"Dispositivo do Sector Sul em Abril de 1973, pouco antes do ataque do PAIGC a Guileje. O COP 5 tinha sido activado em 22 de Janeiro de 1973, comandando as unidades instaladas em Guileje , Gadamael e Cacine. A vermelho, as zonas de intervenção do Com-Chefe " (NR).
Raio de acção do armamento do PAIGC, que cercava Guileje: Morteiro 120 (4 km); Grad (6 km); peça de 130 mm (12 km)... Reconstituição de Nuno Rubim.
Imagens : © Nuno Rubim (2008) . Direitos reservados.
1. Mensagem do João Seabra, ex-alferes miliciano da CCAV 8350 (Os Piratas de Guileje):
Assunto - Guileje: para qualquer questão complexa há sempre uma resposta simples (geralmente errada) (*)
Caro Luís Graça,
Sou, há dois anos, um visitante ocasional deste blogue, no qual nunca participei, entre outras razões, porque (ainda) tenho uma vida profissional muito intensa e agitada.
Todavia, no passado Domingo [, dia 18,] o Sr. Coronel Coutinho e Lima chamou-me a atenção para o P3737 do Sr. Tenente General António Martins de Matos ("Um erro de Casting, e Comandante do COP5") (**), bem demonstrativo de que, para qualquer questão complexa há sempre uma resposta simples (geralmente errada).
Considero-me amigo do Sr. Coronel Coutinho e Lima, como amigo fui do Luís Pinto dos Santos, falecido há três anos, alferes miliciano de artilharia, comandante do 15º Pelart do Guileje, directamente visado pelo trecho "com o seu alcance os obuses de 14 cm seriam das armas aptos para contrariar o jogo inimigo...há mesmo o depoimento de alguém afirmando que o pessoal que os operava nem sequer saía dos abrigos".
Tal como o Sr. Tenente General sinto-me na obrigação de responder.
Deixarei para próximas oportunidades, o comentário mais completo ao P3737 (e aos que suscitou), designadamente no que se refere à fábula segundo a qual "Desde 6 de Maio de manhã que as GC de Guileje não efectuavam qualquer saída do quartel…" (**).
Por hoje limitar-me-ei às afirmações segundo as quais as flagelações eram feitas com "morteiro 120, canhão s/r"... e "há a confirmação de que as bases de fogo se situariam para lá da fronteira".
Considerando os alcances destas armas (5 a 5,5 Km para o morteiro 120 e 3 a 3,5 Km para o canhão s/r B10) diria que se trata de uma impossibilidade geométrica: basta ir ao Google Earth e medir.
Assim sendo, o Sr. Tenente–General tem de refazer o seu exercício: ou muda de armas, ou desloca a fronteira em benefício da Guiné-Conacri.
A única arma que nos flagelou a partir da Guiné Conacri terá sido a peça de 130 mm (com alcance provável não inferior a 12 Km).
A este propósito, pode-se consultar o interessante estudo do Coronel Nuno Rubim constante do P3058 de 13/7/2008 (***).
A minha disponibilidade para escrever textos novos é muito limitada, daí que me vá servindo de escritos de outras oportunidades, como o que hoje vai em anexo e é uma carta, dirigida ao director do jornal Público, escrita em Julho de 2005 em resposta a uma peça do jornalista Eduardo Dâmaso, sobre a Gadamael dos dias 31/5 a 3/6/73.
O resto – como os romances do século XIX – irá em folhetim.
É minha convicção que Guileje e Gadamael foram duas fases da mesma batalha.
A propaganda do PAIGC e a verdade oficial do Comando-chefe, numa insólita conjugação de esforços, sempre tentaram separar as duas situações, como episódios independentes.
Sustento que a decisão do Coronel Coutinho e Lima – abstraindo do, por assim dizer, "argumento humanitário" – foi a única que racionalmente poderia ser tomada, e negou ao PAIGC o seu campo de batalha de eleição (Guileje), transferindo-o para Gadamael.
Versa o texto em anexo principalmente sobre a situação subsequente em Gadamael (principalmente sobre o período de 22 de Maio a 3 de Junho de 1973, data do desembarque da CCP 122), articulando-a com os seus antecedentes relativos a Guileje.
Há matérias que nele deixo em dúvida atenta a informação que dispunha em 2005, por exemplo: hoje sei que a remodelação dos dispositivos de artilharia de Guileje e Gadamael foi proposta pelo Coronel Coutinho e Lima em Janeiro, mas executada em Maio.
De qualquer modo, tenho a presunção de pensar que o texto é instrutivo.
Com efeito, reza a apreciação do Comandante Chefe à actividade operacional do COP5 desde 22 de Maio 73: a actividade desenvolvida a partir de 22 reflecte uma acção de Comando de excepcional mérito e perfeitamente ajustada às circunstâncias.
Quer isto dizer que:
- Os Gr Comb de duas companhias de quadrícula (do tipo das que existiam na Guiné em 1973), "saíam do quartel", estabelecendo "segurança avançada";
- Consequentemente "sabia-se o que se passava fora do arame" e o IN era "mantido em respeito";
- A guarnição era apoiada por "potente artilharia" constituída por "armas aptas a contrariar o fogo inimigo";
- Não houve "erros de casting".
Estavam pois reunidas todas as condições para que – segundo a melhor doutrina – o IN fracassasse, ignominosamente, na sua tentativa de projectar sobre Gadamael os meios que tinha reunido para a operação sobre Guileje.
Quem quiser saber a minha versão do posteriormente sucedido (que pode ser, no essencial, corroborada por prova documental e testemunhal) pode consultar o pastelão em anexo [que será publicado oportunamente, L.G.].
Quem entender que tal excede o exigível a uma pessoa medianamente paciente, poderá consultar o breve (mas eloquente) depoimento do Sr. Coronel Araújo Sá, Comandante do BCP 12, a páginas 325 e 326 do livro A Retirada de Guileje.
Abraço do
João Seabra
Ex-alferes miliciano da CCAV 8350
2. Comentário de L.G.:
Saúdo o João Seabra, um Pirata de Guileje, e convido-o a integrar a nossa Tabanca Grande, tal como já o fez, há bastante tempo, ex-Fur Mil Op Esp J. Casimiro Carvalho (de que publicamos acima duas fotos em tamanho pequeno, uma com o morteiro 10,7 e outra com a peça de artilharia 11,4), e mais recentemente o Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima. (Peço desculpa se estou a esquecer mais alguém ligado à CCAV 8350, e que faça parte da nosso blogue; vou pedir ao Carlos Vinhal para confirmar nos assentos regimentais; e, a propósito, já aqui publicámos uma foto do vosso ex-Cap Mil Abel Quintas, em casa do J. Casimiro Carvalho, na Maia, mas ele nunca mostrou, explícita ou formalmente, interesse em fazer parte da nossa Tabanca Grande, que de resto não tem portas nem janelas...)
Ficamos todos mais ricos e confortáveis com a tua presença. Ao fim destes anos todos, Guileje, Gadamael, Guidaje e por aí fora são nomes que ainda mexem com todos nós. Não te admires que às vezes a gente ainda ande com os nervos à flor da pele, e se exceda um pouco, na expressão (verbal) de pontos de vista, nos nossos comentários, quando se debruça sobre esses complexos dossiês que são autênticas caixas de Pandora. Eu, que não estive em Guileje (a não ser recentemente, há menos de um ano), leio quase sempre com profundo respeito (e muitas vezes com emoção) todos os textos e comentários que me chegam, sobre este tópico, A retirada de Guileje...
Obrigado pelo teu depoimento, sereno. Obrigado pela tua filosofia de abordagem dos problemas. Obrigado também pelo texto que mandaste para o Público, e que eu irei publicar, dentro de dias. (É um depoimento, creio que inédito, extenso, rico de detalhas factuais, e onde é visível o esforço de contenção dramática, por parte do autor).
Como sabes, e é das nossas regras de bom viver, aqui ninguém chama nomes a ninguém. Ninguém te vai chamar herói, ninguém te chamar cobarde. Apenas duas palavras, a de amigo e camarada, são autorizadas. (Por brincadeira, chamo herói de Gadamael ao José Casimiro Carvalho: daqui para a frente vou ter que ter mais tento na língua, para não evocar em vão o nome de tantos outros camaradas, Antómios, Josés, Joões, Manéis... que foram heróis todos os dias, e mesmo em dias difíceis como o foi certamente o 22 de Maio de 1973)...
E tratamo-nos todos por tu, claro: ganhámos esse direito, por que combatemos ao lado uns dos outros, dormimos no mesmo buraco, comemos o mesmo arroz com estilhaços de frango, tivemos o mesmo medo e a mesma coragem, bebemos a água da mesma bolanha... e tínhamos (quase) todos a mesma idade.
Na volta, cá te espero. Um Alfa Bravo. Luís
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série, A retirada de Guileje... > 23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3778: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (17): O cerco que nunca existiu (António Martins de Matos)
(**) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)
(***) Vd. poste de 13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3058: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (4): Slides (de 10 a 18): Dos Strellas à Op Amílcar Cabral
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Guiné 63/74 - P3781: O Nosso Livro de Visitas (55): Carlos Figueira, ex-Fur Mil da CCAÇ 4946, Jemberem, Cacine e Bolama (1974)
1. Mensagem de Carlos Figueira, ex-Fur Mil da CCAÇ 4946/73, Jemberem, Cacine e Bolama, 1974, com data de 20 de Janeiro de 2009:
Caro Sr.
Na pesquisa para encontrar os restos mortais do falecido piloto do Paquete "Santa Maria" que faz amanha 21 de Janeiro, 48 anos. Como o piloto era meu amigo... (Eu estive para ser a 1.ª vítima conforme pode ver no blog http://somisabe.blogspot.com/)
foi quando eu encontrei o vosso blogue que muito me satisfez (Boa ideia).
Tenho pena também de desconhecer as datas em que os ex-militares da Guiné se reunem pois estou no Funchal, Ilha da Madeira. Com pena minha eu perdi os contactos com os meus colegas graduados naturais de Portugal Continental.
A título de curiosidade - a minha Companhia chegou à Guiné em 5 de Janeiro de 1974 e regressou a 16 de Agosto do mesmo ano.
Mesmo assim, fui ferido no braço direito por estilhaços a 5 de Fevereiro e transportado para o Hospital de Bissau. Não sei bem o que se passou, mas muitos dos meus documentos militares encontram-se desaparecidos dos arquivos militares, mas tenho o essencial.
Recebam todos um grande abraço pelo projecto e desejo a todos vós um Ano cheio de saúde e de amor.
Sempre ao vosso dispor
Carlos Alberto R Figueira
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 22 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3777: O Nosso Livro de Visitas (54): Um camarada da diáspora, José Câmara, da açoriana CCAÇ 3327 (1971/73)
Caro Sr.
Na pesquisa para encontrar os restos mortais do falecido piloto do Paquete "Santa Maria" que faz amanha 21 de Janeiro, 48 anos. Como o piloto era meu amigo... (Eu estive para ser a 1.ª vítima conforme pode ver no blog http://somisabe.blogspot.com/)
foi quando eu encontrei o vosso blogue que muito me satisfez (Boa ideia).
Tenho pena também de desconhecer as datas em que os ex-militares da Guiné se reunem pois estou no Funchal, Ilha da Madeira. Com pena minha eu perdi os contactos com os meus colegas graduados naturais de Portugal Continental.
A título de curiosidade - a minha Companhia chegou à Guiné em 5 de Janeiro de 1974 e regressou a 16 de Agosto do mesmo ano.
Mesmo assim, fui ferido no braço direito por estilhaços a 5 de Fevereiro e transportado para o Hospital de Bissau. Não sei bem o que se passou, mas muitos dos meus documentos militares encontram-se desaparecidos dos arquivos militares, mas tenho o essencial.
Recebam todos um grande abraço pelo projecto e desejo a todos vós um Ano cheio de saúde e de amor.
Sempre ao vosso dispor
Carlos Alberto R Figueira
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 22 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3777: O Nosso Livro de Visitas (54): Um camarada da diáspora, José Câmara, da açoriana CCAÇ 3327 (1971/73)
Guiné 63/74 - P3780: Fauna & flora (16): Avistamento de macaco-cão na zona de Dulombi/Galomaro (Luís Dias)
1. Mensagem de Luís Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74, com data de 19 de Janeiro de 2009:
Caros Editores
Caso queiram remeter esta pequena informação à investigadora Maria Joana Ferreira da Silva, sobre o macaco-cão no Dulombi, disponham.
Macaco cão. Foto de Herlander Simões
Avistamento de Macaco-Cão na Zona de Dulombi/Galomaro
A CCAÇ 3491, a que eu pertenci, esteve instalada, entre Janeiro de 1972 e Março de 1973, no Dulombi. Entre Março de 1973 e Março de 1974, a maior parte da Companhia esteve instalada em Galomaro, embora permanecessem 13 elementos e 2 Pelotões de Milícias no Dulombi e continuássemos a efectuar acções dentro da sua área (detínhamos a maior zona territorial de intervenção, em termos de Companhia). A zona tinha mais a sul os aquartelamentos do Saltinho e mais a norte Cancolim e Canjadude, e situava-se no Leste da Guiné.
Na primeira Operação em conjunto com a Companhia que fomos substituir - a CCAÇ 2700 - (1 de Fevereiro de 1972) e ao fim da tarde tomei pela primeira vez contacto com os babuínos e, pela forma peculiar com que se expressavam - latiam como cães - ficámos convencidos de que se tratava de cães do IN, pois ali era terra de ninguém e só nós ou os guerrilheiros por ali poderiam andar. É claro que a velhice e os milícias colocaram um riso malandro, fazendo crer, primeiramente, que eram os cães do PAIGC e só depois nos acalmando, dizendo que era um bando de macaco-cão.
Durante as operações que efectuámos na zona do Dulombi, entre esta população e o Rio Corubal, vimos muitas vezes bandos destes macacos, também chegámos a observá-los na picada (estrada) entre Dulombi e Galomaro. Quando estávamos instalados durante algum tempo atreviam-se a aproximarem-se, embora com cautelas. Havia sempre uns indivíduos maiores que ocupavam posições mais elevadas, como um morro de baga-baga ou uma árvore, parecendo ficar de vigia. Faziam por vezes um barulho ensurcedor, mas na maior parte do tempo pareciam estar sempre na brincadeira. Pareciam grupos grandes, de 40/50 indivíduos.
Quando a população do Dulombi plantava a mancarra, deixavam sempre alguém a tomar conta da plantação, seja para afastar os babuinos, seja para os dissuadir através de tiros de Mauser. Não temos conhecimento de qualquer ataque deste tipo de macacos, seja à tropa, seja à população, embora sejam aguerridos. Numa da vezes em que estávamos instalados para efectuar um descanso, um bando de babuínos surgiu e como estavam a fazer um barulho muito intenso, os meus soldados fizeram uma aposta comigo em como não era capaz de atingir um dos mais barulhentos que víamos a mexer por entre as árvores, a uma distância de perto de 80/100 metros. Como tinha a mania que tinha boa pontaria e perícia, pensei: vou apenas pregar um susto ao bicho. Rodei o diópter do aparelho de pontaria da G3 para a alça de 300m e apontei ao lado do macaco e disparei. Para minha surpresa, o animal caiu da árvore, chegando ao chão morto. Tinha-lhe acertado em cheio, apontei ao lado, mas houve qualquer desvio e o tiro foi fatal. Foi uma burrice... uma traquinice pouco ecológica e respeitadora de outros seres vivos. Raio de aposta!
Contava-se estórias de que os Fulas comiam macaco e que mesmo esse petisco havia sido provado por militares nossos, mas não sei se é verdade. No quartel não havia babuínos em cativeiro, unicamente um macaco mais pequeno que pertencia ao Escriturário da Companhia, mas que foi fuzilado por mim quando o apanhei a arrancar a cabeça dos nossos pintainhos, que criávamos para nos alimentar posteriormente.
