que o meu futuro passasse pelas cantigas.


LO: Recorda o dia em que partiu para a guerra?

MP: Muito bem. No fundo, não sabia para onde ia. Foram dias muito inquietantes, mas por sorte acabei por ir parar a Bissau. Os meus pais choraram quando se despediram de mim, choraram tanto como eu. Aliás, lembro-me de ter chorado duas vezes na minha vida: nessa ocasião e quando me deram a notícia de que tinha um cancro. Não é nada fácil alguém me ver chorar, nada fácil mesmo.

LO: O estatuto de cantor beneficiou-o de alguma forma durante a Guerra Colonial?

MP: De forma nenhuma. Por sorte, não estive nos sítios onde se vivia a guerra, limitei-me a estar numa zona mais resguardada. Fui obrigado a ir. Estava numa secção de escritório a fazer cartas, para mim foram quase umas férias. Só me apercebia de que existia guerra quando me convidavam para ir cantar a algum hospital ou à Força Aérea; no sítio onde estava não percebia nada. Deu-me muito prazer cantar na Guiné, os meus camaradas pediam-me e eu nunca recusava. (...)


Também no blogue do Luís de Matos (ex-Fur Mil, da CCAÇ 1590, Os Gazelas, 1966/68), há uma referência ao Marco Paulo, aquando da chegada a Bissau, a 11 de Agosto de 1966:

(...) Findo este trabalho, o capitão deu folga a todo o pessoal para conhecer a cidade. Logo na primeira noite, juntei-me a um pequeno grupo para irmos dar uma volta, para conhecermos um pouco da noite guineense. O furriel miliciano Charneca, que é natural de Beja, ou arredores, não sei bem, pertence à CCS do meu batalhão, o 1894, disse-me que há um nosso camarada, já “velho”, o que equivale a dizer que não é “periquito”, que está no rádio do Quartel-General com o Marco Paulo, um artista da rádio e da TV e também alentejano, de Mourão. Vamos lá ter com eles, para nos mostrarem como é isto. Ou pelo menos, aquele meu amigo vai connosco. Estava uma noite escura como breu. Não me recordo de mais nada. O que sei é que me vi dentro dum táxi, com o Charneca e o tal amigo do QG, por um trilho, em que o capim era bem mais alto que o nosso transporte e fomos parar a uma vivenda onde havia música. Muita música cabo verdiana e dança, frangos no churrasco, cerveja e whisky. Não conseguia deixar de pensar que me podiam cortar a cabeça com uma catana. É que a gente ouvia contar cada estória!. Mas ao mesmo tempo, tinha uma certa confiança no tal camarada mais velho. Se ele estava ali e continuava vivo, é porque o local e as pessoas eram de confiança. Há-de ser o que Deus quiser. Coração ao largo, pensei cá prós meus botões" (...)

Guiné 63/74 - P2373: O meu Natal no mato (9): Embarquei no N/M Niassa a 21 de Dezembro de 1971... Que maldade! (João Lima Rodrigues)





N/M Niassa > 21 de Dezembro de 1971 > O luxuoso paquete em que cerca de 500 militares do BART 3873 foram obrigados a viajar, para a Guiné, nas vésperas de Natal.

Fotos: © João Lima Rodrigues (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem que nos chega através do Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf, CART 3492 (Xitole, 1972/74):

O Lima Rodrigues foi Alferes Miliciano e esteve na Guiné entre 1971 e 1974, integrado no BART 3873: esteve primeiro no Xitole na CART 3492 e posteriormente na CCS do Batalhão em Bambadinca a desempenhar funções nas áreas das operações, juntamente com o então major Jales Moreira.

Actualmente é técnico superior da Portucel, de Viana, continua ser homem dos nossos, bem disposto, aliás basta ler-se-lhe a prosa... Enfim, alguém com quem é facil travar-se amizade. Peca só pela timidez.

Embora ande há muito a insistir com ele, para nos contar as suas estórias que as conheço bem interessantes, não tenho sido muito bem sucedido.. Mas enfim desta vez, por ser Natal lá se dispôs a escrever e eis o resultado.


2. Texto do João Lima Rodrigues (1):

Meus caros:

Estão a cumprir-se 36 anos sobre a data de embarque para o cruzeiro memorável para a Guiné, em que a maior parte de nós teve o privilégio de participar. O paquete Niassa, de seu nome, foi equipado a preceito, como bem se recordam, com camaratas tipo andaime num porão, onde mais de 500 jovens partilhavam essa inovação tipo open space - embora praticamente não houvesse escotilhas (?) para o exterior - e que só agora está na moda, para transporte de clandestinos no sentido inverso!

A carga de melaço com que o outro porão foi carregado, só por maldade ou manifesto mau gosto, alguns disseram ter um cheiro horrorosamente enjoativo (a maledicência é realmente uma característica dos portugueses...). A data, que foi alvo das mais elaboradas cogitações pelos altos cérebros (?) das forças Armadas da altura, não poderia ter sido melhor escolhida.

Como seria possível aos mais de 500 ex-militares, respectivas famílias e amigos, ainda hoje terem esta recordação tão viva e forte desse evento ? Todos temos garantidamente inumeras recordações desse memorável cruzeiro, mas permito-me recordar as que ainda hoje sinto como mais marcantes:

Aquela sessão de cinema ao ar livre com a projecção do filme A Batalha das Ardenas - escolhido garantidamente pelos tais cérebros (?) brilhantes). Sim, quem tem dúvidas sobre o enorme efeito moralizador que um filme de guerra teria sobre aqule enorme grupo de jovens ansiosos por saber como era a guerra? (Os tais maledicentes lá vieram com o argumento de que se tratava de uma batalha mais adequada para a cavalaria, porque quase só metia tanques, e que nós eramos tropa de artilharia. Mentira e má vontade, porque toda a gente sabe que nenhum de nós sabia raspas de peças de artilharia (seriam o morteiro 60 ou a bazooka peças de artilharia? Agora fiquei um pouco baralhado , mas como eu era um generalista de operações especiais e com a ajuda da idade posso estar a fazer algumas confusões...).

Mas, e os jogos de ping-pong que invariavelmente terminavam por falta de bolas, pois ao longo do jogo iam voando borda fora... ?! E para os mais privilegiados, o grupo musical, a que o Mexia já se referiu (2), e cujo repertório de músicas românticas abalava mesmo os mais machões!

E só por pudor termino este evocar de recordações, em que o cinismo apenas serviu para atenuar toda a revolta que ainda hoje sinto por tamanha estupidez, que é mandar mais de 500 jovens para a guerra na véspera de Natal, quando nada justificava essa decisão, pois ainda havia para cumprir um mês de IAO.

Felizmente para todos nós, poderemos festejar este Natal com aqueles que para nós são importantes e recordar todos aqueles com quem, infelizmente, já não podemos partilhar esta alegria.

A todos desejo que passem um Santo Natal e um óptimo 2008!!!

João Lima Rodrigues

3. Comentário de L.G.:

João, cumpriste todas as formalidades para poderes entrar na Tabanca Grande... O privilégio é teu, mas a honra é toda nossa... Arranja p'ra aí um lugar confortável. Espero que te sintas bem por cá, muito melhor do que a outra vez, quando andaste pelo Xitole e por Bambadinca, nos já idos anos de 1972/74... Só te falta um endereço de e-mail... Presumo que o tenhas, mas o Álvaro não mo mandou...

De facto, foi um sacanice o que te fizeram, mandarem-te para a Guiné, ainda por cima em 1971, em tempo de guerra, e mais grave ainda na véspera de Natal... Mas, olha, gostei da tua prosa... Ao menos vingaste-te, este Natal, dos Filhos da Mãe que te tramaram da outa vez...contando a história da sua sacanice... Escrever faz bem, a ti, a todos nós... Obrigado também ao Álvaro por, delicadamente, te trazer até à porta da nossa Tabanca. É um camaradão, esse Álvaro. Até à próxima. Luís

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post anterior desta série: 21 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - 2372: O meu Natal no mato (8): Bissorã, 1964 (João Parreira, CART 730)


(2) Vd. post de 12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2372: O meu Natal no mato (8): Bissorã, 1964 (João Parreira, CART 730)



Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > 10 de Junho de 2006 > 13º Encontro Nacional de Combatentes >O João Parreira, à esquerda, e o Miranda, à direita: dois veteranos dos velhos comandos de Brá. O Miranda, do Grupo Os Panteras, foi instrutor do Parreira, do Grupo Os Fantasmas. O Parreira, voluntário nos Comandos, veio da CART 730/BART 733 (Bissorá, 1964/65).
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2006). Direitos reservados.


Mensagem do João S. Parreira, ex-Fur Mil da CART 730/BART 733, ex-Comando (Guiné, 1964/66):


Caros Luís, Carlos e Virgínio,

FELIZ NATAL e PRÓSPERO ANO NOVO
extensivos aos vossos familiares
são os sinceros votos do
amigo e ex-camarada de armas
João

Caros Camaradas Editores Luís Graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote,


Sob o tema dos Natais passados na Guiné durante a nossa comissão tenho uma vaga recordação, tal como a de outros camaradas com quem contactei, de que o Natal de 1964, da CART 730, do BART 733 foi passado normalmente no aquartelamento de Bissorã onde não tinhamos nada que celebrar, ou antes, jovens como eramos tinha apenas que agradecer ao Poder Divino o facto de ainda nos encontrarmos vivos.

Por outro lado os nossos chefes, que estavam pomposamente instalados nos seus gabinetes, pouco ou nada se ralavam com a forma como passavamos as épocas natalícias, ou quaisquer outras.

Pensar muito na família nessa quadra natalícia também não ajudava muito pois embora estivessem a sofrer em silêncio com ausência de um dos seus, tentariam por certo gozá-la da melhor maneira.

Dois dias antes tinhamos regressado de uma nomadização de dois dias em que já no regresso e bastante fatigados pois tinhamos percorrido cerca de 40 kms nos encontrávamos com uma escassa energia para chegar ao ponto de irradiação quando sofremos uma emboscada na estrada de Barro que nos causou 3 feridos.

Para mitigar um pouco o clima em que se vivia, principalmente naquela quadra, talvez contribuisse a convivência com as duas inocentes bajudas que por aquela altura apareceram no aquartelamento. O fim do ano de 1964 passou-se igualmente com uma nomadização de dois dias.

Em Bissajar o IN reagiu com fogo ao cerco a uma casa de mato, e na bolanha de Marecunda fomos emboscados.


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Natal – Ano Novo 2007/2008
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Os verdadeiros camaradas são como as estrelas.
Nem sempre as vês, mas estão sempre lá.
Feliz Natal e Próspero Ano Novo

para todos os nossos camaradas e familiares
são os votos do João Parreira

Um abraço.

João Parreira

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Nota dos editores:



(1) Vd. posts de: