sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16626: Agenda cultural (508): No passado dia 14 de Outubro de 2016, no Salão Nobre do Quartel da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, realizou-se a sessão de apresentação do livro "Memórias Boas da Minha Guerra" da autoria do nosso camarada José Ferreira da Silva

Foto: © Jorge Portojo, com a devida vénia.


No passado dia 14 de Outubro de 2016, no Salão Nobre do Quartel da Serra do Pilar (ex-RAP 2), em Vila Nova de Gaia, realizou-se a sessão de apresentação do livro "Memórias Boas da Minha Guerra" da autoria do nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69). A cerimónia foi presidida pelo Senhor Coronel Rui Ribeiro, Comandante daquela Unidade.

A  Mesa era composta por: Edgar Maia, em representação da Chiado Editora; Coronel Rui Ribeiro, Comandante do Quartel da Serra do Pilar; General Art.ª Manuel de Azevedo Moreira Maia, ex-CMDT da CART 1689; Carlos Vinhal, co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, em substituição do apresentador do livro, Dr. Alberto Branquinho, ausente por motivos de força maior; e José Ferreira, autor do livro.

Deu início aos trabalhos, que decorreram de forma muito informal, ou não estivéssemos entre camaradas e amigos, o Autor José Ferreira, que começou por agradecer ao Comandante da Unidade, senhor Coronel Rui Ribeiro, a sua hospitalidade, e a quem deu a palavra.

O Comandante do Quartel da Serra do Pilar, Coronel Rui Ribeiro

Retivemos das palavras do senhor Coronel Rui Ribeiro, o prazer que aquela Unidade tinha em receber os antigos Combatentes dali saídos em missão de soberania para o antigo Ultramar, especialmente para uma sessão de lançamento de um livro de memórias da autoria de alguém que combateu, respondendo ao chamamento de Portugal.

Seguiu-se uma intervenção do senhor Edgar Maia que representava a Chiado Editora, que salientou a disponibilidade da sua Editora para dar a conhecer livros da autoria dos Combatentes da Guerra do Ultramar, uma forma de literatura que deve ser divulgada e acarinhada.

O representante da Chiado Editora, Edgar Maia, no uso da palavra.

Na ausência do camarada Alberto Branquinho, por motivos imponderáveis, coube ao co-editor deste Blogue, Carlos Vinhal, ler o texto que o Branquinho havia preparado, metendo pelo meio algumas achegas para também dar o seu cunho pessoal, e não ser só um mero leitor. 

O Branquinho começa por dizer como conheceu o Ranger Silva, em Lamego, sem saber que iriam juntos para a Guiné e muito menos na mesma Companhia.
Faz seguidamente uma apreciação à chamada literatura da Guerra Colonial, na qual, de acordo com a sua opinião, se insere este livro. Volta ao autor, explicou como o incentivou a escrever para o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné a sua primeira história, "Bife à Dunane", e mais tarde a publicar um livro, este.
De uma forma original enumera umas quantas histórias que fazem parte do livro, apresentando dois ou três parágrafos, deixando o resto à curiosidade dos leitores.
Não esquece a história "O Chico do Palácio", o nosso Chico, como refere Branquinho, o primeiro militar da Companhia morto na guerra.

Termina o texto com um novo incentivo ao autor José Ferreira, para que continue a publicar no Blogue e faça uma selecção doutros textos que, não sendo divertidos, como os da série "Outras Memórias da Minha Guerra", merecem ser divulgados também em livro.

Por sua vez, Carlos Vinhal terminou dizendo que as histórias publicadas pelo Silva da CART 1689 no seu livro "Memórias Boas da Minha Guerra", assim como as publicadas no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, são o espelho da sua maneira de ser e de como vê o seu semelhante, sem filtros e com verdade, tendo ainda a capacidade nata para o retratar com as palavras certas.
E que venha o segundo livro, agora baseado nas "Outras Memórias", estas bem mais duras, mais tristes, porque são as da guerra-guerra, como diria o camarada Branquinho.

O co-editor deste Blogue, Carlos Vinhal, apresentando o texto do camarada Alberto Branquinho, a pedido deste.

Tomou depois a palavra o Autor José Ferreira que, de improviso, falou do seu livro, das histórias nele contidas, originalmente publicadas no nosso Blogue, dos incentivos  que recebeu para se abalançar nesta aventura, e na alegria que sentia por se ver ali rodeado pelos seus familiares, amigos e camaradas, destacando a presença do "seu Capitão" Manuel Azevedo Maia.
Agradeceu à sua família a compreensão e ajuda que deu nas diversas vertentes para que o seu livro fosse uma realidade. Projectos como estes um homem só não leva a bom porto.
A intervenção do José Ferreira teve de tudo, momentos de boa disposição, hilariantes mesmo, e outros de comoção, ambos contagiantes que não deixaram ninguém indiferente. Os presentes riram a bom rir, mas também engoliram em seco quando as palavras calavam fundo.

O autor José Ferreira num momento contagiante de alegria. Talvez estivesse a falar da "Cabra do Berguinhas".

Seguiu-se o depoimento do senhor General Manuel Moreira Maia, que enquanto Cap Art.ª, comandou a CART 1689.
Começou por agradecer o convite do autor para ali estar, lembrando os tempos vividos na Guiné, os bravos homens que comandou e nunca esqueceu, especialmente aqueles que morreram.
Contou peripécias, boas e más, e riu-se de algumas das histórias publicadas, que desconhecia, aproveitando também para desfazer antigos equívocos.

O senhor General Manuel Moreira Maia, ex-Comandante da CART 1689, quando se dirigia aos presentes. 

Um abraço sentido entre velhos camaradas de armas, o Furriel Miliciano José Ferreira e o seu Capitão Maia.

Uma surpresa estava ainda reservada ao Zé de Catió.
O Bando do Café Progresso, grupo a que o José Ferreira também pertence, estava largamente representada no Quartel da Serra do Pilar. Um dos Bandalhos, o nosso camarada Jorge Teixeira (Portojo), tinha um texto para ser lido se fosse oportuno. E foi, não pelo Jorge Teixeira, autor do texto, mas pelo outro Jorge Teixeira, o mais Bandalho do Bando, porque dele é o Chefe.
Aqui fica o registo fotográfico.

Jorge Teixeira lendo o texto do Jorge Teixeira (Portojo), uma singela homenagem ao homem do dia.

Terminadas as alocuções, ainda no Salão Nobre, seguiu-se a sessão de autógrafos, devidamente supervisionada pelas 3 netas e neto do nosso camarada José, num dia particularmente feliz.

Fotos:© Dina Vinhal

Era este o aspecto do Salão Nobre do Quartel da Serra do Pilar
Foto: © Carlos Vinhal

Finalmente, numa sala anexa ao Salão Nobre, foi servido um Porto de Honra aos presentes, oferecido pelo José Ferreira. Já libertos do cumprimento do silêncio exigido antes, foram trocadas memórias de tempos idos, comuns a quase todos.

Foto: © Jorge Portojo, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16610: Agenda cultural (501): No passado dia 13 de Outubro, integrada na série Tertúlias Fim do Império, na Messe Militar do Porto, sita na Praça da Batalha, no Porto, foi apresentado o livro "A Batalha de Cufar Nalu" da autoria do nosso camarada Manuel Luís Lomba, que foi Furriel Miliciano na Companhia de Cavalaria 703 (Guiné, 1964/66)

Guiné 63/74 - P16625: (De)caras (48): Apresentação ontem, na A25A, em Lisboa, do livro do Paulo Salgado, "Guiné: crónicas de guerra e amor"... As primeiras fotos.


Foto  nº 1 >  Na mesa, da esquerda para a direita, o editor, António Lopes. o autor, o nosso camarada Paulo Salgado;  o anfitrião, cor inf Vasco Lourenço, o apresentador da obra, Rogério Rodrigues, poeta e jornalista, amigo de infância do autor; e por fim o prefaciador Mário Tomé (, cor cav ref).


Foto nº 2 > O autor, ladeado do filho mais velho, Ramiro Salgado, e do neto. Contou também com a presença da filha, Paula Salgado (que é bióloga, investigadora em Inglaterra) e, claro, com o amor da sua vida, Conceição Salgado, além de muitos amigos e camaradas, incluindo malta da Tabanca Grande.


Foto nº 3 > Dedicatória ao filho, Ramiro Salgado (que vive em Vila Nova de Gaia)


Foto nº 4 > O autor escreve uma dedicatória ao seu antigo comandante, o ex.cap cav Mário Tomé

Lisboa > Associação 25 de Abril > Rua da Misericórdia,  95 > Sessão de lançamento do livro do Paulo Cordeiro Salgado, "Guiné: crónicas de guerra e  amor" (Lema d' Origem, Editora, Carviçais, Moncorvo, 2016, 230 pp.).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Guiné 63/74 - P16624: Notas de leitura (893): “História da História em Portugal, Séculos XIX-XX”, organização de Luís Reis Torgal, José Amado Mendes, Fernando Catroga; Temas e Debates; 1998, volume II (3) (Mário Beja Santos)

Bissau - Monumento ao Infante D. Henrique


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
Os programas comemorativos da gesta dos Descobrimentos foram perfeitamente lineares entre 1880 e 1960, de monárquicos, passando por republicanos, até aos aficionados do Estado Novo, tudo fizeram para exaltar a epopeia encetada pelo Infante D. Henrique, e que imprimiu um cunho indelével à História de Portugal. O fim do Império não significou o fim do estudo dos Descobrimentos portugueses, pelo contrário, a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses procurou responder, até que foi extinta, aos ditames do rigor da investigação científica, distinguindo a comemoração da propaganda. Conhecer as sucessivas fases destas comemorações é penetrar no quadro mental e nos conceitos ideológicos dos nacionalistas e de quem lhes sucedeu.

Um abraço do
Mário


As comemorações imperiais portuguesas, nos séculos XIX e XX (3)

Beja Santos

Graças ao importante trabalho de investigação intitulado “Ritualizações da História”, de Fernando Catroga, incluído no II volume da “História da História em Portugal, Séculos XIX-XX”, Temas e Debates, 1998, é possível encontrar uma sequência das grandes manifestações nacionalistas-imperialistas entre o jubileu de Camões (1880) e as comemorações do V Centenário da morte do Infante D. Henrique (1960), podendo, por conseguinte, descodificar as razões políticas para as exaltações da “questão imperial”.

Estamos agora nesse grande acontecimento que foi a Exposição do Mundo Português de 1940. António Ferro não iludiu o móbil do que estava a propor para as comemorações: Fundação, Restauração e Descobrimentos. Ou seja, a Fundação e a Refundação da Nação deviam ser simbolizadas como momentos matriciais da construção do Império daí o deslumbramento do Cortejo Imperial do Mundo Português. O Portugal de hoje, síntese do Portugal imperial desfilava com trajes típicos de todas as províncias, ilhas e colónias. E quanto ao Portugal de amanhã lá tínhamos o Carro Alegórico da Mocidade Portuguesa. Catroga é minucioso na descrição de todas as etapas deste programa onde era peça importante a “Exposição Histórica do Mundo Português”.

O V Centenário da descoberta da Guiné é a primeira comemoração depois da II Guerra Mundial, no ar do tempo já espreita a descolonização, ela é desejada e incentivada pelas duas superpotências. A Guiné dispõe de um governador ativíssimo, diligente, reformador como muito poucos. Em Lisboa, é a Sociedade de Geografia quem vai promover as promoções centradas em Nuno Tristão. Em Bissau, as cerimónias terão lugar entre Janeiro de 1946 e Janeiro de 1947, houve conferências, o Centro de Estudos e o Boletim Cultural aparecem sob a batuta de Teixeira da Mota, realiza-se uma exposição histórica na ampla praça em frente do Palácio do Governador. E discursa-se coisas como esta: “O Império, a eternidade de Portugal, nasceu em Sagres. Portugal, sem Império, seria hoje uma anquilose, uma petrificação histórica”.

Para a ciência histórica, são tempos de refrescamento. Um jovem cientista, opositor do regime, Vitorino Magalhães Godinho, alertava: “Os aniversários e centenários só podem ser úteis se constituírem ensejo para estudar problemas, meditar diretrizes, criticar certezas dogmáticas; caso contrário, mumificam-se os vivos sem ressuscitar os mortos”. Godinho traz novas hipóteses interpretativas, envolveu-se em polémica suave com Teixeira da Mota que lhe lançara uma farpa de que era antipatriótico criticar os Descobrimentos, ou de diminuir a ação do Infante ou de pôr em dúvida a existência da Escola de Sagres. A verdade é que Teixeira da Mota nunca mais voltou a escrever em tom apologético.

E estamos chegados às festas henriquinas de 1960, já há movimentos anticoloniais a trabalhar nas colónias portuguesas. É nesta atmosfera de ofensiva anticolonialista que o governo retoma a consigna de uma só Nação, de Minho a Timor. Revogara-se o Ato Colonial de 1930 e as Colónias passaram a designar-se por Províncias Ultramarinas. O que se traçou para as comemorações henriquinas é anunciado publicamente: “Exaltar, através da evocação da figura e obra do Infante D. Henrique, a grande gesta dos Descobrimentos e ação civilizadora dos portugueses. Estas comemorações não estão voltadas exclusivamente para o passado, mas serão a demonstração do valor e das possibilidades das gerações de hoje e como que um ato de fé nos destinos da Pátria – bem necessário nesta hora incerta da vida no mundo”. À semelhança do Duplo Centenário, voltávamos ao conceito de Portugal como baluarte cristão, a sustar o comunismo. A nova lógica era a seguinte: já não estávamos em 1940, a exaltação imperial teria que ser proclamada num contexto em que ainda pudesse gozar de alguma credibilidade, por isso se imprimiu ao discurso oficial português o tom de resistência e os valores da civilização Ocidental. E a proclamação das festas henriquinas, subliminarmente, usava o tom triunfal do passado: “Nesta hora em que o mundo, cada vez mais dividido e disperso, sofre de tão grandes doenças mortais e em que tudo parece ter entrado em dissolução: os espíritos e os corações, a autoridade e a estabilidades dos governos, o sentido de solidariedade e da unidade dos povos, sabemos nós, Portugueses, manter essa crença, essa virtude que iluminou com os seus fogos a nossa grandeza no passado e que nos dias de hoje marca o nosso inconfundível êxito aos olhos do mundo”. Um dos pontos mais altos das comemorações passou pela construção do Padrão dos Descobrimentos, da autoria de Cottinelli Telmo e de Leopoldo Almeida.

E agora? Agora comemoramos a descoberta do “outro”. Extinto o Império, comemoram-se os Descobrimentos portugueses, foi esta a tarefa que recaiu sobre a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, o objetivo era impulsionar a investigação científica, e Vitorino Magalhães Godinho veio novamente à estacada, defendendo a necessidade de se dar prioridade ao estudo erudito e crítico das fontes e à elaboração de trabalhos que refletissem uma posição interdisciplinar. Havia que renovar a historiografia dos Descobrimentos, dominada por estudos marcantes de Orlando Ribeiro, Teixeira da Mota, Luís de Albuquerque e do próprio Godinho. Estes propósitos irão ser plasmados num elevado número de publicações e em comemorações como as do 450.º aniversário da chegada dos portugueses ao Japão, na Expo 98 e na celebração da viagem de Pedro Álvares Cabral.

Revista Oceanos, o cartão-de-visita da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses 

Extinto o Império, tem sido notório o embaraço com o culto cívico dos mortos da guerra colonial, bem ao contrário do que aconteceu no termo da I Guerra Colonial que deixou dezenas e dezenas de monumentos, lápides, colunas ou pilares espalhadas pelo país. De 1921 a 1936, houve uma Comissão de Padrões da Grande Guerra que apoiou a construção de memoriais no Sul de Angola e no Norte de Moçambique, Açores, mas também em França (o escultor Teixeira Lopes é o responsável pela obra mais relevante que se ergue em La Couture, região em que morreram muitos soldados portugueses. Parece ter ficado bem claro que a consolidação da memória através de comemorações, exposições, cortejos, edições de selos, medalhas, filmes e tantas expressões iconográficas é fruto de um quadro mental em dada conjuntura. Há um fio condutor em que estiveram envolvidos monárquicos de todos os matizes, republicanos e aficionados do Estado Novo: Portugal era indissociável da gesta dos Descobrimentos. Este quadro mental é severamente afetado pelo ciclo da descolonização, pela declaração universal dos direitos humanos, pela carta da ONU, pelo reconhecimento de que os povos eram livres de escolher o seu destino. A historiografia pós 25 de Abril espelha a rejeição da propaganda e a necessidade de estudar numa visão que ultrapassa o eurocentrismo de que se alimentou o sonho nacionalista-imperialista.

Monumento do escultor Teixeira Lopes em La Couture
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Notas do editor

Postes anteriores de:

14 de Outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16598: Notas de leitura (890): “História da História em Portugal, Séculos XIX-XX”, organização de Luís Reis Torgal, José Amado Mendes, Fernando Catroga; Temas e Debates; 1998, volume II (1) (Mário Beja Santos)
e
17 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16608: Notas de leitura (891): “História da História em Portugal, Séculos XIX-XX”, organização de Luís Reis Torgal, José Amado Mendes, Fernando Catroga; Temas e Debates; 1998, volume II (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 18 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16613: Notas de leitura (892): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte XI: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger [II]: Estava a 3 km de Madina do Boé, em 10 de novembro de 1966, quando o cmdt Domingos Ramos foi morto por um estilhaço de morteiro da CCAÇ 1416 (Jorge Araújo)

Guiné 63/74 - P16623: Inquérito 'on line' (77): Num total de 117 respostas, 62% diz que, nos sítios onde esteve, no mato, nunca houve familiares de militares, metropolitanos ou guinenses... Comentários dos camaradas Jorge Cabral, Vasco Pires, Jorge Canhão, Rogério Cardoso, Carlos Mendes Pauleta, Eduardo Estrela, José Colaço, J. Diniz Sousa Faro e Manuel Amaro


Guiné > Região do Óio > Bissorã > c. 1973/74 > Maria Dulcinea (Ni), esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira, que esteve com o marido e o filho em Bissorã, de outubro de 1973 a junho  de 1974 (*). [O Henrique Cerqueira foi fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, e  CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74]


Guiné > Região do Óio > Bissorã > c. 1973/74 > Miguel, o filho do Henrique Cerqueira, e da Maria Dulcinea (Ni),  com a filha de um capitão da CCS, no quintal da casa dos Cerqueira.


