Lisboa > Cais da Rocha Conde Óbidos> 18 de agosto de 1965> Embarque do pessoal da CCAÇ 1426 e de outras unidades para o TO Guiné, no T/T Niassa. Ao fundo a ponte sobre o tejo ainda em construção... Será inaugurada um ano depois, em 6 de agosto de 1966.
Foto: © Fernando Chapouto (2006). Todos os direitos reservados.
Capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [Fitas Ralhete], mais conhecido por Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67.
Foi cofundador e é "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô.
Foi cofundador e é "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô.
Lisboa > Navio da Marinha Mercante Portuguesa Timor > Navio misto (carga e passageiros), de duas hélices; construído em Inglaterra em 1950 e abatido em 1974, tinha mais de 130 metros de comprimento de fora a fora; arqueação bruta: cerca de 7,6 mil toneladas; velocidade máxima: 15 nós; 120 tripulantes; alojamentos para 4 em classe de luxo, 60 em primeira classe, 25 em terceira e 298 em terceira suplementar, no total de 387 passageiros. Armador: Companhia Nacional de Navegação. Lisboa.
Fonte: Navios Mercantes Portugueses (1996) (com a devida vénia...)
1. Continuação da publicação do cap VI - Por Terras de Portugal....
Sinopse: Depois de Tavira (CISMI) e de Elvas (BC 8), faz o curso de "ranger" em Lamego e é mobilizado para a Guiné. Unidade mobilizadora: RI 1, Amadora, Oeiras. Companhia: CCÇ 763 ("Nobres na Paz e na Guerra"). Parte para Bissau no T/T Timor, em 11 de fevereiro de 1965, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa.
Texto e foto da capa : © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.
Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > VI - Por Terras de Portugal: Tavira, Elvas, Lamego, Oeiras, Lisboa, Bissau> (iv) (pp. 33-34)
por Mário Vicente [, foto à direita, março de 2016, Oitavos, Guincho, Cascais]
Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > VI - Por Terras de Portugal: Tavira, Elvas, Lamego, Oeiras, Lisboa, Bissau> (iv) (pp. 33-34)
por Mário Vicente [, foto à direita, março de 2016, Oitavos, Guincho, Cascais]
A dez de Fevereiro de manhã a CCAÇ [763]. desfila pelas ruas de Oeiras, prestando homenagem aos mortos da Grande Guerra no respectivo monumento. No dia seguinte embarcaria com destino a Bissau.
Conforme tinha marcado, junta-se num bar da Baixa com alguns dos seus companheiros de viagem. Os copos
aquecem um pouco a alma. Há malta que vai dar uma volta de circunstância para despedida com miúdas do Bairro Alto. Chico Zé, Carlos Manuel, Jata e Vagabundo, preferem ficar bebendo. Encontrar-se-ão todos em Oeiras. O Velhinha regressa carregado de tabaco e passa a noite de borla. A rapariga tinha um irmão lá fora, diz. Devem ter sido uns momentos de loucura, coitada. Fazer amor e pensar no irmão na guerra, deve ter sido o orgasmo de metralhadora.
Manhã de onze de Fevereiro de 1965. António Pedro, Vagabundo, Jata, Chico Zé e restantes sargentos e furriéis à frente das suas secções aguentam-se, embora a alguns lhes saiba a boca papel de música. A Banda do RI 1 toca o Hino Nacional e marchas militares. As praxes e formalidades do costume. Presentes altas individualidades civis e militares, não faltando o Movimento Nacional Feminino, distribuindo assobios da presidente e alguns cigarros, com a secreta mensagem:
– Se morreres!... Que seja na paz de Deus!
Ordem de embarque. Vagabundo sobe as escadas de acesso ao navio, entra no portaló e acena para sua irmã Amália e para os familiares e conhecidos que estão mais ou menos concentrados na varanda, em frente do cais. Começam os primeiros desmaios, os primeiros gritos e choros. Vagabundo recorda Camões, os Lusíadas, o Velho do Restelo e aflora-lhe ao pensamento, enquanto ouve nitidamente por entre o Povo: «Ó glória de mandar, ó vã cobiça desta vaidade a quem chamamos fama!»
Vagabundo não foi parido para isto. Milhares de lenços brancos aparecem qual bando de borboletas sobre o cais e do outro lado, os lenços verde amarelados dos militares respondem. A sirene do “Timor” dá três roncos. É o delírio em terra e no navio. As mães gritam pelos filhos, as irmãs pelos irmãos, as noivas pelos noivos, as amantes pelos amantes! É aterrador!... Entra Vagabundo, entra, porque esta merda é o princípio do fim. Tu não gostas destas coisas, pois um homem fica mole e é uma grande porra.
Entra no bar do navio e pede um whisky ao barman. O barulho lá fora é ensurdecedor. Dá o primeiro golo e saúda:
– Por ti António que me fizeste! – Segundo golo:
Manhã de onze de Fevereiro de 1965. António Pedro, Vagabundo, Jata, Chico Zé e restantes sargentos e furriéis à frente das suas secções aguentam-se, embora a alguns lhes saiba a boca papel de música. A Banda do RI 1 toca o Hino Nacional e marchas militares. As praxes e formalidades do costume. Presentes altas individualidades civis e militares, não faltando o Movimento Nacional Feminino, distribuindo assobios da presidente e alguns cigarros, com a secreta mensagem:
– Se morreres!... Que seja na paz de Deus!
Ordem de embarque. Vagabundo sobe as escadas de acesso ao navio, entra no portaló e acena para sua irmã Amália e para os familiares e conhecidos que estão mais ou menos concentrados na varanda, em frente do cais. Começam os primeiros desmaios, os primeiros gritos e choros. Vagabundo recorda Camões, os Lusíadas, o Velho do Restelo e aflora-lhe ao pensamento, enquanto ouve nitidamente por entre o Povo: «Ó glória de mandar, ó vã cobiça desta vaidade a quem chamamos fama!»
Vagabundo não foi parido para isto. Milhares de lenços brancos aparecem qual bando de borboletas sobre o cais e do outro lado, os lenços verde amarelados dos militares respondem. A sirene do “Timor” dá três roncos. É o delírio em terra e no navio. As mães gritam pelos filhos, as irmãs pelos irmãos, as noivas pelos noivos, as amantes pelos amantes! É aterrador!... Entra Vagabundo, entra, porque esta merda é o princípio do fim. Tu não gostas destas coisas, pois um homem fica mole e é uma grande porra.
Entra no bar do navio e pede um whisky ao barman. O barulho lá fora é ensurdecedor. Dá o primeiro golo e saúda:
– Por ti António que me fizeste! – Segundo golo:
– Agora por ti Francisca, que me pariste! Por ti também avô Velhote, que ficaste sem companheiro!
– Por favor, dava-me mais um!
O barman com experiência destas situações, encheu o copo e Vagabundo. já vaporizado, voltou aos seus brindes recordações.
– Por vocês. irmãs! Calma, tem de ser um golo maior que são duas. Outro! por ti Inha! E os tios e primos? Também, mas são tantos! E os amigos? Ainda são mais! Oh! .,
– Porrr... favorrr... " um mais – pois já gaguejava ....
– Por favor, dava-me mais um!
O barman com experiência destas situações, encheu o copo e Vagabundo. já vaporizado, voltou aos seus brindes recordações.
– Por vocês. irmãs! Calma, tem de ser um golo maior que são duas. Outro! por ti Inha! E os tios e primos? Também, mas são tantos! E os amigos? Ainda são mais! Oh! .,
– Porrr... favorrr... " um mais – pois já gaguejava ....
Estava mesmo grogue! Veio a poesia, e lembrou-se dum poema de Matos de Sá:
"Nada mudou
podes vir
de novo e com
o mesmo nome.
Em qualquer lugar
a distância para a morte
é a mesma.
Desigual é apenas
a vida que perdemos ..."
–Tânia. porque não? Para ti também um golo especial e grande! Finalmente por mim, assim bêbedo estou melhor. Os últimos serão sempre os primeiros, (La Palisse) como diria Marie Luise.
A viagem corre sem problemas para o furriel, até ao terceiro dia de viagem em que por serviço é obrigado a descer ao porão onde estão acomodados os seus soldados. Indescritível!... A miscelânea de odores é horrível, derivada dos enjoos causadores de vómitos de toda a espécie. Apenas uma solução, obrigar os soldados a subir ao convés para apanharem um pouco de ar. O militar começa a aperceber-se das dificuldades que lhe surgirão.
Mário Fitas, foto da página do Facebook |
– Não há fuga possível, Tânia a tua sombra e recordação sempre me hão-de perseguir.~
O primeiro contacto com África é um pouco desagradável. Não estava acostumado a ver tanta gente de cor. Mesmo em frente à porta de armas, há mulheres a chamarem os militares. Vagabundo fica furioso, mas o cabo Laranjeira diz-lhe para não ligar.
– Não deixe é ir lá os soldados, pois vão a pé e vêm a cavalo. Já se sabe o destino da CCAÇ 763: entrar em quadrícula no sector do Tombali, concretamente Cufar, como reforço ao BCAÇ 619 sedeado em Catió, no Sul da Província.
Para além de Carlos, um verdadeiro comandante de homens, a CCAÇ possuía um “handicap” extraordinário em oficiais sargentos e praças. Mas… África é outro continente, a Guiné um problema, e Cufar um quebra-cabeças.
(Continua)
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Nota do editor: