quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7640: Notas de leitura (191): Intervenção Rural Integrada, a experiência do norte da Guiné-Bissau, de Mamadu Jao (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Janeiro de 2011:

Queridos amigos,
Este livro de Mamadu Jao impressionou-me profundamente. É preciso ter coragem para desmantelar os interesses de uma ajuda ao desenvolvimento que, regra geral, decepciona e deixa as populações numa maior amargura. Não se devia fazer cooperação, sobretudo em meios rurais (a população da Guiné, como é de todos sabido, é profundamente rural) sem ouvir os antropólogos sociais e culturais.
Estes milhões e milhões da cooperação e da ajuda ao desenvolvimento podiam ter melhor sorte desde que se conhecesse verdadeiramente as aspirações dos seus potenciais beneficiários.
Esta leitura ajuda a perceber o caudal de desastres em que tem vivido a Guiné-Bissau.

Um abraço do
Mário


Porque tem falhado, porque continua a falhar, o desenvolvimento na Guiné-Bissau

Beja Santos

O título “Intervenção Rural Integrada, a experiência do norte da Guiné-Bissau”, de que é autor o antropólogo Mamadu Jao, não deixa antever a riqueza da análise sobre os problemas fundamentais do desenvolvimento e como as autoridades políticas da Guiné-Bissau, desde a independência, têm sistematicamente falhado na obtenção de resultados. Seja-me permitida a ousadia de sugerir que ninguém deve ir hoje para o Governo na Guiné-Bissau, ser ali cooperante, ou até mesmo voluntário de uma organização não-governamental sem ler este livro. O que é que ele tem de tão precioso?

Logo o prefácio de Flavien Fafali Koudawo que desafrontadamente avalia o falhanço dos financiamentos externos neste país que vive de projectos mas que não tem, para o seu funcionamento orgânico, um projecto. Logo em 1974, independentemente dos sonhos e do altruísmo da governação de Luís Cabral, visão clara desse modelo foi coisa que nunca houve. As próprias orientações do III Congresso do PAIGC (1977) que se debruçou sobre a reconstrução nacional conseguiu dar substância a um projecto nacional, as promessas de desenvolvimento derramaram-se em múltiplos projectos cujos resultados apontam para o zero de eficácia. Entendeu-se o progresso como uma corrida contra o tempo, desenhava-se à régua um rumo para recuperar o tempo perdido, o desenvolvimento era encarado como um processo linear ou seja se havia atraso com boa vontade e determinação mudavam-se as mentalidades, nasciam actividades, atingiam-se metas, era tudo simples como os cálculos matemáticos, bastava usar palavras mágicas como: participação comunitária, iniciativas de bases, desenvolvimento integrado ou duradouro, desenvolvimento humano. Os representantes das agências das Nações Unidas e os cooperantes oficiavam esta missa, arrastando o Estado, as ONG, as múltiplas associações guineenses. Gastaram-se milhões em nada, o balanço é desalentador e os porquês, escreve o prefaciador, estão bem enunciados no trabalho de Mamadu Jao.

O antropólogo (que é hoje director do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa) começa por nos prevenir quanto à metodologia adoptada para análise do impacto de uma experiência de intervenção rural integrada. Ele parte de uma hipótese operacional: as dificuldades dos programas e/ou projectos de apoio ao desenvolvimento rural na Guiné-Bissau não se devem tanto às carência de ordem financeira e de recursos humanos mas são motivados sobretudo por: a incoerência na implementação das políticas de desenvolvimento; a adopção de estratégias de intervenção inadequadas; a deficiente administração e a má gestão dos recursos. Procede-se igualmente a análise de todo um conjunto de instituições que aparecem ligados ao programa, avaliam-se as suas inter-relações e procura-se saber como tudo funcionou e que resultados se obtiveram para a melhoria da qualidade de vida das populações envolvidas. O autor socorreu-se da bibliografia mais pertinente, de entrevistas e da sua própria observação.

Primeiro, o conceito de desenvolvimento rural integrado continua a ser sujeito a várias definições podendo abarcar crescimento económico, aumento de produtividade, melhor distribuição dos rendimentos, acréscimo do potencial humano no contexto das relações entre grupos sociais. Daí as receitas e os modelos para se obter esse potencial com a implementação de acções de desenvolvimento que devem partir dos interesses reais dos beneficiários. O que a prática tem ensinado é que os planificadores se substituem às aspirações e às práticas socioculturais das populações envolvidas. Quer-se desenvolver recorrendo ao capitalismo de Estado, a políticas socialistas, ignorando os usos e costumes, por puro voluntarismo. E daí o descalabro dos resultados.

Segundo, o autor apresenta-nos dados de base e percorre o historial de modelos de desenvolvimento desde a independência até ao final da década de 80. Daí parte para o desenvolvimento rural integrado na Guiné-Bissau e a ênfase política dada ao desenvolvimento rural tido como sector prioritário. Foram delineados objectivos para estes programas em várias regiões e a cooperação sueca aceitou co-financiar na região centrada em Bula um programa de desenvolvimento.

Terceiro, o autor apresenta a estratégia e depois desmonta-a em função dos resultados. Ninguém teve em consideração as questões étnicas, a preparação efectiva de quadros locais, ninguém supervisionou os transportes, a entrega de combustíveis, a formação de demonstradores, em suma tudo falhou nos sectores florestal, pecuário, social; as infra-estruturas tiveram vida efémera e não se cuidou da sua manutenção, as mulheres não foram enquadradas, não se assegurou assistência sanitária, etc. Tudo conjugado, os resultados são calamitosos, descurou-se o mau funcionamento dos ministérios (o mesmo é dizer que há um permanente bloqueio institucional) onde é proverbial a falta de definição de competências e por conseguinte nunca há coordenação efectiva de qualquer programa. Apurou-se ter existido gestão danosa de alguns dos intervenientes, cegueira na importação de equipamentos (inadaptados à realidade local e que depois se transformam em sucata pura).

Quarto, o antropólogo procede a análise de impacto, desagregando os aspectos da vida das populações que foram envolvidas, sempre com o cuidado de destacar o conflito entre a organização do poder, a organização do trabalho, a vida social e os conflitos que o programa não resolveu, daí ter-se ficado no impasse que redundou na desmobilização pura e simples das populações. Como não se cuidou da motivação no respeito dos usos e costumes, na criação de confiança, no uso de uma comunicação cultural apropriada, esta intervenção rural integrada não mudou ninguém.

Moral da história: é melhor ouvir as pessoas, conhecê-las e saber gerir as suas aspirações e não substitui-las. A ajuda ao desenvolvimento tem que mudar sob pena de agravar o descontentamento dos chamados países em vias de desenvolvimento. E a Guiné-Bissau não é excepção, bem pelo contrário.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7633: Notas de leitura (190): As Origens do Nacionalismo Africano, de Mário Pinto de Andrade (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7639: Parabéns a você (203): Luís Raínha, ex-Alf Mil Comando (1964/66), centurião mor, fez ontem os seus gloriosos 70!

1. Cartoon  supra, do Miguel Pessoa,  alusivo ao 70º aniversário do nosso camarigo Luís Raínha, que ocorreu ontem... Já muito ao fim da tarde ontem circulou, internamente, pela Tabanca Grande a seguinte mensagem:


Parece que o nosso camarigo e centurião-mor, o Luís Raínha,
faz hoje anos [de acordo com a sua página no Facebook]... 
E logo 70!... 
O alerta foi dado pelo camarigo J. Mexia Alves. 
E isto, a ser verdade, 
merece comemoração na nossa Tabanca Grande...