Guiné > Região do Óio > Mansoa > c. 1973/74 > Miguel, a Maria Dulcinea (Ni), de costas, com a esposa de um outro militar de Bissorã, também de costas, em visita a Mansoa.

Fotos (e legendas); ©  Maria Dulcinea (Ni) / Henrique Cerqueira  (2011), Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A. INQUÉRITO 'ON LINE': 

"NO MATO, NO(S) SÍTIO(S) ONDE EU ESTIVE, NA GUINÉ, HAVIA FAMILIARES NOSSOS"...

Resultados finais (=117)



1. Sim, esposas (não guineenses) > 26 (22%)

2. Sim, esposas e filhos (não guineenses) > 13 (11%)

3. Sim, familiares guineenses (sem ser das milícias) > 14 (11%)

4. Não, não havia > 73 (62%)

5. Não aplicável: não estive no mato > 3 (2%)

6. Não sei / não me lembro > 0 (0%) 

Total: 117


O prazo de resposta terminou em 20/10/2016, 5ª feira, às 6h52.  O inquérito admitia até três respostas: por exemplo 1, 2 e 3.


B. Comentários dos nossos  camaradas, leitores do blogue (**):

(i) Jorge Cabral

Missirá era um Quartel ou uma Tabanca? E estar no mato, o que era? Tudo fora de Bissau? Bafatá era mato? Por outro lado, e como se sabe, as mulheres fulas acompanhavam sempre os maridos militares. (...) Assim no meu Pelotão [, Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71] , existiam 24 soldados, 19 mulheres e 32 crianças...


(ii) Vasco Pires

Nós,  da Artilharia, "herdávamos" um Pelotão [, o 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72] com cerca de trinta soldados e outras tantas mulheres, e uns quantos filhos, e, sinceramente, às vezes ficava difícil de a administrar. (...) Felizmente, lá em Gadamael,  como já referi anteriormente, os Furriéis eram dedicados, eficazes e leais (Furriéis Kruz e Oliveira). Eu mesmo (com os Furriéis) morava na tabanca, bem como os soldados e cabos de recrutamento local.


 (iii) Jorge Canhão

Em relação ao poste do meu camarada Carlos Fraga, há um pequeno equívoco da parte dele, pois em Mansoa, além de esposa do cmdt do batalhão, esteve lá também a esposa e filho do cap Patrocínio, então da CCaç 15, a esposa e filha de um camarada nosso mas da CCS, assim como a esposa de um furriel (Roma) da CCS. Penso que também a esposa do major de operações da CCS estava lá. Inclusive numa festa africana em Mansoa, um individuo atirou uma granada para o meio da festa tendo provocado bastantes feridos, estava lá o camarada Jesus (o tal da CCS) com a esposa e a filhota, que felizmente não foram feridos.

Jorge Canhão,  ex fur mil. 3ª Caç/BCaç 4612/72


(iv) Rogério Cardoso

Em 1964 e 1965 a Cart 64, "Águias Negras", estava sediada em Bissorã. O seu 1.º sargento,  de nome Rogério Meireles, estava acompanhado da mulher e de uma filha de pouca idade, residia numa pequena casa fora do aquartelamento. Acabou ao fim de 1 ano deixar de pertencer à companhia  por ter problemas de estômago, e deste modo foi embora com a família. Digo de passagem que foi o melhor que ele fez, pois, quando de alguns ataques noturnos, aquelas pobres sofriam bastante. Também o furriel vaguemestre mandou ir a mulher, que chegou a Bissau no dia seguinte a ele ter sido ferido, mas sem gravidade. Ele ao fim de uns meses também mandou a mulher de regresso, pelas mesmas razões do anterior caso.


(v) Carlos Mendes Pauleta

O camarada Fraga refere que não existiam familiares de militares em Mansoa. Como o Jorge Canhão referiu no seu comentário, tal não corresponde à realidade. Além dos militares identificados pelo Canhão,  também o major António Rebelo Simões, 2.º Comandante do BCAÇ 4612/72, vivia com a sua esposa. Se assim não fosse como poderia um 1.º cabo sapador ter sido castigado por estar a "espreitar" a esposa do 2.º comandante do batalhão a tomar banho?


(vi)  Eduardo Estrela [ ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71]

(...) Lembro-me bem que em 1970 estavam em Farim, a esposa dum fur mil e a esposa e filha dum 1.º sargento. Não me recordo a que unidades militares pertenciam, mas ambos estavam integrados na guarnição do Batalhão 2879, do qual a minha CCaç 14 fazia parte como unidade de reforço.


(vii) José Botelho Colaço

Penso que nos primeiros anos da guerra no verdadeiro mato não havia um mínimo de condições [para alojar familiares de militares, quer esposas, quer filhos]. Além disso a cultura que nos foi ministrada também não ajudava nada para que tal acontecesse, os filhos e esposas não guineenses coabitarem connosco no mato.

Na minha CCaç 557 (1963/65) a única mulher que nos fez companhia foi a esposa do médico mas só nos finais de 1964 quando no regresso do mato (Ilha do Como) a Bissau e nos fixámos em Bafatá. Aí a drª Maria Luísa foi uma companheira amiga e presente no dia a dia além do doutor, ela era,  e ainda é para nós, militares da 557, a nossa amiga doutora.


(viii) José Diniz Carneiro de Sousa e Faro

O meu caso assim como todos os combatentes pertencentes à BAC 1 / GAC 7 que estavam no mato, os pelotões de Artilharia tinham sempre familiares dos seus praças oriundos de incorporação territorial que transportavam consigo os seus familiares (mulheres e filhos). Era frequente utilizar duas ou mais viaturas só para transporte dos familiares que eram alojadas nas tabancas. Em Binar (1970) tinha um soldado com 6 mulheres.

J. Diniz S. Faro, ex-fur mil art, 1968 - 1970


(ix) Manuel Amaro

No meu BCAÇ 2892, em 1970,  Aldeia Formosa (Quebo), estiveram, durante pouco tempo, duas senhoras, esposas de um Alferes e de um Sargento. A estada foi curta porque o PAIGC, depois de um tempo de quase ausência, decidiu aumentar a sua acção na zona. O único branco civil em Aldeia Formosa era o agente da PIDE/DGS, de apelido Manjerico.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  26 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8329: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (11): Como fui parar à Guiné (Maria Dulcinea)

(...) Quando chegamos a Bissorã e entro na nossa 'Casa' fiquei espantada pois estava decorada com assentos dum carocha, as camas eram da tropa, tínhamos um frigorífico a petróleo, a casa de banho eram dois bidões de chapa. Tínhamos chuveiro pois o Henrique conseguiu ir buscar água bem longe (daí a explicação do seu estado de magreza pois que arranjou casa, fez uma abrigo, decorou a casa e sempre fazendo a sua actividade militar, porque na CCAÇ 13 não se mandriava).

