quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14298: (Ex)citações (262): A questão do afecto entre o povo de Portugal e o povo da Guiné-Bissau (Juvenal Amado)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 7 de Fevereiro de 2015:


A questão de afecto entre nós e o povo da Guiné-Bissau

Hoje as nossas relações com o povo da Guiné, leio-as à luz da saudade daquela terra e da juventude que tinha quando por lá passei.

Éramos homens simples que foram conviver com gente simples e, ao contrário de outras potências coloniais, nós não tínhamos conceitos racistas, nem estávamos espartilhados por proibições de relacionamento com autóctones, antes pelo contrário era promovida num são relacionamento ditado pela “psicola” base da política de Spínola por uma "Guiné Melhor" com que ele contava ganhar a guerra. Essa política oficial tinha outras intenções que visavam atingir outros ganhos é verdade, mas na nossa educação nunca constou a palavra apartheid desde Afondo de Albuquerque, que promoveu a cruzamento dos portugueses das caravelas com as indígenas, dando origem ao termo que Deus criou o Homem e os portugueses criaram a mestiçagem da Índia, Ceilão, Brasil e África, bem sabemos que nem sempre pacifica.

Amizade ou necessidade.

Os guineenses guardam também muitas recordações e afectos agravados pelo falhanço das transformações políticas em que a independência se atolou na luta política, na corrupção e prepotência dos novos dirigentes, que rapidamente se esqueceram por que tinham feito a guerra e do bem-estar do seu povo e ao contrário disso, foram as vinganças sórdidas que tanto sangue fez correr. Mistura-se assim a necessidade com a amizade.

A esperança deu lugar à descrença. As infraestruturas que nós construímos bem como as que os países doadores puseram ao dispor dos novos governos, para a melhoria do nível de bem-estar das populações, deram lugar a elites e à sua destruição nos conflitos que após a independência eclodiram entre facções e etnias.

Depois do descalabro das instituições e a falência do estado pós-independência, os guineenses rapidamente se aperceberam do duríssimo caminho que tinham para percorrer sem a nossa economia de guerra, com milhares de soldados e milícias a receberem ordenado, a nossa assistência médica, e do comércio que era exercido juntos aos quartéis, bem como o apoio logístico que era dado às populações. Os últimos dez anos da nossa soberania sobre os territórios tinham resultado num salto em frente, em praticamente todos os sectores, o que se acabou por perder.

Não era nem devia ter sido assim e era espectável ser diferente. Devia esse povo ter seguido em frente e alcançar o que não tinha conseguido, até ali governado por outros interesses que não os seus. Não sabiam que tudo isso estava a custar demasiado a Portugal e que a nossa economia não podia suportar por muito mais tempo aquele estado de coisas, talvez devido à estreiteza da visão política e económica com que Lisboa olhou para os territórios ultramarinos durante décadas, onde praticamente se impediu o crescimento e a autossustentabilidade.

Apesar de tudo, as nossas relações hoje são pautadas pela a ajuda solidária a nível de organizações que vivem das contribuições de ex-militares e pouco ou nada a nível institucional. Ainda há dias li o que escreveu uma cooperante quanto às dificuldades em desbloquear equipamentos, bem como medicamentos, pelos serviços aduaneiros excessivamente “zelosos e burocráticos” da Guiné-Bissau.

Mas quando falamos da Guiné, o coração amolece logo pois é um país muito pobre. Rapidamente são esquecidos os maus bocados que lá passámos, bem como os desmandos e razões que levaram parte dos guineenses, na esteira de outros povos africanos e asiáticos, a exigirem as suas autodeterminações antes mesmo de pegarem em armas.

Em abono da verdade essas exigências foram mal recebidas praticamente por todas as potências administrantes, que como se sabe os obrigou a lançarem-se em guerras contra a ocupação, e não poucas as vezes fratricidas, que levaram a utilização de uma violência entre eles muitas vezes superior à que foi utilizada contra os ocupantes.
Talvez muitos se tenham arrependido, mas quem sabe quantas pedras e curvas tem o caminho, antes de lá passar?

Mas tudo passou e nós nunca fomos maus rapazes e como tal, numa relação de irmãos ricos e pobres, hoje só não damos mais porque não podemos. E essa é a grande verdade.

Paz para eles e para nós que bem precisamos.

JA
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Nota do editor

Vd. último poste da série de > 20 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14275: (Ex)citações (261): Uma coisa posso dizer com clareza: o povo guineense é um povo digno de admiração (Manuel Joaquim, membro da ONGD Ajuda Amiga)

Guiné 63/74 - P14297: Pensamento do dia (19): A sociedade de Brunhoso (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 21 de Fevereiro de 2015:


A Sociedade de Brunhoso

Volto a Brunhoso como quem volta ao principio do mundo, foi lá que começou para mim o despertar das sensações e dos sentidos. Recordo ainda a primeira vez em que me reconheci ao espelho, provavelmente será a recordação mais antiga que tenho. Sei que foi na varanda da casa dos meus avós maternos. Não sei porque estava esse espelho que até era bastante grande na varanda. Nunca mais esqueci a surpresa e o espanto ao descobrir que o miúdo, de olhos azuis e cabelo arrepiado e loiro, que do outro lado do espelho olhava para mim, não era ninguém, mas a minha imagem refletida.
Olhando para dentro de mim, fazendo a tal introspeção de que falam os psicólogos, vejo-me num espelho já baço, que me devolve uma imagem que não me entusiasma tanto como o espelho da varanda.

Embora me tenha procurado estudar ao longo de todos estes anos de vida, do que consegui entender pouco encontrei que não fosse comum aos meus semelhantes. Não vou falar de mim, não vou falar das minhas qualidades, se é que as tenho, nem nos meus defeitos. Já aprendi com a vida que nunca devemos ter uma opinião demasiado optimista de nós próprios, pois nesse caso daremos aos outros a imagem ridícula de pavões de plástico insuflados de vento. Também nunca devemos ter uma opinião demasiado pessimista pois isso pode ser a via para uma vida de queixumes e auto-comiseração que nos pode levar a um mau fim. O melhor é pensarmos que somos como a maioria, um entre tantos, perdidos ou despercebidos na multidão.

Ao olharmos com muita insistência para o nosso umbigo, podemos ter o desgosto de pouco ou nada conseguirmos ver para além dele..
O melhor é estarmos atentos às realidades exteriores, estarmos atentos aos outros pois vêm-se melhor e ao conhecê-los aprendemos a conhecer-nos a nós próprios pois não somos muito diferentes. Somos todos macacos que evoluíram e até aprendemos a escrever.

Hoje neste regresso às minhas origens procuro entender e perceber os meus conterrâneos de menino e jovem e os que os antecederam. Sobretudo procuro entendê-los na sua verticalidade, na sua honra, na sua lealdade de uns para com os outros, na sua fidelidade à palavra dada, na sua hospitalidade. Não fantasio, na minha infância e juventude tudo isto era autêntico, tudo isto era real.
Pela história que tenho lido de várias fontes, livros, jornais, revistas, testemunhos dos mais velhos procuro conhecer e interpretar esse povo de Brunhoso a que pertenço e compreender as suas vidas e comportamentos.

Pastor de Brunhoso
Foto retirada do Blogue Brunhoso, com a devida vénia ao seu autor

Brunhoso no passado foi uma sociedade de subsistência e como tal pobre, onde as pessoas viviam com muito trabalho e com pouca fartura. Nesse tipo de sociedade não há lugar ao desperdício nem ao supérfluo. Nesses tempos antigos as pessoas à noite, antes de se deitarem, acubilhavam o lume, para guardar brasas para o acender na manhã seguinte e dessa forma pouparem um fósforo. Comia-se o que dava a terra e a carne dos animais que cada um criava, as aves e o porco, do qual se aproveitava tudo, até as tripas para fazer o fumeiro. Na casa dos meus pais, lavradores remediados, recordo-me dos dias de segada, no pino do verão, em que eram chamados muitos homens à jeira. Nesses dias, os trabalhadores tinham que ser bem alimentados, pois estavam sujeitos a um esforço enorme, e a nossa alimentação em casa também melhorava. Eu que lhes ia levar muitas vezes as refeições às searas, gostava sobretudo de comer com eles, pelas nove horas da manhã, as sopas de centeio com azeite rijado, alho e colorau, cada um com uma colher cerca de oito por cada tacho.

Uma sociedade de subsistência é uma sociedade que vive do essencial e que tem um grande respeito por tudo o que é essencial, a vida, a morte, os alimentos como o pão, o azeite e o vinho, são produtos quase sagrados, necessários à vida e às cerimónias religiosas.

A grande alteração dos costumes dos valores e mentalidades fazem já parte da história da minha vida, pois terá acontecido nos anos 60, quando se dá a grande emigração para a França e outros destinos europeus.
A "fuga" para o estrangeiro estendeu-se a todas as famílias de trabalhadores da terra e sobretudo aos mais válidos. Brunhoso sofreu uma devastação enorme, uma sangria terrível. A partir daí as relações económicas e de trabalho ficaram alteradas.e tudo se vai modificar, os costumes, os valores, as mentalidades. Os terrenos eram pobres e só eram rentáveis porque a mão de obra era barata. Com a debandada dos trabalhadores a mão de obra escasseia e fica mais cara, a mecanização da lavoura é dispendiosa e o retorno que dá em rendimento é fraco ou nulo. Quando escrevi no P12388(*) sobre o dia das sortes, disse que quatro dos meus "praças" já tinham partido para Angola ou Brasil mas esqueci-me de referir que os outros três, que fizeram a inspeção comigo, vieram propositadamente de França, para "dar a tropa" segundo a expressão deles. Não sei se vieram por medo ou por amor à Pátria, pois a Pátria poucos benefícios lhe tinha dado além duma professora que os enchia de bofetadas e reguadas se não soubessem as lições de história e geografia.

A revolução de Abril de 1974 irá dar outra compreensão aos habitantes das aldeias e campos de Trás-Os-Montes e outras terras do interior, mas eles já tinham feito a sua revolução.

As revoluções anteriores, a Liberal e a Republicana, nada tinham alterado nas suas vidas, os seus parcos recursos e as condições de trabalho nos anos cinquenta do século passado, reportavam à Idade Média. Quando as condições são difíceis e não conseguimos melhorá-las a atitude mais inteligente obriga-nos a conformar-nos com elas e a procurar sermos felizes dessa forma. Nessa sociedade escalonada, entre trabalhadores sem terra, muito poucos, pois uma hortinha quase todos tinham, pequenos lavradores que embora tendo já alguns bens, eram obrigados a trabalhar para os outros, os dez ou quinze lavradores "remediados" pois sem ter que trabalhar para os outros e tendo que chamar outros nas colheitas, trabalhavam as suas terras. Restam os ricos, no topo da pirâmide, quatro famílias poderosas, cujos proprietários não trabalhavam e tinham muitos a trabalhar para eles. Mesmo estes ricos não viviam duma forma muito faustosa pois para pôr os filhos a estudar por vezes viam-se com dificuldades. Estas relações entre uns e outros com as suas diferenças e desníveis perdiam-se na bruma dos tempos pelo que cada qual as aceitava sem pensar em culpas ou injustiças, enfim era o destino de Deus.

Pobres ou ricos, todos eram amigos embora houvesse queixas, como há sempre nas relações entre homens. Por exemplo, patrão que dava pouco vinho aos trabalhadores era "falado" e pouco considerado entre eles.

Sem que houvesse qualquer sindicato, os trabalhadores nem conheciam tal palavrão, mesmo nesse tempo de ditadura faziam chegar algumas revindicações aos lavradores. Lembro-me de ouvir o meu pai, fixei-lhe as palavras, sem lhe conhecer todo o significado social, pertencia aos lavradores remediados, dizer para um irmão ou cunhado o seguinte:
- Olha que os homens este ano querem mais um escudo por jeira!

Nunca soube quem era o porta-voz das revindicações. As casas mais ricas, por vezes com bastante regularidade, outras vezes atendendo à miséria de alguns anos, eram bastante permissivas com os mais pobres e deixavam que eles fossem "roubar" lenha, pastar os animais para os seus lameiros e davam também bens de primeira necessidade como pão, batatas, azeite e até forragem para os animais. Precisavam todos uns dos outros, daí também esta "caridade", não de todo desinteressada. Esta era a sociedade ideal que o ditador sempre quis para Portugal, humildes, trabalhadores, tementes a Deus e respeitadores da ordem estabelecida. .
Porém esta sociedade não foi obra dele, pois esta é uma sociedade que vem de séculos antigos que os reis, os senhores feudais e a Igreja criaram. Afinal ele terá nascido e sido criado numa sociedade semelhante e quis reproduzi-la num país inteiro.
Como disse atrás, as revoluções liberal e republicana, mais viradas para as grandes cidades e o litoral, passaram muito longe do Portugal interior.

Com a emigração dos anos sessenta e setenta, surgem os trabalhadores, que à custa de muito trabalho, muitas privações e sacrifícios, amealham muitos milhares de francos que numa primeira fase servirão para adquirir algumas terras que nunca tiveram e construir casas com melhores condições na aldeia. A febre dos francos era tal que até um tio meu, um lavrador "remediado", bastante aventureiro, que nunca tinha trabalhado para outros, já com mais de cinquenta anos, resolveu ir "a salto" para a França. Só conseguiu aguentar lá meio ano pois as condições eram mais duras do que ele pensava.

Nessa sociedade medieval desnivelada e pacifica, vivi contente, outras vezes descontente, mas eram tempos de mais alegria e entusiasmo pois foram os anos da infância e da adolescência. Os homens dessas sociedades, condenados a viver num espaço confinado, onde os parentescos se cruzavam entre todos e até por vezes o mais pobre podia ser irmão do mais rico, e a terem que encarar-se quase diariamente eram obrigados a serem leais e solidários. As sociedades mais pobres, talvez por causa da escassez de bens materiais, cultivam bastante e gostam de o demonstrar com algum orgulho certos valores espirituais e sociais como a lealdade, a honra e a hospitalidade. Atente-se aos berberes e a algumas tribos de árabes. Não sei se consigo dar a razão mais correta desse comportamento.

Nesse meio pequeno, a palavra dada e a honra eram como moedas de troca que garantiam a qualquer habitante desse universo limitado que teria sempre um amigo por perto, em quem podia confiar, em caso de necessidade. A hospitalidade que se cultiva faz parte dessa sociedade comunitária que desde tempos antigos teve que se defender do frio, da fome, dos lobos ou outros animais selvagens. Essa hospitalidade estende-se aos forasteiros que são sobretudo habitantes de terras próximas ou até longinquas. Inicialmente terá sido instituída para alimentar os homens em trânsito ou deslocados posteriormente terá ficado como uma prática cavalheiresca.

Brunhoso, esse paraíso para uns e um campo de trabalhos para outros, mas onde afinal se coexistia com uma felicidade relativa, está a acabar, a emigração e os média, acabaram com a sociedade de subsistência e impuseram a sociedade de consumo, onde tudo tem um preço convertível em dinheiro, até a lealdade, a palavra e a honra. Essa sociedade de subsistência com a evolução e a globalização estava condenada a acabar.
Duma sociedade de miséria, desigual mas fraterna, passamos para uma sociedade individualista e miserável, onde temos que estar sempre precavidos dos aldrabões, traficantes e trafulhas. Ficamos abertos aos produtos que a sociedade moderna e tecnológica fabrica, muitos deles necessários porque o markting os impõe como tal. Ficamos expostos aos vendilhões do templo que se insinuam nas televisões no intervalo das telenovelas.

Hoje a minha memória vagueia entre cá e lá, entre essa sociedade antiga e fraterna mas desigual que obrigou muitos dos meus conterrâneos a dar sesse grande salto que lhes deu dinheiro mas também muita humilhação e sacrifícios e, a sociedade de consumo, sociedade de banqueiros e financeiros, homens sem rosto e sem honra que nos governam e nos roubam a dignidade e o dinheiro.
As experiências têm falhado, mas tem que haver uma sociedade alternativa.

Não podemos, não devemos esquecer que os portugueses descobridores, povoadores, viajantes, emigrantes, dispersos por toda a Terra, há quinhentos anos descobrimos os caminhos da Terra inteira.

Talvez possamos fazer mais essa descoberta. .

Um grande abraço a todos os camaradas
Francisco Baptista
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Notas do editor

(*) vd. poste de 4 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12388: Estórias avulsas (73): O Dia das Sortes na aldeia de Brunhoso (Francisco Baptista)

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14289: Pensamento do dia (18): A guerra (colonial) e as nossas mulheres (Tony Borié / António Graça de Abreu)

Guiné 63/74 - P14296: Inquérito online: quando um irmão (e camarada) não "reconhece" outro irmão (e camarada)... Será que mudámos assim tanto nestes últimos 40/50 anos, com 3 de tropa e de guerra ?


António Carvalho, o "Carvalho de Mampatá", fur mil enf, CART 6250, Mampatá, 1972/74


O António Carvalho, hoje 


O Manuel Carvalho,  fur mil armas pesadas inf,  CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70)


O Manuel Carvalho, hoje

Fotos (e legendas): © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015). Todos os direitos reservados 


I. Assunto: Quando um irmão (e camarada) não "reconhece" outro irmão (e camarada)... Será que mudámos assim tanto ? 

Camaradas, será que mudámos assim tanto, física e psicologicamente, ao fim destes 40/50 anos ?...  Com um ano de tropa (ou mais) e dois de guerra ? Será que mudámos, até de fisionomia, ao ponto de um irmão mais velho (Manuel Carvalho) não conseguir reconhecer outro irmão, mais novo (o Carvalho de Mampatá, o Toni), numa foto de agosto de 1974, em Nhala ?

Recorde-se que:

(i) o Manuel Carvalho foi fur mil armas pesadas inf,  CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70):
(ii) o António Carvalho, o "Carvalho de Mampatá", foi fur mil enf, CART 6250, Mampatá, 1972/74;
(iii) quatro anos os separam...

Comentário do Manuel Carvalho ao poste P14291 (*):

"Toni, já agora podias identificar o pessoal porque, apesar de sermos irmãos, nem a ti te reconheço e aos outros muito menos. Ao olhar para aqueles rostos não consigo ver ninguém com cara de querer continuar por ali. E tão pouco saber quem ganhou ou quem perdeu a guerra"... 

Este comentário diz "muito" sobre nós, ex-combatentes que estivemos no TO da Guiné... E é o tema da sondagem desta semana... (A questão é de resposta múltipla, admite mais do que uma resposta; votar, diretamnente, na coluna do lado esquerdo, no canto superior da página de rosto do blogue).

II. SONDAGEM: "AO FIM DESTES 40/50 ANOS, MUDEI MUITO, FÍSICA E PSICOLOGICAMENTE" (RESPOSTA MÚLTIPLA)


1. Sim, mudei muito

2. Mudei muito fisicamemte

3. Mudei muito psicologicamente

4. Não, não mudei muito

5. Não mudei muito fisicamente

6. Não mudei muito psicologicamente

7. Não sei
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 24 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14291: Fotos à procura de... uma legenda (53): Os "Unidos de Mampadá", à despedida, em Nhala, em agosto de 1974... (António Murta / António Carvalho / José Manuel Lopes)

Guiné 63/74 - P14295: Parabéns a você (867): Gumerzindo da Silva, ex-Soldado Condutor Auto da CART 3331 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14290: Parabéns a você (866): António Cunha, ex-1.º Cabo da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66) e Manuel Henrique Quintas de Pinho, ex-Marinheiro Radiotelegrafista das LDM 301 e LDM 107 (Guiné, 1971/73)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14294: Convívios (653): Dia do Combatente de Gondomar, Sábado dia 7 de Março de 2015, Fânzeres (Carlos Silva)

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14292: Convívios (652): Encontro do pessoal do Batalhão de Cavalaria 3846 (Companhia Independente), dia 15 de Março de 2015, na Batalha (Delfim Rodrigues)

Guiné 63/74 - P14293: Agenda cultural (379): Lançamento do livro "Dez Décadas de Força Aérea", dia 4 de Março de 2015, às 17h30, no Auditório do Estado Maior da Força Aérea, Av. Leite de Vasconcelos, 4 - Lisboa

Lançamento do livro "Dez Décadas de Força Aérea", dia 4 de Março de 2015, às 17h30, no Auditório do Estado Maior da Força Aérea, Av. Leite de Vasconcelos, 4 - Lisboa


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Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14288: Agenda cultural (382): Acaba de sair o livro de Sofia Branco, "As mulheres e a guerra colonial" (A Esfera dos Livros, 2015, 384 pp.)... Lançamento a 26 de fevereiro, na Póvoa do Varzim (Correntes d'Escritas) e 4 de março em Lisboa (A25A)

Guiné 63/74 - P14292: Convívios (652): Encontro do pessoal do Batalhão de Cavalaria 3846 (Companhia Independente), dia 15 de Março de 2015, na Batalha (Delfim Rodrigues)

Pede-nos o nosso camarada Delfim Rodrigues (ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73) para publicarmos a alteração do Restaurante onde vai ser servido o almoço do Convívio publicado no Poste 14266*:


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Notas do editor

(*) Vd. poste de 16 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14266: Convívios (650): Encontro do pessoal do Batalhão de Cavalaria 3846 (Companhia Independente), dia 15 de Março de 2015, na Batalha (Delfim Rodrigues)

Vd. último poste da série de 20 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14278: Convívios (651): IX Encontro dos Combatentes do Ultramar do Concelho de Matosinhos, dia 7 de Março de 2014, em Leça da Palmeira (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P14291: Fotos à procura de... uma legenda (53): Os "Unidos de Mampadá", à despedida, em Nhala, em agosto de 1974... (António Murta / António Carvalho / José Manuel Lopes)


Foto 1A


Foto 1B


Foto 2A


Foto 2B

Guiné > Região de Tombali > Nhala (a nordeste de Buba) > 1974 > Agosto de 1974 >  Os "Unidos de Mampatá", em final de comissão, foram despedir-se dos "periquitos" de Nhala (2ª CCAÇ/BCAÇ 4513)... Recorde-se que a CART 6250 foi mobilizada, pelo RAP 2, partiu para o TO da Guiné em 27/6/1972 e regressou em 24/8/1974. Esteve em Mampatá e Ilondé.Comandante: cav mil inf  Luís de Jesus  Ferreira Marcelino, nosso grã-tabanqueiro.