Luís, que a tua vida seja longa 
e que a tua saúde te permita continuar a manter, 
com energia e entusiasmo, 
a tua página sobre os comandos da Guiné (1964/66) (*)... 

Um grande Alfa Bravo. Luís Graça, demais editores do blogue e demais amigos, camaradas e camarigos.


2. Outras mensagens de parabéns que nos chegaram, entretanto:


(i) Meus caros, só agora abri a Net e vi esta msg. se quiserem aproveitem este postal que fiz agora em cima do acontecimento. Abraço. Migue [Pessoa].

Luís,  não tenho o endereço do Luís Rainho, faz-lhe chegar por favor o meu desejo de um feliz aniversário. Mário Fitas 
 (ii) 

(iii) Porque não tenho o e-mail do Centurião-Mor, peço-te que, servindo de retransmissor, mandes um grande Alfa Bravo a esse camarigo no dia dos seus 70 invernos. Carlos Pinheiro

Guiné 63/74 - P7638: Tabanca Grande (260): Ricardo Figueiredo, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BART 6523, Cabuca, 1973/74

1. Mensagem de Ricardo Figueiredo (ex-Fur Mil da 2.ª CART/BART 6523, Cabuca, 1973/74), com data de 5 de Janeiro de 2011:

Camarada Luis Graça,
Desde há muito que venho acompanhando o blogue e faço-o sempre com entusiasmo redobrado.

Felicito-te, como a todos os demais camaradas, que, de forma clara e escorreita, mantêm a verdade dos factos da guerra da Guiné, contada de forma simples, mas com a vivência de quem combateu.

Quero reforçar esse espírito, renovando as minhas felicitações e enviando-te uma fotografia tirada em Cabuca, no ano de 1973, no desempenho da minha comissão de serviço na 2.ª Cart/Bart 6523.

Gostaria assim de ser aceite, como mais um Amigo, nesta NOSSA Tabanca.

Com um Abraço de camarigo,
Ricardo Figueiredo

Cabuca, 1973 > Ricardo Figueiredo


2. Mensagem/resposta a Ricardo Figueiredo com data de 7 de Janeiro de 2011:

Caro Ricardo
Muito obrigado pelo teu contacto e especialmente pelas tuas palavras que nos incentivam a continuar.
Teremos um especial prazer em te receber na tertúlia onde esperamos colabores com as tuas histórias e fotografias, mas antes tens que cumprir as formalidades para seres apresentado formalmente à rapaziada.

Que queremos de ti? Uma foto actual e outra dos tempos de Guiné, uma pequena apresentação que começará com o teu nome, posto, especialidade, unidade, datas de ida e regresso, locais por onde andaste, e o que mais achares que devemos saber de ti.

Consulta o lado esquerdo da nossa página onde encontrarás tudo o que precisas de saber sobre o nosso blogue, como nos comportamos, o que somos, o que queremos, etc.
Tens lá um marcador do teu Batalhão a partir do qual poderás ver o que o teu camarada ex-Alf Mil António Barbosa já nos contou em prosa e fotografias.

Esperamos portanto o teu próximo contacto com os elementos em falta.
Entretanto recebe um abraço do camarada
Carlos Vinhal


3. Mensagem de Ricardo Figueiredo enviada ao nosso blogue no passado dia 17 de Janeiro

Meu Caro Carlos Vinhal,
Na sequência do mail infra, que mereceu a minha melhor atenção e agradeço, aqui vão os elementos solicitados:

RICARDO FIGUEIREDO, nascido a 5 de Janeiro de 1951, natural da freguesia de Cedofeita, concelho do Porto

Furriel Miliciano Atirador de Artilharia da 2ª Cart/Bart 6523

Embarque para a Guiné a bordo do N/M NIASSA em 07JUL73

Desembarque em Bissau em 13JUL73, com destino ao Campo Militar de Instrução do Cumeré para a I.A.O.

Cerimónia de recepção em 27JUL73 presidida pelo Exmo. General Comandante-Chefe António de Spínola (última cerimónia a que presidiu)

O Bart 6523 foi integrado no CAOP 2 e a 2ª Cart/Bart 6523 foi enviada para Cabuca, em meados de Agosto de 1973, onde se manteve até 20JUN74.

Embarque em Bissau com a regresso à Metrópole em 07SET74.

Assim e muito resumidamente, aqui deixo um breve apontamento sobre o pedido formulado.

Prometo, em breve, aumentar o meu modesto contributo.

Um abraço grato do camarada,
Ricardo Figueiredo


4. Comentário de CV:

Caro Ricardo
Estás formalmente apresentado à tertúlia. Estatisticamente és o 3.º Ricardo inscrito e o tertuliano n.º 472.

Muito obrigado pelo teu "atrevimento" em nos invadires (no melhor dos sentidos) intitulando-te camarigo. Se bem me lembro és o primeiro periquito a usar a palavra que no blogue reúne o conceito de camarada e amigo. Sê bem-vindo.

Como frequentas regularmente o nosso blogue, sabes que tens na tertúlia camaradas do teu BART 6523, sendo o mais activo o ex-Alf Mil António Barbosa. Infelizmente o ex-Cabo Aux Enf.º Alfredo Dinis já passou para outra dimensão, mas deixou o seu contributo que podes também consultar. Clica nas palavras sublinhadas que são ligações ao Blogue.

Cabe-te agora dar a tua contribuição, contando-nos as tuas experiências e impressões daqueles tempo que não queremos de volta, mas que não esquecemos.

Deixo-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia, e dos editores que esperam os teus textos e fotos.
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7581: Tabanca Grande (259): Guiné, o ex-Vietname da CART 1660 (Jorge Lobo)

Guiné 63/74 - P7637: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (44): Na Kontra Ka Kontra: 8.º episódio





1. Oitavo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 18 de Janeiro de 2011:



NA KONTRA
KA KONTRA


8º EPISÓDIO

Pelo conhecimento que o Alferes Magalhães tem do modus operandi dos guerrilheiros naquela área, que invariavelmente atacam sempre ao anoitecer, só exige aos seus um estado de alerta rigoroso a essa hora. Passadas duas horas de anoitecer vai para a sua morança, enfia um pijama e, de auscultador num ouvido, ao som de uma qualquer sinfonia, pega no sono e tem os sonhos que quer ter… pelo menos acordado.

O dia seguinte era promissor pois não havia “nuvens no horizonte”, no entanto algo iria acontecer que ofuscaria a conversa com o João. Pela manhã o João resolve apresentar formalmente as suas duas mulheres que viviam na tabanca, pois tinha mais duas noutras tabancas. A primeira, Kadidja, mãe do Bonco, e a Mariama.

Era sabido por todos os habitantes da tabanca qual a missão que a tropa metropolitana tinha atribuída: Era, face à ameaça da guerrilha vinda do Sul, tentar reter a população civil na tabanca, incutindo-lhe confiança. Assim e, inesperadamente nessa tarde, aparece a Kadidja, a primeira mulher do João, para falar com o Alferes. Que ele soubesse, era a única mulher da tabanca que falava alguma coisa de português talvez por ser mulher do comandante da Milícia. Foi muito rápida e concisa a dizer o que queria:

– “Alfero” o João não dorme comigo e já não come a comida que eu faço. Só está com a Mariama, a segunda mulher. Estou à espera que o Bonco faça dois anos para me ir embora e juntar-me com outro homem. Desculpe mas tem que ser assim.


Kadidja, a primeira mulher do Chefe da Milícia João Sanhá, 
como também Kadidja se chamava a primeira mulher de Maomé.

Sem querer, o Alferes Magalhães fica a saber que as mães, por causa do aleitamento dos filhos, estavam pelo menos dois anos sem terem relações com os maridos. Compreende que tem que ter também uma conversa com o João sobre este assunto, um tanto ou quanto melindroso. À noite, debaixo do mangueiro, terá que ter essa conversa pelo que a outra, a que mais desejava, continuará adiada.

Tentando esquecer o assunto vai tratar de implementar a colocação de sentinelas avançadas metidas na mata, para os lados de Padada. Os vestígios do PAIGC encontrados na operação realizada para essas bandas, a isso aconselhavam.

Ao anoitecer o nosso Alferes veste umas calças, pois ainda estava bem presente o problema que tinha tido com os mosquitos e que naquela altura lhe estragou os planos da mais que adiada conversa com o João. Jantou, e logo se dirigiu para o “bentem” para tratar do assunto que lhe fora colocado pela mulher do João, Kadidja. Misturar dois assuntos achava demais e podia ser contraproducente. A famigerada conversa, tão desejada, teria que ficar para o dia seguinte.

Sentados no “bentem”, por momentos, estiveram os dois em silêncio. A essa hora nunca era demais contemplar as trovoadas ao longe, sem a preocupação das que se desencadeavam perto e que provocavam autênticos dilúvios. Por mais que lhe custasse o nosso Alferes expôs o mal estar da Kadidja e alertou para as consequências de ser a mulher do Chefe da Milícia a debandar. Por arrastamento podiam acontecer mais “deserções”.

O João ouve, nada diz, e o Alferes Magalhães espera que a conversa venha a surtir algum efeito.

O milícia Braima ainda toca o seu kora e o nosso Alferes começa a fazer planos para o dia seguinte. Ainda antes de ter a tal conversa com o João, pelo desejo incontido, iria procurar a Asmau à morança do pai, chefe de tabanca. Não sabia muito bem como abordaria o assunto nem tão pouco quem lhe iria aparecer, se a bajuda se os pais. O desejo de a rever estava a tornar-se incontrolável.

Fim deste episódio

Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7630: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (43): Na Kontra Ka Kontra: 7.º episódio

Guiné 63/74 - P7636: Parabéns a você (202): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil da CCAÇ 2617 e Manuel Mata, ex-1.º Cabo do Esq Rec Fox 2640 (Tetúlia e Editores)

PARABÉNS A VOCÊ
19 DE JANEIRO DE 2011

JOSÉ CRISÓSTOMO LUCAS
E
MANUEL MATA

Caros camaradas aniversariantes José Crisóstomo Lucas* e Manuel Mata**, a Tabanca Grande solidariza-se convosco nesta data festiva. 

Assim, vêm os Editores em nome de todos os vossos camaradas e amigos desejar-vos um feliz dia de aniversário junto dos vossos familiares.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que vós amais e prezais.

Na hora do brinde não esqueçais estes vossos camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela vossa saúde e longevidade.
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Notas de CV:

(*) José Crisóstomo Lucas foi Alf Mil na CCAÇ 2617 (Magriços de Guileje) que esteve em Pirada, Paunca, Guileje e Quinhamel nos anos de 1969/71.

(**) Manuel Mata foi 1.º Cabo Apontador de Armas Pesadas do Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71.

(*) (**) Vd. poste de 19 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5674: Parabéns a você (64): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil da CCAÇ 2617 e Manuel Mata, ex-1.º Cabo do Esq Rec Fox 2640 (Editores)

Vd. último poste da série de 12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7597: Parabéns a você (201): Adilan, o menino que Manuel Joaquim trouxe da Guiné (Miguel Pessoa)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7635: Memória dos lugares (121): Bambadinca, ao tempo da Dona Violete da Silva Aires, a professora primária cabo-verdiana (Mário Beja Santos / Jaime Machado)




1. O nosso Camarada Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52,
Missirá e Bambadinca, 1968/70), enviou-nos  em 17 e 18 de Janeiro de 2011, as seguinte fotografias de autoria de Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70), às quais juntou os respectivos comentários:






O Jaime Machado fez uma exposição de fotografia na freguesia da Senhora da Hora (Matosinhos), de colaboração com o Lions Clube, e, claro está, com intuitos de angariar fundos para projectos filantrópicos. Pois ele oferece ao blogue, tal como a fotografia onde podemos ver a fachada do mercado de Bafatá na actualidade, esta imagem da escola de Bambadinca, tendo diante as insígnias dos batalhões que por ali tinham passado (vê-se nitidamente que havia referência a três unidades militares, creio que atrás está a insígnia do BART 1904) e, no centro, a bandeira hasteada. Não me admiraria que a professora, D. Violeta, estivesse embevecida a assistir a tudo de casa, ali ao lado...


Bambadinca, mesmo quando o porto do Xime ganhou projecção, a partir de finais de 1969, era o escoadouro de mercadorias do Leste, manteve durante a guerra um papel de primeira grandeza no aprovisionamento de todos os aquartelamentos. Consigo distinguir o Ismael Augusto, respondia por tudo quanto fossem viaturas e peças. É o primeiro à esquerda. Hoje tudo desapareceu, restam umas estacas.


Um outro ângulo do porto de Bambadinca, em tempo de azáfama. Tanto era possível aqui chegar um batelão que levava mancarra, como embarcações com passageiros e carga (foi o que me coube, numa viagem de 10 horas, de Bissau até aqui, passando meteoricamente por Porto Gole, em 2 de Agosto de 1968), como vários comboios de carga ou LDP ou LDM com equipamento militar. A partir de Outubro de 1969, a situação mudou com as obras do porto do Xime que o tornaram mais atractivo para o transporte de material militar e tropas. E com o alcatroamento e a capinação abundante das bermas, entre o Xime e Amedalai, reduziram-se substancialmente os riscos de emboscadas e minas.


Esta Bambadinca a caminhar para o rio Geba já não existe. Esta estrada graciosa transformou-se num caminho cheio de capim, nas bermas agonizam edifícios que há 40 anos fervilhavam de vida, com comércios de todo o tipo. São verdes com que hoje não se captam imagens, era o verde da Fuji. Ao fundo, do lado direito, o Bairro Joli e Santa Helena; no fundo, do lado esquerdo, sente-se o porto de Bambadinca e, mais adiante ,a bolanha de Finete. Vivi este ambiente que o Jaime Machado captou do extremo do quartel, num amplo balcão. Como gosto desta minha Bambadinca!