Quanto à nossa alimentação, foi organizada do seguinte modo: as refeições dos adultos vinham duma espécie de restaurante (O Labinas') que tinha um acordo com a tropa, mas as refeições do nosso Miguel era eu que as confeccionava com artigos comprados na messe e outros sempre que possível na população.

Entretanto eu e o Henrique tiramos a Carta de Condução no mesmo dia em Bissau. Não pensem que nos facilitaram a vida, não, pelo contrário, foram bem exigentes no exame em Bissau.

Para além de ter tido um Natal muito especial em 1973, com pinheirinho (uma folha de palmeira enfeitada), rabanadas e aletria, tudo isto foi enviado pela família da metrópole. Mas o que mais gostei foi ter partilhado esse Natal com outros soldados que invadiram a nossa casa que até se esqueceram que havia algures por ali uma Guerra.

Entretanto veio o 25 de Abril, e tive a oportunidade de ir cumprimentar o pessoal do PAIGC ainda no seu estado de combatentes inimigos. Uns dias antes os "patifes" tinham-nos bombardeado com foguetões, porque pareciam não estarem satisfeitos com o susto que me pregaram em Dezembro, ao infligirem-nos um bruto ataque que foi o meu baptismo de fogo.  (...)

Em Junho [de 1974] regresso a Portugal com o Miguel, e em Julho regressa o Henrique, e uma vez mais fui ter com ele a Lisboa ao RALIS onde foi (fomos) definitivamente desmobilizado[s].

(...) Antes de acabar, lembro que em Bissorã viviam mais senhoras, esposas de militares, ou seja dum soldado, dum furriel e de um capitão que tinha uma menina linda de quem vou tomar a liberdade de publicar a foto, junta com o meu Miguelito. (...)



(**) Vd. os últimos postes da série:


17 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16609: Inquérito 'on line' (75): as primeiras 66 respostas, a três dias do fim do prazo (5ª feira, dia 20): só em 28 casos havia famílias de militares, não guineenseses, no mato... "Lembremos que o maior número de militares do quadro não estavam longe de belas cidades como Luanda, Benguela, Uíge, Malange, Lourenço Marques, Beira, Nova Lisboa e Bissau, por exemplo, onde não faltava nada (comentário de Antº Rosinha)

13 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16597: Inquérito 'on line' (73): Até ao dia 20 deste mês, responder à questão "No mato, no(s) sítio(s) onde eu estive, havia familiares nossos... esposas com ou sem filhos"

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16622: Memória dos lugares (348): Olossato, com o Moura Marques, o Grão de Bico, a São... 35 anos depois (Paulo Salgado, ex-alf mil cav op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72; autor do livro "Guiné: crónicas de guerra e de amor", 2016)



Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Olossato > 2006 > O Grão-de-bico, ontem criança, hoje homem grande, pai de filhos, reencontra o ex-1º cabo Moura Marques e o ex-alf mil cav op esp Paulo Salgado, da CCAÇ


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Olossato > 2006 > Rio Olossato > O Paulo Salgado e o Moura Marques, 35 anos depois...


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Olossato > Maqué > O centenário poilão de Maqué... Um monumento vivo... Na foto, o Paulo Salgado e o Moura Marques


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região Autónoma de Bissau > Cumeré > 2006 > Uma viagem de regresso ao passado...A cumplicidade de dois antigos camaradas de armas...



Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > Rio Farim > 2006 > Cambança do rio..."A bos portuguisis? Pai di nôs!"...

Fotos (e legendas); © Paulo & Conceição Salgado (2006), Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O regresso de um homem bom! (*)

por Paulo Salgado  

[ex-alf mil cav op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72; administrador hospitalar reformado,  transmontano,  apaixonado pela África Lusófona, cooperante, autor do livro "Guiné: crónicas de guerra e de amor", 2016]

Quero falar-vos do Moura Marques [MM] – camarada de luta, companheiro de labutas, amigo de confidências. Nos idos meses de 1970-1972.

Foi no Olossato que se forjou uma solidariedade grande, mas já em Santa Margarida se notava ali a bondade e valentia do Moura Marques, para quem não havia heroísmos nem cobardias, para quem mais valia a verdade do que o servilismo. Se foi louvado, só o poderia ser pela coragem, pelo exemplo, pela calma que dele transparecia, que dele irradiava.

Ontem, dia 26 de fevereiro de 2006, 35 anos depois de a CCAV 2721 embarcar para Lisboa, fomos ao Olossato: ele, a Maria da Conceição e eu,  no Prado. Devagar, para bebermos em conjunto as emoções, e rememorar momentos vividos com os outros camaradas.

Saída em direcção a Bula e dali para Bissorã: o largo, as fotos ao que resta de Os Bigodes, as casas coloniais envelhecidas pelo tempo inclemente, a picada, que outrora era picada por causa das minas, e, não sei por que razão, agora estava linda, avermelhada, e, ao lado, as pequenas bolanhas do alto do Maqué, onde está o mais belo poilão que conheço da Guiné [, foto nº 3], o que resta do aquartelamento do pontão do Maqué, não mais do que algumas paredes onde ainda se descobre uma fresta espreitando para a mata lá atrás (ai quantas sentinelas feitas pelos infernais, pelos vampiros). As fotos da praxe [Foto nº 2]. O marejar de lágrimas do MM.
– Vês, ali, Salgado, tantas horas de trabalho na construção do heliporto, quantas horas perdidas na solidão da mata, quanto de nós ali está ! – dizia ele, emocionado… E a Maria da Conceição tirando as fotos das mais bonitas que já vimos…

Na ligeira subida para o Olossato, alguém grita correndo:
Bolea, patim,  bolea!

Parámos. Uma mulher vinha correndo:
Um mindjer prenhadu sta ali na caminhu!