Um abraço
Luís Dias
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3769: Fauna & flora (15): Macaco cão à mesa de Ponte Maqué e o "Buba" na Orion...(Raul Albino/M. Lema Santos)
Caros Editores
Caso queiram remeter esta pequena informação à investigadora Maria Joana Ferreira da Silva, sobre o macaco-cão no Dulombi, disponham.
Macaco cão. Foto de Herlander Simões
Avistamento de Macaco-Cão na Zona de Dulombi/Galomaro
A CCAÇ 3491, a que eu pertenci, esteve instalada, entre Janeiro de 1972 e Março de 1973, no Dulombi. Entre Março de 1973 e Março de 1974, a maior parte da Companhia esteve instalada em Galomaro, embora permanecessem 13 elementos e 2 Pelotões de Milícias no Dulombi e continuássemos a efectuar acções dentro da sua área (detínhamos a maior zona territorial de intervenção, em termos de Companhia). A zona tinha mais a sul os aquartelamentos do Saltinho e mais a norte Cancolim e Canjadude, e situava-se no Leste da Guiné.
Na primeira Operação em conjunto com a Companhia que fomos substituir - a CCAÇ 2700 - (1 de Fevereiro de 1972) e ao fim da tarde tomei pela primeira vez contacto com os babuínos e, pela forma peculiar com que se expressavam - latiam como cães - ficámos convencidos de que se tratava de cães do IN, pois ali era terra de ninguém e só nós ou os guerrilheiros por ali poderiam andar. É claro que a velhice e os milícias colocaram um riso malandro, fazendo crer, primeiramente, que eram os cães do PAIGC e só depois nos acalmando, dizendo que era um bando de macaco-cão.
Durante as operações que efectuámos na zona do Dulombi, entre esta população e o Rio Corubal, vimos muitas vezes bandos destes macacos, também chegámos a observá-los na picada (estrada) entre Dulombi e Galomaro. Quando estávamos instalados durante algum tempo atreviam-se a aproximarem-se, embora com cautelas. Havia sempre uns indivíduos maiores que ocupavam posições mais elevadas, como um morro de baga-baga ou uma árvore, parecendo ficar de vigia. Faziam por vezes um barulho ensurcedor, mas na maior parte do tempo pareciam estar sempre na brincadeira. Pareciam grupos grandes, de 40/50 indivíduos.
Quando a população do Dulombi plantava a mancarra, deixavam sempre alguém a tomar conta da plantação, seja para afastar os babuinos, seja para os dissuadir através de tiros de Mauser. Não temos conhecimento de qualquer ataque deste tipo de macacos, seja à tropa, seja à população, embora sejam aguerridos. Numa da vezes em que estávamos instalados para efectuar um descanso, um bando de babuínos surgiu e como estavam a fazer um barulho muito intenso, os meus soldados fizeram uma aposta comigo em como não era capaz de atingir um dos mais barulhentos que víamos a mexer por entre as árvores, a uma distância de perto de 80/100 metros. Como tinha a mania que tinha boa pontaria e perícia, pensei: vou apenas pregar um susto ao bicho. Rodei o diópter do aparelho de pontaria da G3 para a alça de 300m e apontei ao lado do macaco e disparei. Para minha surpresa, o animal caiu da árvore, chegando ao chão morto. Tinha-lhe acertado em cheio, apontei ao lado, mas houve qualquer desvio e o tiro foi fatal. Foi uma burrice... uma traquinice pouco ecológica e respeitadora de outros seres vivos. Raio de aposta!
Contava-se estórias de que os Fulas comiam macaco e que mesmo esse petisco havia sido provado por militares nossos, mas não sei se é verdade. No quartel não havia babuínos em cativeiro, unicamente um macaco mais pequeno que pertencia ao Escriturário da Companhia, mas que foi fuzilado por mim quando o apanhei a arrancar a cabeça dos nossos pintainhos, que criávamos para nos alimentar posteriormente.
Um abraço
Luís Dias
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3769: Fauna & flora (15): Macaco cão à mesa de Ponte Maqué e o "Buba" na Orion...(Raul Albino/M. Lema Santos)
Guiné 63/74 - P3779: As mulheres que, afinal, também foram à guerra(1): Ni, uma combatente em Bissorã (1973/74) (Henrique Cerqueira)
1. Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil do 4.º GCOMB/3.ªComp/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74, com data de 18 de Janeiro de 2009:
Camarada Carlos Vinhal:
Em resposta ao teu desafio aqui vai uma narrativa referente à minha Mulher de Guerra na Guiné.
Espero que não seja um texto muito cansativo e já agora se achares necessário podes dar um jeitinho ao texto.
Um abraço
Henrique Cerqueira
NI, mulher de guerra de Henrique Cerqueira
Ni, Mansoa, 1973/74
Aproveitando o desafio do nosso camarada Carlos Vinhal, vou então fazer aqui a descrição possível de como foi a vida da minha mulher (com e ) na Guerra. Para além disso aproveito assim para lhe fazer uma merecida homenagem, porque foi necessário que ela tivesse muita coragem, abnegação, amor e também uma boa dose de aventureirismo, para tomar a atitude que tomou, ao se juntar a mim na Guiné, em pleno período de guerra e até na altura em que tudo começava a parecer caminhar para o abismo.
Quando informei o meu Comando da minha pretensão de chamar para junto de mim a minha mulher e meu filho Miguel de dois anos, fui desaconselhado.
Eu era um pouco rebelde e em todo aquele cenário de guerra a coisa que mais me custava era o afastamento da família, já que todas as outras dificuldades, bem conhecidas de todos nós, eram como de costume superadas, ora com umas pielas, ora com umas chatices com os superiores hieráticos, etc.
Para a falta da mulher e filho é que não havia nada que apaziguasse.
Ultrapassadas as desmotivações, há que passar à acção para concretizar o nosso desejo (meu e da minha mulher). Após as combinações telefónicas e escritas, marca-se a data para o encontro que virá a acontecer em finais de Setembro de 1973.
Há aqui que acrescentar, que esta decisão envolve um camarada e amigo meu que foi o Alferes Santos que estava também na CCAÇ 13 em Bissorã, e que já tinha estado comigo no Biambe, porque ambos pertencíamos ao BCAÇ 4610/72. De certo modo tínhamos em comum a maluqueira instalada nos nossos cérebros e pelos vistos ele foi mais maluco que eu, porque veio de férias à Metrópole, de propósito, para casar e como Núpcias ofereceu à sua novíssima esposa uma bela estadia em Bissorã, recheada de aventuras, tais como paludismo, mosquitos, osgas e até Guerra ao Vivo, mais à frente eu explico.
Mas voltando à minha Mulher de Guerra. Antes de historiar, vou começar por apresentá-la, pois que se publicares esta história, acho justo que conste o seu nome assim como o de meu filho. É que queira ou não, a minha MULHER DE GUERRA para além de todo o apoio sentimental que me proporcionou, fez história comigo porque passou por ter de enfrentar penosas viagens, instalações precárias, alimentação deficiente, mosquitos e dois ataques directos à nossa povoação, um dos quais com mísseis.
Ficou no entanto altamente enriquecida com o contacto que teve com as populações da Guiné e suas etnias, como libaneses e caboverdianos. Formámos uma amizade razoável com uma família libanesa e com o casal Administrador de Bissorã que eram de Cabo Verde.
O que mais me marcou tem a ver com os factos por mim já narrados no nosso Blogue, quando nos foi pedido que contássemos uma História de Natal e nessa eu tive o apoio incondicional da minha Mulher de Guerra. Quando tomei a decisão já narrada eu esperava que fosse enviado (recambiado) para a fronteira de castigo pelo atrevimento que tive de enfrentar o poder instalado, mas vá lá que os rapazes não foram mauzinhos e perdoaram cá o menino que nunca teve o espírito militar de que o meu respeitável Comandante me acusou, em direito de resposta, ao dito artigo de Natal.
A minha mulher manteve-se junto de mim, e mais uma vez faz história, ao sofrer um ataque no dia 31 de Dezembro de 1973 enquanto eu estava de prevenção, já que tínhamos ameaça de porrada o que veio a acontecer e ela cumpriu integralmente com as instruções por mim administradas. Enfiou-se no abrigo com o nosso filho mais o casal Santos e Zinha, enquanto eu andava como uma barata tonta a tentar organizar uma saída com o meu Grupo de Combate. Não esquecer da história de Natal, é que nesta altura cá o rapaz estava mal visto, só que continuava sendo um dos graduados daquele grupo que por acaso até estava de prevenção para um possível ataque. Enfim coisas que vida arranja, não é?
Mas íamos na barata tonta, ou seja baratas tontas, pois que passado o susto inicial era ver heróis a correr até ao arame, até Panhares foram ao arame. No entanto o meu Grupo saiu para o mato se bem que reforçado por mais pessoal da CCAÇ 13. Isto foi só um parêntesis, não resisti a uma provocaçãozinha, é que ainda dói.
A minha MULHER DE GUERRA ainda viveu mais umas histórias giras, tais como mais um ataque de mísseis e uma guerrita entre mim e o Comandante de Batalhão, por causa de um Furriel Guinéu que tinha o mau gosto de ser racista, isto já depois do 25 de Abril. A verdade é que ela também viveu lá essa data histórica e até teve o previlégio de, no dia em que eu tive o primeiro encontro com o PAIGC, durante uma picagem para o Olossato, em dia de reabastecimento, assistir a este encontro. Mais uma vez era cá o rapaz o protagonista e único graduado no primeiro contacto, após Abril e fim da guerra, teria mesmo de ser o menino mal visto. Está sempre em todas, olha se tivesse espírito militar!!!!)
A minha mulher foi depois comigo até ao ponto de encontro para confraternizar com o pessoal do PAIGC nesse memorável dia. Semanas mais tarde foi comigo passar um Domingo ao Biambe com os meus antigos Camaradas, mas isso dará outra história.
Bom, isto está mesmo a ficar longo e ainda não apresentei a minha MULHER DE GUERRA por tanto lá vai:
Nome de Guerra - NI
Nome próprio - MARIA DULCINEA ROCHA
Filho - MIGUEL NUNO, que tinha dois anos na altura
Embarcaram na TAP em finais de Setembro de 1973 até Bissau, de seguida seguiram comigo no interior de uma ambulância do Exército até Bissorã. Regressaram à Metrópole em 29 de Junho de 1974 tendo eu regressado em finais de Julho de 1974.
Carlos Vinhal tiveste um pouco de culpa por lançares este desafio, é que vieste lembrar algo que recordo com muito agrado e até dá vontade de escrever tintim por tintim, daí tanta escrita.
Envio algumas fotos da minha MULHER DE GUERRA em acção no Teatro de Guerra em Bissorã, Guiné, ano de 1973/1974.
Um abraço Carlos e restantes Tertulianos
Henrique Cerqueira
A Ni e a Zinha em treino de luta corpo a corpo... só para a fotografia
A Ni na ponte da outra banda em Bissorã
A Ni era dotada para a guerra. Ao fundo a minha macaca Gasolina de seu nome
A Ni e o Miguel fizeram muitas amizades com as pessoas da Guiné. Nesta foto, com o Homem Grande de Bossorã
O meu filho de guerra Miguel Nun0
Nesta foto: Sanhã, Zinha, Ni com a G3, fiel amigo Inhatna Biofa e o Miguel Nuno com um amiguinho
Henrique, filho Miguel Nuno, esposa NI, Zinha e marido Alf Santos
Fotos e legendas: © Henrique Cerqueira (2009). Direitos reservados
PS: Peço desculpa por numa das fotos aparecerem o Alferes Santos e sua Mulher ZINHA sem eu ter autorização para mostrar publicamente as suas imagens. Acontece que perdi o contacto deles e de certo modo pretendo prestar-lhes aqui a minha homenagem pelos tempos que passámos juntos. Para os dois um grande abraço.
Henrique Cerqueira
Ex-Fur Mil
3.ª Comp.ª/BCAÇ 4610/72
Biambe até Novembro de 1972
CCAÇ13 até Julho de 1974
Nota: Amigo Carlos não tenho grande jeito para a escrita se possível e for do interesse dá um jeitinho nisto. É que narrar é fácil (às vezes difícil), mas compor texto já é mais difícil. Uma vês mais grato pelo espaço ao nosso dispor.
__________
Notas de CV:
Vd. poste de 16 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3748: As nossas mulheres (4): Recortes de imprensa de uma noiva (Luís Faria)
Camarada Carlos Vinhal:
Em resposta ao teu desafio aqui vai uma narrativa referente à minha Mulher de Guerra na Guiné.
Espero que não seja um texto muito cansativo e já agora se achares necessário podes dar um jeitinho ao texto.
Um abraço
Henrique Cerqueira
NI, mulher de guerra de Henrique Cerqueira
Ni, Mansoa, 1973/74
Aproveitando o desafio do nosso camarada Carlos Vinhal, vou então fazer aqui a descrição possível de como foi a vida da minha mulher (com e ) na Guerra. Para além disso aproveito assim para lhe fazer uma merecida homenagem, porque foi necessário que ela tivesse muita coragem, abnegação, amor e também uma boa dose de aventureirismo, para tomar a atitude que tomou, ao se juntar a mim na Guiné, em pleno período de guerra e até na altura em que tudo começava a parecer caminhar para o abismo.
Quando informei o meu Comando da minha pretensão de chamar para junto de mim a minha mulher e meu filho Miguel de dois anos, fui desaconselhado.
Eu era um pouco rebelde e em todo aquele cenário de guerra a coisa que mais me custava era o afastamento da família, já que todas as outras dificuldades, bem conhecidas de todos nós, eram como de costume superadas, ora com umas pielas, ora com umas chatices com os superiores hieráticos, etc.
Para a falta da mulher e filho é que não havia nada que apaziguasse.
Ultrapassadas as desmotivações, há que passar à acção para concretizar o nosso desejo (meu e da minha mulher). Após as combinações telefónicas e escritas, marca-se a data para o encontro que virá a acontecer em finais de Setembro de 1973.
Há aqui que acrescentar, que esta decisão envolve um camarada e amigo meu que foi o Alferes Santos que estava também na CCAÇ 13 em Bissorã, e que já tinha estado comigo no Biambe, porque ambos pertencíamos ao BCAÇ 4610/72. De certo modo tínhamos em comum a maluqueira instalada nos nossos cérebros e pelos vistos ele foi mais maluco que eu, porque veio de férias à Metrópole, de propósito, para casar e como Núpcias ofereceu à sua novíssima esposa uma bela estadia em Bissorã, recheada de aventuras, tais como paludismo, mosquitos, osgas e até Guerra ao Vivo, mais à frente eu explico.
Mas voltando à minha Mulher de Guerra. Antes de historiar, vou começar por apresentá-la, pois que se publicares esta história, acho justo que conste o seu nome assim como o de meu filho. É que queira ou não, a minha MULHER DE GUERRA para além de todo o apoio sentimental que me proporcionou, fez história comigo porque passou por ter de enfrentar penosas viagens, instalações precárias, alimentação deficiente, mosquitos e dois ataques directos à nossa povoação, um dos quais com mísseis.
Ficou no entanto altamente enriquecida com o contacto que teve com as populações da Guiné e suas etnias, como libaneses e caboverdianos. Formámos uma amizade razoável com uma família libanesa e com o casal Administrador de Bissorã que eram de Cabo Verde.
O que mais me marcou tem a ver com os factos por mim já narrados no nosso Blogue, quando nos foi pedido que contássemos uma História de Natal e nessa eu tive o apoio incondicional da minha Mulher de Guerra. Quando tomei a decisão já narrada eu esperava que fosse enviado (recambiado) para a fronteira de castigo pelo atrevimento que tive de enfrentar o poder instalado, mas vá lá que os rapazes não foram mauzinhos e perdoaram cá o menino que nunca teve o espírito militar de que o meu respeitável Comandante me acusou, em direito de resposta, ao dito artigo de Natal.