Bafatá > Fotografia tirada pelo Jaime Machado, nosso confrade que comandou, entre 1968 e 1970, um pelotão Daimler, em Bambadinca, que visitou a Guiné em Abril passado. Ficamos a dever-lhe esta bela fachada do mercado de Bafatá, com cores bem diferentes daquelas que existiam no nosso tempo, então era um verde descorado, a dificultar a contemplação, pois merece atenção, naquele tempo não havia sugestão arábica tão imponente como aquela. Hoje o mercado é no exterior, naquela época tinha um ambiente fascinante e buliçoso. Ali se comprava ourivesaria ao único ourives da região. Assisti a esta porta ao desfile de cavaleiros fulas, vinham garbosos nos seus cavalos brancos, estavam cientes que tinham uma plateia embasbacada. Aqueles tempos em que se conseguiam gravações sublimes de Wagner, Verdi ou Strauss em casa comerciais onde se vendia (em aparente confusão) fita de nastro, candeeiros a petróleo e loiça de esmalte...
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série de15 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7619: Memória dos lugares (120): Bambadinca, ao tempo do Manuel Bastos Soares, ex-Fur Mil, CCAV 678 (1964/66), e da Dona Violete da Silva Aires, a professora primária cabo-verdiana

Guiné 63/74 - P7634: Estórias do Juvenal Amado (34): Só o aprendiz sabe o que custa aprender

1. Mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 17 de Janeiro de 2011:

Caros Luís, Carlos, Briote, Magalhães e restantes atabancados.
Quando pensamos na infância e percurso dos miúdos que mal saíam da escola tinham que ir trabalhar, vimos a diferença com o dias de hoje.
Os filhos eram os servos baratos nos campos da família, iam para as fábricas, para as lojas como marçanos, todo dia com a cesta a fazer entregas, e muitos os pais pagavam do seu bolso a aprendizagem nas oficinas.
Foram mais estes, dos que tiveram condições de estudar e quando chegaram à idade do serviço militar, lá foram lendo mal e escrevendo pior.
É para esses meninos esta estória.

Um Abraço
Juvenal Amado

Mosteiro de Sta. Maria de Alcobaça. Foto com mais de 40 anos, mas este traçado existiu até há pouco tempo. Agora é só pedra e saibro.



SÓ O APRENDIZ SABE O QUE CUSTA APRENDER

- Jorge… Vá acorda filho…

A voz vem de muito longe e aproxima-se lentamente, até que toma consciência de que é a mãe a chamar de mansinho, como que a pedir desculpa de o estar a acordar tão cedo.
Está frio. Ao passar as mãos sobre o cobertor, vulgarmente chamado de papo, nota que este está húmido da condensação do calor do corpo.

Ainda não são 7 horas e o Janeiro de 1963 vai frio.
Está escuro.

A mãe avia-lhe o almoço. Acaba de tomar o café da manhã já passa das 7 horas, tem de andar depressa para chegar a tempo à paragem, onde apanha a carreira que o levará à localidade de Valado dos Frades.

A avenida João de Deus está escura, escuro e silencioso está o Rossio, onde o Mosteiro, indiferente ao frio da geada, o vê passar rumo à rua de Baixo, passa pelo o posto da GNR e as suas grandes portas verdes, que está todo escuro, salvo a lanterna eléctrica por cima da porta e segue mais cinquenta metros até à paragem dos transportes públicos junto ao cruzamento da Sevena.

A passagem pelo posto fá-lo lembrar que acontecimentos sombrios como a invasão da Índia Portuguesa, o assalto ao paquete Santa Maria, o começo da guerra primeiro em Angola, depois Moçambique e agora na Guiné, tinham crispado a sociedade parda e cinzenta, abanando as convicções ganhas na escola ainda de memória fresca, de país inatingível, que só o nome afastava os inimigos. Enfim a propaganda do regime lá nos bombardeava com razões e vitórias no campo militar, mas que escondia o facto, de estarmos sós no contexto Internacional e justificavam a falta de liberdade com segurança da Pátria.

Está à espera há pouco tempo, mas o calor que ganhou pelo caminhar apressado, rapidamente saiu através do casaco onde está embrulhado.
Passam vultos silenciosos nem dão por ele. Todos carregam algum fatalismo e não esperam outra coisa que um dia a seguir ao outro. O magro salário deles fará os seus filhos engrossar a legião de trabalhadores, que a própria vida se encarregará de ensinar com dureza, que as oportunidades nunca serão iguais para todos.

A camioneta está a chegar. O homem ao volante bem como o revisor olham para ele, passageiro único, como que a censurá-lo de não ir apanhar o transporte numa paragem onde houvesse mais passageiros.

A roupa gelada é comprimida contra o corpo ao sentar-se. Olha para as janelas das casas ainda às escuras e tenta evitar um sentimento de inveja, pelo conforto que os seus ocupantes sentem ainda.

O rádio debita músicas da época, mais tarde chamadas de nacional-cançonetismo.

Nisto algo quebra o status e ouvem-se os primeiros acordes do "Twist And Shout" dos Beatles.
Fica mais atento.
O condutor da camioneta apressa-se a desligar o rádio, como se de um censor de lápis azul se tratasse. Decidir o que os outros devem ouvir ou ler, bem como a cor do lápis, é um problema da época.
Como ele está enganado ao pensar, que pode parar a marcha dos tempos, com um simples premir de um botão.

Já é dia mas o tom é pardo e húmido, talvez a proximidade do rio Alcobaça, que corre paralelamente à estrada, seja a razão. O mesmo rio no Verão serve em alguns pontos para dar uns mergulhos ou pescar uns barbos.

Pararam na localidade chamada Fervença descem uns e entram outros. Deita um olhar à casa onde nasceu, os pomares em redor estão todos brancos de geada e o frio que entra pela porta, fá-lo pensar que próxima vez tem de escolher outro lugar mais abrigado.

A Praça Central já em Valado dos Frades é a última paragem.

É uma povoação onde as pessoas do mar se encontram com os de terra e resulta na metamorfose de pescadores com agricultores. Depois mercê da quantidade de empresas de cerâmica, porcelanas e vidro, rapidamente passam a operários, que trabalham a terra antes e após o horário de trabalho das fábricas.

Jorge vai a correr daí até à fábrica de cerâmica "Os Pereiras", onde é aprendiz.

Chega esbaforido depois de correr mais de um quilómetro, com o frio a entrar pela boca e pelo nariz. São quase oito horas. A camioneta segue para a Nazaré e ultrapassou-o no caminho.

O chefe da secção do gesso é um grande artista na arte de modelar bem como pintor. Das suas mãos nascem cães, gatos, pássaros, jarras e terrinas como por magia. Fez um candeeiro em forma de dragão com uns 25cm de altura que motivou uma autêntica romaria dos trabalhadores da fábrica para o apreciarem.

Depois de esbanjar talento por todas as fábricas da região, foi mais tarde para Angola, onde montou uma bem sucedida empresa.

Escusado será dizer que ninguém se torna artista só por privar com um.
Infelizmente a habilidade não se pega como a gripe. Pode-se aprender alguma técnica, mas as mãos que são capazes de executar o que o cérebro cria, é só para alguns.

Assim o Jorge aprendeu a dar e a tirar sabão, das madres para fazer formas. Mexer o gesso com um piaçá que é a tecnologia da época.

Os dias passavam entre fazer pesados moldes e acartá-los para dentro dos fornos por vezes com um saco de serapilheira pela cabeça. Aproveita-se assim o calor secando-as mais rapidamente. De vez em quando a visita dos fiscais de trabalho, fornecem assim uma folga ainda que de uma hora ou duas, mas sempre bem vinda. Vêm à procura de trabalhadores menores e não inscritos na Segurança Social, que verdade seja dito são vários de ambos os sexos. Sendo assim, quando algum carro dos referidos serviços pára à porta da fábrica, é uma correria para os pinhais próximos.