E nós, os três, preparados para o que desse e viesse que as dores e contracções (percebiam-se) eram repetidas e já nos imaginávamos a fazer de parteiros na beira da estrada…Felizmente a mulher aguentou. E lá foi levada com mil cuidados ao centro de saúde. E nós, como sorrimos de satisfação e de alívio.

O reencontro com os amigos. Um deles anda se recordava do cabo Moura. E o Moura Marques mais uma vez emocionado:
– Bolas, um homem sofre, com este exorcismo... (palavras do MM).

Uma oferta aos amigos. Uma visita à campa muçulmana do Suleiman Seidi. Uma oração em silêncio, um silêncio de saudade, uma saudade enorme – o Suleiman era um irmão. Eu que o diga. O Moura Marques chorou, de pé, honrando a memória de soldado milícia português – um homem chora quando tem que chorar, bolas.
– Olha, ali era o PC, e ali o local dos morteiros; acolá o bar…
– E ali, bem visível a caserna, agora escola de marabu...

O sol já caía a pino. E os amigos, de volta: mantenhas, e o desejo manifesto do Grão-de-bico (homem agora com quatro filhos…menino era naquele tempo) [Foto nº 1]:
– Cabo Moura, leva-me para Lisboa.

Que carinho e que ternura e que vontade de ter outra vida o desejo destes homens, dos que estiveram connosco dos que combateram do outro lado.
– Salgado, isto é demais!

Lá fomos em direcção ao rio Olossato, sempre bonito e frondosas as margens, lodoso, embora. Mais fotos e sempre as crianças, as belas crianças. Umas bolachas que a Conceição distribuiu, fizeram-nas sorrir. Sorrir ainda mais, se é possível.

 Depois a picada para Farim com passagem por Cansambo (só possível agora visitar, pois naquele tempo estava arrasada) e K3; a travessia de canoa a remos para a outra banda: Farim. Tarde quente de calor do sol e de calor humano. Uma cerveja meio quente junto da Fatu Turé e Mustika Turé, encarregadas do bar da festa carnavalística (assim lhe chamou o comandante da canoa! – um neologismo (?!) para o nosso vocabulário.
Boa tarde! A bos portuguisis? Pai di nôs.

O que responder a tal fé antiga? Sem palavras.

De novo a cambança. No meio do rio [foto nº 5], gritou o comandante da canoa vizinha, a motor, sorrindo:
Li, tene manga di lagartus [crocodilos]…

A corrida para Mansabá, umas fotos do jovem ferreiro e da forja… Depois, Mansoa. Um hospitalzinho novo, da cooperação francesa, e as ruínas do quartel com soldados sentados à sombra dos mangueiros…!

E a seguir, Uaque. O último olhar para uma viagem longa, mas emocionantemente bela, reconfortante. Estava (quase) feita a catarse… O Moura Marques:
– Meu Camaradão, meu amigo!...


PS - No dia anterior, estiveramos em Nhacra e no Cumeré {Foto nº 4)… exactamente no dia em que pela última vez o MM almoçara com o seu amigo Fernando (periquito) que viria a morrer em emboscada dois dias depois…

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Notas do editor:

(*) Texto, revisto,  a partir do poste de 2 de março de 2006 > Guiné 63/74 - P584: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (12): reviver o passado em Olossato

(**) Três últimos postes da série >

18 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16499: Memória dos lugares (347): Samba Juli, Sansancuta e Demba Tacobá, tabancas fulas em autodefesa, a sudeste de Bambadinca, para as quais foi destacado por mês e meio, em 20/7/1969, o 3º pelotão da CPM [, Companhia de Polícia Militar,] 2537 (Bissau, 1969/71), a que pertencia o sold cond auto Jerónimo de Sousa, hoje secretário geral do PCP

Guiné 63/74 - P16621: A construção de Mansambo, em imagens (Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil at art, CART 2339, 1968/69) - Parte II: Fórmula para construir um aquartelamento de raiz, no mato: primeiro é preciso braços, cabeças, pernas, G3, pás, picaretas, enxadas, GMC do tempo da guerra da Coreia, etc.; depois cibes, areia ou pó de picada, terra, cimento, chapas, bidões, e muitos outros materiais; a seguir, construir paredes, tetos, telhados, abrigos, latrinas, manjedouras e outras amenidades hoteleiras; por fim, misturar tudo com... sangue, suor e lágrimas !




O  "campo fortificado" de Mansambo. Vista aérea (c. finais de 1969, princípios de 1970 ?). Foto do fur mil op esp, Humberto Reis (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). 




O  "campo fortificado" de Mansambo. Vista aérea (c. finais de 1969, princípios de 1970 ?). Foto (ampliada)  do Humberto Reis.

Sobre esta foto, escreveu o Carlos Marques dos Santos [e fica em aberto a questão da data: se a foto foi tirada, de heli ou de DO,  só pode ser de 1969 (2º semestre), 1970 ou 1971 (janeiro/fevereiro), já que o Humberto Reis, tal como os restantes camaradas da CCAÇ 12, chegou ao setor L1 (Bambadinca) na 3ª semana de julho de 1969 e terminou a sua comissâo em março de 1971; mas esta vista aérea também pode ser de 1968, tirada por algum amigo do Humberto, da Força Aérea: nesse caso, seria de Mansambo ainda construção; na realidade, parece faltar ainda o arame farpado, os 2 espaldões do obus 10,5 que só vieram em janeiro de 1969; vamos tentar esclarecer o "mistério" com o Humberto]: 

"Quanto à foto de Mansambo, a vista aérea – que é espectacular e que pessoalmente agradeço - gostava de saber de que ano é, se o Humberto tiver esses dados. A zona está totalmente nua, só com uma grande árvore ao fundo que se encontra à entrada do aquartelamento, pois vê-se a bifurcação para a estrada Bambadinca-Xitole (esquerda-direita). Falta ali uma árvore, a tal de referência para o IN, e que os nossos soldados chamavam a árvore dos 17 passarinhos, tal era a quantidade deles, que se situava na parte mais afastada da entrada. A mancha branca de maior dimensão seria o heliporto. Faltam os obuses, um de cada lado à esquerda e à direita. Ao lado dessa árvore ficava o depósito, que era uma palhota, de géneros e munições, que ardeu a 20 de Janeiro de 1969 (nesse dia chegaram os 2 Obuses 105 mm). Era véspera do aniversário da CART 2339. Ao fundo vê-se uma mancha à esquerda do trilho de entrada que era a tabanca dos picadores. À direita no triângulo de trilhos, ficava a nossa horta. A fonte ficava à direita da foto onde se vêem 3 trilhos, na mancha mais negra em baixo. Se confrontares com um mapa da zona vê-se aí uma linha de água."  



O Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil, CART 2339 
(Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69)


CART 2339, Viriatos... leais e nobres
























Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2026). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Segunda parte do trabalho sobre a "construção de Mansambo em imagens", realizado pelo Carlos Marques dos Santos, nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, ex-furriel miliciano da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), subunidade adida ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).

Depois de pronto, ao fim de largos meses, a "Maria Turra" chamava-lhe o "campo fortificado de Mansambo". O Mamadu Indjai não deu descanso à rapaziada da CART 2339, os famosos "Viriatos",,, Não houve tempo para tirar férias, gozar a piscina do "resort", curtir os fins de tarde românticos ou ir fazer uns piqueniques nos rápidos do Rio Corubal, era um Saltinho... 

O Mamadu tanto lhes f... o juízo  que eles um dia pregaram-lhe uma partida, fizeram-lhe uma espera, a ele e ao seu bigrupo quando atravessavam a estrada a caminho de casa...  e o Mamadu, o terrível,   teve que ir de padiola para o hospital de Boké. Desta vez, mesmo gravemente ferido,  safou-se. 

Conta a lenda  que seria mais tarde...  fuzilado pelos seus próprios camaradas de armas, na região do Boé, por estar envolvido, em Conacri,  na conspiração que levou ao assassinato de Amílcar Cabral... Amor com amor se paga...  Enfim, fica para a história como vilão e traidor. Se tivesse morrido às mãos do 3º Gr Comb, da CART 2339, a que pertencia o nosso Carlos Marques Santos, hoje seria um herói nacional, como o Domingos Ramos ou a Titina Silá, com direito a mausoléu na Amura (, o panteão nacional).  A história tem destas partidas... (LG)

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Nota do editor:

15 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16603: A construção de Mansambo, em imagens (Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil at art, CART 2339, 1968/69) - Parte I: era uma vez uma obscura tabanca do regulado do Corubal que mal se via no mapa...

Guiné 63/74 - P16620: (Ex)citações (320): Fiquei triste e revoltado com a imagem da piscina do QG de Bissau, parecia um SPA!... Era uma afronta para estava no mato (Armandino Oliveira, ex-fur mil, CCS / BCAV 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato (1966/68; vive no Brasil há 40 anos)


Guiné > Bissau > Anos 70 > Quartel General em Sta. Luzia > Piscina, a que tinham acesso os oficiais do QP e milicianos, e seus familiares.

Foto do álbum do nosso saudoso António [Henriques Campos] Teixeira, o "Tony" (1948-2013), ex-alf mil da CCAÇ 3459 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 6, Bedanda, 1971/73).

Depois da independência, as instalações hoteleiras (messe e quartos de oficiais) do QG foram transformadas em hotel, o Hotel 24 de Setembro (hoje Hotel Azalai 24 de Setembro, 4 estrelas, sito na Av Pansau na Isna, Santa Luzia, 285 Bissau, Guiné-Bissau).

Foto (e legenda): © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  (2016). Todos os direitos reservados.  

1. Comentário,  com data de 18 do corrente (*), de Armandino 
[José de Jesus] Oliveira, ex-fur mil da CCS / BCAV 1897,  Mansoa,  Mansabá e Olossato (1966/68); vive no Brasil há 40 anos, e é membro da nossa Tabanca Grande desde 8 de maio de 2011:


Boa tarde,  meu amigo Luís Graça:

Fiquei muito triste, para não dizer revoltado, com as imagens da piscina do QG de Bissau, parece um SPA .

Enquanto milhares estavamos na selva, combatendo, morrendo, vendo colegas e amigos sendo destroçados e outros se suicidando, pegando malária, em condições bem degradantes, psicologicamente .

Não posso gostar desse artigo, é uma afronta a todos que foram para a GUERRA !

Só louco ou insano levaria a família para o campo de batalha, só no QG de Bissau.

Era furriel miliciano do BCAV 1897, estive em Mansoa , Mansabá e Olossato (1966/1968 ).

Creio que entendes a minha revolta . (**)

Abraços
Armandino
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Notas do editor:
(*) Vd,. poste de 17 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16609: Inquérito 'on line' (75): as primeiras 66 respostas, a três dias do fim do prazo (5ª feira, dia 20): só em 28 casos havia famílias de militares, não guineenseses, no mato... "Lembremos que o maior número de militares do quadro não estavam longe de belas cidades como Luanda, Benguela, Uíge, Malange, Lourenço Marques, Beira, Nova Lisboa e Bissau, por exemplo, onde não faltava nada (comentário de Antº Rosinha)

(**) Último poste da série > 10 de outubro de 2016 >  Guiné 63/74 - P16585: (Ex)citações (319): O cap inf José Abílio Lomba Martins que eu conheci, no Enxalé, em novembro de 1963, antigo professor da Academia Militar, cmdt da CCAÇ 556 (Bissau, Enxalé, Bambadinca, 1963/65) (Alcídio Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65) (*)

Guiné 63/74 - P16619: Parabéns a você (1151): Fernando Súcio, ex-Soldado Condutor Auto do Pel Mort 4275 (Guiné, 1972/74) e Rogério Cardoso, ex-Fur Mil Art da CART 643 (Guiné, 1964/66)


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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16614: Parabéns a você (1150): Carlos Filipe Coelho, ex-Soldado Radiomontador da CCS/BCAÇ 3872 (Guiné, 1971/74) e Joaquim Ascenção, ex-Fur Mil AO Inf da CCAÇ 3460 (Guiné, 1971/73)

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16618: Convívios (772): 56º Convívio da Tabanca do Centro, Monte Real, Leiria, dia 28 de outubro, 6ª feira




1. Última edição da revista Karas de Monte Real, edição do mês de setembro de 2916. É órgão da Tabanca do Centro, de que é régulo é o Joaquim Mexia Alves.  Editor-in-chief: Miguel Pessoa.