A minha mulher manteve-se junto de mim, e mais uma vez faz história, ao sofrer um ataque no dia 31 de Dezembro de 1973 enquanto eu estava de prevenção, já que tínhamos ameaça de porrada o que veio a acontecer e ela cumpriu integralmente com as instruções por mim administradas. Enfiou-se no abrigo com o nosso filho mais o casal Santos e Zinha, enquanto eu andava como uma barata tonta a tentar organizar uma saída com o meu Grupo de Combate. Não esquecer da história de Natal, é que nesta altura cá o rapaz estava mal visto, só que continuava sendo um dos graduados daquele grupo que por acaso até estava de prevenção para um possível ataque. Enfim coisas que vida arranja, não é?
Mas íamos na barata tonta, ou seja baratas tontas, pois que passado o susto inicial era ver heróis a correr até ao arame, até Panhares foram ao arame. No entanto o meu Grupo saiu para o mato se bem que reforçado por mais pessoal da CCAÇ 13. Isto foi só um parêntesis, não resisti a uma provocaçãozinha, é que ainda dói.
A minha MULHER DE GUERRA ainda viveu mais umas histórias giras, tais como mais um ataque de mísseis e uma guerrita entre mim e o Comandante de Batalhão, por causa de um Furriel Guinéu que tinha o mau gosto de ser racista, isto já depois do 25 de Abril. A verdade é que ela também viveu lá essa data histórica e até teve o previlégio de, no dia em que eu tive o primeiro encontro com o PAIGC, durante uma picagem para o Olossato, em dia de reabastecimento, assistir a este encontro. Mais uma vez era cá o rapaz o protagonista e único graduado no primeiro contacto, após Abril e fim da guerra, teria mesmo de ser o menino mal visto. Está sempre em todas, olha se tivesse espírito militar!!!!)
A minha mulher foi depois comigo até ao ponto de encontro para confraternizar com o pessoal do PAIGC nesse memorável dia. Semanas mais tarde foi comigo passar um Domingo ao Biambe com os meus antigos Camaradas, mas isso dará outra história.
Bom, isto está mesmo a ficar longo e ainda não apresentei a minha MULHER DE GUERRA por tanto lá vai:
Nome de Guerra - NI
Nome próprio - MARIA DULCINEA ROCHA
Filho - MIGUEL NUNO, que tinha dois anos na altura
Embarcaram na TAP em finais de Setembro de 1973 até Bissau, de seguida seguiram comigo no interior de uma ambulância do Exército até Bissorã. Regressaram à Metrópole em 29 de Junho de 1974 tendo eu regressado em finais de Julho de 1974.
Carlos Vinhal tiveste um pouco de culpa por lançares este desafio, é que vieste lembrar algo que recordo com muito agrado e até dá vontade de escrever tintim por tintim, daí tanta escrita.
Envio algumas fotos da minha MULHER DE GUERRA em acção no Teatro de Guerra em Bissorã, Guiné, ano de 1973/1974.
Um abraço Carlos e restantes Tertulianos
Henrique Cerqueira
A Ni e a Zinha em treino de luta corpo a corpo... só para a fotografia
A Ni na ponte da outra banda em Bissorã
A Ni era dotada para a guerra. Ao fundo a minha macaca Gasolina de seu nome
A Ni e o Miguel fizeram muitas amizades com as pessoas da Guiné. Nesta foto, com o Homem Grande de Bossorã
O meu filho de guerra Miguel Nun0
Nesta foto: Sanhã, Zinha, Ni com a G3, fiel amigo Inhatna Biofa e o Miguel Nuno com um amiguinho
Henrique, filho Miguel Nuno, esposa NI, Zinha e marido Alf Santos
Fotos e legendas: © Henrique Cerqueira (2009). Direitos reservados
PS: Peço desculpa por numa das fotos aparecerem o Alferes Santos e sua Mulher ZINHA sem eu ter autorização para mostrar publicamente as suas imagens. Acontece que perdi o contacto deles e de certo modo pretendo prestar-lhes aqui a minha homenagem pelos tempos que passámos juntos. Para os dois um grande abraço.
Henrique Cerqueira
Ex-Fur Mil
3.ª Comp.ª/BCAÇ 4610/72
Biambe até Novembro de 1972
CCAÇ13 até Julho de 1974
Nota: Amigo Carlos não tenho grande jeito para a escrita se possível e for do interesse dá um jeitinho nisto. É que narrar é fácil (às vezes difícil), mas compor texto já é mais difícil. Uma vês mais grato pelo espaço ao nosso dispor.
__________
Notas de CV:
Vd. poste de 16 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3748: As nossas mulheres (4): Recortes de imprensa de uma noiva (Luís Faria)
Guiné 63/74 - P3778: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (17): O cerco que nunca existiu (António Martins de Matos)
Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > O Cor Art Ref Nuno Rubim, entre o Cor Cav Ref Carlos Matos Gomes e o Gringo de Guileje, o ex-Fur Mil Zé Carioca, da CCAÇ 3477 (Guileje, Nov 1971/Dez 1972), explicando pormenores da sua obra-prima que foi o diorama de Guileje...
O Nuno Rubim é um profundo conhecedor de Guileje. Recorde-se que ele comandou duas das unidades que passaram por Guileje: a CCAÇ 726 (Out 1964/Jul 1966) e a CCAÇ 1424 (Jan 1966/Dez 1966). É conhecido e acarinhada ainda hoje como o Capitão Fula.
Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados
1. Por sugestão minha, e na sequência da sua intervenção anterior (*), o António Martins de Matos, antigo Tenente Pil Av de Fiat G-91, na Guiné, no período de 1972/74 (e hoje Ten Gen da FAP na reserva), leu a comunicação do Nuno Rubim, Cor Art Ref, ao Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008), "A batalha de Guiledje: uma tentativa de reconstituição histórica em dioramas", que publicámos no nosso blogue, em quatro partes, no dia 13 de Julho de 2008 (**).
Adicionalmente, transmiti ao António Martins de Matos as seguintes informações que me foram dadas pelo Nuno Rubim, que é membro da nossa tertúlia, e que eu considero o maior conhecedor de Guileje:
(i) O Cor Art Ref Nuno Rubim é um reputado especialista em história da artilharia portuguesa, tem um currículo invejável, tem uma boa formação académica na área de história e possui, além disso, um vastíssimo conhecimento do antigo TO da Guiné e da actual Guiné-Bissau: esteve lá em duas comissões, é casado com uma guineense, passou por Guileje (duas companhias), pelos comandos, em 1964/66 e depois pelo QG, no tempo do Spínola, nos serviços de informação;
(ii) O Nuno Rubim tem acesso privilegiado a fontes de informação de arquivo e fontes pessoais (incluindo antigos dirigentes e combatentes do PAIGC). É, neste momento, o maior estudioso da guerra da Guiné: vai abrir, dentro em breve, um sítio na Net para divulgar as dezenas de Gigabites de informação sobre a guerra da Guiné (centenas de fotografias e documentos);
(iii) Em conversas com ele (funciona informalmente como nosso assessor militar em diversas matérias de que é especialista), garantiu-me que toda a artilharia do PAIGC (excepto as peças 130) estava dentro do nosso antigo território. Por outro lado, deu-me a informação de que até 1972 os Strellas já tinham abatido 52 aeronaves norte-americanas na guerra do Vietname, pelo que o Strella não era uma arma absolutamente nova quando apareceu na Guiné em Abril de 1973;
(iv) O então major de artilharia estava nessa altura a cumprir a sua segunda comissão na Guiné, colocado em Bissau, no QG, a executar uma missão ultra-secreta, e recorda-se bem dos contactos de emergência que foram feitos pela FAP com os nossos amigos americanos e aliados da NATO;
(v) Foi depois daí que a FAP passou a voar, com outro modus operandi, com as máquinas pintadas de verde azeitona (camuflagem), etc.;
(vi) Quanto aos bombardeamentos, antigos guerrilheiros do PAIGC que estiveram em Guileje, na sequência da Op Amílcar Cabral, disseram-lhe em Bissau (na altura do Simpósio Internacional de Guileje, 1-7 de Março de 2008) que as bombas, largadas pela FAP, cairam longe do alvo e e sem efeitos de maior...
(vii) Recordo-me ainda do Nuno Rubim ter escrito (e falado) a chamar a atenção para o facto de só um obus 14 estar operacional, em Guileje, e o que tiro estava regulado para a peça 11,4 - o que não é mesma coisa...
Pedi ao António Martins de Matos (que viu a guerra de Guileje, "de cima", como ele fez questão de sublinhar, na qualidade de Ten Pilav, e que veio aqui contestara ideia de "cerco do PAIGC" a Guileje) para comentar também alguns desses pontos, com o duplo objectivo de: (a) contribuir para um melhor conhecimento dos acontecimentos relacionados com a retirada de Guileje; e (b) ajudar os nossos leitores a organizar a sua informação (leitores, como eu, que, na generalidade, são leigos em muitas destas matérias, desde a artilharia à aviação).
Dei depois conhecimento prévio ao Nuno da resposta do António. O Nuno acedeu, a título excepcional, responder no blogue, em público, aos comentários do António. Resposta essa que publicaremos numa próxima oportunidade. (LG)
2. Ainda Guileje e as missões (***)
por António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, Bissalanca, 1972/74)
[Revisão e fixação de texto: L.G.]
Caro amigo
Li a comunicação do Nuno Rubim (**) e não concordo com as suas (dele) conclusões.
Apenas alguns pontos:
(i) Os alcances das armas do PAIGC não estão correctos, podendo ser bastante superiores ao indicado;
(ii) Não se percebe se a Ordem de Operações que está na sua apresentação, foi ou não a indicada para o ataque ao Guilege em Maio73; a ser, está escrito “reconhecer a melhor posição junto à fronteira para colocar os morteiros de 120”;
(iii) A ordem de operações do PAIGC indica 3 pelotões de artilharia, a 3 canhões cada e 30 granadas, o que dá no total 270 granadas, 1000 kilos a serem transportados por 20 carregadores, o que estará correcto, partindo do princípio que estes são do tipo “forte e bem constituído”;
(iv) Conforme o plano, o dispositivo era 1 pelotão para Guileje, outro para Ganturé e outro para Gadamael. Ora, com estas contas, o Guileje tinha que se “haver” com 90 granadas. No entanto, é referido noutros documentos que o Guileje foi bombardeado com cerca de 1000 granadas;
(v) Poder-se-á especular que as restantes 900 munições seriam de morteiro, só que essa granadas pesariam qualquer coisa como 13 toneladas (já seriam precisos 260 carregadores dos tais fortes e bem constituídos).
(vi Das duas três, ou os ataques foram do “estrangeiro” [Guiné-Conacri], onde o PAIGC teve tempo suficiente para ir armazenando as suas munições, ou os bombardeamentos foram significativamente mais pequenos.
A meu ver, estes tópicos fazem com que a teoria do Nuno Rubim caia por terra;
O facto do militar guineense ter dito “que foi mesmo mesmo assim” só vem reforçar a minha teoria de que o cerco do Guileje não existiu e tudo foi composto à posteriori.
Atrevo-me até a especular que, se o Guileje estivesse cercado nunca teria sido abandonado, pois teria havido contacto com a nossa tropa e o pessoal teria regressado ao quartel “em passo de corrida”.
No que refere à pintura dos aviões, de referir que entre 1972 e 1974 os FIAT G-91 não tinham camuflagem, eram cinzentos, e os DO-27 eram, imagine-se, cinzento prateado com pontas vermelhas, as cores com que se pintavam os aviões de instrução.
Foi só em Março de 1974 que apareceu o primeiro (e único) FIAT G-91 pintado de verde azeitona.
Em relação ao Strella a ao apoio dado pelos americanos, ele resumiu-se única e exclusivamente na entrega de documentação com as suas características.
Com base nesse documento e após o estudo do mesmo (durante um dia não houve actividade aérea), foi a FAP que definiu e pôs em prática o seu novo modus operandi.
De referir que o Strella apenas teve êxito enquanto foi considerado uma arma desconhecida. Após o conhecimento das suas características e ao contrário do que muitos pensam, continuaram a ser as anti-aéreas as armas que mais incomodavam os aviadores.
Por fim e em relação ao Vietnam, o Strella apareceu em 1972, e, no documento que te envio [ficheiro em formato.pdf], poderás verificar as baixas americanas ao longo dos anos e por tipo.
Um abraço
António Martins Matos
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
14 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)
17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3752: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (13): A missão de apoio aéreo de 21 de Maio de 1973 (António Martins Matos)
(**) Vd. postes de:
13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3054: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (1): Como dar a volta aos Strella ?
13 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3055: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (2): Slides (1 a 4): O sector sul
13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3056: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (3): Slides (de 5 a 9): Comparando os armamentos
13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3058: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (4): Slides (de 10 a 18): Dos Strellas à Op Amílcar Cabral
(***) Vd. os três últimos (mais recentes) postes da série A retirada de Guileje...
20 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3764: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (16): As CCAV 8350 e 8351: Tão perto e tão longe (Vasco da Gama)
19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3760: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (15): A minha homenagem aos que viveram a Guerra da Guiné. (J. Mexia Alves)
17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3754: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (14): Pode não ser-se herói e dar provas de coragem (José Manuel Dinis)
O Nuno Rubim é um profundo conhecedor de Guileje. Recorde-se que ele comandou duas das unidades que passaram por Guileje: a CCAÇ 726 (Out 1964/Jul 1966) e a CCAÇ 1424 (Jan 1966/Dez 1966). É conhecido e acarinhada ainda hoje como o Capitão Fula.
Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados
1. Por sugestão minha, e na sequência da sua intervenção anterior (*), o António Martins de Matos, antigo Tenente Pil Av de Fiat G-91, na Guiné, no período de 1972/74 (e hoje Ten Gen da FAP na reserva), leu a comunicação do Nuno Rubim, Cor Art Ref, ao Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008), "A batalha de Guiledje: uma tentativa de reconstituição histórica em dioramas", que publicámos no nosso blogue, em quatro partes, no dia 13 de Julho de 2008 (**).
Adicionalmente, transmiti ao António Martins de Matos as seguintes informações que me foram dadas pelo Nuno Rubim, que é membro da nossa tertúlia, e que eu considero o maior conhecedor de Guileje:
(i) O Cor Art Ref Nuno Rubim é um reputado especialista em história da artilharia portuguesa, tem um currículo invejável, tem uma boa formação académica na área de história e possui, além disso, um vastíssimo conhecimento do antigo TO da Guiné e da actual Guiné-Bissau: esteve lá em duas comissões, é casado com uma guineense, passou por Guileje (duas companhias), pelos comandos, em 1964/66 e depois pelo QG, no tempo do Spínola, nos serviços de informação;
(ii) O Nuno Rubim tem acesso privilegiado a fontes de informação de arquivo e fontes pessoais (incluindo antigos dirigentes e combatentes do PAIGC). É, neste momento, o maior estudioso da guerra da Guiné: vai abrir, dentro em breve, um sítio na Net para divulgar as dezenas de Gigabites de informação sobre a guerra da Guiné (centenas de fotografias e documentos);
(iii) Em conversas com ele (funciona informalmente como nosso assessor militar em diversas matérias de que é especialista), garantiu-me que toda a artilharia do PAIGC (excepto as peças 130) estava dentro do nosso antigo território. Por outro lado, deu-me a informação de que até 1972 os Strellas já tinham abatido 52 aeronaves norte-americanas na guerra do Vietname, pelo que o Strella não era uma arma absolutamente nova quando apareceu na Guiné em Abril de 1973;
(iv) O então major de artilharia estava nessa altura a cumprir a sua segunda comissão na Guiné, colocado em Bissau, no QG, a executar uma missão ultra-secreta, e recorda-se bem dos contactos de emergência que foram feitos pela FAP com os nossos amigos americanos e aliados da NATO;
(v) Foi depois daí que a FAP passou a voar, com outro modus operandi, com as máquinas pintadas de verde azeitona (camuflagem), etc.;
(vi) Quanto aos bombardeamentos, antigos guerrilheiros do PAIGC que estiveram em Guileje, na sequência da Op Amílcar Cabral, disseram-lhe em Bissau (na altura do Simpósio Internacional de Guileje, 1-7 de Março de 2008) que as bombas, largadas pela FAP, cairam longe do alvo e e sem efeitos de maior...