Os fiscais por ali andam a cheirar bastante tempo e, quando finalmente se vão embora, vão à procura deles como de gado tresmalhado se tratasse.

Está quase na hora, vai limpar as ferramentas de toda a gente e arrumá-las. Toca o sinal das 18 horas, lava as mãos, tira a roupa de trabalho e corre para a Praça Central, onde a camioneta dos Claras não esperará por ele para o levar para casa.

Já está na paragem quando o transporte chega, o caminho parece mais curto.
Sobe, vai direito a um lugar vago, senta-se e pensa nos 42 escudos que ganha e nos 48 escudos que gasta em transportes por semana.

Talvez o condutor o deixe ouvir desta vez o Twist and Shout dos Beatles.

Juvenal Amado
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7565: Estórias do Juvenal Amado (33): O Léo e a macaca Chita

Guiné 63/74 - P7633: Notas de leitura (190): As Origens do Nacionalismo Africano, de Mário Pinto de Andrade (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Janeiro de 2011:

Queridos amigos,
Esperava-se mais deste ensaio de Mário Pinto de Andrade, dado o seu currículo intelectual. É uma abordagem à volta no chamado protonacionalismo africano, há poucas fontes, a análise incide sobretudo em Angola, fala-se ao de leve nos factos de Cabo Verde e Guiné, seja como for é um dado necessário para o levantamento bibliográfico sobre a literatura e a história da Guiné.

Um abraço do
Mário


Origens do nacionalismo africano

Beja Santos

Mário Pinto de Andrade é um nome indispensável no estudo e na história dos movimentos independentistas africanos de expressão portuguesa. Participou, ao lado de figuras como Amílcar Cabral, Eduardo Mondlane e Francisco José Tenreiro, em inúmeras actividades culturais voltadas para a redescoberta de África, tendo sido um dos fundadores, em 1951, do Centro de Estudos Africanos. Em 1954, partiu para Paris e no ano seguinte, já como redactor da Presence Africaine, foi um dos organizadores do I Congresso de Escritores e Artistas Negros. Em 1960, assumiu a presidência do MPLA, cargo que ocupou até 1962. Entre 1965 e 1969, coordenou a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, e de 1971 a 1972 integrou o Comité de Coordenação Político-Militar do MPLA na frente Leste. Tendo entrado em conflito com Agostinho Neto (na corrente que ficou conhecida com o nome de Revolta Activa), exilou-se na Guiné-Bissau onde, entre outras funções, foi ministro da Informação e Cultura. É autor de uma biografia política de Amílcar Cabral.

Ao falecer em Londres, em 1990, deixou praticamente concluído um estudo sobre a formação dos ideais nacionalistas em África. Analisa a importância que teve a implantação da República e o conjunto de aspirações dos povos indígenas das colónias portuguesas mesmo depois da implantação do Estado Novo. É um olhar interessante sobre um longo período histórico que precede a génese da descolonização em África, infelizmente tem pontos que certamente o autor teria desenvolvido e clarificado caso tivesse tido circunstância para nova revisão, legou-nos um esquema e não uma tese acabada. As notas de recensão que se seguem abarcam, como é compreensível, matérias de carácter geral com incidência na vida da Guiné.

Primeiro, o autor recorda que a problemática do nacionalismo ganhou redobrado interesse com as explosões nacionalistas após a queda do Muro de Berlim, tornou actual situar as definições de nação e nacionalismo, mesmo à luz do marxismo.

Segundo, lança um olhar sobre a ideologia e as formações sociais no processo histórico da colonização portuguesa, chamando a atenção para a produção do crioulo na geografia do tráfico negreiro. Há falta de meios para ocupar, o colonizador privilegiou a assimilação, introduzindo mesmo a categoria de civilizados e não civilizados. Com o liberalismo, os letrados, no fundo os quadros escolarizados que viriam a ocupar missões na administração e até na gestão dos territórios. Passaram a ganhar voz, tornaram-se uma força consciente ao serviço dos interesses da terra. É aqui que o autor analisa os crioulos de Cabo Verde e Guiné, Cabo Verde forneceu missionários, altos funcionários, incluindo na justiça, profissões liberais e grandes negociantes. É que com esse liberalismo passou a ser discutível o papel humanista da raça negra e o protagonismo dos seus filhos em defesa dos povos.

Terceiro, é nesse contexto que emerge o protonacionalismo, ou seja, com o aparecimento da República criou-se uma atmosfera favorável à organização de espaços de interesses, apareceram jornais, associações, grémios, caixas económicas, em nome da solidariedade e da dignidade dos povos essas entidades promovem a discussão pública dos assuntos económicos, das associações de classe, promove-se a instrução e defende-se a universalidade da defesa dos oprimidos. O autor fala no Partido Africano, na Liga Angolana, na Junta de Defesa dos Direitos de África como exemplos de um estado de espírito da emergência do nativismo, dissecando mesmo o que diferenciava a Liga Africano do Partido Nacional Africano. Não é por acaso que Bolama entre as guerras possui grupos aguerridos a defender estes princípios, um deles será Juvenal Cabral.

Uma abordagem curiosa do autor tem a ver com aspectos organizativos da comunidade negra na Grã-Bretanha e no seu Império, mas o leitor fica sem entender como essa ilustração poderá ser útil para compreender o protonacionalismo da África portuguesa.

Em jeito de conclusão, o autor refere que “o protonacionalismo, na sua essência, foi produtor de um discurso como uma finalidade ilusória: assumindo-se como negros cultos, no molde ocidental, sujeitos da nação portuguesa e legalistas, esses ideólogos, por condições históricas conducentes à imaturidade na sua análise, não tinham atingido o grau crítico da compreensão lógica do sistema colonial português”.

A este assunto se irá voltar mais adiante, quando se proceder ao estudo das memórias de Aristides Pereira e como ele avalia o peso político, económico e sociocultural das vanguardas protonacionalistas da Guiné e de Cabo Verde.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7618: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (14): Aquele domingo de festa no Bambadincazinho

Vd. último poste da série de 18 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7631: Notas de leitura (189): A minha coluna emboscada e o livro A Última Missão, do Cor Moura Calheiros (Manuel Marinho)

Guiné 63/74 - P7632: As nossas melhores fotos (1): O obus 14, Bedanda, 1971 (Amaral Bernardo) e 1972 (Vasco Santos)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1972  > O Obus 14...(*) Embora parecida, esta foto não é igual à que já tínhamos publicado aqui antes e que de resto figura na coluna do lado esquerdo do nosso blogue, na série "Fotos famosas"... Alguém sabe qual era o Pelotão de Artilharia que estava em Bedanda, nesta altura ?

Foto: © Vasco Santos (2011). Todos os direitos reservados.




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 > A famosa e feliz foto do ex-Alf Mil Médico Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007: a saída do obus 14, de noite. 


"Foi tirada com a máquina rente ao chão. Bedanda tinha três. Uma arma demolidora. Um supositório de 50 quilos lançado a 14 km de distância... Era um pavor quando disparavam os três ao mesmo tempo... Era costume pregar sustos aos periquitos... Eu também tive honras de obus, quando lá cheguei... Guileje não tinha nenhum obus, mas sim três peças de artilharia 11.4. A peça era esteticamente mais elegante do que o obus" - disse-me o Amaral Bernardo, no dia em que o conheci pessoalmente, no Porto, no seu gabinete no Hospital Geral de Santo António, que é a sua segunda casa, e onde é (ou era, em 2007) o director do ensino pré-graduado da licenciatura de medicina do ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar/HGSA Ciclo Clínico (ou seja, responsável por mais de meio milhar de alunos, um batalhão)... 