Fotos (e legenda): © António Murta (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Comentário do António Murta (*) [ex-alf mil inf , Minas e Armadilhas, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513. Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74]

Olá, José Carlos [Gabriel]. Então não te lembras do rapazinho do saco da TAP? Era o Alf Capelão e chegou a ir várias vezes a Nhala em diligências do seu ofício, sujeitando-se às partidas escabrosas dos alferes anfitriões.

Não recordo o nome dele, nem da maioria dos que aparecem nas fotos, embora me lembre de todos. Agora sei os nomes do António Carvalho (camisa aberta, cinturão, cigarro na boca), e do José Manuel Lopes (à esquerda, camisola azul, bigodinho), porque os encontrei aqui na Tabanca Grande. 

Já quanto ao Alf Carlos Farinha, (por trás à esquerda, de óculos escuros, a esconder-se do fotógrafo, aliás, todos os alferes ficaram na parte de trás do grupo), quanto a ele, dizia, nunca me esqueci do seu nome nem do seu rosto, porque chegámos a ser parceiros de "quarto", aquando da minha estadia em Mampatá com o meu Grupo de Combate. 

O Capelão, confesso, não sei se pertencia à CART 6250 de Mampatá. Que eram todos camaradas magníficos, não tenho dúvidas, Cap Luís Marcelino incluído, também ele camarada tabanqueiro.

António Murta (ou só Murta, para os conhecidos!)

22 de fevereiro de 2015 às 00:35 


2. Comentário do António Carvalho (*) [ex-Fur Mil Enf da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74]

Com referência à 2ª foto [2A e 2B]

Na cabine do Unimog: o Zé Manel, da Régua, na frente, de calções às riscas;  e, por trás, o Nina (Mecânico). [Foto 2A]

Entre as Bandeiras: na frente o levanta-minas (Vilas Boas) , de óculos, sentado [Foto 2A]; por trás,  o Vieira da Madeira, de cigarro na boca e bandeira na mâo; por trás deste, o Carlos Farinha (só se lhe vê a cabeça) era o Alferes que substituía o Capitão [Foto 2A].

À direita das bandeiras ( da esquerda para a direita): Quarto da frente, Rato (de camisola vermelha), eu (de camisa camuflada, calças nº 1 e chinelos de dedo), o capelão do Batalhão e o Simões (professor da companhia) [Foto 2B].

Sete de trás: Benvindo ?  Transmissões? Alferes do Pel Caç Nat,  Pinto... O rapaz da camisa à Jimmy Hendrix, seria o  Murta? Alferes Esteves, de Mirandela e o Fernandes de Lisboa (cigarro na mão esquerda) [Foto 2B] (**)

Carvalho de Mampatá

22 de fevereiro de 2015 às 03:37


3. Poema do Josema [José Manuel Lopes], já aqui publicado há uns largos atrás, e onde se evocam alguns dos supracitados "Unidos de Mampatá" (***)... 

[Na altura, em março de 2008, ainda não o conhecia pessoalmente, falávamos ao telefone... Dele escrevi que se tratava de "uma voz muito original, pessoal, uma surpreendente revelação da escrita poética sobre a guerra colonial na Guiné".] (LG]

Calor, cansaço, suor,
saudades de tudo
e de um rio...
mas podia ser pior,
pois há ali o Corubal
com sombras e água boa;
nem tudo é mau, afinal,
não é o Douro, eu sei,
nem o Tejo de Lisboa,
são outros os horizontes,
falta o xisto e o granito,
as encostas e os montes,
mas diga-se, na verdade,
há o Carvalho, 
há o Rosa,
há um hino à amizade,
há o Gomes e o Vieira,
a sonhar com a Madeira,
há o Farinha e o Polónia,
gestos [d]e solidariedade,
há o Esteves e o Pinheiro,
amigos e sinceridade,
há o Nina e até amor,
também sofrimento e dor,
há o desejo de voltar
e um apelo à liberdade.

Josema

Mampatá, 1974


[fixação de texto: LG]
________________


(**) Último poste da série > 15 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14261: Fotos à procura de... uma legenda (52): a boeira, de Candoz, também conhecida por alvéola ou lavandisca, noutros sítios (Luís Graça)

(***) Vd. poste de 28 de março de 2008 >  Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...

Para ter acesso à maioria dos poemas publicados (série "Poemário do José Manuel"), vd  poste de 29 de setembro de  2009 > Guiné 63/74 - P5033: Poemário do José Manuel (30): O sol queima em Colibuia...

Vd. ainda poste de 27 de fevereiro de 2008 >  Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

Guiné 63/74 - P14290: Parabéns a você (866): António Cunha, ex-1.º Cabo da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66) e Manuel Henrique Quintas de Pinho, ex-Marinheiro Radiotelegrafista das LDM 301 e LDM 107 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14285: Parabéns a você (865): José Carlos Pimentel, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2401 (Guiné, 1968/70) e José Maria Claro, ex-Soldado Radiotelegrafista (DFA) da CCAÇ 2464 (Guiné, 1969)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14289: Pensamento do dia (18): A guerra (colonial) e as nossas mulheres (Tony Borié / António Graça de Abreu)


"Depois de aconselhar o Syriza, em Atenas... e, de Partenon ao fundo, com a minha parceira chinesa, avançarmos para a compra do porto do Pireu".  Foto enviada em 21 do corrente pelo nosso camarada e amigo António Graça de Abreu

Foto (e lgenda): © António Graça de Abreu  (2015). Todos os direitos reservados

1. Comentário de António Graça de Abreu ao poste P14283 (*):

Dizes, meu caro amigo: A dedicada esposa, assim que houve falar em guerra, logo nos diz, “please, stop fighting with your thought”, que quer dizer mais ou menos, “por favor, parem de lutar com o vosso pensamento”. 

Meu caro camarada, como eu conheço estes entendimentos e palavras, mas em chinês, por parte da minha mulher chinesa que abomina a guerra e as sequelas da guerra, e passa a vida a dar-me na cabeça por causa da Guiné. 

Quanto ao Museu Dali de S. Petersburgo, na Florida, tive a sorte, e um desbragado prazer de o visitar, há menos de um ano, em Março de 2014. Aluguei um carro em Miami, viajei pela Florida durante seis dias(Everglades, crocodilos, astronautas, Cape Canaveral, Ferraris aos montes), a descoberta do universo, a ostentação dos ricos, made in America, o equilibrio dos pobres, made in Mexico. E mais os outros todos. America, fascínios do mundo.

O Museu norte americano de S. Petersburgo, (onde caí, por acaso, na ronda pela Florida) é excepcional, maravilhas na obra de Salvador Dali. Pagas a peso de ouro (Dali gostava de ouro, quem é que não gosta, até os tipos gregos do Syriza gostam), por um magnata americano das massas comestíveis, esparguetes e mais mil variedades, amigo de Dali, que ao morrer, em 1991, legou o seu espólio dos quadros de Salvador Dali, à cidade norte-americana que melhor o soubesse conservar e perservar. E foi S. Petersburgo que avançou, construindo este fabuloso museu Dali, na Florida,
um museu encantatório e mágico.

O que é que isto tem a ver com a nossa Guiné? Tudo, porque estamos vivos, trazemos dentro de nós uma guerra que jamais esquecemos, mas somos cidadãos (os melhores!) do mundo.

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Notas do editor:

(*) Vd. psote de 22 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14283: Libertando-me (Tony Borié) (5): 50 anos depois

(...) Neste começo de ano as coisas estão a parecer-nos um pouco diferentes, pois por alguns momentos vamos retornar à personagem “Cifra” e, aquela personagem, que naquele tempo se chamava “Zargo”, hoje é o nosso amigo Jorge, que está a viver por aqui, na Florida, pelo menos uns meses, portanto encontramo-nos, falando também de guerra, mas raras vezes, pois a sua dedicada esposa, assim que houve falar em guerra, logo nos diz, “please, stop fighting with your thought”, que quer dizer mais ou menos, “por favor, parem de lutar com o vosso pensamento”. (...)

(...) Voltando à guerra que nós vivemos, torna-se um pouco claro que o seu custo é ainda maior do que nós possamos imaginar, porque a guerra tem um apetite insaciável pela morte, que ainda hoje, continua a matar, não só a quem nela participou activamente, pois as pessoas começam com sentimentos de confusão, depois move-as um longo pensamento de raiva e, finalmente, vem a indiferença. Mas aquele esgotamento escuro e emocional ainda se encontra de pé, mesmo à beira de um abismo, convidando-nos a saltar, pensando que com essa estúpida atitude, todos os sentimentos vão acabar. (...)

Guiné 63/74 - P14288: Agenda cultural (378): Acaba de sair o livro de Sofia Branco, "As mulheres e a guerra colonial" (A Esfera dos Livros, 2015, 384 pp.)... Lançamento a 26 de fevereiro, na Póvoa do Varzim (Correntes d'Escritas) e 4 de março em Lisboa (A25A)

 








Press release da editora A Esfera dos Livros. O livro saiu a 20 do corrente. Será também lançado na Póvoa de Varim, terra natal da autora,  a 26 (vd. sítio Correntes d'Escritas). Em Lisboa, será lançado a 4 de Março, às 19h30, na Associação 25 de Abril (A25A).

O nosso blogue colaborou com a autora fornecendo ideias e contactos de camaradas nossos e de amigas nossas (mães, filhas, mulheres, namoradas, madrinhas de guerra de camaradas nossos) que a autora entrevistou. Sofia Branco é jornalista de profissão e presidente do Sindicato dos Jornalistas.

Sobre ela já aqui  em tempos referimo-la como um exemplo, feminino, pioneiro, na abordagem da Mutilação Genital Feminina:

"A Sofia Branco tem-se destacado, nos últimos anos, como jornalista, competente, corajosa, lúcida e empenhada, na investigação e divulgação do problema da Mutilação Genital Feminina na Guiné-Bissau"...

Vd. poste de 15 de setembro de  2008 > Guiné 63/74 - P3208: Pensamento do dia (16): E não se pode exterminá-la ?... A epidemia de cólera em Bissau (Sofia Branco,Público)

Sobre ela escreveu também o Jorge Cabral:

(...) Creio que o impacto dos artigos da Sofia Branco, publicados no Jornal Público em 2002, se deve principalmente à informação de que a Mutilação Genital Feminina ocorreria em Portugal. Também pela Europa as preocupações aumentaram com a possibilidade da prática ser cá efectuada, dada a corrente migratória. Julgo, porém, que toda a Mutilação Genital Feminina é igualmente grave, devendo ser denunciada e combatida, independentemente do lugar onde seja efectuada. A universalidade dos Direitos Humanos impõe-nos que sintamos toda a sua violação, como violação dos nossos direitos. A mutilação de uma menina no Sudão constitui uma ofensa à minha condição de homem livre, até porque a minha liberdade só pode ser assumida em plenitude, num Mundo de Homens e Mulheres Livres. (...)

Vd. poste de 10 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1580: Fanado ou Mutilação Genital Feminina: Mulher e direitos humanos: ontem e hoje (Luís Graça / Jorge Cabral)

Vd. também:

25 de setembro de  2007 > Guiné 63/74 - P2131: Mutilação Genital Feminina: É crime, diz explicitamente o novo Código Penal (A. Marques Lopes / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P14287: Agenda cultural (377): Está de novo à venda o livro "Nós Enfermeiras Paraquedistas", que tem apresentações marcadas em Aveiro, no dia 26 de Março, e no Porto, no dia 9 de Abril

Com a devida vénia à Tabanca do Centro, transcrevemos a seguinte notícia ali publicada:


“NÓS, ENFERMEIRAS PARAQUEDISTAS”

A Tabanca do Centro fez em devido tempo (NOV2014) a divulgação da apresentação do livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas".

Estamos agora em condições de informar que o livro já está à venda nas grandes superfícies (Bertrand, FNAC, etc.) a um preço que rondará os 19,00 €. Deverá ser num desses locais que os interessados deverão fazer a sua aquisição.


Aproveitamos ainda para informar que estão já previstas duas apresentações do referido livro:

A primeira em Aveiro, pelas 18H00 de 26 de Março, no Centro de Congressos de Aveiro Cais da Fonte Nova, contará com a presença do Senhor Professor Adriano Moreira.

A segunda pelas 15H00 de 9 de Abril, na Messe de Oficiais da Batalha, no Porto, com o apoio do Núcleo da Liga dos Combatentes. 

A informação sobre estas duas apresentações foi-nos transmitida por um responsável pela Editora "Fronteira do Caos", que publicou o livro, podendo ainda ser passível de pequenas correcções. 

Divulgaremos mais pormenores quando deles tivermos conhecimento.
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14269: Agenda cultural (380): Sessão de apresentação do Projecto "MGF, NÃO", dia 19 de Fevereiro de 2015, a partir das 14h20, no Edifício Municipal, Campo Grande n.º 25, Lisboa (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14286: Notas de leitura (684): “Crónica do descobrimento e conquista da Guiné”, por Gomes Eanes da Zurara, adaptação de Frederico Alves, edição da Agência Geral das Colónias (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Maio de 2014:

Queridos amigos,
A crónica de Zurara é um documento histórico-cultural ímpar em Portugal e na Guiné-Bissau. Trata-se de um panegírico, é verdade, este Infante D. Henrique é imaculado e intocável. Mas Zurara teve acesso aos eventos e falou com muitos dos protagonistas, escreveu com brilho e vibração, há para ali páginas que são gemas literárias, como a chegada dos cativos a Lagos, transmite ao leitor todo o sofrimento de quem se vê apartado da mulher, do filho ou do irmão.
Esta edição destinada a rapazes é uma originalidade e pergunta-se mesmo se não merecia a apropriada reedição, para proveito luso-guineense.