Dá-se aqui notícia do 55º encontro ou convívio... Os convívios da Tabanca do Centro são sempre na última 6ª feira de cada mês, sendo frequentados por largas dezenas de camaradas, veteranos da Guiné (mas também são abertos aos ex-combatentes que passaram por Angola e Moçambique, ou serviram noutras antigas províncias ultramarinas portuguesas, de Cabo Verde a Timor)...  O blogue da Tabanca Grande tem 72 seguidores., e já publicou, desde 2010, mais de 800 postes.

A área de influência da Tabanca do Centro, que tem sede em Monte Real, Leiria, é muito vasta, indo buscar clientela tanto a norte (Grande Porto) como a sul (Grande Lisboa) e, essencialmente, na região centro.

2. O próximo convívio, o 56º, já está marcado para o dia 28 deste mês. Instruções dadas ao pessoal que se pretende inscrever:

(i) têm até às 12h00 de 26 de outubro para efectuarem a vossa inscrição;

(ii) não se esqueçam de indicar os nomes do pessoal que inscrevem;

(iii) o preço da refeição mantém-se nos 10 euros por pessoa;:

(iv) a ementa continua a ser o tradicional Cozido à Portuguesa;

(v) o mínimo de inscrições é 40 e o máximo é 80 (lotação da sala dpo restaurante);

 (vi) as inscrições poderão encerrar antes do prazo limite se aquele número (80) for atingido;

(vii) usar a caixa de comentários dos anúncios do almoço ou enviar uma mensagem para tabanca.centro@gmail.com


3. Alguns termos da gíria tabanqueira (de acordo com a sua Centropédia, o dicionário da Tabanca do Centro,  da autoria do editor do blogue e da "Karas de Monte Real",  o nosso strelado, talentoso, perspicaz, bonacheirão,  e (quase sempre) bem-humorado Miguel Pessoa que, geograficamente falando, é sulista, não é centrista):


Amado Chefe

Termo carinhoso usado para identificar o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, grande impulsionador da Tabanca do Centro. Sem qualquer ligação a um determinado país asiático… “Chefe” por ser o líder do grupo, “Amado” por ser apreciado e respeitado por todos.

Café Central

Em Monte Real, é o local habitual de encontro do pessoal da Tabanca do Centro antes do almoço de convívio. Marcada a concentração para as 13u00, muitas vezes já fervilha de pessoal bem mais cedo – é a vontade de se reverem amigos e se reatarem conversas interrompidas há um mês… Também é ponto habitual de reunião depois do almoço para o pessoal que tem mais relutância em regressar a casa.

Camarigo

Termo criado pelo Joaquim Mexia Alves, aglutinando as palavras “camarada” e “amigo”, conforme ele explica em: http://www.tabancadocentro.blogspot.pt/2013/07/o-porque-do-camarigo.html

Cozido de Monte Real

O petisco à volta do qual decorrem os nossos convívios, dada a excelência do mesmo. Prato de referência da Pensão Montanha, em Monte Real, o ponto de encontro habitual da Tabanca do Centro.


D. Preciosa

A responsável pela Pensão Montanha e naturalmente pelo bem-estar do pessoal da Tabanca do Centro. Com laços afectivos ao pessoal ligado à Guiné (o irmão fez lá a sua comissão de serviço) é uma excelente anfitriã dos nossos almoços/convívios, tratando-nos como gente da família e fazendo-nos sentir como se estivéssemos em casa.

Director da “Karas de Monte Real”


Em determinada altura dos nossos convívios o Miguel Pessoa decidiu arrancar com a edição no blogue de uma publicação mensal - “Karas de Monte Real” – onde os nossos convívios ficassem registados (com reportagem fotográfica e comentários alusivos). Objecto da apreciação de uns tantos e de críticas biliosas de outros (estamos a lembrar-nos do grupo da FRELIBU e de mais uns tantos primos desses…), o Director da “Karas” garante a continuidade da revista nos moldes em que já habituou os seus leitores. Desempenhando funções na edição/actualização do blogue, dá ainda assessoria ao Régulo da Tabanca na realização de novos projectos.

“Karas” de Monte Real

Integrada no blogue da Tabanca do Centro - http://www.tabancadocentro.blogspot.pt/ - é uma “revista” essencialmente dedicada à reportagem dos convívios da TC, com fotos alusivas e comentários mais ou menos mordazes. Sai geralmente no fim de cada mês, com reportagem fresca do último convívio.

Exemplo: http://tabancadocentro.blogspot.pt/2014/03/revista-karas-de-marco.html


Pensão Montanha

Na rua principal de Monte Real, é o local da realização dos nossos almoços. Para mais pormenores ver “D. Preciosa”.


Régulo da Tabanca


Falamos do Joaquim Mexia Alves (o Amado Chefe) que em 2010 decidiu organizar a Tabanca do Centro, aglutinando pessoal já conhecido do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (Tabanca Grande) e outro menos habitual, da zona centro.

Ver “Amado Chefe” e “Tabanca do Centro”.
Tabanca do Centro (TC)

Embora considerada “do Centro”, o facto é que reúne nos seus convívios gente vinda do Porto, Matosinhos, Viseu, Vila Real, Aveiro, Figueira da Foz, Buarcos, Fátima, Cadaval, Lisboa, Cascais, etc., para além dos locais – Leiria, Marinha Grande… e Monte Real.

Criada em Janeiro de 2010, por iniciativa do Joaquim Mexia Alves (Ver “Amado Chefe” e “Régulo da Tabanca”), as suas actividades têm como epicentro a vila de Monte Real, próximo de Leiria. Esta criação teve como objectivo, para além de se manter os contactos através da Net, o de reforçar e aumentar a confraternização dos “velhinhos” da Guiné, proporcionando almoços/convívios com uma periodicidade mensal (ou quase…), não se pretendendo naturalmente originar um afastamento ou dissensão com a Tabanca-Mãe, antes criando um complemento àquela.

Ver http://www.tabancadocentro.blogspot.pt/

Tabanca Grande (ou Luís Graça & Camaradas da Guiné)

Blogue de origem do grupo inicial dos “atabancados” da Tabanca do Centro, à qual continuamos naturalmente ligados.

Ver http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/

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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16594: Convívios (771): No passado dia 5 de Outubro de 2016, realizou-se o XXI Encontro dos Combatentes da Guiné da Vila de Guifões, com a deposição de uma coroa de flores no Monumento aos Combatentes daquela Vila e um almoço que decorreu numa Quinta de Barcelos