Foto: © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados.
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Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 17 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7629: Memória dos lugares (121): Bedanda, do tempo da malta da CCAÇ 6 - 1972/73 (Vasco Santos)

Guiné 63/74 - P7631: Notas de leitura (189): A minha coluna emboscada e o livro A Última Missão, do Cor Moura Calheiros (Manuel Marinho)



1. Mensagem do nosso camarada Manuel Marinho* (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), com data de 16 de Janeiro de 2011:

Caro Carlos Vinhal
Envio-te este texto, se entenderes publica.
Manuel Marinho




A minha coluna emboscada, e o livro “A Última Missão”

Quero saudar o Cor Moura Calheiros pelo seu livro A Última Missão** que é um testemunho de grande qualidade para os ex-combatentes na Guiné, onde nos é dado a conhecer a grande actividade operacional do BCP12, a par de grandes operações realizadas em 71/73 em conjunto com Companhias de tropa regular.

Pela escrita avalizada do Cmdt Operacional dos Pára-quedistas, todos os militares são tratados sem falsos heroísmos, mas com elevado valor pelas dificuldades passadas.

Por exemplo:

- As dificuldades das Unidades que ocuparam o Cantanhêz, e construíram quartéis de raiz.
- As operações para libertar Guidaje, e a defesa heróica de Gadamael, e por aí fora.

Mas o que me leva a escrever este pequeno texto, são algumas questões novas contidas no livro, referentes a Guidaje nas quais eu participei.

Já não chegava o facto de termos ido numa coluna mal organizada operacionalmente, de nos terem mandado avançar de noite, de não terem avaliado bem o IN acabo por saber pelo Cor Moura Calheiros que até os socorros nos foram negados.

Nos fatídicos dias 8 e 9 de Maio de 1973 na coluna para reabastecer Guidaje, mal tivemos o primeiro contacto com o IN, (noite de 8) os pedidos de ajuda foram efectuados em tempo oportuno já adivinhando o que nos esperava, por não podermos retirar do local onde estávamos.
A viatura da frente da coluna (Berliet) estava imobilizada por efeito de mina.

Sei hoje graças ao Cor Moura Calheiros, no seu livro “A Última Missão” que a CCP 121 esteve em estado de prontidão para nos ir socorrer, logo na madrugada de 9 de Maio, desde as 5,00 horas até à nossa difícil retirada, para Binta.

A Missão dos Pára-quedistas era a de socorrer a coluna e recuperar as viaturas, sobretudo as que transportavam munições.
Os altos Comandos Militares na altura, esperaram para ver o que acontecia, e deixaram a situação chegar ao extremo.
Como o desenlace foi aquele, restou mandar bombardear as viaturas.

É provável que houvesse razões para crer que na manhã de 9 de Maio de 73 conseguiríamos repelir o IN, afinal era mais uma pequena emboscada. Mas não. Eram mais de 100 elementos IN na zona, e nós cerca de 50. Mesmo assim, com um IN muito superior em número, as suas baixas foram 3 vezes superior às nossas.
Infelizmente foi o começo na grande ofensiva terrestre do PAIGC no cerco a Guidaje, porque os ataques ao aquartelamento já estavam bem adiantados com fortes flagelações.

Lembro que fomos salvos por uma pequena força de cerca de 14 elementos da minha 1ª Ccaç/BCAÇ 4512 de Binta, que com enormes dificuldades conseguiu chegar até nós pelo menos com 2 viaturas e conseguimos com a sua ajuda retirar os nossos feridos.

Essa pequena força comandada por um Furriel foi resgatar com muito custo o meu amigo e Cmdt da coluna Alferes O.E., que se encontrava com a perna fracturada, e o trouxe às suas costas até à viatura.
Se (e este se é mesmo isso) a CCP 121 tivesse ido até Binta, chegaria a tempo de aliviar a pressão sobre nós, talvez salvar as cargas das viaturas, e na impossibilidade de minimizar as baixas que sofremos (4 mortos), teríamos conseguido de certeza trazer os corpos dos nossos camaradas que lá ficaram mais 2 meses, e isso já seria muito.

Mas isto são apenas ses.

Agora permitam a minha ousadia de questionar as considerações feitas no depoimento na parte final do livro pelo Sr Manuel dos Santos, ao tempo Cmdt das forças do PAIGC na frente Norte em 73 e na defesa da base de Cumbamory.
Passados todos estes anos é feita uma completa desvalorização por parte do PAIGC do ataque à base de Cumbamory pelo testemunho de um seu Comdt na época em questão.

Sobre a Operação “Ametista Real”:

Entre outras retiro estas afirmações:

- As bombas lançadas pela nossa aviação caíram em volta, na bolanha e não nas nossas posições.

- O único material destruído foram cerca de 20 foguetões 122mm.

- Na base não tivemos um único morto.

Estas são algumas das opiniões do Sr Manuel Santos. Perante este depoimento que dizer?

Os testemunhos de quem lá combateu do BCA na operação à base de Cumbamory dizem-nos que houve praticamente luta corpo a corpo. Como é possível numa operação daquelas os resultados serem estes?

Opiniões…

Apetece-me ironizar mas tenho muito respeito pelo autor do livro para o fazer.
Ao menos nos nossos testemunhos da guerra, não escamoteamos as nossas perdas, dignificamos sempre os nossos mortos caídos em combate, que é a forma mais honrosa de lhes perpetuarmos a memória.

Somos muito críticos, por vezes demasiado duros, a ajuizar o nosso comportamento na Guerra na Guiné, até surgem discussões entre nós, apenas com o intuito de sermos rigorosos na forma de contar o como foi e de que maneira aconteceu. Por isso somos, a consciência moral da Guerra Colonial da Guiné, e por muito que isso custe a quem quer que seja, ninguém apagará os nossos testemunhos, contados neste grande Blog, rico em amizade, camaradagem e solidariedade, único no género.

Por último aceitem a sugestão deste simples leitor e vosso camarada, leiam o livro.

Ao Cor Moura Calheiros, o meu obrigado mais uma vez por estas memórias, que ajudam a compreender o que foi aquele período na Guiné.

Um abraço para todos vós.
Manuel Marinho
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7318: In Memoriam (61): Fanta Baldé, de Farim (Manuel Marinho)

(**) Vd. poste de 5 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7385: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (4): "A História, tal como a ficção, não pode ficar em suspenso sem um epílogo que a justifique e lhe dê um sentido" (António-Pedro de Vasconcelos)

Vd. último poste da série de 14 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7614: Notas de leitura (188): Lugares de Passagem, de José Brás (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7630: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (43): Na Kontra Ka Kontra: 7.º episódio





1. Sétimo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 17 de Janeiro de 2011:



NA KONTRA
KA KONTRA


7º EPISÓDIO

Logo a seguir e, cumprindo a ordem de operações, monta-se uma emboscada no trilho com mais probabilidades de passagem de elementos do PAIGC. Passadas umas três horas em silêncio absoluto e porque nada aconteceu foi levantada a emboscada e inicia-se o regresso a Madina Xaquili caminhando agora paralelamente ao trilho anterior. Chega-se à tabanca ao anoitecer mas a horas de ouvir o relato dum Sporting/Académica.