Um abraço do
Mário


O romance da conquista da Guiné contado a rapazes (1)

Beja Santos

Vai para 70 anos que a Agência Geral das Colónias publicou um documento assaz curioso, que vale a pena conhecer e, vamos lá, até se justifica uma reedição luso-guineense para um dos documentos matriciais da historiografia dos Descobrimentos. A adaptação, para rapazes, da “Crónica do descobrimento e conquista da Guiné”, por Gomes Eanes da Zurara. A adaptação pertence a Frederico Alves que justifica a adaptação com os seguintes dizeres:  
“Os rapazes mostram, em geral, relutância pelas obras antigas. O jovem estudante (mesmo estudioso), de quinze, dezasseis, dezassete anos, fatigar-se-á, porventura, através das páginas quantas vezes deliciosas – mas para ele menos interessantes – de qualquer clássico.
Estes oferecem, na verdade, enigmas complicados; às vezes, mesmo, enigmas insolúveis, e, quando tal não aconteça, a linguagem que nós achamos tão bela, tão expressiva, tão rica, tão profunda, acham-na eles (…) Tentei dar aos rapazes uma Crónica da Guiné que seja como um texto antigo a vir ao encontro do adolescente moderno.
A Guiné, de que trata a crónica de Zurara, não equivale, apenas, à moderna Guiné portuguesa. Refere-se a um território muito mais vasto que se estendia ao longo da costa atlântica da África. Os heróis desta verídica história movem-se e atuam numa extensão que vai desde os Açores ao Cabo da Boa Esperança. Porém, insistem, numa faixa de costa mais reduzida, que termina, aproximadamente, por alturas do grande rio Níger.
Junto da Guiné vinha confundir-se a Etiópia, designação vaga dada a um território do Sul do Egipto que morria na costa do Atlântico”.

A crónica da Guiné, importa não esquecer, é um panegírico ao Infante D. Henrique, e daí começar pelo seu retrato: “A sua estatura era de bom tamanho, a sua carnadura grossa, os membros largos e fortes e a cabeleira levantada. A pele foi branca primeiro; porém, o sol do Algarve acabou por queimá-la. A sua presença, à primeira vista, amedrontava os tímidos. Rara lucidez de espírito e teimosia incomparável”.

Fala-se do empreendimento de Ceuta, depois de Tanger, a seguir da vila que o Infante mandou levantar no Cabo de São Vicente, Sagres. As caravelas vinham aportar a Lagos, daqui partiam para descer ao longo do continente africano. Zurara fala das razões que impeliram os descobrimentos henriquinos: o querer devassar o ministério do oceano, podia bem ser que, entre terras e povos desconhecidos, os mareantes achassem bons portos e excelentes mercadorias; importava conhecer até onde chegaria o poderio dos mouros nesta parte da África; pretendia saber se existiriam príncipes cristãos dispostos a arriscar a vida pela Fé; o desejo de chamar a Jesus todas as almas que se quisessem salvar.

Em 1433, Gil Eanes, escudeiro do Infante, foi até à Ilha Canária e no ano seguinte o mesmo Gil Eanes procurou dobrar o Bojador, e teve sucesso, trouxe-lhe rosas de Santa Maria. Escreve Zurara:
“Não tinham secado ainda as rosas de Santa Maria e já o Infante mandara armar um barinel, confiando-o a Gonçalves Baldaia, seu copeiro, ordenou-lhe que navegasse na esteira da barca de Gil Eanes. Chegado ao cabo, Baldaia mandou desembarcar dois mancebos de 17 anos, determinou que se internassem pela terra, descobriram gente, pelejaram e regressaram ao navio. No dia seguinte, os moços cavalgaram pela margem do rio, encontraram focas e carregaram as peles para a embarcação. Mas Baldaia queria à viva força cativar indígenas. E chegaram ao lugar a que se pôs o nome Porto da Galé.
Os anos seguintes foram dominados por questiúnculas pela regência do reino. Em 1441, o Infante designou Antão Gonçalves para armar um navio, tinha a incumbência de trazer a courama de lobos-marinhos. Tudo levava a crer que não trariam cativos. Mas surgiu uma surpresa, ancorou à vista de Antão Gonçalves uma caravela capitaneada por Nuno Tristão, trazia armas e ordem de passar para além do Porto da Galé. Foi assim que se veio a terra, voltou-se a pelejar e surgiu o primeiro cativo. Nuno Tristão armou Antão Gonçalves como o primeiro cavaleiro naquelas paragens. Por isso o lugar ficou conhecido por Porto do Cavaleiro.
Nuno Tristão singrou para diante, aportou no Cabo Branco e Antão Gonçalves rumou para Portugal. Quando o Infante viu o primeiro cativo encheu-se de júbilo. O cativo, de nome Adahu prometia dar em troca meia dúzia de negros se o enviassem para donde viera. E fez-se nova expedição, a caravela subiu pelo Rio do Ouro, aqui perto deu-se a troca".

A crónica de Zurara data os acontecimentos e precisa os intervenientes. Em 1943, Nuno Tristão vai numa caravela quer aproou ao Cabo Branco e depois se descobriu uma ilha, a Ilha das Garças. As operações sucedem-se e os mouros cativos vão chegar a Lagos e Zurara escreve páginas sublimes sobre o sofrimento dos escravos:
“Pai Celestial! Tu, com a tua mão omnipotente, governas os astros! Que as lágrimas vertidas não sejam em dano da minha consciência, mas o certo é que a triste condição dos prisioneiros me obriga, a mim, que sou homem, a chorar o seu destino! Pois se as próprias feras, por serem feras, não deixam, Senhor, de entender o sofrimento alheio, que hei de fazer eu, humano, ao recordar-me que todos somos filhos de Adão!?
Ao amanhecer do outro dia, o oitavo de agosto, os mestres das caravelas levaram os mouros que eram duzentos e mais trinta e cinco, ao campo de fora da vila. Antes disso, porém, conduziram-nos quase todos à pia batismal, e um menino, que depois se tornou franciscano, o remeteram a São Vicente do Cabo onde ficou assistindo na lei do Senhor.
Os outros juntaram-se no campo, coisa maravilhosa de ver, pois eram uns de alvura sem mácula e formosos, outros de cor parda, e outros, ainda negros como a noite, feios e mal-ajeitados de corpo. Meu Deus! E qual coração, por mais empedernido, se não comovera diante daquele triste rebanho?
Uns, de rostos baixos, lavavam as faces com pranto, outros trocavam olhares angustiados; gemiam alguns, dolorosamente, fitando as alturas do céu, gritando de rijo, como se rogassem ajuda ao Pai da Natureza; outros rasgavam com as unhas a pele da cara e arremessavam-se ao chão; outros, ainda, soltavam do peito um coro de lamentações à maneira dos cânticos da sua terra distante. E se os nossos não compreendiam as palavras, entendiam, ao menos, o grau de tamanha de tristeza!
E como se não bastasse a condição de escravos, aproximaram-se, então, os da partilha, que, para ajustarem os quinhões, muitas vezes tiveram de separar os filhos dos pais, e as mulheres dos maridos, e os irmãos entre si. O coração não mandava, mandava a sorte.
Oh! Fortuna cujas rodas andam e desandam e governam o mundo como lhes apraz! Mal apartavam um filho do seu pai, ambos se erguiam, terríveis, atirando-se aos braços um do outro; as mães apertavam ao peito os meninos, deitavam-se de bruços, por terra, com eles, e para que lhos não arrebatassem preferiam arriscar a carne do seu corpo.
Em volta do campo, comprimiam-se os vilãos e os homens dos lugares e comarcas dos arredores que, nesse dia, tinham deixado as terras desertas e as ferramentas abandonadas para virem contemplar, de perto, aquela novidade. E, entre eles, muitos de coração macio – choravam!”.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14276: Notas de leitura (683): “De Passo Trocado ASP”, por Carlos Vale Ferraz, Bertrand Editora, Fevereiro de 1985 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14285: Parabéns a você (865): José Carlos Pimentel, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2401 (Guiné, 1968/70) e José Maria Claro, ex-Soldado Radiotelegrafista (DFA) da CCAÇ 2464 (Guiné, 1969)