(vii) Recordo-me ainda do Nuno Rubim ter escrito (e falado) a chamar a atenção para o facto de só um obus 14 estar operacional, em Guileje, e o que tiro estava regulado para a peça 11,4 - o que não é mesma coisa...
Pedi ao António Martins de Matos (que viu a guerra de Guileje, "de cima", como ele fez questão de sublinhar, na qualidade de Ten Pilav, e que veio aqui contestara ideia de "cerco do PAIGC" a Guileje) para comentar também alguns desses pontos, com o duplo objectivo de: (a) contribuir para um melhor conhecimento dos acontecimentos relacionados com a retirada de Guileje; e (b) ajudar os nossos leitores a organizar a sua informação (leitores, como eu, que, na generalidade, são leigos em muitas destas matérias, desde a artilharia à aviação).
Dei depois conhecimento prévio ao Nuno da resposta do António. O Nuno acedeu, a título excepcional, responder no blogue, em público, aos comentários do António. Resposta essa que publicaremos numa próxima oportunidade. (LG)
2. Ainda Guileje e as missões (***)
por António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, Bissalanca, 1972/74)
[Revisão e fixação de texto: L.G.]
Caro amigo
Li a comunicação do Nuno Rubim (**) e não concordo com as suas (dele) conclusões.
Apenas alguns pontos:
(i) Os alcances das armas do PAIGC não estão correctos, podendo ser bastante superiores ao indicado;
(ii) Não se percebe se a Ordem de Operações que está na sua apresentação, foi ou não a indicada para o ataque ao Guilege em Maio73; a ser, está escrito “reconhecer a melhor posição junto à fronteira para colocar os morteiros de 120”;
(iii) A ordem de operações do PAIGC indica 3 pelotões de artilharia, a 3 canhões cada e 30 granadas, o que dá no total 270 granadas, 1000 kilos a serem transportados por 20 carregadores, o que estará correcto, partindo do princípio que estes são do tipo “forte e bem constituído”;
(iv) Conforme o plano, o dispositivo era 1 pelotão para Guileje, outro para Ganturé e outro para Gadamael. Ora, com estas contas, o Guileje tinha que se “haver” com 90 granadas. No entanto, é referido noutros documentos que o Guileje foi bombardeado com cerca de 1000 granadas;
(v) Poder-se-á especular que as restantes 900 munições seriam de morteiro, só que essa granadas pesariam qualquer coisa como 13 toneladas (já seriam precisos 260 carregadores dos tais fortes e bem constituídos).
(vi Das duas três, ou os ataques foram do “estrangeiro” [Guiné-Conacri], onde o PAIGC teve tempo suficiente para ir armazenando as suas munições, ou os bombardeamentos foram significativamente mais pequenos.
A meu ver, estes tópicos fazem com que a teoria do Nuno Rubim caia por terra;
O facto do militar guineense ter dito “que foi mesmo mesmo assim” só vem reforçar a minha teoria de que o cerco do Guileje não existiu e tudo foi composto à posteriori.
Atrevo-me até a especular que, se o Guileje estivesse cercado nunca teria sido abandonado, pois teria havido contacto com a nossa tropa e o pessoal teria regressado ao quartel “em passo de corrida”.
No que refere à pintura dos aviões, de referir que entre 1972 e 1974 os FIAT G-91 não tinham camuflagem, eram cinzentos, e os DO-27 eram, imagine-se, cinzento prateado com pontas vermelhas, as cores com que se pintavam os aviões de instrução.
Foi só em Março de 1974 que apareceu o primeiro (e único) FIAT G-91 pintado de verde azeitona.
Em relação ao Strella a ao apoio dado pelos americanos, ele resumiu-se única e exclusivamente na entrega de documentação com as suas características.
Com base nesse documento e após o estudo do mesmo (durante um dia não houve actividade aérea), foi a FAP que definiu e pôs em prática o seu novo modus operandi.
De referir que o Strella apenas teve êxito enquanto foi considerado uma arma desconhecida. Após o conhecimento das suas características e ao contrário do que muitos pensam, continuaram a ser as anti-aéreas as armas que mais incomodavam os aviadores.
Por fim e em relação ao Vietnam, o Strella apareceu em 1972, e, no documento que te envio [ficheiro em formato.pdf], poderás verificar as baixas americanas ao longo dos anos e por tipo.
Um abraço
António Martins Matos
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
14 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)
17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3752: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (13): A missão de apoio aéreo de 21 de Maio de 1973 (António Martins Matos)
(**) Vd. postes de:
13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3054: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (1): Como dar a volta aos Strella ?
13 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3055: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (2): Slides (1 a 4): O sector sul
13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3056: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (3): Slides (de 5 a 9): Comparando os armamentos
13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3058: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (4): Slides (de 10 a 18): Dos Strellas à Op Amílcar Cabral
(***) Vd. os três últimos (mais recentes) postes da série A retirada de Guileje...
20 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3764: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (16): As CCAV 8350 e 8351: Tão perto e tão longe (Vasco da Gama)
19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3760: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (15): A minha homenagem aos que viveram a Guerra da Guiné. (J. Mexia Alves)
17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3754: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (14): Pode não ser-se herói e dar provas de coragem (José Manuel Dinis)
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Guiné 63/74 - P3777: O Nosso Livro de Visitas (54): Um camarada da diáspora, José Câmara, da açoriana CCAÇ 3327 (1971/73)
1. José Câmara deixou, no dia 17 de Janeiro de 2009, este comentário no poste Guiné 63/74 - P3743: Estórias de Jorge Fontinha (3): O meu Grupo de Combate (Jorge Fontinha):
Pertenci à CCaç 3327, companhia de açorianos, que esteve acampada na Mata dos Madeiros, nos dois destacamentos à esquerda da estrada, a seguir ao Bachile. Fomos para lá a 6 de Abril de 1971. Na altura, o comandante do CAOP1 era, de facto, o Sr. Coronel Amaral. Ficou célebre a procissão de velas, em honra a Nossa Senhora de Fátima, que fizemos em plena mata, e na qual participou o referido Coronel. Nervosamente, claro... e não era para menos.
Já foi sobre as ordens do Tenente Coronel Durão, que se realizou a Operação SEMPRE ALERTA, nos fins do mês de Junho [de 1971]. Nessa operação participaram todas as forças envolvidas na proteção da referida estrada Teixeira Pinto/Cacheu: infantaria, comandos, fuzileiros e paraquedistas.
Foi nessas andanças da Mata dos Madeiros que conheci o Furriel Chaves, natural da ilha de Santa Maria. Nunca mais soube dele.
Cumprimentos,
José Câmara
Stoughton, MA
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3759: O Nosso Livro de Visitas (53): Em busca da história dos nossos Pais (B. Baldé, BIDMC/Harvard, EUA)
Pertenci à CCaç 3327, companhia de açorianos, que esteve acampada na Mata dos Madeiros, nos dois destacamentos à esquerda da estrada, a seguir ao Bachile. Fomos para lá a 6 de Abril de 1971. Na altura, o comandante do CAOP1 era, de facto, o Sr. Coronel Amaral. Ficou célebre a procissão de velas, em honra a Nossa Senhora de Fátima, que fizemos em plena mata, e na qual participou o referido Coronel. Nervosamente, claro... e não era para menos.
Já foi sobre as ordens do Tenente Coronel Durão, que se realizou a Operação SEMPRE ALERTA, nos fins do mês de Junho [de 1971]. Nessa operação participaram todas as forças envolvidas na proteção da referida estrada Teixeira Pinto/Cacheu: infantaria, comandos, fuzileiros e paraquedistas.
Foi nessas andanças da Mata dos Madeiros que conheci o Furriel Chaves, natural da ilha de Santa Maria. Nunca mais soube dele.
Cumprimentos,
José Câmara
Stoughton, MA
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3759: O Nosso Livro de Visitas (53): Em busca da história dos nossos Pais (B. Baldé, BIDMC/Harvard, EUA)
Guiné 63/74 - P3776: O Nosso Livro de Visitas (53A): José Carmino Videira Azevedo, Soldado Condutor, CCS/BCAV 2868 (Bula, 1969/70)
Apresenta-se
A CCav 2487 participou na Operação “Ostra Amarga”, onde estava presente a televisão Francesa, convivi de perto com os malogrados Capela e Henrique.
1. Caro José Videira Azevedo: já sabemos que falaste ao telefone com o Luís Graça. E pelo Luís ficamos a saber que és Presidente da Junta da linda freguesia de Vale Frechoso. E que ainda guardas muitas memórias da Guiné. Da tão falada op "Ostra Amarga", do Capela, do Henrique, dos jornalistas franceses, do então cap Sentieiro (falei com ele há dias) e de muitos outros factos que viveste e que esperamos venhas a compartilhar com a Tabanca, de que a partir de agora és elemento da linha da frente. Aguardamos as tuas fotos de "ontem" e de hoje. E dos teus relatos.
2. Os deputados envolvidos no acidente (25 de Julho de 1970, no Rio Mansoa) a que o José Azevedo se refere foram: José Pedro Pinto Leite, Leonardo Coimbra, Vicente de Abreu e Pinto Bull, para além do piloto, Alf Mil Av Francisco Lopes Manso, e do Cap Cav José Carvalho Andrade.
3. Artigos sobre a operação "Ostra Amarga" publicados em
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote) e sobre o BCav 2868 em
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)
José Carmino Videira Azevedo, natural e residente na linda freguesia de Vale Frechoso, concelho de Vila Flor, Distrito de Bragança. Soldado Condutor Auto Rodas 045807/68, estive em Bula, CCS/BCAV 2868, “o Chicote”.
A CCav 2487 participou na Operação “Ostra Amarga”, onde estava presente a televisão Francesa, convivi de perto com os malogrados Capela e Henrique.
Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2862 (1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Imagem da reportagem "Guerre en Guinée", que passou na televisão francesa em 11 de Novembro de 1969, no programa "Point Contrepoint".
Foto: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006).
Presenciei a infeliz ideia do Spínola de mandar para a morte os Majores Passos Ramos, Pereira da Silva, Osório, alferes Mosca e os nativos Mamadu Sisse e Carlos Patrão.
Fui incumbido de fazer o transporte de géneros para abastecer PCA do Batalhão. Fiz o percurso Bula-Bissau-Bula, atravessei várias vezes o rio Mansoa, onde caiu o helicóptero que transportava os deputados à ex-Assembleia Nacional.
Vale Frechoso, 21 de Janeiro de 2009
__________
Notas de vb:
1. Caro José Videira Azevedo: já sabemos que falaste ao telefone com o Luís Graça. E pelo Luís ficamos a saber que és Presidente da Junta da linda freguesia de Vale Frechoso. E que ainda guardas muitas memórias da Guiné. Da tão falada op "Ostra Amarga", do Capela, do Henrique, dos jornalistas franceses, do então cap Sentieiro (falei com ele há dias) e de muitos outros factos que viveste e que esperamos venhas a compartilhar com a Tabanca, de que a partir de agora és elemento da linha da frente. Aguardamos as tuas fotos de "ontem" e de hoje. E dos teus relatos.
2. Os deputados envolvidos no acidente (25 de Julho de 1970, no Rio Mansoa) a que o José Azevedo se refere foram: José Pedro Pinto Leite, Leonardo Coimbra, Vicente de Abreu e Pinto Bull, para além do piloto, Alf Mil Av Francisco Lopes Manso, e do Cap Cav José Carvalho Andrade.
3. Artigos sobre a operação "Ostra Amarga" publicados em
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote) e sobre o BCav 2868 em
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)
4. Último artigo da série em
Guiné 63/74 - P3775: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (3): Ir a Mansoa, não é perigoso?
1. Mensagem de António Paiva, ex-Sold Cond no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 18 de Janeiro de 2009:
Caros Luís, Carlos e Virgínio
Quando a oportunidade surgia, tínhamos que a aproveitar e, ala que se faz tarde, lá ia eu uma vez mais até Nhacra, com mais dois ou três camaradas para uns banhos na piscina, ao mesmo tempo se aproveitava para o bacalhau assado da tia Carlota.
Se quando vim da Guiné não tivesse feito a maior asneira da minha vida, casar com a mulher errada, talvez hoje as histórias que vou contando tivessem dia e hora, mas como tudo o que trouxe foi destruído, não me é possível dar com exactidão os factos.
Mas vamos à história:
Ir a Mansoa? - O susto ou o medo?
Mansoa > Ponte sobre o Rio Mansoa.
Foto de J. Mexia Alves, editada por CV
Um domingo, igual a outros lá passados, que veio a ser diferente. Arrancámos para Nhacra, sete ou oito em dois jeeps, para o nosso requintado banho, sem sauna nem massagens, para aliviar um pouco o espírito das desgraças do nosso trabalho.
Quando lá estávamos a tomar o nosso banho, pela primeira vez, ouvimos com mais intensidade os rebentamentos em Mansoa, o cantarolar daquelas bocas férreas, expelindo seus dentes para fazer suas vítimas. Penso que nunca tínhamos ouvido a guerra tão perto. Mal pensávamos na surpresa que aí vinha.
Estávamos no banho, quando um furriel ou sargento veio à piscina e só disse:
- Pessoal do hospital, já para baixo.
Tudo foi espontâneo ou característico da prontidão.
Enfiamos camisas, calções e sapatos, ainda um pouco molhados e arrancámos.
Posso dizer que aqueles 32Kms, se a memória hoje não me engana, foram feitos em tempo recorde.
Quem devia ter ficado com as cabeças a abanar foram os senhores Oficiais que se encontravam em Safim, acompanhados de suas esposas ou amantes, amigas ou companheiras a bebericarem refastelados as suas cervejas e whisky com acompanhamento de ostras e camarão, quando viram passar à frente dos seus olhos dois jeeps voadores.
Sim, porque a ponte que estava uns metros antes fazia lomba, o que, à velocidade a que vínhamos, fez levantar as rodas do chão. Logo pensei:
- Estamos feitos com estes gajos, vão participar de nós. Tal não veio a acontecer.
Chegados ao hospital, deparámos com um cenário nada familiar. Companheiros do dia-a-dia com camuflados vestidos e com G3, em frente à escadaria do hospital. Tal foi meu espanto que me levou a pedir ao Altíssimo que não me desse maus pensamentos.
O Tenente Teixeira, me diz:
- Paiva, vai vestir o camuflado e levanta uma pistola na Formação.
Olhei-o com espanto.
- Vá despacha-te, devemos ter de ir a Mansoa.
Bem, lá fui direito à caserna vestir, pela primeira vez, o meu fato de trabalho no exterior, já o tinha vestido mais vezes, mas só para a fotografia.
Passo pela Formação e levanto a maquineta dos supositórios, foi a primeira vez que em tal menina peguei, nem sabia como trabalhar com ela, se dava coices ou não, olhei para ela e ri-me. Esquerdo ou direito, que lado queres? Não tinha praticado para pistoleiro. Levei-a na mão e passei pela Cantina para beber um whisky, talvez o último. Quem saberia?
Segui para cima, a juntar-me aos que lá estavam, para me inteirar da situação que era a seguinte:
Como os helicópteros não podiam lá descer, teríamos de ser nós, por terra, a lá entrar para trazer os mortos e os feridos que lá houvesse.
Cada ambulância ia com o condutor, como era óbvio, mais dois elementos armados com G3.
Aguardava-se ordem para sair.
Entretanto, ia-se questionando:
Como entramos? Por onde? Como vamos ser recebidos? Não somos operacionais, não temos conhecimento de mato, talvez não ataquem as ambulâncias. Quando lá estivermos vai ser tudo ao molho e fé em Deus. Tudo isto, santa ignorância.
O Tenente Teixeira tranquilizou:
- Não tenham medo, vão ter à vossa espera tropas de lá, com dois blindados para vos acompanhar.
Em forma de brincadeira ainda se dizia:
- Vamos armados, ninguém se mete connosco, somos guerreiros do melhor.
Uma porra, era o medo que se tinha instalado em nós, que comprimindo-nos os nervos e o corpo, nos obrigava a frases estúpidas.
Pela minha parte, estava tão seguro que disse a um companheiro do dia-a-dia, dando-lhe nome e morada, se me acontecer alguma coisa de maior escreve para esta rapariga e conta-lhe a verdade, ela o saberá dizer a meus pais de forma mais suave.
Passada uma hora ou coisa assim, tudo voltou ao principio, a nossa saída para Mansoa ficava sem efeito.
Sabíamos perfeitamente, que antes de lá chegarmos teríamos o apoio das NT para nos indicarem o caminho e nos protegerem, nós íamos ser os estranhos num mundo desconhecido.
Só não cheguei a entender a razão de irmos armados. Juntos com as NT o melhor era ficarmos quietinhos para não fazermos asneiras, se encontrássemos o IN teríamos de nos sentar em círculo com uma garrafinha de aguardente de cana para decidir quem passava primeiro.
Fui á Formação e entreguei a maquineta dos supositórios que me tinham dado.
Fui à caserna e tirei o fato de trabalho no exterior.
Fui à cantina e bebi outro whisky, para fazer ver ao primeiro que não tinha sido o último.
Aos jovens daquele tempo estávamos sempre prontos a ajudar, dentro ou fora, não hesitávamos.
Gostava de saber onde param os jovens do meu tempo, com quem partilhámos a vida do Hospital.
Um abraço
António Paiva
__________
Notas de CV:
Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3641: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (2): Aventura de Domingo
Vd. último poste de António Paiva de 28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3676: As Nossas Mulheres (3): Um poema da minha Mãe, Leopoldina Duarte (António Paiva)
Caros Luís, Carlos e Virgínio
Quando a oportunidade surgia, tínhamos que a aproveitar e, ala que se faz tarde, lá ia eu uma vez mais até Nhacra, com mais dois ou três camaradas para uns banhos na piscina, ao mesmo tempo se aproveitava para o bacalhau assado da tia Carlota.
Se quando vim da Guiné não tivesse feito a maior asneira da minha vida, casar com a mulher errada, talvez hoje as histórias que vou contando tivessem dia e hora, mas como tudo o que trouxe foi destruído, não me é possível dar com exactidão os factos.
Mas vamos à história:
Ir a Mansoa? - O susto ou o medo?
Mansoa > Ponte sobre o Rio Mansoa.
Foto de J. Mexia Alves, editada por CV
Um domingo, igual a outros lá passados, que veio a ser diferente. Arrancámos para Nhacra, sete ou oito em dois jeeps, para o nosso requintado banho, sem sauna nem massagens, para aliviar um pouco o espírito das desgraças do nosso trabalho.
Quando lá estávamos a tomar o nosso banho, pela primeira vez, ouvimos com mais intensidade os rebentamentos em Mansoa, o cantarolar daquelas bocas férreas, expelindo seus dentes para fazer suas vítimas. Penso que nunca tínhamos ouvido a guerra tão perto. Mal pensávamos na surpresa que aí vinha.
Estávamos no banho, quando um furriel ou sargento veio à piscina e só disse:
- Pessoal do hospital, já para baixo.
Tudo foi espontâneo ou característico da prontidão.
Enfiamos camisas, calções e sapatos, ainda um pouco molhados e arrancámos.
Posso dizer que aqueles 32Kms, se a memória hoje não me engana, foram feitos em tempo recorde.
Quem devia ter ficado com as cabeças a abanar foram os senhores Oficiais que se encontravam em Safim, acompanhados de suas esposas ou amantes, amigas ou companheiras a bebericarem refastelados as suas cervejas e whisky com acompanhamento de ostras e camarão, quando viram passar à frente dos seus olhos dois jeeps voadores.
Sim, porque a ponte que estava uns metros antes fazia lomba, o que, à velocidade a que vínhamos, fez levantar as rodas do chão. Logo pensei:
- Estamos feitos com estes gajos, vão participar de nós. Tal não veio a acontecer.
Chegados ao hospital, deparámos com um cenário nada familiar. Companheiros do dia-a-dia com camuflados vestidos e com G3, em frente à escadaria do hospital. Tal foi meu espanto que me levou a pedir ao Altíssimo que não me desse maus pensamentos.
O Tenente Teixeira, me diz:
- Paiva, vai vestir o camuflado e levanta uma pistola na Formação.
Olhei-o com espanto.
- Vá despacha-te, devemos ter de ir a Mansoa.
Bem, lá fui direito à caserna vestir, pela primeira vez, o meu fato de trabalho no exterior, já o tinha vestido mais vezes, mas só para a fotografia.
Passo pela Formação e levanto a maquineta dos supositórios, foi a primeira vez que em tal menina peguei, nem sabia como trabalhar com ela, se dava coices ou não, olhei para ela e ri-me. Esquerdo ou direito, que lado queres? Não tinha praticado para pistoleiro. Levei-a na mão e passei pela Cantina para beber um whisky, talvez o último. Quem saberia?
Segui para cima, a juntar-me aos que lá estavam, para me inteirar da situação que era a seguinte:
Como os helicópteros não podiam lá descer, teríamos de ser nós, por terra, a lá entrar para trazer os mortos e os feridos que lá houvesse.
Cada ambulância ia com o condutor, como era óbvio, mais dois elementos armados com G3.
Aguardava-se ordem para sair.
Entretanto, ia-se questionando:
Como entramos? Por onde? Como vamos ser recebidos? Não somos operacionais, não temos conhecimento de mato, talvez não ataquem as ambulâncias. Quando lá estivermos vai ser tudo ao molho e fé em Deus. Tudo isto, santa ignorância.
O Tenente Teixeira tranquilizou:
- Não tenham medo, vão ter à vossa espera tropas de lá, com dois blindados para vos acompanhar.
Em forma de brincadeira ainda se dizia:
- Vamos armados, ninguém se mete connosco, somos guerreiros do melhor.
Uma porra, era o medo que se tinha instalado em nós, que comprimindo-nos os nervos e o corpo, nos obrigava a frases estúpidas.
Pela minha parte, estava tão seguro que disse a um companheiro do dia-a-dia, dando-lhe nome e morada, se me acontecer alguma coisa de maior escreve para esta rapariga e conta-lhe a verdade, ela o saberá dizer a meus pais de forma mais suave.
Passada uma hora ou coisa assim, tudo voltou ao principio, a nossa saída para Mansoa ficava sem efeito.
Sabíamos perfeitamente, que antes de lá chegarmos teríamos o apoio das NT para nos indicarem o caminho e nos protegerem, nós íamos ser os estranhos num mundo desconhecido.
Só não cheguei a entender a razão de irmos armados. Juntos com as NT o melhor era ficarmos quietinhos para não fazermos asneiras, se encontrássemos o IN teríamos de nos sentar em círculo com uma garrafinha de aguardente de cana para decidir quem passava primeiro.
Fui á Formação e entreguei a maquineta dos supositórios que me tinham dado.
Fui à caserna e tirei o fato de trabalho no exterior.
Fui à cantina e bebi outro whisky, para fazer ver ao primeiro que não tinha sido o último.
Aos jovens daquele tempo estávamos sempre prontos a ajudar, dentro ou fora, não hesitávamos.
Gostava de saber onde param os jovens do meu tempo, com quem partilhámos a vida do Hospital.
Um abraço
António Paiva
__________
Notas de CV:
Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3641: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (2): Aventura de Domingo
Vd. último poste de António Paiva de 28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3676: As Nossas Mulheres (3): Um poema da minha Mãe, Leopoldina Duarte (António Paiva)
Guiné 63/74 - P3774: Histórias de um oficial de CHERET (José Paracana (2): Lembrando a figura de Barros Moura
1. Mensagem de José Paracana (1), ex-Alf Mil, QG, Bissau, 1971/73, com data de 17 de Janeiro de 2009:
Caro camarada Carlos!
Estou ainda para descobrir onde meti o raio dos documentos confidenciais que subtraí do meu serviço xeret na Guiné.
Entretanto, vai um episódio sobre um camarada que já faleceu: o depois deputado, IBM - como era conhecido em Coimbra, pelos colegas da Universidade.
O Barros Moura (o I era para inteligente) (*) era de facto excepcional. Dono de grande cabeça e espírito combativo. Com as lutas e greves da academia, nos anos 60, foi castigado e incorporado no Exército, como outros, do reviralho actuante!
Ele foi comigo e mais umas centenas, no navio Uíge.
Já na Guiné, e no Cumeré, onde o Spínola recebia e falava às tropas... aconteceu que, o nosso General mandou que todos os que eram estudantes - ou vinham formados da Universidade de Coimbra (a Pátria da contestação, no entender dele) - fossem dirigidos para uma sala onde perorou sobre o nosso destino e missão:
- Estão aqui a defender a Pátria transcontinental - e essas coisas do estilo, em voga na época!
Lembro que ao reparar finalmente no Barros Moura, que fora como aspirante para a Guiné, lhe fez um reparo:
- Oh, nosso aspirante! Então não se envergonha de ser o único aspirante em toda a Guiné?
Ao que lesto e fatal - como só ele sabia - saiu a resposta demolidora:
- Eu? Eu não, meu General! O senhor envergonha-se de ser o único General em toda a Guiné?
Foi risota geral, e o senhor do monóculo... cavalheiresco, engoliu o sapo e acompanhou a galhofa!
Mas espero bem depressa encontrar os docs que tenho em casa, para rir mais um pouco da loucura que todas as guerrilhas ou guerras contêm!
Abraços fraternos do camarada
José Paracana
ex-Alf Mil
Bissau, 1971/73
__________
Notas de CV:
(*) José Barros Moura
José Barros Moura (Porto, 8 de Outubro de 1944 - 25 de Março de 2003) foi um político português.
Iniciou a actividade política nas lutas académicas, em 1962, o que lhe valeu ser expulso da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Licenciou-se em Coimbra, onde entretanto voltou a envolver-se, como dirigente associativo, na luta académica de 1969, já como militante do PCP, o que lhe valeu a alcunha de IBM (Inteligente Barros Moura).
Incorporado compulsivamente nas fileiras do exército português, foi enviado para a Guiné, a pior frente de combate na Guerra Colonial Manteve-se no PCP durante 27 anos, afastando-se na altura da perestroika. Adere então à Plataforma de Esquerda, grupo formado por dissidentes comunistas e integrado, entre outros, por Miguel Portas, Joaquim Pina Moura, Daniel Oliveira e José Magalhães. Em 1999 adere ao PS, de que já era deputado independente eleito para o Parlamento Europeu. Eleito para a Assembleia da República, foi vice-presidente da bancada parlamentar socialista.
Foi também presidente da Assembleia Municipal de Felgueiras, cargo que abandonou por discordar do estilo de gestão imprimido pela presidente do município, Fátima Felgueiras.
Entre 1988 e 2003 exerceu funções docentes na Universidade Autónoma de Lisboa (Departamento de Direito).
Retirado da Wikipédia com a devida vénia
__________
(1) Vd último poste de José Paracana de 21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3494: Histórias de um oficial da CHERET (José Paracana) (1): Alfero, quer parte cabaço ?
Guiné 63/74 - P3773: Efemérides (15): Agosto de 1974, Mansoa, com 22 meses de comissão, a morte do Soldado Oldegário. (Eduardo Ribeiro/ Jorge Canhão)
Oldegário Alberto da Cruz Libório
1. Último artigo da série em
19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3761: Efemérides (14): 19 de Janeiro de 1971, estrada Bula-S. Vicente...(António Matos)
Homenagem ao último soldado da 3ª Cª do B. Caç. 4612/72, que faleceu em 18 de Outubro de 1974, devido a grave ferimento num acidente no quartel de Mansoa, de nome Oldegário Alberto da Cruz Libório (natural da freguesia da Sé, em Faro).
Por Magalhães Ribeiro
Furriel Mil.º da CCS do BCaç. 4612/74 e
Jorge Canhão
Furriel Mil.º da 3ª Cªdo B. Caç. 4612/72
Furriel Mil.º da 3ª Cªdo B. Caç. 4612/72
O episódio mais pungente que presenciámos em toda a nossa vida militar e civil, e que nos traumatizou para o resto das nossas vidas, aconteceu com 2 infelizes soldados da 3ª Companhia do BCaç 4612/72, nas últimas horas que permaneciam na Guiné, após 22 meses de sacrificada e penosa comissão, quando se encontravam com o restante pessoal da companhia a entregar o armamento em sua posse, na arrecadação de material de guerra, nomeadamente as G3 e os respectivos carregadores , e foram protagonistas de um terrível e trágico acidente.
Tudo se passou num triste dia de Agosto de 1974, no quartel de Mansoa, quando eu conversava com o Furriel Miliciano Jorge Canhão da mesma companhia (meu grande amigo pessoal e nosso camarada bloguista), e íamos observando o seu pessoal, que por ali, espalhado em frente à arrecadação de material de guerra, cumpria uma das suas últimas ordens, que era a de entregar o material de guerra a seu cargo.
Tudo se passou num triste dia de Agosto de 1974, no quartel de Mansoa, quando eu conversava com o Furriel Miliciano Jorge Canhão da mesma companhia (meu grande amigo pessoal e nosso camarada bloguista), e íamos observando o seu pessoal, que por ali, espalhado em frente à arrecadação de material de guerra, cumpria uma das suas últimas ordens, que era a de entregar o material de guerra a seu cargo.
Indigitados para controlar as actividades estavam dois furriéis milicianos e um 1º Cabo. Enquanto um dos furriéis – o Jorge Canhão - acompanhava a fase que incluía desmontar, limpar e montar as G3s, e esvaziar de balas e limpar os respectivos carregadores, o segundo furriel inspeccionava juntamente com o 1º Cabo (sentados num banco dentro da arrecadação), se tudo estava funcional antes da entrega definitiva.
Estava tudo a decorrer normalmente, como se pode deduzir, no meio de alegres conversas e risadas de grande felicidade, motivadas na generalidade pela proximidade do fim quase 2 anos de pesadelos.
Para aqueles menos familiarizados com estas coisas, recorda-se que a inspecção de uma G3 para entrega, na rotina habitual, obrigava a fazer 4 operações: retirar o carregador (estivesse cheio de munições ou vazio), puxar a culatra atrás (para retirar qualquer bala da câmara), destravar a culatra para a frente e efectuar uma gatilhada em seco para o ar.
Eu estava de costas para a arrecadação e os soldados sentados no chão, e conforme iam completando as limpezas, iam-se levantando e entregando o material para inspecção.
No entanto, o elemento que fazia o teste às armas, esqueceu-se de retirar o carregador de uma delas (que se encontrava com munições), tendo procedido às manobras com a culatra e, quando ia premir o gatilho, o furriel que observava os seus movimentos, ao aperceber-se que havia entrado uma bala na câmara, instintiva e desesperadamente, deitou a mão à arma no sentido de tentar impedir o eminente disparo mas, infelizmente, não foi a tempo.