Claro que nessa noite não há conversa com o João, o cansaço falou mais alto. Já na cama o Alferes Magalhães não deixa de pensar na Asmau, cuja imagem já se começa a desvanecer. Torna-se imperioso voltar a vê-la. Se não fosse o cansaço talvez não pregasse olho nessa noite mas, dadas as circunstâncias, acaba por adormecer.

Na manhã seguinte o nosso Alferes levanta-se cedo, como era de esperar dada a sua ideia frontal obsessiva. Sentado à mesa, à espera que o “legionário”, o cozinheiro, que tinha pertencido à Legião Estrangeira, preparasse o café para o pessoal, viu aproximar-se o João Sanhá. Caminhava de forma esquisita, com as pernas abertas. Na impossibilidade para já de rever a bajuda, entendia que o João era o elo de contacto prioritário, por isso chamando-o perguntou:

- Que se passa João, tem algum problema?

O João, que também tinha participado na operação, mostra as coxas que estavam em carne viva. O roçar das pernas uma na outra com as calças de permeio tinham provocado aquilo, até porque ele era um pouco anafado. Na tabanca, todo o serviço quer militar, quer das lavras era feito pelos milícias à sua ordem. O “enfermeiro” tratou-lhe das pernas e o Alferes Magalhães anteviu mais um adiamento da tão desejada conversa.

O Alferes precisava da conversa com o João, como de pão para a boca. No dia anterior deixara-o em paz até porque, ao orientar os trabalhos, teve a oportunidade de saber algumas coisas sobre a que ele já considerava a sua bajuda. O milícia Braima lembrava-se do nascimento da Asmau, teria ele uns quinze anos, e da pele clara que ela sempre tinha tido. Foi o suficiente para atear o fogo que parecia estar a extinguir-se. De qualquer forma, quer pelo Braima não falar bem português e também porque estava à espera de respostas bem precisas sobre determinados assuntos, resolve esperar que o João se restabeleça.

Entretanto tenta comprar um kora que o Braima possui, feito de meia cabaça, pele de macaco e cerca de vinte e cinco cordas de fio de pesca. Não o consegue. O Braima diz que com aquele som não conseguiria outro, para além de que já era do pai dele. Mas numa atitude simpática cede-lhe um “ori” a que chamava “iuri” e que ele próprio escavara em forma de canoa, num tronco de pau sangue. Mais tarde veio a verificar-se que seria um crime levá-lo a desfazer-se do kora. À noite, no “bentem”, debaixo do mangueiro no centro da tabanca, com o relampejar ao longe, ouvi-lo tocar era verdadeiramente sublime.

O Braima com as suas características incisões junto aos olhos.

O nosso Alferes via mais um dia passar sem ter a conversa com o João. Dedica-se ao trabalho, orientando os camaradas na construção dos abrigos e ele próprio trata de fazer um fornilho detrás dum poilão existente na orla da mata, instalação mais que provável dos guerrilheiros no caso de um ataque.

Nesta noite, como era de esperar, o João não aparece pelo que perdeu, além do mais, o autêntico concerto dado pelo Braima.

Pelo conhecimento que o Alferes Magalhães tem do modus operandi dos guerrilheiros naquela área, que invariavelmente atacam sempre ao anoitecer, só exige aos seus um estado de alerta rigoroso a essa hora. Passadas duas horas de anoitecer vai para a sua morança, enfia um pijama e, de auscultador num ouvido, ao som de uma qualquer sinfonia, pega no sono e tem os sonhos que quer ter… pelo menos acordado.

O dia seguinte era promissor pois não havia “nuvens no horizonte”, no entanto algo iria acontecer que ofuscaria a conversa com o João. Pela manhã o João resolve apresentar formalmente as suas duas mulheres que viviam na tabanca, pois tinha mais duas noutras tabancas. A primeira, Kadidja, mãe do Bonco, e a Mariama.

Fim deste episódio

Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7624: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (42): Na Kontra Ka Kontra: 6.º episódio

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7629: Memória dos lugares (121): Bedanda, do tempo da malta da CCAÇ 6 - 1972/73 (Vasco Santos)

1. O nosso Camarada Luís Graça, a propósito dos postes P7593 e P7611, enviou em 12 de Janeiro de 2011 a seguinte mensagem ao nosso Camarada Vasco Santos, que foi 1º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6, em Bedanda (1972/73):
Vasco: Diz-me uma coisa: 

(i) quantos meses esteve o Alf Mil Méd Bravo convosco, em Bedanda?; 

(ii) ele veio de onde?; 

(iii) foi a seguir para onde?; 

(iv) reconheces mais caras nas fotos que me mandaste?; 

(v) lembras-te do Alf Mil [Joaquim Pinto] Carvalho?; 

(vi) ele era da CCAÇ 6?; 

(vii) havia mais subunidades convosco em Bedanda?... 

Responde quando puderes. Um abração. Luís 

 2. O nosso Camarada Vasco Santos, em 15 de Janeiro de 2011, respondeu assim ao Luís: 

 Caro Luís Graça, Se bem que a memória já não seja a mesma, vou tentar responder o mais sucintamente possível ao solicitado. A saber: 

 1º.- Penso que o Alf Bravo esteve em Bedanda, 3/4 meses quando muito, senão vejamos: a) cheguei a Bedanda, mais ou menos, em meados Janeiro 1972, pois estive desde Dezembro de 1971 a tirar um curso de adaptação na Cheret, em Bissau; b) a última foto que tenho, com ele presente (na sua despedida) está datada de envio para minha casa, Abril de 1972; alis basta ver a foto da "farra" e ver que alguns colegas já usavam o “poncho”, sinal de início das chuvas; c) encontrei-me com ele, numa visita a Guileje´, quando lhe fui demonstrar um novo sistema de criptos. 

 2º. Não sei donde ele veio, sei que ia muitas vezes a Guileje. 

 3º. Penso que a despedida que lhe fizemos em Bedanda, seria para festejar o seu regresso definitivo à Metrópole. 

 4º. Quanto a se me recordo de mais caras/nomes nas fotos, claro que sim e vou indicar (fotos do Poste 7611): Foto 1: Alf Mil Figueiras (Viseu), Alf Mil Méd Bravo e Alf Mil Carvalho - lembro-me do alferes que está ao lado dele mas, sinceramente, não me lembro do seu nome. Tinha-o como um "tipo" cinco estrelas. 

Foto 2: Alf Mil Carvalho, Fur Mil Humberto Naia (de Vila do Conde, era de Artilharia). Em baixo: Alf Mil Figueiras, Alf Mil Silva (Esposende), Fur Mil Vaguemestre, Alf Mil Méd Bravo e Fur Mil Dias. Foto 4: Alf Mil Figueiras (óculos), Alf Mil Carvalho e o Alf Mil Méd Pignatelli. 


Foto 5 (farra): plano de baixo - iniciar pela esquerda: Lopes (padeiro), Nelinho/Gaia (enfermeiro), Mecânico/Lisboa (nome ?), Fur Mil Dias (enfermeiro), Dr. Bravo, Leão/Mecânico, Alf Mil Figueiras, Eu (Vasco Santos) e o Orlando (escriturário que vivia em Lisboa). 