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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14279: Parabéns a você (863): Veríssimo Ferreira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1422 (Guiné, 1965/67)

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14284: Os Nossos Camaradas Guineenses (42): Amadu Bailo Jaló. Desfile realizado em Bissau (1.º de dezembro de 1973?). (Jorge Araújo)


1. O nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494 do BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/1974), enviou-nos a seguinte mensagem: 

Caríssimo Camarada Luís.

Os meus melhores cumprimentos.

Para os efeitos que julgares conveniente, anexo uma foto de um desfile militar realizado em Bissau (creio que se trata do 1.º de Dezembro de 1973) com a CCmds Africanos em movimento, a que pertenceu o nosso camarada Amadu Bailo Jaló (1940-2015).


Presto, desta forma simples, a minha homenagem a este nosso camarada guineense que nos deixou, na qual incluo, neste contexto, todos os outros que serviram o Exército Português.

Um abraço,
Jorge Araújo
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
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Nota de M.R.: 

Vd. Também o último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P14283: Libertando-me (Tony Borié) (5): 50 anos depois

Quinto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.



Desde o tempo em que lutámos na Guiné, quase todos os dias sentimos um certo tipo de “arrepio” a picar-nos a pele, por vezes passamos dias de reflexão e pensamentos dos amigos que por lá caíram. Homens como o “Zargo”, o “Curvas, alto e refilão”, ou o “Bóia”, como carinhosamente o chamávamos, que foi morto por uma maldita carga explosiva, numa ponte armadilhada que existia para os lados de Porto Gole.

Lembramo-nos daquele tempo escuro, mesmo depois da guerra, que para nós durou vários anos, a nossa alma parecia que tinha sido baleada, pelas coisas que vimos, pelas coisas que cheirávamos, pelo isolamento forçado e angustioso, pelas coisas que fizemos e pelas coisas que nunca tivemos oportunidade de fazer, mas que deviam ser feitas naquela idade tão jovem. Lembramo-nos de como a vida se tornava de alguma forma menor, à medida que nos isolávamos sistematicamente daqueles que nós amávamos. Enfim, “lembranças” de irmãos de guerra, que agora, anos mais tarde, o nosso pensamento encontra todos os dias. Há dias, o companheiro Hélder dizia que estas memórias não são já do "Cifra", é verdade, pois do “Cifra” já só resta talvez o pensamento, algum espírito aventureiro e o “C” do “mister “C”, que é como aqui chamamos à doença “cancêr”, pois somos um dos felizmente muitos sobreviventes dessa maldita doença, que há uns anos contraímos e que depois de um rigoroso tratamento, recuperámos, vencemos e ainda por cá andamos.

Neste começo de ano as coisas estão a parecer-nos um pouco diferentes, pois por alguns momentos vamos retornar à personagem “Cifra” e, aquela personagem, que naquele tempo se chamava “Zargo”, hoje é o nosso amigo Jorge, que está a viver por aqui, na Florida, pelo menos uns meses, portanto encontramo-nos, falando também de guerra, mas raras vezes, pois a sua dedicada esposa, assim que houve falar em guerra, logo nos diz, “please, stop fighting with your thought”, que quer dizer mais ou menos, “por favor, parem de lutar com o vosso pensamento”.

Mas vamos à história, porque se não, o dedicado do Carlos Vinhal, ainda vai dizer que o texto é longo. Portanto cá vai.

Era manhã, havia que colocar um leve casaco nos ombros, pois a temperatura assim o recomendava, estávamos do outro lado da Flórida, na parte oeste, no Golfo do México.
A “Europa” andava por lá, aliás, por aqui, de uma maneira ou de outra, tudo nos mostra que as raízes vieram da “Europa” e, as pessoas responsáveis pelos municípios continuam a ter orgulho nessas raízes, admiram e fazem de algumas personagens europeias, os seus heróis.

Em 1982, um armazém de marinha no centro da cidade marítima de St. Petersburg, no estado da Florida, foi reabilitado e um museu foi inaugurado. Eram umas instalações frequentemente sujeitas a furacões de um clima tropical, mas no ano de 2008, depois de uma chamada de atenção quase a nível nacional, Salvador Domingo Felipe Jacinto Dali i Domènech, 1.º Marquês de Dalí de Púbol, conhecido no mundo das artes, apenas como Salvador Dalí, que foi um importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho “surrealista”, tinha finalmente o seu museu.

Mais de cinquenta anos depois, o “Zargo”, nome de guerra do nosso companheiro de luta na Guiné, quando nós éramos única e simplesmente o “Cifra”, dizia-me: “Estas instalações são comparáveis a um forte antigo, mas com linhas modernas e, algo surrealistas”.


Foi construído na margem da baía, próximo do Teatro Mahaffey, na parte baixa da cidade, numa estrutura que apresenta uma grande porta de entrada em vidro em forma de triângulos, que por sua vez formam círculos por onde entra a luz natural, feito de vidro de 1,5 polegadas de espessura, a que deram o nome de "Enigma", pois esta porta de entrada de vidro tem 75 metros de altura que engloba uma escada em espiral, que nos conduz ao tal “enigma”.


As restantes paredes são compostas de concreto de espessura de 18 polegadas, projectado para proteger esta valiosa colecção dos frequentes furacões que assolam a baía, onde se inclui 96 pinturas a óleo, mais de 100 aguarelas e desenhos, 1300 ilustrações, fotografias, esculturas e objectos de arte, e uma extensa biblioteca de arquivo.


Entre outras pinturas, está “The Hallucinogenic Toreador”, que é uma pintura a óleo que Salvador Dalí em 1970, seguindo os cânones da sua interpretação particular de pensamento surrealista, transmite o desagrado de sua esposa para as touradas, através da combinação de simbolismo com ilusões de ótica e alienando ainda motivos familiares, ele cria a sua própria linguagem visual, está lá a aplicação do método paranóico-crítico, dentro desta pintura combina as imagens versáteis como um exemplo elucidativo da sua criação artística, onde uma poça de sangue se transforma numa baía abrigada, na qual uma figura humana é uma jangada amarela, vista no horizonte.

O “Zargo”, ria-se ao ouvir alguém ao nosso lado comentar, “a lot of drugs”, que quer dizer mais ou menos “muita droga”!.

As pinturas de Dalí chamam a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, com excelente qualidade artística e, tanto para nós, que era o “Cifra”, ou para o Jorge, que era o “Zargo”, que muitas vezes estávamos sobre influência em cenário de guerra, talvez “deambulando” por outros horizontes, que nos ajudava a viver aquela terrível guerra, apreciamos a arte de Dalí, que dizem que foi influenciado pelos “mestres do Renascimento”.

Dalí insistia na sua "linhagem árabe", alegando que os seus antepassados eram descendentes de mouros, que ocuparam parte da Península Ibérica por quase 800 anos, afinal, tal como um qualquer “Zargo” ou “Cifra” e, atribuía isso ao seu amor por tudo o que é desejado com alguma fantasia, também tal como nós, que vivemos uma guerra em África, fugindo depois para o continente Americano, na procura do desejado, que muitos de nós nunca encontrámos.

Voltando à guerra que nós vivemos, torna-se um pouco claro que o seu custo é ainda maior do que nós possamos imaginar, porque a guerra tem um apetite insaciável pela morte, que ainda hoje, continua a matar, não só a quem nela participou activamente, pois as pessoas começam com sentimentos de confusão, depois move-as um longo pensamento de raiva e, finalmente, vem a indiferença. Mas aquele esgotamento escuro e emocional ainda se encontra de pé, mesmo à beira de um abismo, convidando-nos a saltar, pensando que com essa estúpida atitude, todos os sentimentos vão acabar.
Já chega de guerra e de confusões, vamos fazer como o Dalí, “viver o nosso mundo surrealista”. Quero lembrar que, com a excepção do Teatro-Museu Dalí, criado pelo próprio Dalí na sua cidade natal de Figueres, Catalunha, Espanha, o “Dalí Museum”, na cidade de St. Petersburg, é no estado da Florida que estão as maiores coleções do mundo, de Salvador Dalí.

Tony Borie, Fevereiro de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14259: Libertando-me (Tony Borié) (4): ...e o Lisboa rasgou o cartão

Guiné 63/74 - P14282: Os Nossos Camaradas Guineenses (41): Amadu Bailo Jaló (Bafatá, 14/11/1940- Lisboa, 15/2/2015): 13 anos ao serviço do exército português (1962-1975), "em perigos e guerras esforçado mais do que prometia a força humana" (Virgínio Briote)





Guiné > Bafatá > 1968 > Guiné > Bafatá > 1968> Foto do ex-furriel mil radiomontador Jorge Tavares, CCS/ BCAÇ 2856 (Bafatá, 1968/70).

Reconstituição feita pelo ex-fur mil op esp Humberto Reis, da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71): esta é(era)  rua principal (alcatroada, como todas as demais) da doce e tranquila Bafatá, com as suas casas de arquitectura tipicamente colonial; ao fundo era o mercado e cortava-se à direita, para a piscina; na primeira à direita, ficava o restaurante A Transmontana; dDo lado esquerdo, no início da foto, ficava a casa do Administrador e os CTT; a meio, a rua era cortada pela estrada que ligava a Geba.

Legenda do Amadu Bailo Jaló: Rua de Bafatá. Do lado direito, junto ao carro estacionado, era a casa do Chico Paulo, um comerciante europeu; a casa a seguir, pintada de branco,  era de um libanês, Assad,  one trabalhava o meu pai (in: Amadu Bailo Jaló - p. 17)

Foto: © Jorge Tavares (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




Guiné-Bissau >  Região de Bafatá > Bafatá > 15 de Dezembro de 2009 > 17h543 > Um das nossas conhecidas ruas de Bafatá, já ao entardecer...Foto do João Graça, músico e médico, 40 anos depois do foto da mesma artéria tirada pelo Jorge Tavares.


Foto: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

Amadu Bailo Jaló (1940-2015):

(i)  fula, nasceu em Bafatá, em 10 de novembro de 1940;

(ii) filho de Cherno Iaia Tata Jaló, nascido em 1895, e de Ana Condé, nascida em Boké, Guiné-Conacri, em 1904; o pai era empregado de balcão do comerciante libanês Assad, sendo natural de Fulamorie, também Guiné-Conacri:

(iii) os pais matricularam,-no na escola do Alcorão, que frequentou durante 3 anos; em 1948, fez a circuncisão (festa do fanado); dois meses depois, frequentava uma escola católica, dos missionários iatalianos de Bafatá; esteve lá dois anos e gostava de jogar futebol;

(iv) aos 14 anos, em 1954, o irmão mais velho levou-o para Boké, para casa de um tio, de onde era natural a mãe; viagem de nove dias, a pé,  que o marcou na sua adolescência; o irmão levava uma série de carregadores com mercadorias (roupas) para vender em Boké; a distância hoje é de c. 150 km;

(v) um ano depois, em novembro de 1955, regressa a Bafatá, numa viagem longa, também a pé;

(vi) aos 16 anos conheceu, pela primeira vez, Bissau e um ano depois Bolama;

(vii) desde muito jovem quis ganhar dinheiro e ser independente; começou por organizar bailes e festas, juntamente com um primo, para a juventude de Bafatá, a quem cobrava as entradas; as meninas de então chamavam ao Amadu o  Mari Velo;

(viii) enquanto não foi incorporado, foi trabalhando na construção civil, primeiro no Gabu, como capataz, um pouco mais tarde em Bafatá; estávamos em 1958;

(ix) nos princípios de janeiro do ano seguinte, regressou a Bafatá;  como sabia ler e escrever, foi para a campanha da mancarra;

(x) aos 20 anos quis dar um salto, tornar-se verdadeiramente independente; conseguiu abrir uma banca para negociar no Mercado de Bafatá;

(xi) mas a incorporação estava à porta; recenseado pelo concelho de Bafatá, sob o nº 21 em 1962, foi alistado em 04Jan62, como voluntário, no Centro de Instrução Militar;

(xii) depois da recruta em Bolama, seguiu-se o CICA/BAC, em Bissau, depois Bedanda na 4ª CCaç,  a 1ª CCaç em Farim;

(xiii) regressou à CCS/QG, depois os Comandos de 1964 a 1966, voltou à CCS/QG,  depois o BCav 757, BCac 1877, BCav 1905 e BCac 2856, todos sediados em Bafatá;

(xiv) em meados de julho de 1969, é  transferido para a 15ª CCmds, seguindo-se então a 1ª CCmds Africanos, o BCmds da Guiné e a CCaç 21 (base em Bambadinca) até ao 25 de Abril de 1974;

(xv) foi promovido a 1º  cabo em 1 de janeiro de 1966 e louvado pelas atuações em operações no ano de 1966;

(xvi) novamente louvado em 1967, em Ordem de Serviço (OS)  do BCaç 1877, de 30 de setembro de 1967, pelo seu comportamento em ações de combate durante o ano de 1967 (7 de janeiro /24 de setembro);

(xvii) foi graduado em furriel em 6 de fevereiro de 1970 e em  2º  sargento em 7 de novembro de 1971, tendo sido louvado pelas ações em que participou durante o ano de 1972;

(xviii) condecorado com a Medalha de Cruz de Guerra de 3ª Classe em 1973;

(xix) foi novamente graduado em alferes em 28 de junho de 1973; pela sua atuação nas operações durante o ano de 1973 recebeu novo louvor;

(xx) passou à disponibilidade em 1 dce janeiro de 1975, devido à independência do território da Guiné:

(xxi) em 1986 veio para Lisboa (, depois se ter refugiado no Senegal, até onde se estabeleceu como comerciante):;

(xxii) morreu em 15 de fevereiro de 2015, em Lisboa, no hospital militar, com 74 anos.

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