A bala disparada efectuou uma trajectória de baixo para cima, começando por atingir o militar mais próximo (o mesmo que tinha acabado de entregar a G3 inadvertidamente com munições no carregador), atravessando-lhe a anca, passou muito rente ao pescoço do segundo homem da fila que ali se ia formando e apanhou o terceiro violentamente na parte frontal do crânio.
Os 2 feridos com bastante gravidade, foram de imediato evacuados por helicóptero para Bissau, vindo-se a saber mais tarde, que o último deles, viria a falecer em 18 de Outubro de 1974 (6 meses depois do 25 de Abril), já em Portugal no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa.
Assim desta forma cruel e chocantemente, sucumbiu o último soldado português na martirizante e fatídica guerra da Guiné.
Vai fazer 35 anos, que eu e o Jorge pensávamos prestar esta simples homenagem ao Oldegário, pedindo a Deus que o acolha no seu reino.
Por motivos óbvios a identificação de alguns intervenientes são omitidas.
Para aqueles menos familiarizados com estas coisas, recorda-se que a inspecção de uma G3 para entrega, na rotina habitual, obrigava a fazer 4 operações: retirar o carregador (estivesse cheio de munições ou vazio), puxar a culatra atrás (para retirar qualquer bala da câmara), destravar a culatra para a frente e efectuar uma gatilhada em seco para o ar.
Eu estava de costas para a arrecadação e os soldados sentados no chão, e conforme iam completando as limpezas, iam-se levantando e entregando o material para inspecção.
No entanto, o elemento que fazia o teste às armas, esqueceu-se de retirar o carregador de uma delas (que se encontrava com munições), tendo procedido às manobras com a culatra e, quando ia premir o gatilho, o furriel que observava os seus movimentos, ao aperceber-se que havia entrado uma bala na câmara, instintiva e desesperadamente, deitou a mão à arma no sentido de tentar impedir o eminente disparo mas, infelizmente, não foi a tempo.
A bala disparada efectuou uma trajectória de baixo para cima, começando por atingir o militar mais próximo (o mesmo que tinha acabado de entregar a G3 inadvertidamente com munições no carregador), atravessando-lhe a anca, passou muito rente ao pescoço do segundo homem da fila que ali se ia formando e apanhou o terceiro violentamente na parte frontal do crânio.
Os 2 feridos com bastante gravidade, foram de imediato evacuados por helicóptero para Bissau, vindo-se a saber mais tarde, que o último deles, viria a falecer em 18 de Outubro de 1974 (6 meses depois do 25 de Abril), já em Portugal no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa.
Assim desta forma cruel e chocantemente, sucumbiu o último soldado português na martirizante e fatídica guerra da Guiné.
Vai fazer 35 anos, que eu e o Jorge pensávamos prestar esta simples homenagem ao Oldegário, pedindo a Deus que o acolha no seu reino.
Por motivos óbvios a identificação de alguns intervenientes são omitidas.
Um tiro apocalíptico
Mansoa, Guiné, Setenta e quatro
Findava ali a sua comissão
Naquele longo mês de Agosto
Mais um Heróico e Leal Batalhão
Para todos aqueles soldados
Era o dia mais feliz da guerra
Restavam umas escassas horas
Pr’a cada um… regressar à sua terra
Era o dia do espólio do material…
E, após longos meses de acção
Ali devolviam as suas armas
Frente à velha arrecadação
O passado juntos recordavam
Prevendo as famílias abraçar
Projectos p'ró futuro planeavam…
De repente... um tiro!?... soa no ar!?
Dois feridos de morte tombavam
A surpresa fez o sangue gelar
Meu Deus! Eles iam p’ra casa!
Abateu-se… ali… um Apocalipse glaciar
A bala saíra duma G3… por acidente
Numa distracção fatal!… Incrível!
Mais uma vez o “azar” ali matava
Coisa digna dum’obra de Maquiavel!
Mansoa, Guiné, Setenta e quatro
Findava ali a sua comissão
Naquele longo mês de Agosto
Mais um Heróico e Leal Batalhão
Para todos aqueles soldados
Era o dia mais feliz da guerra
Restavam umas escassas horas
Pr’a cada um… regressar à sua terra
Era o dia do espólio do material…
E, após longos meses de acção
Ali devolviam as suas armas
Frente à velha arrecadação
O passado juntos recordavam
Prevendo as famílias abraçar
Projectos p'ró futuro planeavam…
De repente... um tiro!?... soa no ar!?
Dois feridos de morte tombavam
A surpresa fez o sangue gelar
Meu Deus! Eles iam p’ra casa!
Abateu-se… ali… um Apocalipse glaciar
A bala saíra duma G3… por acidente
Numa distracção fatal!… Incrível!
Mais uma vez o “azar” ali matava
Coisa digna dum’obra de Maquiavel!
__________
Notas de vb:
1. Último artigo da série em
19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3761: Efemérides (14): 19 de Janeiro de 1971, estrada Bula-S. Vicente...(António Matos)
2. Foi o então Furriel Miliciano O. E. da CCS do BCAÇ 46121. Eduardo Magalhães Ribeiro que, em 9 de Setembro de 1974 arreou a última bandeira portuguesa, no quartel de Mansoa, na presença de representantes do PAIGC que, por sua vez, hastearam a bandeira da nova República da Guiné-Bissau.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Guiné 63/74 - P3772: Cancioneiro de Dulombi / Galomaro (2): Tecnil, Tecnil / Eu passei lá muitas noites / Certamente mais de mil (Luís Dias)
Rui Felício, ex- Alf Mil, CCAÇ 2405 (Galomaro e Dulombi, 1968/70) (foto à esquerda): Procura-se vivo ou morto... Anda a monte com os primeiros decalíssabos que deram origem ao famoso Cancioneiro de Dulombi... Dão-se alvíssaras. L.G.
1. Mensagem do Luís Dias, respondendo a um pedido meu ( "Tens mais letras do 'cancioneiro de Dulombi' ? E da Tecnil ? Há mais recolhas de versos ?"):
Os versos que colocaste não são do Cancioneiro do Dulombi (*), nem da Tecnil, fazem parte dos 'poemas' que eu escrevi durante a comissão. Mas não tem qualquer importância.
Do Cancioneiro do Dulombi, só me lembro de um refrão, que era cantado com uma música popular.
Dulombi te deixarei,
Dulombi te deixarei,
e o dia está bem perto,
As tuas bajudas giras
Vamos deixá-las aos piras,
Que nós vamos de regresso.
Da TECNIL (**) havia também este refrão:
TECNIL, TECNIL,
Eu passei lá muitas noites,
Certamente mais de mil,
TECNIL, TECNIL.
Quando aparecem macacos,
Vira jardim infantil.
Quando fazemos o convívio anual, os nossos ex-praças lá cantam estas modinhas. Eles é que têm as letras.
Um abraço
Luís Dias
2. Comentário de L.G.:
Luís:
O seu a seu dono... Vou corrigir... E fazer mais um poste sobre o Cancioneiro de Dulombi... Os versos são teus, mas o que importa é que os teus camaradas se apropriaram deles e cantaram-nos (e continuam a cantá-los nos vossos convívios)...Em Dulombi e em muitos outros sítios da Guiné, havia poetas, como tu, que nos ajudaram a não perder a alma e a manter a cabeça em cima do pescoço e o pescoço em cima dos ombros...
De resto há uma tradição poética, iniciada pelos Baixinhos de Dulombi, a malta da CCAÇ 2405, de 1968/70. Num dos postes, o ex- Alf Mil Rui Felício escreveu isto (***):
"Tinhamos acabado de receber no Dulombi a Companhia de atónitos periquitos que, durante uma semana, iam ficar em sobreposição connosco.
"Acolhemo-los com o aquele ar superior de guerreiros invencíveis, calejados pelos combates, a pele tisnada dos sóis tropicais, e além das costumadas praxes, meio inofensivas, que exercemos sobre eles, dedicámos-lhes, com a proverbial simpatia característica dos Baixinhos do Dulombi, um hino de recepção ao periquito que ainda hoje cantamos em todos os almoços anuais de comemoração que realizamos.
"Fui eu o autor da letra (perdoem-me o orgulho ) que, em versos decassilábicos, procurava transmitir aos novatos o que era o dia a dia que os esperava nos confins do mato onde iriam passar dois anos.
"O Alf Mil Rijo sacou dos seus dotes musicais até aí ocultos e plagiou uma música que se adaptasse à versalhada que em momento de suprema inspiração eu tinha produzido. É ele que hoje guarda religiosamente essa letra que eu, embora seu autor, não sou já capaz de reproduzir na íntegra" (...).
Pois é, meu caro Luís Dias, ainda não consegui sacar ao teu avô Rui Felício essa famigerada letra. Em 5 de Setembro de 2006, mandei-lhe um pedido que ele deve ter arquivado... O actual dono das letras parece ser o ex-Alf Mil Jorge Rijo, que anda incontactável, depois de se reformar dos seguros. Vou-lhes, daqui, solenemente, implorar, a ambos (e aos outros dois Baixinhos de Dulombi, que eu conheço, o Paulo Raposo e Victor David, que não nos esqueçam, a mim, a ti, a todos nós, de modo a slavarmos e enriquecermos o Cancioneiro de Dulombi / Galomaro...
Rui, Jorge, Luís, camaradas !... Seria uma pena que os últimos épicos da Pátria, os derradeiros Camões, que fomos nós, os últimos poetas do Império, deixem perder, por negligência, incúria, esquecimento, cansaço ou qualquer outra razão - por muito válida que possa ser ou parecer -, os últimos versos que escrevemos, a pena numa mão e a espada na outra, nos campos de batalha da Guiné...
Obrigado. Abraço. Luís
_________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 20 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3763: Cancioneiro de Dulombi / Galomaro (1): Adeus, Guiné / É o fim do castigo, / Terminou a comissão... (Luís Dias)
(**`) TECNIL, empresa de engenharia e construção de estradas... Estava por toda a Guiné (ou quase), no tempo do Spínola e depois... da independência. O nosso camarada e amigo António Rosinha trabalhou nela como topógrafo, nos anos 70/80, se não me engano.
(***)5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço
Vd. ainda:
Blogue CCAÇ 2700 > Dulombi, 1970/72, de Fernando Barata
Blogue Histórias da Guiné 71/74 > CCAÇ 3491, Dulombi, de Luís Dias
Guiné 63/74 - P3771: Blogoterapia (86): Recordações da Guiné, nem sempre as melhores (António Carvalho)
1. Mensagem de António Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74, com data de 16 de Janeiro de 2009:
Caro Carlos Vinhal,
Em anexo envio uma tentativa de escrever sobre a minha estada em Mampatá. Umas linhas acabadas agora mesmo de escrever.
Se achares bem poderás publicá-la no blogue.
Um abraço,
Carvalho
2. Caros camaradas editores do nosso blog:
Se acharem que tem algum interesse aproveitem, caso contrário deitem fora, sem pejo. É que eu, infelizmente não me lembro de quase nada. Lembro-me, com todos os pormenores, daqueles corpos mutilados, em Bolama, no dia 10 de Julho de 1972; daquele camarada do Batalhão 3852, em Buba, no dia 28 de Julho do mesmo ano, do rosto lacrimoso do irmão que ficou sem uma perna em 16 de Março de 1973 tendo morrido no dia 21 no HM 241, etc, etc, etc.
Bem gostava de vos falar de outros episódios interessantes mas, na verdade, os dias eram muito iguais. Serviço na enfermaria a tratar das doenças dos militares e dos civis. Algumas nunca desejadas saídas para o mato. Algum trabalho a ensinar os nativos na escola, à noite, ou mesmo durante o dia, em substituição do professor que foi de férias. Conversa com a população civil para entender aquele mundo. À noite, fazer rondas pelos postos de sentinela, para aliviar os Furriéis Atiradores que andavam todos rotos. Muito tempo no bar a consumir Coca-Cola com Whisky…
Em Abril de 1974, no dia 25, tudo se alterou. Ao meio da manhã, por uma emissora estrangeira, tomámos conhecimento do grande evento. Como tinha havido o 16 de Março, primeiro uma alegria contida mas, à medida que se recebiam mais notícias confirmadoras, toda a gente dava largas a uma felicidade indescritível. A partir desse dia cada vez se ficava por mais perto. Nada de aventuras. No dia 14 de Maio, houve uma reunião entre representantes do MFA e oficiais e sargentos, em Aldeia Formosa. Não me lembro de nada do que lá se passou, nem sequer se estive lá ou se fiquei por Mampatá. No início de Junho, um Comissário Político do PAIGC esteve em Mampatá, conversando com a população civil e com militares africanos. Nos dias 26 e 27 de Junho, dois bigrupos do PAIGC vieram confraternizar connosco. Houve abraços e troca de emblemas. A partir deste momento a guerra não era mais problema. Só as saudades da família e as carências materiais nos faziam sofrer. Não sei porquê, faltava o tabaco, algumas bebidas e comidas.
Dia 24 de Agosto, com 26 meses e meio, chegámos a Lisboa.
António Carvalho
__________
Notas de CV:
Vd. último poste de António Carvalho de 16 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3325: O meu baptismo de fogo (11): Mampatá, 20 de Fevereiro de 1973 (António Carvalho)
Vd. último poste da série de 21 de Janeiro de 2009 Guiné 63/74 - P3766: Blogoterapia (85): Para que a História seja verídica (José Martins)
Caro Carlos Vinhal,
Em anexo envio uma tentativa de escrever sobre a minha estada em Mampatá. Umas linhas acabadas agora mesmo de escrever.
Se achares bem poderás publicá-la no blogue.
Um abraço,
Carvalho
2. Caros camaradas editores do nosso blog:
Se acharem que tem algum interesse aproveitem, caso contrário deitem fora, sem pejo. É que eu, infelizmente não me lembro de quase nada. Lembro-me, com todos os pormenores, daqueles corpos mutilados, em Bolama, no dia 10 de Julho de 1972; daquele camarada do Batalhão 3852, em Buba, no dia 28 de Julho do mesmo ano, do rosto lacrimoso do irmão que ficou sem uma perna em 16 de Março de 1973 tendo morrido no dia 21 no HM 241, etc, etc, etc.
Bem gostava de vos falar de outros episódios interessantes mas, na verdade, os dias eram muito iguais. Serviço na enfermaria a tratar das doenças dos militares e dos civis. Algumas nunca desejadas saídas para o mato. Algum trabalho a ensinar os nativos na escola, à noite, ou mesmo durante o dia, em substituição do professor que foi de férias. Conversa com a população civil para entender aquele mundo. À noite, fazer rondas pelos postos de sentinela, para aliviar os Furriéis Atiradores que andavam todos rotos. Muito tempo no bar a consumir Coca-Cola com Whisky…
Em Abril de 1974, no dia 25, tudo se alterou. Ao meio da manhã, por uma emissora estrangeira, tomámos conhecimento do grande evento. Como tinha havido o 16 de Março, primeiro uma alegria contida mas, à medida que se recebiam mais notícias confirmadoras, toda a gente dava largas a uma felicidade indescritível. A partir desse dia cada vez se ficava por mais perto. Nada de aventuras. No dia 14 de Maio, houve uma reunião entre representantes do MFA e oficiais e sargentos, em Aldeia Formosa. Não me lembro de nada do que lá se passou, nem sequer se estive lá ou se fiquei por Mampatá. No início de Junho, um Comissário Político do PAIGC esteve em Mampatá, conversando com a população civil e com militares africanos. Nos dias 26 e 27 de Junho, dois bigrupos do PAIGC vieram confraternizar connosco. Houve abraços e troca de emblemas. A partir deste momento a guerra não era mais problema. Só as saudades da família e as carências materiais nos faziam sofrer. Não sei porquê, faltava o tabaco, algumas bebidas e comidas.
Dia 24 de Agosto, com 26 meses e meio, chegámos a Lisboa.
António Carvalho
__________
Notas de CV:
Vd. último poste de António Carvalho de 16 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3325: O meu baptismo de fogo (11): Mampatá, 20 de Fevereiro de 1973 (António Carvalho)
Vd. último poste da série de 21 de Janeiro de 2009 Guiné 63/74 - P3766: Blogoterapia (85): Para que a História seja verídica (José Martins)
Guiné 63/74 - P3770: O meu Natal no mato (22): A RTP na Guiné, no Natal de 1969 (João Bonifácio)
1. O nosso camarada João G. Bonifácio, ex-Fur Mil da CCaç 2402/BCaç 2851, Guiné 1968/70, deixou, em 11 de Janeiro de 2009, este comentário no poste Guiné 63/74 - P3450: Blogoterapia (72): Comentário ao P3402 (Raúl Albino) :
Olá Amigos visitantes desta tabanca tão grande e onde a CCAÇ 2402 tem um pequeno espaço, alegria e saúde.
É bom ver que o meu amigo Raúl Albino tem tanta gente a ler estas coisas que todos nós por lá vivemos. Eu sei que o segredo do Raúl, para estar sempre em forma, era descansar o máximo. Ele gostava de ver, mas para dentro. Depois o calor ajudava. Eu, pelo contrário, só dormi dois dias seguidos, quando o furriel miliciano Machado, que era um açoriano, me drogou fortemente para resolver o meu paludismo. Aquele rapaz era tão corisco, mas curava todos. Era tão bom, tão bom, que até sabia mais que o médico da Companhia.
Bem, eu ia dizer que não tive essa sorte. Dormia pouco. Era uma questão diferente de vencer o tempo. Eu desde que cheguei à Guiné em 1968, decidi ocupar as 24 horas do dia. Assim e para além da supervisão do Rancho e cozinha, da messe de Oficiais e Sargentos e cozinha, do Armazém de géneros, da horta, dos animais, da padaria, da Cantina do Soldado e do Bar de Oficiais e Sargentos, ainda fazia trabalhos na Secretaria, dei aulas da 1.ª e 2.ª classes a miúdos locais, supervisava as duas bibliotecas, e ainda dava uns passeios pela tabanca à procura de qualquer pormenor estranho.
Às vezes dá para ver e o meu amigo Furriel Lopes, o tipo da ferrugem, e eu encontrámos uma criança tão mal, que a levámos e à mãe para o quartel de onde foi mais tarde evacuada para Bissau. Ah, e ainda fazia rondas, o que me permitia abastecer os militares que saíam cedo para operações, mas mais porque o Cap Vargas tinha um problema com os confidenciais. Assim, cabia-me a mim ir acordar os oficiais e sargentos, que depois acordavam os soldados. Era mesmo confidencial. Eu digo tudo isto, porque dormia pouco, e portanto tenho mil uma histórias para contar. Eu decidi que ocupando o tempo, iria ser melhor. Mas não quero, de forma alguma, dizer que todos os que pensaram em desligar o sistema todo por dois anos, fizeram mal.
Este Blogue tem-nos permitido a aproximação entre todos nos.
Muito em especial para o Raúl, eu quero adiantar mais um pouco sobre as mensagens de 1969 para a RTP. Quando nos foi comunicado que a RTP nos ia visitar para as gravações, o Comandante Vargas me chamou e me deu instruções para eu programar como iriam ser os locais e como iriam ser mostrados os militares e quem iria falar, já que todos seria impossível. Um dia eu mandarei as fotos que eu tenho deste episódio. No dia das gravações, ele decidiu tornar-se o actor, e decidiu ignorar tudo o que tinha combinado comigo. Fiquei de tal modo perturbado que decidi rasgar tudo quanto era o programa pré-estabelecido e fui deitar-me para o meu quarto. Passada uma meia hora, batem à minha porta e quando abri, deparei com um Major de Bissau que me disse saber o que tinha acontecido, e porque achou ser injusto, me convidava a deixar a gravação como eu entendesse, pois dava-me 5 minutos só para mim. Eu declinei educadamente, mas acho que não gostou, pois a resposta foi simples.
- Nosso Furriel, é uma Ordem.
Pronto, lá fui eu. Se o Raúl se lembra e onde eu e uns soldados e o miúdo Godinho aparecemos a gravar a nossa mensagem de Natal, mesmo ao lado do presépio, que na altura estava feito junto a Enfermaria, no Olossato. Como podem ver, meus amigos, cada um de nos passou o tempo como entendeu, e felizmente, ainda estamos com saúde para podermos falar destes episódios.
Eu adoro ler tudo o que por aqui escrevem. Apenas lamento que mais não apareçam e deixem um ar da sua imaginação. Os erros são mesmos próprios, e para isso eu mesmo tenho esse defeito, nunca leio o que escrevo até que já saiu do meu monitor. Sabem, o Raúl faz esse favor, e já agora, com toda a justiça, o Luís, o Carlos e o Virginio. Eu não tenho acentos nem sinais, os ingleses são muito simples!!! Não usam isso.
São 19.38 em Toronto, Canada, ou 02.38 em Lisboa. Vocês já estão a fazer o que faziam na guerra... a descansar, e eu ainda tenho que esperar. Estão a ver? Fiquem bem.
Um grande abraço para todos.
João G Bonifácio
Ex-Fur Mil do SAM CCAÇ 2402
Guiné 1968/70
__________
Notas de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3690: O meu Natal no mato (21): CCAÇ 2402, Có, 1968, e Olossato, 1969 (Raúl Albino)
Vd. último poste de João Bonifácio de 12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3301: História da CCAÇ 2402: Em Mansabá não se passava nada...(João Bonifácio)
Olá Amigos visitantes desta tabanca tão grande e onde a CCAÇ 2402 tem um pequeno espaço, alegria e saúde.
É bom ver que o meu amigo Raúl Albino tem tanta gente a ler estas coisas que todos nós por lá vivemos. Eu sei que o segredo do Raúl, para estar sempre em forma, era descansar o máximo. Ele gostava de ver, mas para dentro. Depois o calor ajudava. Eu, pelo contrário, só dormi dois dias seguidos, quando o furriel miliciano Machado, que era um açoriano, me drogou fortemente para resolver o meu paludismo. Aquele rapaz era tão corisco, mas curava todos. Era tão bom, tão bom, que até sabia mais que o médico da Companhia.
Bem, eu ia dizer que não tive essa sorte. Dormia pouco. Era uma questão diferente de vencer o tempo. Eu desde que cheguei à Guiné em 1968, decidi ocupar as 24 horas do dia. Assim e para além da supervisão do Rancho e cozinha, da messe de Oficiais e Sargentos e cozinha, do Armazém de géneros, da horta, dos animais, da padaria, da Cantina do Soldado e do Bar de Oficiais e Sargentos, ainda fazia trabalhos na Secretaria, dei aulas da 1.ª e 2.ª classes a miúdos locais, supervisava as duas bibliotecas, e ainda dava uns passeios pela tabanca à procura de qualquer pormenor estranho.
Às vezes dá para ver e o meu amigo Furriel Lopes, o tipo da ferrugem, e eu encontrámos uma criança tão mal, que a levámos e à mãe para o quartel de onde foi mais tarde evacuada para Bissau. Ah, e ainda fazia rondas, o que me permitia abastecer os militares que saíam cedo para operações, mas mais porque o Cap Vargas tinha um problema com os confidenciais. Assim, cabia-me a mim ir acordar os oficiais e sargentos, que depois acordavam os soldados. Era mesmo confidencial. Eu digo tudo isto, porque dormia pouco, e portanto tenho mil uma histórias para contar. Eu decidi que ocupando o tempo, iria ser melhor. Mas não quero, de forma alguma, dizer que todos os que pensaram em desligar o sistema todo por dois anos, fizeram mal.
Este Blogue tem-nos permitido a aproximação entre todos nos.
Muito em especial para o Raúl, eu quero adiantar mais um pouco sobre as mensagens de 1969 para a RTP. Quando nos foi comunicado que a RTP nos ia visitar para as gravações, o Comandante Vargas me chamou e me deu instruções para eu programar como iriam ser os locais e como iriam ser mostrados os militares e quem iria falar, já que todos seria impossível. Um dia eu mandarei as fotos que eu tenho deste episódio. No dia das gravações, ele decidiu tornar-se o actor, e decidiu ignorar tudo o que tinha combinado comigo. Fiquei de tal modo perturbado que decidi rasgar tudo quanto era o programa pré-estabelecido e fui deitar-me para o meu quarto. Passada uma meia hora, batem à minha porta e quando abri, deparei com um Major de Bissau que me disse saber o que tinha acontecido, e porque achou ser injusto, me convidava a deixar a gravação como eu entendesse, pois dava-me 5 minutos só para mim. Eu declinei educadamente, mas acho que não gostou, pois a resposta foi simples.
- Nosso Furriel, é uma Ordem.
Pronto, lá fui eu. Se o Raúl se lembra e onde eu e uns soldados e o miúdo Godinho aparecemos a gravar a nossa mensagem de Natal, mesmo ao lado do presépio, que na altura estava feito junto a Enfermaria, no Olossato. Como podem ver, meus amigos, cada um de nos passou o tempo como entendeu, e felizmente, ainda estamos com saúde para podermos falar destes episódios.
Eu adoro ler tudo o que por aqui escrevem. Apenas lamento que mais não apareçam e deixem um ar da sua imaginação. Os erros são mesmos próprios, e para isso eu mesmo tenho esse defeito, nunca leio o que escrevo até que já saiu do meu monitor. Sabem, o Raúl faz esse favor, e já agora, com toda a justiça, o Luís, o Carlos e o Virginio. Eu não tenho acentos nem sinais, os ingleses são muito simples!!! Não usam isso.
São 19.38 em Toronto, Canada, ou 02.38 em Lisboa. Vocês já estão a fazer o que faziam na guerra... a descansar, e eu ainda tenho que esperar. Estão a ver? Fiquem bem.
Um grande abraço para todos.
João G Bonifácio
Ex-Fur Mil do SAM CCAÇ 2402
Guiné 1968/70
__________
Notas de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3690: O meu Natal no mato (21): CCAÇ 2402, Có, 1968, e Olossato, 1969 (Raúl Albino)
Vd. último poste de João Bonifácio de 12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3301: História da CCAÇ 2402: Em Mansabá não se passava nada...(João Bonifácio)
Guiné 63/74 - P3769: Fauna & flora (15): Macaco cão à mesa de Ponte Maqué e o "Buba" na Orion...(Raul Albino/M. Lema Santos)
O Macaco cão
O macaco kom, baptizado de "Buba", mascote da LFG “Orion”. Foto extraída do blogue (1) http://reservanaval.blogspot.com/. Com a devida vénia e os agradecimentos ao Manuel Lema Santos.
1. do Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, Có, Mansabá, Olossato, 1968/70
Ementa: Macaco-cão
Com este título pareço estar a fazer apologia da confecção deste animal para fins alimentares. Puro engano. Não pretendo mais do que relatar um acontecimento não militar que se passou com o meu 3º Grupo de Combate da CCaç. 2402, quando destacado na protecção da Ponte Maqué, situada perto do Olossato.
Com este título pareço estar a fazer apologia da confecção deste animal para fins alimentares. Puro engano. Não pretendo mais do que relatar um acontecimento não militar que se passou com o meu 3º Grupo de Combate da CCaç. 2402, quando destacado na protecção da Ponte Maqué, situada perto do Olossato.
Por este relato, um pouco fora do contexto, podemos pelo menos afirmar que esta espécie de mamífero existiu em 1969 nesta região. Também possuímos no quartel, como mascote, um exemplar fêmea desta espécie, muito jovem de poucos meses, adquirida por um militar a um nativo que a encontrou no mato.
Que dizer deste trabalho de equipa na confecção da Ceia de Natal de 1969 na Ponte Maqué? Este esforço culinário pertence ao 3º Grupo de Combate e a ementa a ser confeccionada era um macaco-cão caído numa das várias armadilhas que serviam de protecção à guarnição militar aí instalada.
Pela compenetração destes exímios cozinheiros, bem podem imaginar a iguaria que daqui saiu. Depois de cozinhado, foi-me dado a provar pensando eles que eu não sabia o que era o petisco. Eu, apesar de saber de antemão, tive de fingir que não sabia e arriscar a sua prova. E não é que aquilo estava realmente saboroso?... Não foram poucos os que se deliciaram com este género de gastronomia exótica, feita a partir de jibóia, macaco ou abutre, entre outros, se bem que tenhamos de confessar que a maioria dos apreciadores, nunca ou só bastante mais tarde, chegaram a saber aquilo que tinham comido.
2. do Manuel Lema Santos, ex-1º Ten da Reserva Naval da Marinha de Guerra, LFG Orion, Guiné, 1966-1972.
Só agora respondo porque nem sabia onde tinha guardado as fotos correspondentes ao tema!
Ao serviço da Marinha de Guerra, estive na Guiné de 1966 a 1968 e, durante esse tempo, tivemos sempre a bordo, como mascote, um pequeno macaco babuíno (seria?) que penso corresponder à descrição dos pequenos "macacos kom" (corresponderá?) que já vi referidos em alguns sites que, por curiosidade, procurei.
Se assim não for agradeço-lhe a correcção porque fico a saber mais qualquer coisa que nada...e corrijo.
Ao serviço da Marinha de Guerra, estive na Guiné de 1966 a 1968 e, durante esse tempo, tivemos sempre a bordo, como mascote, um pequeno macaco babuíno (seria?) que penso corresponder à descrição dos pequenos "macacos kom" (corresponderá?) que já vi referidos em alguns sites que, por curiosidade, procurei.
Se assim não for agradeço-lhe a correcção porque fico a saber mais qualquer coisa que nada...e corrijo.
A minha ignorância na matéria pode estabelecer facilmente confusão e nada ter a ver com a especificidade e conhecimento do assunto tratado, pelo que lhe peço a simples observação e crítica da imagem que coloquei no meu próprio blogue em
http://www.reservanaval.blogspot.com/.
Tenho mais duas fotografias que se tiverem algum interesse - são de fraca qualidade fotográfica - enviarei com prazer.
Recordo-me de alguns pormenores de personalidade que já fizeram rir os meus filhos. O "Buba", convivia com toda a guarnição, era agressivo e respondia sempre a qualquer provocação brincada, preferencialmente tentando devolver o mesmo tipo de provocação em sentido contrário.
Tenho mais duas fotografias que se tiverem algum interesse - são de fraca qualidade fotográfica - enviarei com prazer.
Recordo-me de alguns pormenores de personalidade que já fizeram rir os meus filhos. O "Buba", convivia com toda a guarnição, era agressivo e respondia sempre a qualquer provocação brincada, preferencialmente tentando devolver o mesmo tipo de provocação em sentido contrário.
O macaco kom, baptizado de "Buba", mascote da LFG “Orion”. Foto extraída do blogue (1) http://reservanaval.blogspot.com/. Com a devida vénia e os agradecimentos ao Manuel Lema Santos.
Foi amestrado por vários elementos da guarnição com algumas brincadeiras jocosas, típicas de "marinheiro" que executava com determinada palavra ou mesmo uma frase curta.
__________
Notas de vb:
1. Reserva Naval , espaço aberto a antigos Oficiais da Reserva Naval na publicação de documentos, relatos, imagens e comentários. Um meio de comunicação e participação na divulgação do legado histórico da Reserva Naval.
E espaço também para quase todos os militares do Exército que andaram pelas terras e rios da Guiné.
2. Último artigo da série em
Guiné 63/74 - P3768: Fauna & flora (14): Mascote, no prato e até para chapéu. Em Paiúnca, Guileje, Cumbijã...(J. Casimiro de Carvalho/Vasco da Gama)
Acerca do macaco cão
1. Mensagem do José Casimiro Carvalho
Era normal em Guileje, quando andávamos em patrulha, vermos ao longe os macacos. Em grupos de cerca de 15 que, quando nos viam, paravam com ar desafiador e ladravam e depois seguiam.
Um nativo com o escalpe de um macaco cão na cabeça (era uso). Zona de Nhala.
Em Cumbijã matei um macaco cão com um tiro de G-3, tirei-lhe a cabeça e a pele e levei-o para o quartel de Colibuia. Nessa noite foi um petisco.
Coisas da idade. Hoje não o faria.
Em Cumbijã matei um macaco cão com um tiro de G-3, tirei-lhe a cabeça e a pele e levei-o para o quartel de Colibuia. Nessa noite foi um petisco.
Coisas da idade. Hoje não o faria.
Espero ter ajudado.
J Carvalho
J Carvalho
2. Mensagem de Vasco da Gama
Vi-os, aos macacos-cães, às dezenas entre Colibuia e o Cumbijã. À medida que a estrada ia avançando, eles começavam a escassear.
Nunca os observei com olhar científico, mas na zona acima referenciada, sobretudo numa extensa bolanha, quase todos os dias, a coluna que regressava ao Cumbijã, os avistava a atravessarem em bandos a estrada vindos de sul em direcção ao norte.
Recordo-me perfeitamente da forma ordeira como faziam a travessia da estrada em bicha de pirilau, e como os de maior porte se colocavam no meio da estrada para que os mais pequenos passassem em segurança! Isto eu testemunho.
Um camarada da minha companhia, o primeiro cabo cripto Melo enviou-me uma fotografia e um pequeno texto que eu te vou reencaminhar. No meu aquartelamento deram-me a provar macaco cão. Lembro-me perfeitamente de ter trincado um naco de carne que era só músculo e não fui capaz de engolir o que quer que fosse. Peço desculpa pelo modesto contributo, mas quem dá o que tem....
Vasco da Gama
______Notas de vb:
Último artigo da série em
19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3758: Fauna & flora (13): Macaco cão a ladrar, gente do PAIGC a chegar (Joaquim Mexia Alves)
Guiné 63/74 - P3767: Estórias do Zé Teixeira (35): O Lisboa - E seu irmão que morreu no desastre do Cheche (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)
1. Mais uma estória de José Teixeira, ex-1.º Cabo Auxiliar Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70, que nos foi enviada no dia 2 de Janeiro de 2009:
O LISBOA
E seu irmão que morreu no desastre do Cheche
Pela alcunha se pode calcular que o Ferreira era natural de Lisboa. Simples e humilde. Casado e com filhos. Picheleiro de profissão, Atirador por missão. Tinha uma relação muito boa com a avó. Suponho que foi ela que o criou na sua meninice
O Lisboa viciou-se na batota, já na Guiné, creio eu. Era um dos que, recebido o Pré no fim do mês, desaparecia. Só os víamos, no refeitório e nas saídas para o exterior. Acabada a grana ficava na pendura até ao fim do mês seguinte. Um ambiente de guerra também fomenta este tipo de formas de estar na vida.
Um dia ou noite, não sei bem, já em Empada, numa situação de desespero, levantou a parada demasiado alto. Jogou a aliança de casamento e lerpou. O Paraquedista, alcunha dada a um camarada que tentou as alturas e veio cair na tropa macaca, agarrou a aliança com ambas as mãos e passados oito dias, continuava a afirmar que a tinha ganho no jogo, era dele e ponto final.
O Lisboa bateu a várias portas na tentativa de quem interviesse para recuperar a aliança. Como resposta tinha um conselho - aprende a ter juízo. Ele bem choramingava, mas de nada lhe valia.
Bateu-me à porta. Hesitei, porque o Paraquedista não era flor de bom cheiro. A forma de ser e estar na vida deste homem não me convidava a uma relação amistosa, mas aceitei o desafio.
Após várias insistências de minha parte, atirou, enraivecido, a aliança do camarada para o chão, rosnando que se ele lhe repetisse a cena, nunca mais lhe devolveria o anel.
Naturalmente que o Lisboa se aproximou de mim numa relação de camaradagem de quem está longe dos seus e encontra um amigo.
Seu irmão mais novo, cerca de um ano depois, também foi parar à Guiné. Estavam ambos em zonas de elevado grau de guerrilha. Nas matas do Boé ou para os lados da mata do Cantanhez, o diabo que escolhesse.
Um dia soube-se do desastre de Cheche no Corubal (*), quando se procedia à retirada da Companhia que se encontrava em Madina do Boé. Quando apareceu a listagem dos mortos neste drama, houve alguns curiosos que foram ler os nomes na expectativa de localizar alguém conhecido, suponho.
- Ouve lá oh Lisboa, está aqui um gajo que deve ser o teu irmão, pelo nome …
Era mesmo. Calculem o estado em que ficou o pobre do Lisboa. O seu irmão morrera afogado no Rio Corubal, uns dias antes, quando integrava a Companhia que fora apoiar a retirada dos mártires de Madina do Boé.
De quem se havia de lembrar o rapaz, para desabafar as mágoas, do Teixeira.
Momentos dolorosos que acompanhei de perto e que me abalaram profundamente. Com ajudar numa situação destas ? Que soluções para mitigar a dor, a quem não tinha pais e agora via desaparecer o irmão?
Eu sabia que havia uma Lei que possibilitava aos mobilizados que tivessem irmãos na guerra, serem desmobilizados, desde que o requeressem por escrito.
De imediato fiz seguir um requerimento para o Comandante Chefe. Uns dias depois chegou um rádio a dar instruções para o Lisboa seguir de imediato para Bissau com destino a Lisboa. Nesse mesmo dia a DO do correio passava. Foi só reservar o lugar e o Lisboa nem teve tempo de se despedir.
Boa sorte Lisboa, te desejei e continuo a desejar, sem saber por onde andas.
Zé Teixeira
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 27 de dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3671: Estórias do Zé Teixeira (34): O meu conto de Natal (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)
Notas de L.G.:
(*) Sobre o desastre do Cheche, no Rio Corubal, no âmbito da Operação Mabecos Bravios, e sobre Madina do Boé, vd. os postes publicados no nosso blogue (1ª e 2ª série):
17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)
2 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (5 de Fevereiro de 1969)
8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins)
3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCV: Madina do Boé: 37º aniversário do desastre de Cheche (José Martins)
12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)
7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P853: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (10): A retirada de Madina do Boé
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)
15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)
21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)
O LISBOA
E seu irmão que morreu no desastre do Cheche
Pela alcunha se pode calcular que o Ferreira era natural de Lisboa. Simples e humilde. Casado e com filhos. Picheleiro de profissão, Atirador por missão. Tinha uma relação muito boa com a avó. Suponho que foi ela que o criou na sua meninice
O Lisboa viciou-se na batota, já na Guiné, creio eu. Era um dos que, recebido o Pré no fim do mês, desaparecia. Só os víamos, no refeitório e nas saídas para o exterior. Acabada a grana ficava na pendura até ao fim do mês seguinte. Um ambiente de guerra também fomenta este tipo de formas de estar na vida.
Um dia ou noite, não sei bem, já em Empada, numa situação de desespero, levantou a parada demasiado alto. Jogou a aliança de casamento e lerpou. O Paraquedista, alcunha dada a um camarada que tentou as alturas e veio cair na tropa macaca, agarrou a aliança com ambas as mãos e passados oito dias, continuava a afirmar que a tinha ganho no jogo, era dele e ponto final.
O Lisboa bateu a várias portas na tentativa de quem interviesse para recuperar a aliança. Como resposta tinha um conselho - aprende a ter juízo. Ele bem choramingava, mas de nada lhe valia.
Bateu-me à porta. Hesitei, porque o Paraquedista não era flor de bom cheiro. A forma de ser e estar na vida deste homem não me convidava a uma relação amistosa, mas aceitei o desafio.
Após várias insistências de minha parte, atirou, enraivecido, a aliança do camarada para o chão, rosnando que se ele lhe repetisse a cena, nunca mais lhe devolveria o anel.
Naturalmente que o Lisboa se aproximou de mim numa relação de camaradagem de quem está longe dos seus e encontra um amigo.
Seu irmão mais novo, cerca de um ano depois, também foi parar à Guiné. Estavam ambos em zonas de elevado grau de guerrilha. Nas matas do Boé ou para os lados da mata do Cantanhez, o diabo que escolhesse.
Um dia soube-se do desastre de Cheche no Corubal (*), quando se procedia à retirada da Companhia que se encontrava em Madina do Boé. Quando apareceu a listagem dos mortos neste drama, houve alguns curiosos que foram ler os nomes na expectativa de localizar alguém conhecido, suponho.
- Ouve lá oh Lisboa, está aqui um gajo que deve ser o teu irmão, pelo nome …
Era mesmo. Calculem o estado em que ficou o pobre do Lisboa. O seu irmão morrera afogado no Rio Corubal, uns dias antes, quando integrava a Companhia que fora apoiar a retirada dos mártires de Madina do Boé.
De quem se havia de lembrar o rapaz, para desabafar as mágoas, do Teixeira.
Momentos dolorosos que acompanhei de perto e que me abalaram profundamente. Com ajudar numa situação destas ? Que soluções para mitigar a dor, a quem não tinha pais e agora via desaparecer o irmão?
Eu sabia que havia uma Lei que possibilitava aos mobilizados que tivessem irmãos na guerra, serem desmobilizados, desde que o requeressem por escrito.
De imediato fiz seguir um requerimento para o Comandante Chefe. Uns dias depois chegou um rádio a dar instruções para o Lisboa seguir de imediato para Bissau com destino a Lisboa. Nesse mesmo dia a DO do correio passava. Foi só reservar o lugar e o Lisboa nem teve tempo de se despedir.
Boa sorte Lisboa, te desejei e continuo a desejar, sem saber por onde andas.
Zé Teixeira
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 27 de dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3671: Estórias do Zé Teixeira (34): O meu conto de Natal (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)
Notas de L.G.:
(*) Sobre o desastre do Cheche, no Rio Corubal, no âmbito da Operação Mabecos Bravios, e sobre Madina do Boé, vd. os postes publicados no nosso blogue (1ª e 2ª série):
17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)
2 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (5 de Fevereiro de 1969)
8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins)
3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCV: Madina do Boé: 37º aniversário do desastre de Cheche (José Martins)
12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)
7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P853: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (10): A retirada de Madina do Boé
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)
15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)
21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)
Guiné 63/74 - P3766: Blogoterapia (85): Para que a História seja verídica (José Martins)
1. Mensagem de José Martins, ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70, com data de 16 de Janeiro de 2009
Boa tarde
Parece que estamos numa boa altura de fazer uma breve análise sobre aqueles que estiveram na Guiné e que pretendem que, antes de mais, a HISTÓRIA SEJA UM FACTO VERIDICO.
Se observarmos três números que se encontram no nosso blogue, temos:
Número de membros: 293
Número de visitas: 894.941
Período de tempo: 4 anos
Façamos a contabilidade:
Número de visitas, a dividir por 4 anos, a dividir por 365 dias, teremos 612,945 visitas diárias em média.
Número de visitas diárias a dividir pelo número de membros, resulta 2,09 visitas membro/dia.
Destes números se infere que somos uns fanáticos e visitamos duas vezes o blogue por dia, mas...
1. O número de membros tem vindo a crescer exponencialmente e, muitos deles não fazem visitas diárias. Eu, por exemplo, se num fim de semana não tiver que abrir o computador, aguardo por outro dia. Nas férias, estou mesmo de férias, nem tenho o PC próximo de mim.
2. O número de membros indicado não é um número médio, é o número actual.
3. Não acredito que um fanático esteja sempre a entrar na página para contar entradas. Se é fanático deixa a página aberta o dia todo, faz refrescamentos e vai lendo.
4. Resultado a que quero chegar: Não são só os membros que nos/se visitam. Mais alguém, como nós bem sabemos, visita estas páginas para consulta, curiosidade, estudo e mais não sei quantos motivos.
5. Prioridades: Que este blogue ou outras páginas, incluindo as dos jornais, reflitam, de facto, a verdade por mais crua que ela seja. Só desta forma podemos dignificar aqueles que, agora, já não nos podem ajudar a contar A VERDADE. Será que temos de organizar uma manifestação e, já agora, sessões de esclarecimento para que elucidemos todos aqueles que escrevem sobre a guerra, que tenham um pouco de pudor nos seus escritos, não fazendo das suas experiências FADOS DOS COITADINHOS e obter a comizeração de quem, também, não estando ao corrente de certos factos, deles faça heróis.
6. Por mim, já tive os meus 5 minutos de Glória ao servir o País. Por acaso, quem esteve na Guiné dois anos completos, teve 420.480 minutos de dor e sofrimento. Deixem de nos contar histórias, contemos é a verdade.
José Martins
__________
Notas de CV:
Vd. último poste de José Martins de 14 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3738: Recortes de Imprensa (13): A minha Guerra - José Paulo Pestana, Correio da Manhã, de 4/1/ 2009 (José Martins)
Vd. último poste da série de 22 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3661: Blogoterapia (84): Vai-te embora, tuga dum carago! (José Teixeira)
Boa tarde
Parece que estamos numa boa altura de fazer uma breve análise sobre aqueles que estiveram na Guiné e que pretendem que, antes de mais, a HISTÓRIA SEJA UM FACTO VERIDICO.
Se observarmos três números que se encontram no nosso blogue, temos:
Número de membros: 293
Número de visitas: 894.941
Período de tempo: 4 anos
Façamos a contabilidade:
Número de visitas, a dividir por 4 anos, a dividir por 365 dias, teremos 612,945 visitas diárias em média.
Número de visitas diárias a dividir pelo número de membros, resulta 2,09 visitas membro/dia.
Destes números se infere que somos uns fanáticos e visitamos duas vezes o blogue por dia, mas...
1. O número de membros tem vindo a crescer exponencialmente e, muitos deles não fazem visitas diárias. Eu, por exemplo, se num fim de semana não tiver que abrir o computador, aguardo por outro dia. Nas férias, estou mesmo de férias, nem tenho o PC próximo de mim.
2. O número de membros indicado não é um número médio, é o número actual.
3. Não acredito que um fanático esteja sempre a entrar na página para contar entradas. Se é fanático deixa a página aberta o dia todo, faz refrescamentos e vai lendo.
4. Resultado a que quero chegar: Não são só os membros que nos/se visitam. Mais alguém, como nós bem sabemos, visita estas páginas para consulta, curiosidade, estudo e mais não sei quantos motivos.
5. Prioridades: Que este blogue ou outras páginas, incluindo as dos jornais, reflitam, de facto, a verdade por mais crua que ela seja. Só desta forma podemos dignificar aqueles que, agora, já não nos podem ajudar a contar A VERDADE. Será que temos de organizar uma manifestação e, já agora, sessões de esclarecimento para que elucidemos todos aqueles que escrevem sobre a guerra, que tenham um pouco de pudor nos seus escritos, não fazendo das suas experiências FADOS DOS COITADINHOS e obter a comizeração de quem, também, não estando ao corrente de certos factos, deles faça heróis.
6. Por mim, já tive os meus 5 minutos de Glória ao servir o País. Por acaso, quem esteve na Guiné dois anos completos, teve 420.480 minutos de dor e sofrimento. Deixem de nos contar histórias, contemos é a verdade.
José Martins
__________
Notas de CV:
Vd. último poste de José Martins de 14 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3738: Recortes de Imprensa (13): A minha Guerra - José Paulo Pestana, Correio da Manhã, de 4/1/ 2009 (José Martins)
Vd. último poste da série de 22 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3661: Blogoterapia (84): Vai-te embora, tuga dum carago! (José Teixeira)
Subscrever:
Mensagens (Atom)