 5º O Alf Mil Carvalho foi sempre da nossa companhia mas, como deves compreender, éramos uma CCaç Africana, de rendição individual, e ali o tempo para nós era eterno - vivíamos o dia a dia -, sem olhar para calendários. 

 6º. Em Bedanda, segundo me lembro, estavam as seguintes Unidades: 

  • CCAÇ 6 - 4 pelotões, um dos quais estava "destacado" junto ao rio Ungauriol onde estava colocado o meu amigo Carlos Azevedo e o Ismael Barros, o Alf Mil Silva (Esposende), etc.;
  • Um Pelotão de Artilharia; 
  • Um Pelotão de Morteiros; 
  • Um Pelotão de Canhões s/r; 
  • E um Grupo de Milícias. 

 7º. Na foto que dizes que o Dr. Bravo vai a entrar para um carro de combate, lamento informar mas, na nossa companhia apenas havia um Unimog, um jipe (?) e uma GMC (rebenta minas) para a água. O alferes ia entrar numa DO 27 para o regresso a Bissau, cuja foto anexo.
Guiné 63/74 - P7593: Memória dos lugares (119): Bedanda, do tempo da malta da CCAÇ 6: Alf Mil Médico Mário Bravo, Alf Mil Pinto Carvalho, Lopes, Borges, Silva, Figueiras... do 1º Cabo Azevedo, do Cap Ayala Botto (1971/72)... mas também do 1º Cabo Cripto Vasco Santos (1972/73) 

 14 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7611: (Ex)citações (125): Os prazeres do blogue: reconhecer caras de pessoas que conheci numa outra vida: CCAÇ 6 (Bedanda, 1972/73)
Caro Amigo Luís, aproveito o ensejo e, conforme te tinha dito no encontro que tivemos em Matosinhos (Tabanca), junto uma foto do obus de 14 cm, que estava em Bedanda a fazer fogo.
Bedanda, o obus 14
Nesta foto da "inauguração rio Ungauriol", do lado esquerdo, estou eu e, ao meu lado, de cigarro na mão, está o alferes que, se possível, gostaria que me ajudassem a identificar. Esta foto é de Julho de 1973 obtida na inauguração da nossa jangada, onde se pode ver, no canto, o nosso Capitão que substituiu o Cap Ayalla Botto.
Nesta foto (de qualidade muito má) mas onde poderás ver à direita, em terceiro, o Dr Mário Bravo. Esta foi a última foto que tirei ao grupo todo de pessoal branco da CCAÇ 6, antes da partida dele, com a data, enviada para minha casa, de 5 de Abril de 1972, pelo que, supostamente, foi tirada em Março (tudo o que era a preto e branco demorava a enviarem-me desde Bissau, mais ou menos um mês). O que era a cores como não existia nem lá, nem em Portugal, eu mandava revelar nos U.S.A.
A D.O. onde o Dr. Bravo viajou para Bissau

Qualquer dúvida aqui me terás para esclarecimento.
Um abraço amigo,
Vasco Santos
1º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6
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Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

15 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7619: Memória dos lugares (120): Bambadinca, ao tempo do Manuel Bastos Soares, ex-Fur Mil, CCAV 678 (1964/66), e da Dona Violete da Silva Aires, a professora primária caboverdiana

Guiné 63/74 - P7628: Parabéns a você (202): Dia 13 de Janeiro de 2011, Enfermeira Pára-quedista Maria Ivone Reis

PARABÉNS A VOCÊ - DIA 13 DE JANEIRO DE 2011

ENFERMEIRA PÁRA-QUEDISTA MARIA IVONE REIS


1. Mensagem da nossa camarada Rosa Serra (ex-Alferes Enfermeira Pára-quedista, BCP 12, Guiné, 1969), com data de 13 de Janeiro de 2011:

Aos bloguistas de Luís Graça
Apesar da hora tardia, gostaria de dar conhecimento a todos os camaradas que conheceram a enfermeira Ivone*, mas desconhecem a sua data de aniversário, que hoje esta nossa camarada faz anos.

Tenho pena que grande parte das enfermeiras pára-quedistas, incluindo eu, não a foi visitar para lhe dar um abraço.

Acabei de falar com a sobrinha, que me informou que ela teve várias visitas entre elas uma enfermeira pára-quedista, a enfermeira Francis. As restantes estiveram numa reunião já agendada para este dia. Fiquei mais tranquila.

Mesmo que a enfermeira Ivone esteja indiferente, a nível consciente, às nossas saudações, aqui fica expresso que não a esquecemos e Parabéns Ivone hoje estamos consigo.

Um abraço em nome das enfermeiras pára-quedistas que hoje não puderam visitá-la
Rosa Serra

Tancos, 8 de Agosto de 1961. Da esquerda para a direita: Maria do Céu, Maria Ivone, Maria de Lurdes, Maria Zulmira, Maria Arminda e o Capitão Fausto Marques (Director Instrutor).

Tancos 2005 > I Encontro de Mulheres Boinas Verdes > A Enfermeira Ivone corta o bolo comemorativo


2. Comentário de CV:

Queremos agradecer à Rosa a oportunidade que nos dá de, embora tardiamente, podermos felicitar a nossa querida Enfermeira Ivone Reis pela passagem de mais um aniversário. Lamentamos que o seu estado de saúde não lhe permita conviver com as suas camaradas Enfermeiras Pára-quedistas, desfrutando de um dia de aniversário rodeada pelas suas amigas de sempre.

Vamos desde já marcar encontro para o próximo dia 13 de Janeiro de 2012, para no dia certo voltarmos a falar da nossa camarada Ivone, um dos anjos, que do ar, nos levavam o alívio para o corpo e para alma.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6535: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (18): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (5): Maria Ivone Reis (Rosa Serra)

Vd. último poste da série de 12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7597: Parabéns a você (201): Adilan, o menino que Manuel Joaquim trouxe da Guiné (Miguel Pessoa)

Guiné 63/74 - P7627: Blogpoesia (109): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (10) (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  13 de Janeiro de 2011:

Amigo Carlos,
Aqui seguem,com um grande abraço, mais quatro sextilhas para "QUISERA".


QUISERA EU... (10)

Quisera ter poderes de tribunal,
a força de mandado judicial,
julgar nojentos crimes do pós-guerra.
Descolonizador sentar no "mocho",
quer fosse branco, preto ou até roxo,
culpado dos massacres de nhô terra...

Quisera ver Guiné desenvolvida
com hospitais, escolas, outra vida,
erradicada a fome e a doença...
Quisera ver os braços ocupados
nas fábricas, no campo, atarefados
na aposta da mudança, da diferença...

Quisera ver Guinéu bem sorridente,
à cata dum futuro de homem crente
sabendo um amanhã a ter lugar...
Está cerecido o mundo de mudança,
é tempo de chamar certeza à esp`rança,
suster a incompetência a governar...

Aviso também, visa o lusitano
na Ibéria, fácil alvo dum insano
governo d`incapazes, carreiristas...
Há urgência na mudança dos comandos,
p`ra ver chegar o fim destes desmandos,
d`ineptos e de vis oportunistas...

MM
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7617: Blogpoesia (108): HERÓIS e heróis (Manuel Maia)

Vd. último poste da série de 5 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7383: Blogpoesia (93): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (9) (Manuel Maia)